“Quem fala o que quer escuta o que não quer”, estabelece um certeiro ditado popular que, no universo corporativo, fica ainda mais sério. Nesse meio, mais do que ouvir uma resposta indesejada, o hábito de verbalizar tudo o que se pensa pode acarretar ações duras, justificando, inclusive, a demissão.
“Vimos, recentemente, o episódio em que um conhecido jogador de vôlei viu seu contrato ser rompido depois de fazer comentários impertinentes em suas redes sociais”, comenta David Braga, headhunter da Prime Talent, em referência ao afastamento de Maurício Souza, que atuava pelo Minas Tênis Clube. O atleta vinha fazendo comentários que denotavam homofobia, prática que é considerada criminosa no Brasil. Após pressão de torcedores nas redes sociais e de patrocinadores, a equipe anunciou que o contrato com o jogador estava sendo encerrado.
“Esse caso foi apenas mais um clássico que reforça que preconceitos continuam a existir entre muitos brasileiros, de forma latente, mas, geralmente, velada. Também mostra que, se tem algo bem escasso, atualmente, é a empatia no trato relacional, seja no âmbito profissional, seja no pessoal”, sustenta o autor do livro “Contratado ou Demitido: Só Depende de Você”, lembrando que essas atitudes estão na contramão do que é esperado de um profissional. “Hoje é ainda mais importante aceitar o diferente, principalmente aquele que pensa diferentemente do seu ponto de vista. Caso contrário, inicia-se o processo de polarização, que é péssimo para qualquer tipo de relação e para qualquer ambiente de trabalho. Pode, até mesmo, afetar os resultados da companhia”, sustenta.
Braga pondera ser fundamental que as empresas preservem espaços para a expressão de opiniões diferentes. “É do conflito, quando esse conflito é saudável, que advêm a inovação e a mudança”, reforça, lembrando que é preciso atenção para saber o limite entre o que é opinião, o que é impertinência e o que é uma prática criminosa – caso de expressões que denotem assédio moral, racismo, LGBTfobia e intolerância religiosa, por exemplo.
Para entender quando uma opinião será bem-vinda e quando será apenas um incômodo, o caça-talentos é enfático: é preciso desenvolver o autoconhecimento e praticar a escuta ativa. “O sujeito que fala o que quer, que faz comentários sobre tudo e todos, em geral, é incapaz de perceber a reação dos outros. Quem está atento ao feedback externo, mesmo não verbal, vai ter mais facilidade para modular sua fala, sabendo quando e como se expressar sobre algum tema”, opina.
“Outro ponto extremamente relevante sobre o posicionamento dos profissionais é, claro, o fato de que, quando se atua em uma empresa, representa-se uma marca – trabalhando como colaboradores ou sendo patrocinado”, prossegue Braga, que questiona: “De que maneira você representa a marca da organização da qual faz parte?”. Para ele, ao responder a essa pergunta, seremos capazes de compreender se os propósitos do lugar em que trabalhamos estão alinhados com os nossos próprios propósitos. “Entender sobre esse aspecto, com certeza, ajuda a direcionar as ações no dia a dia”, avalia.
Empatia. Efeito dos exercícios contínuos de autoconhecimento e de escuta ativa, as habilidades de empatia são atributo desejado pelas empresas na atualidade.
“Posso garantir – até por atuar, há anos, como ‘headhunter’, o famoso caça-talentos – que a empatia é umas das competências e habilidades, as tão faladas ‘soft skills’, presentes em profissionais de sucesso. Isso ocorre porque, diariamente, é preciso gerenciar conflitos dentro das corporações. Ao usar a empatia, as chances de resolução aumentam consideravelmente. Além disso, é bom lembrar que, antes de ser um bom profissional, é necessário ser um bom ser humano. Somente assim construirá relações saudáveis”, sentencia David Braga.
Redes sociais. Ainda que as redes sociais tenham possibilitado diversos ganhos nas dinâmicas relacionais, inclusive profissionalmente, Braga recomenda cuidado no uso dessas ferramentas.
“Com essas mídias, temos a oportunidade de estar mais perto das pessoas com quem trabalhamos. E isso pode ser bom, pode gerar laços, deixar a equipe mais próxima. Mas, por outro lado, sabemos que esses espaços virtuais têm impulsionado as polarizações e discussões acaloradas. Vivemos numa era onde todos estão com o celular nas mãos e a postos para expressarem suas opiniões, nesses canais, a respeito de absolutamente tudo”, diz, inteirando que, assim como fora das redes, é importante pensar duas vezes antes de emitir um comentário que possa soar impertinente e gerar crises desnecessárias.