Tudo começou em 2009, quando a maior semana da moda da América Latina – a São Paulo Fashion Week – fez a sua temporada com apenas oito modelos negras entre 344. Na época, o Ministério da Previdência Social fechou um acordo com a Luminosidade, empresa responsável pela SPFW, e estipulou que grifes teriam no mínimo 10% de modelos negras ou de descendência indígena. Caso alguma marca não cumprisse o acordo, a organização estaria sujeita a uma multa de R$ 250 mil.

Dez anos depois, na mais recente edição do SPFW, que aconteceu em abril deste ano, o assunto voltou à tona de forma mais representativa. A 47ª edição do evento foi configurada como a mais inclusiva e com a maior quantidade de modelos afrodescendentes na passarela. De acordo com a nota da organização do SPFW, das sete modelos que mais fizeram desfiles na temporada, quatro são negras. A modelo recordista da temporada foi Amira Pinheiro, que esteve em 23 desfiles.

Uma das que estiveram alimentando o ranking da temporada de moda foi a modelo Ingrid Viana, da Ford Models. Desfilando para três marcas nesta temporada – Beira, Fabiana Milazzo e Lilly Sarti –, ela conta que percebeu a maior representatividade na passarela. “Mas é importante destacar a proporcionalidade mais do que a representatividade. Deveria existir a mesma quantidade de modelos brancas e negras, mas não como uma lei, e sim como algo natural”, defende ela.

A jornalista especializada em beleza Karla Lopes, que também acompanha as discussões nas semanas de moda, diz que esse movimento de igualdade precisa ser ainda maior. “Além dos modelos negros, quantas pessoas negras ocupam cargos e lideranças nas marcas na SPFW? É legal ser inclusivo na passarela, mas é mais legal levar isso como política dentro das próprias marcas e eventos, senão fica parecendo que a inclusão foi feita ali só para quem é de fora ver”, opina.

Fora das apresentações e dos shows de passarela, marcas estão levando para suas campanhas a diversidade, como a da coleção de inverno 2019 da grife mineira Arte Sacra. A etiqueta convidou quatro celebridades que representam a pluralidade da mulher brasileira, e uma delas foi a atriz e modelo também mineira Érika Januza. “A inclusão é um movimento natural e necessário nos dias de hoje. Ter essa representatividade em nossas campanhas é o resultado da pluralidade de todas as mulheres que nos inspiram. Érika Januza sempre nos encantou com sua beleza e, principalmente, por dar voz e luz às mulheres negras do país”, disse Carolina Malloy, uma das diretoras criativas da marca.

Beleza mais diversa

Já nos backstages, a beleza parece ter entendido, finalmente, a diversidade das tonalidades de pele, uma vez que mulheres negras sempre enfrentaram a falta de atenção do mercado de beleza pra elas. A passos largos, marcas como MAC, O Boticário, Dior e Fenty Beauty – marca da cantora Rihanna que lançou 40 tonalidades diferentes de base – foram mais rápidas em termos de inclusão. “Houve uma melhora muito grande na diversidade das cores de pele em relação à maquiagem”, pondera Ingrid Viana.

A marca vegana e orgânica Simple Organic, que abastece alguns backstages de temporadas de moda nacionais, é a primeira empresa a ter a maior linha de cores. “Ficamos muito felizes em ver o SPFW crescendo e sendo cada vez mais inclusivo nesse movimento, que é necessário e tardio”, afirma Patrícia Lima, fundadora da Simple Organic. Ela ainda pondera que marcas precisam caminhar levando a diversidade da forma mais real possível “e ir além do marketing”.