O bebê começa a chorar alto, demonstrando estar com algum incômodo, e o termômetro logo aponta uma temperatura corporal que pode chegar aos 40ºC. A causa pode ser a roséola, conhecida como exantema súbito, uma doença transmitida pelo vírus herpes tipo 6 e considerada de evolução benigna. A virose é muito comum na primavera e no outono e costuma acometer bebês entre 6 meses e 2 anos.

Além da febre alta, a roséola causa manchinhas vermelhas por todo o corpo. Elas aparecem no quarto dia da doença, logo depois que a febre desaparece, explica o pediatra Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“Os principais sintomas são a temperatura alta (febre) e as erupções na pele, mas nenhum outro acompanha a doença”, afirma o médico. No entanto, os especialistas explicam que, como ocorre febre alta – entre 38°C e 40°C –, os pais devem ficar atentos à temperatura da criança, para evitar o risco de convulsões, comuns nessa fase.

Segundo Sáfadi, os pais devem saber que nem sempre a febre alta é sinal de algo grave. “É uma doença que o próprio organismo vai se encarregar de tratar. Mas é claro que podemos melhorar a situação do bebê ou da criança doente. No caso da roséola, o médico vai receitar um antitérmico”, afirma. O pediatra acrescenta que outras medidas podem contribuir para a recuperação, como a hidratação e o repouso.

A roséola é passada de uma pessoa para outra durante o período febril. Entre os pequenos, a transmissão ocorre no contato com a saliva daquela que estiver infectada. “Por isso é importante que os pais mantenham o filho ou a filha sem contato com outras crianças até que ele se recupere porque é muito transmissível, assim como qualquer outra doença viral”, orienta. O diagnóstico é clínico e raramente se torna necessário pedir exames laboratoriais.

Susto. As pintinhas vermelhas do pequeno Lucas Amaro, 7, foram motivo de preocupação para os pais Leonardo Amaro e Flavianne Baptista.

“Ele tinha só 1 ano. O que mais assustou foram essas bolinhas. Ele também teve a febre com tremedeiras. Levou uns dez dias para começar a melhorar”, conta.

Até então, o casal nunca tinha ouvido falar da doença, segundo Leonardo. O conhecimento veio apenas com o diagnóstico obtido depois que levaram Lucas ao hospital.

O pediatra Marco Aurélio esclarece que, apesar dos sintomas impactantes, a roséola não é considerada, na grande maioria das vezes, uma doença grave. “A roséola atinge pacientes mais novos, mas raramente deixa sequelas quando desaparece. Por isso é considerada de evolução benigna”, afirma.

Primavera

Outras doenças, além da roséola, ganham destaque nesta estação: a catapora, a escarlatina e o eritema infeccioso. Todas têm em comum o aparecimento de bolinhas vermelhas no corpo.

A catapora é causada por um vírus do tipo herpes e provoca bolhas avermelhadas (ou feridas) na pele, que depois de um tempo evoluem para bolhas com líquido por cinco dias.

A escarlatina é provocada por bactéria. Causa febre alta, dor na garganta, erupção cutânea, dor de barriga e vômito.

O eritema infeccioso é causado por um vírus. Provoca manchas em forma de maculopápulas (bochecha vermelha), febre baixa e dor de cabeça. Em todos os casos, deve-se procurar o médico.

Nos mais velhos

Apesar de ser muito recorrente em crianças na primeira infância, a roséola pode atingir os adultos.

Porém, segundo os especialistas, os relatos são incomuns: aparecem em casos de supressão do sistema imune, como após um transplante de órgãos ou durante radioterapia ou quimioterapia. 

 

Estudo liga cepa de vírus a esclerose

Uma cepa do vírus herpes HHV-6, o mesmo da roséola, pode desencadear a esclerose múltipla. Essa suspeita foi levantada por pesquisadores do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame, em Bethesda, Maryland. O resultado foi divulgado no “Goldman Cecil Medicina”, um dos livros mais importantes da área nos EUA. O vírus é conhecido por estar presente em 90% dos adultos norte-americanos.

No estudo, os cientistas analisaram 36 pacientes com esclerose múltipla e constataram que 35% deles tinham níveis detectáveis do vírus ativo HHV-6 no corpo. Dos pacientes com a forma mais comum da doença – a recorrente-remitente –, 70% apresentaram um aumento da resposta imune ao vírus.

Além disso, os vírus do herpes são conhecidos por poderem permanecer latentes nas células nervosas que atacam e causar a doença posteriormente. Os pesquisadores observaram, ainda, que os mesmos fatores associados à esclerose múltipla têm sido associados à reativação do herpes na fase adulta.