Para além do espelho d'água que tem sido o foco das principais ações do poder público nas últimas décadas, especialistas apontam que o problema ambiental da bacia começa muito antes, nas nascentes dos mananciais que abastecem a lagoa da Pampulha. Praticamente todas estão ameaçadas, principalmente pela especulação imobiliária.

Em 2015, o Ministério Público de Minas Gerais direcionou recursos para o projeto Catalogador de Nascentes da Bacia da Pampulha, produzido pela ONG Terra Viva Ambiental, sob coordenação da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio do Programa de Recuperação da Bacia da Lagoa da Pampulha (Propam), e da Prefeitura de Contagem. Na época, foram mapeadas mais de 500 nascentes, sendo 235, ou seja, 46,36%, no município de Belo Horizonte, e 272, 53,64%, em Contagem. Hoje, não se sabe em qual estágio de degradação essas nascentes estão.

Para a ambientalista Maria Antonieta Pereira, presidente da Ecovida – associação sem fins lucrativos de defesa da natureza que nasceu no bairro Nacional, em Contagem –, tema fundamental a ser tratado.

“Estamos com uma especulação imobiliária altíssima, que está destruindo nossas nascentes. Estamos com dois processos no Ministério Público contra a gestão municipal anterior, que liberou geral os alvarás para construtoras. A prefeita atual, Marília (Campos, PT),  levou o tema para discussão, conseguiu implementar algumas medidas protetoras no Plano Diretor, mas, do ponto de vista ambiental, a atuação é tímida, tinha que se investir em educação ambiental. A Câmara Municipal, por sua vez, não assume a função pública de lutar pelo meio ambiente. Tudo muito difícil ”, aponta.

Segundo Antonieta, a Copasa não atuou preventivamente na explosão de grandes incorporações imobiliárias em Contagem, que também não planejaram a questão do esgoto. “Com isso, tivemos um grande vazamento, que matou muitos peixes. As pessoas precisam se conscientizar de que tudo o que acontece em Contagem vai para a Pampulha. Eu acredito que o poder público é o grande responsável por tudo isso – que permite as construções em áreas de nascente, crescimento desordenado. Depois, tudo é mais difícil de resolver. Veja a ideia do governo de Minas sobre o Rodoanel, um projeto para escoar minério, passando por cima da bacia do rio das Velhas, do Paraopeba. É o homem destruindo tudo”, lamenta.

Contaminação acima do limite

A contagem de cianobactérias na estação PV235, localizada na lagoa da Pampulha em frente à igreja São Francisco, em junho de 2022, chegou a 1.070.335 cél/mL. O limite para rios classe 2 na Deliberação Normativa 01/2008, do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Cerh), é de 50.000 cél/mL.

Relatório do Igam indica que houve aumento de cianobactérias e concentração de cianotoxinas (microcistina e saxitoxina) em 5 dos 17 pontos de monitoramento da lagoa, de junho de 2021 a junho de 2022. As microcistinas são cianotoxinas hepatotóxicas, ou seja, atacam o fígado. Já as saxitoxinas são cianotoxinas neurotóxicas e promovem o bloqueio neuromuscular do organismo.

“A presença de cianotoxinas nas águas da bacia da Pampulha implica riscos à saúde pública, uma vez que, ainda que não recomendado, há relatos de recreação no local”, diz trecho de relatório do Igam.

Os problemas de poluição e assoreamento que envolvem a lagoa da Pampulha são tema de reportagem especial publicada em O TEMPO hoje (24). Para acompanhar os desdobramentos do tema acesse o site especial - Pampulha: o eterno custo da lagoa.