Internet

Pornografia infantil: fantasma dentro de casa

Brasil está entre os líderes de casos no mundo, mas muitos familiares não usam meios de proteção


Publicado em 20 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
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Por trás das telas, o perigo. Os casos de pornografia infantil dominam as denúncias de crime na internet feitas no Brasil, segundo os levantamentos periódicos da Safernet, ONG que luta contra crimes virtuais. Dados das companhias de tecnologia americanas também mostram que o Brasil está entre os países com maior incidência de denúncias por divulgação de imagens de pornografia infantil, ao lado de Estados Unidos, México, Índia, Indonésia e Tailândia. Estima-se que mais de 1 milhão de imagens de pornografia infantil circulem via web no mundo.

No entanto, apenas um quarto (26%) dos pais usa um software de controle específico para limitar a atividade de seus filhos online, de acordo com o estudo da Kaspersky Lab. Outro agravante é que, entre os pais que não utilizam recursos de controle, um quinto (21%) acredita ser melhor que as crianças aprendam sozinhas como usar a internet com segurança. Ainda de acordo com a pesquisa, 41% das crianças foram expostas a ameaças online no período de 12 meses anterior ao estudo.

A turismóloga Erica Abreu, 37, conta que a filha Anna, 5, tem uso restrito aos aplicativos nos eletrônicos dela. “O aparelho foi cadastrado com perfil de criança, usamos os recursos de restrição da fabricante, o bloqueio de tela para ela não mudar de aplicativo, e só tem instalado o YouTube Kids – o que reduz as possibilidades de elas conseguir assistir a vídeos indevidos”, diz.

No aparelho dos pais, a mãe conta que a filha só tem acesso aos aplicativos de gibis e de livros para incentivar a leitura da filha. “Em casa, ela vê pouca televisão, e o acesso às mídias digitais e aos eletrônicos é bem restrito por conta da idade. Tentamos proporcionar outras experiências para ela”, afirma Erica.

Recursos. Para tentar minimizar os riscos que hoje existem mesmo sem que os filhos saiam de casa, a empresa de segurança cibernética desenvolveu o Kaspersky Safe Kids, uma solução que permite que os pais administrem o que os filhos veem e acessam online em todos os dispositivos, além de mostrar com segurança o que é perigoso ou inapropriado online. “O objetivo não é bloquear ou evitar o que a criança e o filho estejam acessando, mas dar visibilidade para os pais ao que eles estão fazendo”, explica o analista de segurança da Kaspersky Lab, Thiago Marques.

O programa, que já tem mais de 200 mil usuários pelo mundo, conta com recursos de gestão do tempo para especificar os limites dos períodos em que se pode utilizar um dispositivo, restrição no uso de aplicativos que impeçam que crianças abram ou instalem programas de acordo com idade ou categoria, monitoramento de atividade no Facebook e até de localização, que permite que os pais saibam onde seu filho está em um determinado momento. Marques reconhece ainda que todos esses recursos “não tiram a necessidade dos pais de controlar, conversar e saber como está sendo o uso”.

Nilton Cazzaniga Jr. é diretor da Quartzo Software, que administra o programa InterApp Control – outra ferramenta de controle e monitoramento –, que já tem mais de 2 milhões de downloads.

“Além de leve, rápido e muito fácil de usar, tem uma versão totalmente grátis para uso doméstico. Há outra versão, paga, com mais recursos, para uso em empresas. O software é instalado nos computadores que se quer controlar e em questão de segundos permite bloquear Facebook, Twitter, Skype e qualquer outro site ou programa impróprio, à critério do administrador do sistema”, explica.

Ele próprio usa a ferramenta para controle dos seus filhos de 7 e 21 anos. “Em casa, é uma ferramenta indispensável para os pais poderem acompanhar e disciplinar a vida digital dos filhos.

Entre outros recursos, permite limitar o tempo que as crianças permanecem conectadas e monitorar tudo que elas acessam e digitam no computador, ajudando inclusive a detectar e evitar casos de assédio e pedofilia online”, afirma Cazzaniga.

 

Minientrevista - Betina von Staa, Educadora, autora e consultora em inovação na educação

 

Qual é sua análise sobre os números da pesquisa da Kaspersky Lab? São assustadores. A internet traz tantos perigos novos e desconhecidos para o mundo de hoje, coisas que a gente nem imagina estão vindo para dentro de casa. É importante os pais estarem muito em alerta, sim, e é normal, pois eles sempre preocuparam-se com quem o filho conversa na rua, se não vai se meter em encrenca.

Porque os pais ainda subestimam riscos da internet? Existe aquela visão de que a tecnologia é coisa dos jovens, que os filhos vão saber melhor do que os pais, que eles (pais) não entendem e por isso não têm como orientar. De fato, os mais novos sabem mais. O que eles não sabem é de toda a experiência de vida que um adulto já tem em vários âmbitos do relacionamento: o que é saudável, o que não é, conteúdos que fazem bem ou que não trazem contribuição nenhuma.

Tão importante quanto o uso de antivírus é orientar os pais e responsáveis? Sim, pois ter um rastreador para ver o histórico dos filhos, entrar na rede social e ver como eles estão interagindo podem ser medidas interessantes, mas também vêm com o preço da perda de confiança. Sou mais a favor da conversa franca. Muitos usam o rastreador e veem que o filho não acessa sites de armas nem de pornografia e acham que está tudo bem. Mas tem outro perigo enorme, que são as fotos de pessoas bonitas. Principalmente as meninas, que são muito influenciáveis pelo que elas veem na internet, e isso vem gerando dados assustadores de depressão.

Até que ponto os pais podem vigiar os filhos na internet? Ser um pai chato ou uma mãe controladora sempre foi uma questão que os adultos tiveram e continuam tendo, mas, diante de tudo que está envolvido no uso das tecnologias, eles têm que ficar mais perto dos filhos. 

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