O frio já dá sinais em Belo Horizonte, mas, diante das constantes ondas de calor e das mudanças no clima, a Prefeitura de Belo Horizonte vai inaugurar, ainda neste mês, o primeiro refúgio climático da cidade.
O totem, de uso público e gratuito (veja arte), será instalado em locais estratégicos e foi projetado para oferecer assistência às pessoas durante ondas de calor. Será composto de três bebedouros – um para adultos, um para crianças e um para pets – e aspersores de vapor refrescante. Ele vai ser instalado próximo a árvores de grande porte e contará com espaço para que as pessoas também possam descansar. O primeiro deles será inaugurado até o fim de junho, na rua dos Carijós, 679, no centro. Até o fim do ano, serão cinco no total.
A iniciativa integra as inúmeras ações do município para mitigar o efeito das mudanças climáticas sobre a cidade e a qualidade de vida das pessoas. Esse e vários outros projetos – como o Plano Local de Ação Climática (Plac), o Plano de Redução da Geração de Gases de Efeito Estufa (PREGEE) e o BH Verde – estão sendo desenvolvidos pelo poder público, e grande parte deles foi apresentada ontem, no Dia Mundial do Meio Ambiente.
Outro projeto na mesma pegada ambiental, mas com foco na segurança alimentar e na gestão das águas e do solo de Belo Horizonte, incentiva a criação de hortas comunitárias e coletivos urbanos de agroecologia, as Unidades Produtivas Coletivas e Comunitárias de Agricultura Urbana (UPs).
As unidades são cadastradas, atendidas e apoiadas pela Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (Susan), da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (Smasac), e são fruto de uma iniciativa da Diretoria de Fomento à Agroecologia e Abastecimento da Susan/Smasac.
Segundo a PBH, os espaços de cultivo têm o objetivo de promover a produção de alimentos saudáveis, a geração de renda e o desenvolvimento local sustentável e já somam 59 pontos na cidade, onde há diversos tipos de cultivos, como hortaliças, frutíferas, plantas medicinais, PANCs, compostagem, criação de animais, entre outros. Além de cedermos as áreas para o cultivo, incentivamos e apoiamos a implantação e manutenção das unidades, fornecendo capacitação técnica, insumos e água.
Grupo de mulheres
A nutricionista Diana Nascimento, pesquisadora do Grupo AUÊ! - Estudos de Agroecolegia Urbana do Instituto de Geociências da UFMG e presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Belo Horizonte (Comusan-BH), acompanha um grupo de 30 mulheres que produzem alimentos, na capital e na região metropolitana, em hortas comunitárias, grupos coletivos ou no próprio quintal.
“O projeto é acompanhado pelo AUÊ! desde 2020 e conta com apoio da Prefeitura de BH, que abre edital duas vezes ao ano para que grupos de ao menos três pessoas se unam para plantar e gestar as hortas, em espaços do município que estavam ociosos”, diz.
Para Maria da Conceição Menezes, a Sãozinha, uma das fundadoras da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana (Amau), que completa 20 anos em 2024, as iniciativas têm grande relevância para a capital, pois mostram aos belo-horizontinos que a cidade também produz comida e pode ter muitos produtos saudáveis advindos da agricultura urbana agroecológica.
Hortas comunitárias são construídas com apoio da comunidade local e alunos da rede municipal de educação - Foto: Divulgação/PBH
Justiça climática e social nas periferias
A Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, uma organização sem fins lucrativos, com 38 anos de vida, que atua na região metropolitana de Belo Horizonte e no Leste de Minas promovendo a agroecologia no campo e na cidade, é outra parceira da PBH. Segundo a coordenadora executiva da Rede, Laura Barroso Gomes, atualmente os projetos em desenvolvimento na capital são o de Formação em Agroecologia, Agricultura Urbana e Construção Social de Mercados e o Territórios Sustentáveis, com a Smasac; e o Cozinha-Escola, com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico.
“Esses projetos apoiam ações de desenvolvimento territorial em regiões periféricas da cidade, em cinco comunidades: três ocupações da região da Izidora (Vitória, Rosa Leão e Esperança), além do Quilombo Mangueiras e da Vila Cemig, no Barreiro, onde estão as hortas comunitárias Alto das Antenas e das Antônias. “Entendemos que as iniciativas são de extrema importância para promover justiça climática nas grandes cidades, por meio do fortalecimento de quintais produtivos, hortas comunitárias, cozinhas solidárias, nos quais são produzidos, processados, distribuídos e comercializados alimentos agroecológicos, que são importantes para a soberania e segurança alimentar das comunidades envolvidas”, enfatiza Laura.
Ela destaca ainda que, após a tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul, a sociedade se atentou para a necessidade de projetos dessa natureza. “É preciso pensar os espaços rurais e urbanos como espaços verdes, que propiciam a produção de alimentos, a infiltração de água no solo e os cuidados com a gestão hídrica. Isso tudo é o que viabiliza o cenário de cidades mais sustentáveis”, acrescenta. Além das formações, a Rede de Intercâmbio realiza ações de estruturação dos espaços produtivos, com instauração e manejo de hortas agroecológicas e sistemas agroflorestais, e de implantação de tecnologias sociais produtivas, de cuidados com a água e o solo, como o saneamento ecológico.