Comportamento

Por que cometemos excessos e ultrapassamos limites?

Especialistas explicam o que está por trás dos exageros e chamam a atenção para comportamentos que se tornam compulsões


Publicado em 08 de novembro de 2023 | 07:00
 
 
 
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Por que cometemos excessos e ultrapassamos limites? 

Não é difícil perder o controle e, às vezes, ultrapassar os limites. Ir a uma festa e beber demais, exagerar na comida, comprar compulsivamente ou até dormir por horas a fio. Em algum momento da vida, comportamentos como esses podem surgir. A situação, porém, ganha outro tom quando essas atitudes deixam de ser episódios esporádicos e se tornam uma constante, transformando-se em uma compulsão. Mas, afinal, o que pode estar por trás dos excessos que cometemos? 

Para Isis Paranhos, terapeuta e consultora de autoconhecimento, os exageros que cometemos escondem a falta de alguma coisa. “Tem até um livro, que se chama ‘Um Curso em Milagres’, que fala muito sobre essa questão e explica como esses excessos são, na verdade, gritos por amor. De alguma forma, a gente acaba expressando esse amor ou a falta dele”, explica.  

Conforme Isis Paranhos, excessos que representam compulsões estão relacionados, também, à dificuldade que as pessoas têm de lidar com as emoções básicas, que são a raiva, a frustração, o ciúme, o medo e a vergonha. “Para poder lidar com isso na vida adulta, começamos a mascarar e compensar com alguns comportamentos. Uma pessoa que come em excesso, por exemplo, usa a comida como fuga. Ela pode estar tentando esconder uma falta de atenção ou a falta da presença de pessoas amadas. Nesse caso, a comida acaba virando a única forma de afeto”, exemplifica.  

Também existem razões biológicas para que as pessoas cometam excessos. Foi isso o que explicou, em entrevista a O TEMPO,  o psiquiatra e terapeuta cognitivo-comportamental Rodrigo de Almeida Ferreira. De acordo com o médico, o nosso cérebro busca por sensações satisfatórias independentemente do ambiente ou do contexto que estejamos vivendo. “Isso tem a ver com a liberação de dopamina em uma região do cérebro chamada ‘nucleus accumbens’, mais conhecida como ‘a área da recompensa’”.  

Os exageros acontecem, porém, quando essa busca passa a acontecer de forma excessiva. Embora possa parecer simples notar quando ultrapassamos os limites, não é das tarefas mais fáceis reconhecer quando o comportamento deixa de ser saudável, principalmente porque o que compreendemos como excesso pode variar de acordo com situações, contextos e pessoas.  

Apesar disso, é possível identificar quando as ações se tornam prejudiciais. Para exemplificar, Rodrigo citou o exemplo de pessoas que comem em excesso. Nesse caso, ele pontua que é preciso avaliar, antes de tudo, se a compulsão acontece em situações pontuais, como um rodízio, por exemplo, ou se ocorre em quase todas as oportunidades. Além disso, é necessário observar como é a relação com a comida. São aprendidas novas formas de se relacionar com ela ou o exagero é a única capaz de gerar prazer? O contexto em que o indivíduo está inserido também deve ser avaliado. A partir disso, é possível compreender quando a atitude está sendo cometida de forma exagerada e, também, se está causando impactos negativos na vida da pessoa.  

Autoconhecimento é o primeiro passo 

Lidar com os exageros e buscar frear essas atitudes compulsivas é uma tarefa que passa, antes de tudo, pelo autoconhecimento. Foi isso o que destacou a psicóloga Isis de Léon para O TEMPO. “Quando uma pessoa percebe que está cometendo atitudes em excesso, ela deve, antes de mais nada, conversar consigo mesma. Estamos sempre conversando com o mundo e pouco com nós mesmos. É importante buscar ajuda, mas, antes de procurar uma resposta no mundo externo, busque em você. Tente entender onde está esse vazio e essa falta que está gerando gatilhos. Se eu localizar essa falta, vou ser capaz de lidar com ela e, se eu não for capaz de lidar sozinha, posso buscar ajuda”, orienta.  

A terapeuta Isis Paranhos reforça o coro, ressaltando, também, a importância de entrar em contato com sua própria essência. “Uma das formas de se conectar com isso, que algumas pessoas também vão chamar de ‘alma’, de ‘eu divino’, ‘eu superior’ ou ‘anjo da guarda’, é começar a cultivar a prática da meditação, da contemplação, respiração consciente. São vários nomes para chamar esse exercício de parar e se sentar com seus próprios pensamentos e emoções e se permitir senti-los”, aconselha.  

Ela pontua ainda que, como a prática é gratuita, qualquer pessoa tem acesso a ela. “É algo que você pode fazer sozinho, pode buscar no YouTube”, afirma. Isis Paranhos ainda sugere que caminhadas sem um objetivo definido também podem ser aliadas nesse processo. “Não é como sair de casa e ir ao supermercado, ir a uma praça, por exemplo, é você simplesmente sair e ir andando. Coloque um podcast ou uma música que você gosta e vá caminhando sem foco. Isso vai te trazer de volta para um centramento, você vai começar a se permitir sentir as coisas”.  

A consultora ainda pontua que terapias também podem ser buscadas e, nesse sentido, pondera que as pessoas têm uma vasta gama de opções que vão desde as terapias tradicionais, como a análise ou a cognitivo-comportamental, às alternativas, que incluem a própria meditação e o Reiki, por exemplo. Segundo ela, o importante é que a pessoa se sinta confortável e se adapte. “Só vamos querer compensar e ter uma válvula de escape que não é saudável quando não estivermos bem internamente. Você pode mudar de excesso, mudar de cidade, país, emprego, relacionamento, mas o desconforto vai continuar se você olhar para dentro de você mesmo”.

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