Eduardo de Come, CEO da Ero Brasil, é o décimo entrevistado da temporada Minas S/A Liderança que vai até este mês nas plataformas de O TEMPO.

A Ero Brasil – que tem a canadense Ero Cooper como acionista majoritária no Brasil – é mineradora de cobre e ouro.

Tem minas de cobre na Bahia e no Pará, mina de ouro no Mato Grosso, e unidade em Minas Gerais.

A empresa está investindo R$ 2,5 bilhões no Brasil neste ano, sendo 45% dos recursos para a mina do Pará e outros 40% para a operação da Bahia.

Ainda na Bahia, a Ero Brasil está aplicando US$ 200 milhões num shaft (elevador), um dos maiores da América Latina, para ir da superfície até o ponto de lavra em 11 minutos. Hoje, o trajeto é de 2 horas. 

 
Como começou sua trajetória? 

Eu sou economista, então a minha carreira sempre foi no setor de finança corporativa de empresa. A partir de 2003, eu comecei a trabalhar no setor de commodities. Na época, eu trabalhava na área de biocombustível. Depois, a empresa em que eu trabalhava migrou para o agronegócio. Em 2013, a Mineração Caraíba (na Bahia) – que hoje é um dos ativos da Ero – estava passando por uma mudança societária, uma grande trade estava adquirindo um percentual de participação, e aí me convidaram para participar desse processo. E em 2013 eu entrei na mineração e estou até hoje. 
 
Como foi o processo de entrada da Ero? 

A Mineração Caraíba começou na década de 70 com produção de cobre. Começou com mina a céu aberto, depois virou uma mina subterrânea, com 1.500 m de profundidade. Na década de 90, essa empresa – que era estatal, do governo federal – foi privatizada. No leilão, o grupo que levou a Caraíba era formado por três empresas. Eles começaram a rodar a empresa desde a década de 90 até 2013, quando entrou a Glencor, uma trading suíça gigante que também é mineradora e comprou um terço da participação. Em 2016, teve um acidente na mina, uma chuva muito forte rompeu um dique que passa próximo à nossa instalação bem no momento em que a gente estava fazendo um furo de ventilação. Essa água entra na mina e inunda. A gente fica com 400 mil metros cúbicos de água. A empresa entra em recuperação judicial. 
 
Foi um grande prejuízo. 

E precisava de um investimento de US$ 10 milhões a US$ 15 milhões para recuperar. Os acionistas não tiveram condição de fazer esse investimento, e a gente foi ao mercado procurar se tinha alguém interessado. 
 
Um novo sócio. 

Para recuperar a empresa. Aí surge a Ero Cooper, que hoje é a acionista majoritária da Ero Brasil. Um grupo de investidores que conheciam do mercado financeiro, que conheciam de mineração – David Strang e Noel Dan – se junta, cria a Ero Cooper e faz uma proposta para os acionistas e para os bancos que eram credores. Depois de quase um ano de negociação, a empresa em recuperação judicial, a gente consegue um acordo com todos os agentes envolvidos, e aí, em dezembro de 2016, a Ero Cooper passa a ser a controladora naquele momento ainda da Mineração Caraíba. E a Mineração Caraíba tinha uma mineração de ouro que na época chamava NX Gold, que existe desde 2012 no Mato Grosso. E de lá começa a história da Ero Cooper. 
 
Qual era a produção naquela época da Mineração Caraíba? 

Era da ordem de 20 mil toneladas de cobre por ano. 
 
De 2016 até o estágio atual, qual foi o investimento total que a Ero Cooper fez nos ativos dela no Brasil? 

Em geologia, a gente já investiu US$ 180 milhões, mais nos ativos já foram mais de US$ 200 milhões. O preço do cobre recuperou naquele período, e a Era Cooper fez o IPO na Bolsa de Toronto em 2017. 
 
Ela abriu o mercado dela, das ações dela, no Canadá? 

Essa abertura de capital permite que ela capte recurso, acelere esse processo, e a coisa começa a andar. A produção (de cobre) sai de 20 mil toneladas, depois chega a 30 mil toneladas, vai para 40 mil toneladas em 2019, e hoje a gente já está produzindo de uma forma bem consistente quase 46 mil toneladas por ano de cobre só na planta da Bahia. 
 
