A cada dois minutos, nasce um prematuro no Brasil. Em 2023, foram 302.528, segundo dados do Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos do DataSUS. Junto com o bebê, nascem a preocupação da mãe, a apreensão do pai e a dedicação da equipe médica. E aí começa uma verdadeira jornada pela vida. Como eles ainda não têm os órgãos completamente formados, a internação é regra. Na UTI, esses pequenos se tornam gigantes na luta pela sobrevivência.

Toda criança com menos de 37 semanas é prematura, também chamada de “pré-termo”. Abaixo de 28, a prematuridade é classificada como extrema. “Antes de 26 semanas de gestação, o quadro é considerado grave, devido à imaturidade dos órgãos. Para se ter uma noção, o sistema nervoso só está completo com 34 semanas”, explica a pediatra Mariana Fernandino, especialista em UTI neonatal.

Luan nasceu no dia 2 de março de 2023, quase quatro meses antes do esperado. Com 350 g e 25 cm, ele é um dos menores bebês já nascidos no Brasil. O recém-nascido de uma gestação de tempo normal (de 37 a 41 semanas), também chamado de “a termo”, pesa entre 2,5 kg e 4 kg, em média. “A primeira vez que eu fui vê-lo na UTI, a enfermeira colocou ele na palma da mão”, lembra a mãe, Jaqueline Ribeiro, 40. “Eu só fui pegá-lo no colo pela primeira vez quando ele tinha 2 meses”, diz.

A gestação de Jaqueline ia muito bem até a 22ª semana. No ultrassom morfológico, ela e o companheiro, Daniel Vieira Silva, foram surpreendidos. “Meu marido estava filmando, porque a gente queria saber o sexo do bebê, e nem conseguimos porque a médica não parava de olhar e ficou aquele silêncio total. Eu tinha zero líquido amniótico”, conta. Luan veio ao mundo três semanas depois. “Era tão pequenininho. Eu olhei para ele cantei, chorei e fui embora”, relembra. Luan ficou nove meses internado. 

‘Cisquinho de gente’

Liz também é uma prematura extrema. A mãe dela, Bruna Aparecida Alves Estevão, 36, foi internada na 22ª semana de gestação, com sintomas de pressão alta. Um mês depois, a Liz nasceu, com 460 g e 29 cm. “Era um cisquinho de gente, cabia na palma da mão. Mas, quando eu olhei para ela, tão frágil, eu só pensava que tudo ia dar certo”, relembra. E deu certo. Hoje, Liz está com 1 ano e 7 meses, e segue se desenvolvendo de maneira saudável e feliz.

Foram cinco meses e três semanas no hospital, com muitas intercorrências. “Ela desenvolveu displasia broncopulmonar, teve dois choques sépticos, teve enterocolite necrosante, retinopatia, três infecções hospitalares, hemorragia craniana e passou por oito transfusões de sangue”, relata Bruna.

Quando nasceu, o pé de Liz era do tamanho de uma tampa de caneta esferográfica - Foto: Arquivo pessoal

Muito além de ganhar peso

A especialista Mariana Fernandino destaca que, ao contrário do que muita gente pensa, os prematuros não ficam no hospital só para ganhar peso. “Eles precisam completar a maturidade dos órgãos”, afirma. O processo é complexo e exige acompanhamentos específicos. “Eles precisam de ventilação mecânica, são intubados, precisam de acesso venoso. Tudo isso gera estresse para o recém-nascido. Até mesmo o barulho. Em uma UTI infantil, a gente tem que deixar tudo silencioso, tem que ter cuidado de deixar o bercinho tampado, tentar não deixar muita claridade. Tudo isso influencia a evolução”, explica a pediatra, que trabalha no Instituto Nascer e integra a equipe de neonatologia do Mater Dei e a equipe de UTI neonatal do Hospital Belo Horizonte. 

“Primeiro cuidamos da parte respiratória. Nós conseguimos endurecer o pulmãozinho, com medicação. Depois tiramos o tubo e colocamos outro aparelho no narizinho, que faz o bebê conseguir respirar sozinho”, explica Mariana. 

A médica explica que, em muitos casos, o intestino ainda não está formado, o que compromete o ganho de peso. “A gente tem que colocar nutrição parenteral (intravenosa) e começar a progredir lentamente essa dieta. “A prematuridade extrema exige um tempo longo de internação. É um período muito complicado para as mães e pais. E depois que vai para casa é difícil também”, destaca. 

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