De volta às aulas

Saúde mental desestrutura professores nas redes pública e privada

Excesso de trabalho, medo, cansaço. Pesquisa joga luz sobre quadro de saúde dos educadores

Por Cristiana Andrade
Publicado em 18 de janeiro de 2023 | 06:00
 
 
 
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Mais de 20% dos educadores brasileiros consideram sua saúde mental ruim ou muito ruim, indica a pesquisa “Saúde Mental dos Educadores 2022”, que ouviu mais de 5.000 profissionais da educação, entre professores e gestores de todos os Estados e do Distrito Federal.

Segundo o levantamento, a percepção do agravamento do quadro de saúde mental (21,5%) piorou em relação a 2021, quando 13,7% responderam sobre saúde mental. Em 2020, o percentual era de 30,1%.

A investigação, feita pela Nova Escola e pelo Instituto Ame Sua Mente, buscou compreender os efeitos da pandemia na saúde mental dos docentes. Quase 85% dos entrevistados eram da rede pública de ensino.

Entre as principais consequências negativas da pandemia, os educadores apontaram sentimentos frequentes de ansiedade (60,1%); baixo rendimento e cansaço excessivo (48,1%); e problemas com o sono (41,1%). Dificuldade de socialização e isolamento, sensação de tristeza e aumento do consumo de psicoativos e álcool também foram relatados.

Outra situação identificada durante e após a pandemia foi o aumento de casos da chamada síndrome de burnout, incluída, no ano passado, no Código Internacional de Doenças. Ela se caracteriza pela falta de energia e pelo entusiasmo e forte esgotamento relacionado ao trabalho.

Com cerca de 230 mil trabalhadores da educação na ativa, o Estado de Minas Gerais não tem um raio-X sobre o que ocorreu com eles durante e no pós pandemia.

O TEMPO procurou as secretarias de Estado de Educação (SEE-MG) e Municipal de Belo Horizonte (Smed/PBH) para saber se foram e quais foram as ações adotadas por ambas em apoio psicossocial e emocional aos professores, desde 2020. 

Por nota, a SEE-MG informou que, entre 2020 e 2021, ofertou 27 cursos de formação de professores, com 475.685 vagas e 112.180 concluintes. Por meio da Secretaria de Estado de Planejamento (Seplag-MG), o governo afirmou não ter dados sobre adoecimentos, afastamentos e óbitos de docentes relacionados à Covid-19. 

A nota da Seplag diz que “como os dados pessoais são sigilosos, afastamentos por licença saúde não são registrados com dados específicos no sistema. A Central de Perícia Médica e Saúde Ocupacional da Seplag-MG também não registra dados sobre óbitos de servidores”. A Smed/PBH não retornou a demanda. 

Abandono escolar

Dois dos sindicatos de professores mais representativos no Estado – Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SinUTE) e Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG) – também não têm estatísticas sobre o que ocorreu com os docentes durante as adaptações às aulas online, como lidraram com novas tecnologias, além das demais situações vivenciadas. 

Para o diretor Estadual do SindUte, Paulo Henrique Santos Fonseca, “o ensino remoto emergencial foi marcado pela falta de estrutura, falta de conectividade de alunos e docentes e falta de aparelhagem”. “Não houve política do governo mineiro, nem para educadores, nem para educandos. A aparelhagem só foi disponibilizada após o retorno presencial”, pontua. 

Segundo ele, milhares de alunos da rede pública foram afetados e não puderam acessar as aulas. “Até houve conteúdo disponibilizado pela Rede Minas e pela internet, mas a elaboração do material foi feita sem diálogo com os professores. Resultado? Conteúdo com erros pedagógicos. Na nossa avaliação, foi um completo abandono escolar.”

Sobrecarga

Na visão de Valéria Morato, presidente do Sinpro-MG, a realidade de isolamento social e insegurança e as novas metodologias impostas pela pandemia fizeram com que muitos professores adoecessem. “Sobrecarregadas com a jornada doméstica e profissional, muitas professoras pediram demissão”, diz.

Segundo ela, todos os casos que chegaram ao sindicato foram acompanhados, inclusive por médicos. Sobre o retorno ao formato presencial em 2022 e os desafios para 2023, Valéria diz que, além da exaustão dos dois últimos anos, a meta agora é lidar com defasagens pedagógicas. 

“No ensino superior, as aulas remotas geraram a possibilidade de mais lucro com a união de turmas – teve professor dando aula para até 200 alunos. Com isso, a qualidade da educação foi secundarizada, e muitos adoeceram. O desafio será regulamentar essa nova forma de trabalho, e trazer de volta às escolas a valorização e o respeito ao saber acadêmico do professor”, conclui.

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