O principal ativo da Ero Brasil hoje está na Bahia? 

Está na Bahia. 
 
É onde vai ter o maior volume de cobre? 

Então, a gente tem agora um investimento importante no Pará, que é o projeto Ero Brasil Tucumã, no Sudeste do Pará, que também é um projeto de cobre, é um direito minerário que a Caraíba tinha desde 2008. 
 
Mas que não minerava ainda? 

É um projeto greenfield (do zero), só vê terra. E depois de conhecer bem o mercado brasileiro, a reserva do Pará, a Ero aprovou, em fevereiro de 2022, a começar o desenvolvimento de projeto do Pará. É um projeto de US$ 305 milhões de investimento. Começa a fazer o investimento, vai demorar dois anos, 2,5 anos para ficar pronto, e tem que apostar ou ter as indicações que o produto que vai estar lavrando vai ter um mercado interessante, e isso no cobre. A gente tem muita expectativa que, sim, com todo o movimento de energia limpa, o cobre é um dos metais que têm uma expectativa muito boa. 
 
O mercado de cobre é altamente viável por conta da eletrificação, dessa preocupação das empresas em emitirem menos gás carbônico. É um mercado sem fim? Ele vai estar agora numa curva boa? 

Ele está numa curva boa. Esses protocolos todos que foram criados de energia limpa, o problema do clima em geral, hoje tem os principais drivers que ajudam o cobre: um é o carro elétrico, que tem um consumo de cobre muito maior que um carro convencional; tem a questão da geração de energia solar, que você gera em áreas isoladas e precisa transmitir essa energia. 
 
E é tudo ainda fiação de cobre? 

O cobre é até hoje o melhor condutor. Ele tem menos perda na transmissão, as características dele permitem que ele não se altere tanto. Hoje, o mundo consome cerca de 25 milhões de toneladas de cobre por ano, e até 2030 esse número pode chegar a 40 milhões de toneladas, ou seja, tem muito mercado, não vai faltar consumo de cobre. 
 
No carro tem muito mais cobre do que no carro à combustão? 

Muito mais. Então, esse número varia, mas hoje fala que um carro convencional consome 20 kg de cobre, e um carro elétrico consumiria entre 70 kg e 80 kg. 
 
A Ero tem no Brasil o projeto para investir R$ 2,5 bilhões em 2023.O investimento maior continua sendo em cobre? 

Continua sendo em cobre. Se a gente pegar o nosso investimento de 2023, 45% mais ou menos vai para a mina do Pará. A gente tem o projeto de concluir esse investimento na mina do Pará em junho de 2024 e ele entraria em operação em junho de 2024. Outros 40% dos recursos estão ficando na Bahia. Então a gente está ampliando a capacidade da nossa planta de processamento elevando de 3,4 milhões de toneladas para 4,2 milhões de toneladas por ano em processamento de minério. E como a nossa mina subterrânea está ficando mais profunda e a gente identificou reservas interessantes em níveis mais profundos, começa a ficar inviável você continuar descendo com caminhão. então a gente está fazendo investimento de mais de US$ 200 milhões num shaft, que nada mais é do que um elevador – fazendo uma analogia bem simples – que desce com as pessoas e sobe com as pessoas. 
 
Qual é a profundidade? 

É de 1.500 m. E quando esse shaft estiver pronto, ele deve ser, se não o maior, um dos maiores da América Latina. 
 
Ele fica pronto neste ano? 

Não. Esse é um projeto de longo prazo ele vai ficar pronto em 2027. Hoje, da superfície até o ponto de lavra, a gente demora quase duas horas. Com esse shaft, a estimativa é que a gente demore 11 minutos. Esse shaft vai permitir que acesse o minério mais profundo e estenda a vida útil da mina da Bahia até 2042. 
 
Como é o volume no caso do cobre? É um concentrado? 

Nosso produto é um concentrado. Então a gente lavra, sai o minério do processo da mineração, aí passa por algumas etapas que a gente chama de britagem, vai diminuindo o tamanho da rocha, passa por um moinho, depois tem todo um circuito de flotação, é um processo físico-químico. A Ero Brasil Caraíba produz o concentrado de cobre que de uma maneira simples é uma areia cinza-escura. A gente vende isso para tradings ou diretamente para alguma metalurgia. No Brasil só tem uma, que é a Paranapanema. 
 
