O câncer de próstata é a segunda causa de morte por câncer na população masculina, atrás apenas do de pulmão. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados cerca de 68.220 novos casos da doença no Brasil somente neste ano. Ainda segundo o Inca, aproximadamente 25% dos pacientes morrem devido à patologia.

O jornal O TEMPO conversou com o oncologista e diretor da Oncomed-BH, Roberto Porto Fonseca, a respeito desse tema para esclarecer a população sobre quais são os riscos e formas de prevenção no combate ao câncer de próstata.

Como acontece o desenvolvimento dessa enfermidade no homem?

No início, de modo geral, a doença não traz sintomas. Com a evolução, o paciente pode apresentar queixas relacionadas ao crescimento da glândula (diminuição do jato urinário, com dificuldade para urinar, necessidade de urinar mais frequentemente, inclusive durante a noite). Na fase avançada, os sintomas estão relacionados ao órgão acometido pela doença.

De acordo com o Inca, são esperados cerca de 68.220 casos desse tipo de câncer somente neste ano. A que se deve esse número tão alto?

O aumento da expectativa de vida da população é o principal fator de incidência da doença. Além disso, a melhoria nos métodos de diagnóstico e uma maior disseminação de informações sobre a enfermidade têm contribuído para o crescimento dos registros de câncer de próstata.

Quais são os principais fatores de risco dessa patologia?

Pacientes com história familiar de câncer da próstata, afrodescendentes e portadores de mutações genéticas específicas têm risco aumentado. Na população em geral, homens obesos, tabagistas e sedentários, que fazem uso regular de bebidas alcoólicas, têm tendência maior a adquirir a doença.

A partir de qual idade é mais comum ter o diagnóstico da enfermidade?

A maioria dos casos de câncer da próstata é diagnosticada a partir dos 65 anos.

Quais são as formas mais eficazes de prevenção?

Comprovadamente, a melhor forma de se prevenir o câncer em geral, inclusive o de próstata, está relacionada a hábitos de vida saudáveis, como manter uma atividade física diária, dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais. Devemos manter o peso adequado à altura, evitando, assim, a obesidade, diminuir o consumo de álcool e evitar o tabagismo.

A cirurgia aumenta as chances de cura do câncer de próstata?

O tratamento do tumor da próstata vai depender de vários fatores (grau histológico, estágio e condições clínicas do paciente). Pessoas que têm tumores de evolução indolente, em fases iniciais, podem ser observadas ativamente por meio de avaliações periódicas e não necessariamente precisam de tratamento. Nos casos em que a doença esteja em um grau mais agressivo, localizada, é utilizada a cirurgia e/ou radioterapia. Já quando a patologia é metastática, utilizamos tratamento sistêmico (hormonioterapia, quimioterapia, drogas antiandrogênicas, entre outros).


Levantamento realizado pelo Centro de Referência da Saúde do Homem revelou que 60% dos pacientes do sexo masculino só procuram tratamento quando a doença está em estágio avançado. Na opinião do senhor, qual é a explicação para esse número ser tão alto?

A desinformação sobre a alta incidência dos sintomas, eventual gravidade, além de questões culturais ou problemas de acesso a serviços de saúde, são, seguramente, as principais razões para um índice tão alto. Além disso, ainda tem o medo do diagnóstico de câncer em nosso meio.

Em relação à campanha Novembro Azul, qual sua avaliação?

Somos a favor de campanhas que informem a população sobre determinadas doenças, sobretudo as mais incidentes e que possam ter seu prognóstico melhorado graças à detecção precoce. No caso específico do câncer de próstata, é fundamental que os participantes sejam alertados para os riscos inerentes aos métodos diagnósticos (inclusive os invasivos, com biópsias) e ao sofrimento psicológico do diagnóstico em si. Parte dos tumores de próstata pode evoluir rapidamente e levar o paciente à morte. A maioria, porém, apresenta desenvolvimento lento, durante anos, não trazendo sintomas e não ameaçando a saúde do paciente. Em relação aos casos de alto risco, que são aqueles com histórico familiar, afrodescendentes e mutações reconhecidamente de risco, somos favoráveis ao rastreamento do câncer de próstata. Esse procedimento deve ser realizado a partir dos 45 anos. No entanto, após os 75 anos, não recomendamos esse método.

Dois em cada dez pacientes são diagnosticados em fases avançadas da doença. Qual a explicação para isso? E qual é a principal dificuldade quando o tumor já está nesse nível?

O câncer de próstata pode se apresentar com características histológicas mais agressivas, conferindo uma evolução clínica mais rápida e desfavorável. Além disso, pacientes de riscos mais elevados ou com sintomas, que por alguma razão não procuram assistência médica, podem ser diagnosticados com doença mais avançada e consequente piora de seu prognóstico. 

O diagnóstico precoce contribui para até qual porcentagem de chance de cura?

Quando diagnosticado precocemente, a grande maioria dos pacientes com câncer de próstata fica curada.