Saúde bucal ou estética?

Sorriso dos participantes do BBB 23 vira meme; saiba o que pode ter dado errado

Especialistas explicam como funciona o tratamento com lentes de contato e facetas dentais, falam sobre os riscos e vantagens


Publicado em 08 de fevereiro de 2023 | 06:30
 
 
 
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Muita coisa já aconteceu desde a estreia do “Big Brother Brasil 23” em 16 de janeiro. Paredão em dupla, retorno para a casa, discussões sobre relacionamentos abusivos e até mesmo uma briga por causa de uma peruca. Não faltaram motivos para que o “BBB” fosse discutido nas redes sociais. Mas, mesmo com tanto assunto, um tema tem prevalecido – e, vira e mexe, se transformado em meme: o sorriso dos participantes. Comparados a dentaduras de plástico, balas, teclas de piano e até mesmo sendo motivo de piada pela cor branca nada natural, os dentes dos brothers têm dado o que falar – e não pelos melhores motivos. 

O sorriso que parece ser basicamente o mesmo em alguns dos participantes da casa tem uma explicação: é fruto de intervenções estéticas: as lentes de contato e as facetas dentais. Cada vez mais populares entre famosos e anônimos ao redor do mundo, esses tratamentos não promovem nenhuma melhora na saúde bucal, tampouco são indicados para isso. “Sem dúvida, eles são realizados majoritariamente por estética”, afirma Fernando Porfírio, dentista e professor do Centro Universitário Newton Paiva. 

Mas, se essas intervenções são feitas para melhorar a aparência do sorriso, por que tem ocasionado a reação contrária? Uma das explicações pode ser na cor escolhida por quem passa pelo procedimento. “Não existe um dente que seja naturalmente tão branco como esses que temos visto. Na própria estrutura dental, há uma alteração de cor, com os dentes sendo mais amarelados nas regiões mais próximas à gengiva e mais acinzentados na ponta”, afirma a dentista Júnia Guimarães.

A profissional pontua ainda que o próprio material utilizado pode tornar a aparência dos dentes mais falsa. “Quando você coloca a lente, na porcelana é difícil fazer uma matriz de cor degradê, e isso pode dar a ela um aspecto mais artificial”, observa. Mas o principal motivo para que o sorriso não fique bom é mesmo a escolha errada no tom. “Quando a porcelana é feita em uma coloração correta, de acordo com a pessoa, o resultado é melhor”, pontua.

Junia explica que, para a avaliação do tom correto, até mesmo a cor da pele do paciente deve ser levada em consideração. “Negros têm os dentes mais brancos, já as pessoas caucasianas têm uma cor mais puxada para o amarelo. Isso precisa ser observado para que fique natural, porque a beleza virá da naturalidade”, pontua. 

Além de questões que impactam a aparência das facetas ou das lentes de contato, a própria opção pelo tratamento precisa ser cuidadosamente avaliada. “Os maiores riscos estão nas intervenções extensas feitas sem uma demanda clínica ou por motivos de saúde em pessoas ainda muito jovens, porque o tratamento, por si só, a opção restauradora, seja ela de cerâmica, seja de resina, é baseada na incorporação de um material sintético naquele sistema que já funciona perfeitamente”, explica Fernando Porfírio.

Especialista em implantodontia, Fernando ressalta que a presença desse material diferente do natural pode ter impactos, causando a manutenção do sistema bucal mais difícil, principalmente em casos em que o tratamento não é bem conduzido. “Estamos incorporando elementos externos e sintéticos à nossa cavidade bucal, e esses componentes podem se deteriorar. Eles se comportam de uma maneira diferente que os dentes e podem, muitas vezes, até facilitar problemas dentários nos suportes periodontais e nas raízes dos dentes como um todo”, explica. 

Fernando pontua ainda que esse tipo de tratamento é irreversível, por isso precisa ser avaliado com muita cautela. “A grande maioria dessas modalidades demanda um desgaste dentário, e o dente desgastado nunca mais volta à normalidade”, explica. 
Júnia Guimarães reforça o coro, chamando atenção para o fato de que muitas pessoas que possuem dentes saudáveis têm optado pela aplicação de facetas sem necessidade, apenas para seguirem a moda. “Esse paciente passará por desgastes bem acentuados para colocar uma porcelana, que é algo artificial. Isso entra muito também na avaliação e no bom senso do profissional. Nem sempre a gente deve fazer o que o paciente quer. Se não for uma indicação muito bem feita, um paciente de reabilitação, que esteja com um dente muito destruído, com muitas partes em resina, não vale a pena”, diz. “Se é um dente que não tem nada, eu não faço”, completa.

Tratamento pesa no bolso

Além de ser irreversível, a aplicação de lentes de contato ou facetas dentais tem um custo elevado. Segundo Júnia, o valor pode girar em torno de R$ 2.000 por cada dente. Além disso, há também a necessidade de manutenção periódica. A pigmentação das próteses também não é eterna, então, em algum momento, pode ser necessária a troca.

A durabilidade da prótese também não é garantida. “Isso depende muito do profissional que executou, do cuidado que ele teve ao indicar essa modalidade e, sem dúvida nenhuma, tem que pensar no cuidado do paciente com aquilo que foi colocado na boca, porque são componentes estranhos ao sistema do corpo humano que demandam atenção específica. A higiene bucal deve ser redobrada pelos pacientes que optam por esses tipos de tratamento”, explica Fernando. 

Ele chama atenção ainda para o fato de que esse tipo de tratamento não pode substituir o uso de aparelhos ortodônticos, já que eles não são indicados para a correção do posicionamento ou alinhamento dos dentes.

Quais as vantagens?

Conforme Fernando Porfírio, a principal vantagem das facetas e lentes de contato dentárias é a possibilidade de padronização estética rápida do sorriso, com durabilidade boa quando feita com cuidado do profissional. “Outro ponto positivo marcante é o alcance da demanda estética do paciente com uma intervenção que é relativamente previsível”. Júnia Guimarães também ressalta o benefício estético: “O sorriso é o cartão de visitas da pessoa, então, tê-lo bonito é importante”.

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