Comportamento

‘Saí correndo e gritando que estavam querendo me matar’

Alcoólatra se curou do vício vencendo o preconceito que tinha contra a religiosidade


Publicado em 15 de novembro de 2015 | 04:00
 
 
 
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Márcio Dermeval da Fonseca Filho, 50, cresceu em uma família, segundo ele mesmo, “desestruturada”. Filho único de pais separados, tinha aversão a tudo que estivesse relacionado a religiosidade. Mas por ironia do destino – ou não –, foi justamente o desenvolvimento de sua espiritualidade que o ajudou a superar seu maior drama.

Aos 11 anos, Márcio começou a fumar. Antes dos 15, já estava completamente viciado em álcool, e mais. “Em mesa de alcoólatra, aparece de tudo: maconha, anfetaminas, outras coisas”, conta. Orgulhoso, morou nas ruas de Belo Horizonte, mesmo tendo casa e família. “O pensamento de suicídio passou pela minha cabeça várias vezes porque não via saída. Mas foi aí que comecei a pensar: se Deus existe, não é possível que ele fez a minha vida para eu viver da forma como estou”, lembra.

O caminho veio em um dia de “porre” muito pior do que os outros. “Eu acho que colocaram ácido ou alguma outra coisa na minha bebida, porque tive alucinações. Saí pela avenida Pedro II correndo e gritando que estavam querendo me matar”, lembra. Ele foi levado para a igreja pelo próprio pai e pelos vizinhos. “Quando eu cheguei ao local, não entendi nada. Só percebi que aquela era a minha chance”, conta. Lá, no Desafio Jovem Paniel, instituição filantrópica da igreja evangélica Paniel, ele passou sete meses entre tratamentos médicos, para se livrar do vício, e um trabalho espiritual intenso.

“Todas as manhãs, fazíamos a nossa meditação pessoal. Durante o dia, tínhamos as leituras da Bíblia, e, à noite, havia as palestras com a palavra de Jesus”, diz. Além de ajudar a lidar com a dificuldade de um tratamento de desintoxicação, o desenvolvimento da religiosidade deu a Márcio outra perspectiva da própria vida.

“Passei a crer que há, em nosso coração, uma predisposição a acreditar em alguma coisa, descobri o sentido da vida, o que eu estou fazendo aqui. Foi um resgate da esperança, que me deixou mais forte e seguro de que eu poderia encarar essa mudança”, declara. Hoje, quase 30 anos depois, Márcio trabalha como pastor, ajudando a recuperar jovens na mesma instituição que o acolheu. 

Alucinação psicótica ou um simples transe?

O coordenador da seção Espiritualidade, Religiosidade e Psiquiatria da World Psychiatric Association (WPA), Alexander Moreira, explica que alguns fatores ajudam a diferenciar um transtorno psicótico de uma vivência espiritual, mas esse diagnóstico ainda é um desafio.
Segundo ele, a grande distinção é que, quando se trata de uma patologia, as experiências alucinatórias vêm acompanhadas de déficits cognitivos, depressão e ansiedade. “As populações não clínicas têm experiências sensoriais, mas não têm déficits cognitivos e são bem ajustadas socialmente. Elas têm crenças que sustentam essas experiências”. 

Meditação e reza ajudam contra TDAH

Há cerca de cinco anos, a empresária Paula Rodrigues, 33, foi diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A solução dos médicos foi a mais óbvia: ritalina. Mas ela não ficou satisfeita.

“Meia hora depois que tomava o medicamento, sentia o efeito. Eu ficava muito mais concentrada, minha produtividade subia muito. Mas também sentia taquicardia, sede, perda de apetite”, conta. Para fugir dos efeitos adversos e das polêmicas envolvendo o remédio, ela resolveu incorporar ao tratamento algo mais natural.

“Quando estou muito agitada, sento-me no meu quarto, ou no meu ateliê, e faço uma prece ao meu anjo da guarda. Peço calma e tranquilidade e chego a sentir uma presença comigo. Já quando acordo e sei que o dia vai me trazer agitação, faço uma meditação logo pela manhã, e isso já me tranquiliza”, conta.

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