E ela beneficia? 

Ela compra esse concentrado e o processo dela, a metalurgia, transforma naquelas chapas de cobre que a gente vê que é o catodo. E aí, depois dali, as empresas compram para fazer fio, cabo, tem várias aplicações. 
 
A produção da Ero do Brasil em toneladas é de concentrado de cobre? 

É. A gente produz hoje cerca de 125 mil toneladas de concentrado de cobre que tem em média 30% de cobre. Então hoje a nossa produção, que a gente fala de cobre contido em concentrado, é de 45 mil toneladas por ano. 
 
Esse investimento passa pelo ouro também, não é? A Ero Brasil tem mina de ouro no Mato Grosso. Também vai ter um uma elevação de produção que é substancial. 

Sim, a gente tem uma mina de ouro no município de Nova Xavantina, que a gente chama de Ero Brasil Xavantina. É uma mina que tem cerca de 400 funcionários, e a gente produz 45 mil onças de ouro. 
 
Traduz isso para gente. Dá para falar em quilos? 

Uma onça pesa cerca de 30 g. Então, como a gente fala em 45 mil toneladas por ano, a gente está falando de 1.200 kg de ouro numa aproximação por ano. A nossa expectativa neste ano é elevar para 60 mil onças, então o crescimento é de quase 30%. E a nossa produção vai chegar a cerca de 1.600 kg no ano. 
 
Como está a questão das barragens na Ero Brasil? 

Apesar de tecnicamente a gente registrar na ANM (Agência Nacional de Mineração) 54 barragens na operação da Bahia, a gente não tem nenhuma barragem a montante. A gente tem basicamente uma que se compara a essa barragem que a gente tem, mas com níveis de segurança muito tranquilos, e as outras 53 que estão registradas a gente chama de “padox”. São alguns depósitos, quase que um empilhamento seco. 
 
Vocês já estão fazendo esse investimento em empilhamento a seco? 

Sim, a gente tem todo ano um investimento para ajustar as nossas barragens, para preparar, para continuar recebendo o rejeito. A gente já tem um planejamento de como tratar nossas barragens para receber rejeito até 2042, que é a vida útil que a gente visualiza hoje. Então é um ponto de atenção muito grande nosso, da comunidade, dos órgãos que nos fiscalizam. O pessoal do Canadá tem uma preocupação grande. A gente tem muitos investidores estrangeiros que, principalmente, depois daqueles problemas no Brasil, eles entraram em detalhes para saber como era a nossa questão de barragem. Mas não é um problema, é um assunto que a gente trata, como trata outros do dia a dia, mas não é algo que nos causa preocupação. 
 
Toda mineração, seja ela qual for, passa por Minas Gerais? 

Ela passa. Historicamente, a mineração nasceu em Minas Gerais. As universidades mais renomadas do Brasil estão em Minas e, em função de todo esse processo, as grandes empresas de engenharia, projetos, certificações, análises químicas, tudo isso acaba ficando aqui. A academia que suporta a operação das minas no setor está aqui e principalmente quando é a fase que a gente está de desenvolver novos projetos. Mas principalmente na fase do projeto tem que ter alguma coisa em relação a Minas. Quando a gente começou o projeto no Pará e esses projetos na mina da Bahia, a gente viu que ia agregar muito mais valor, ia facilitar muito ter um escritório. Então a gente montou um escritório de projetos, um escritório técnico. 
 
Tem uma base em Minas Gerais, então? 

Tem uma base em Minas com cerca de 20 pessoas entre engenheiros, projetistas, só cuidando dos nossos projetos e fazendo essa interface com os fornecedores que existem em Minas Gerais. 
 
A Ero Brasil tem cerca de 3.500 colaboradores. Como eles estão divididos nas operações? 

A maior parte está na Bahia que é o ativo principal, onde tem as três minas. Quase 2.800 pessoas estão na Bahia. A gente tem um contingente de cerca de 400 pessoas hoje na operação de ouro no Mato Grosso. O projeto no Pará atua muito mais com terceiros, mas a gente já tem uma equipe própria e quase cem pessoas e o restante a gente tem dividido entre geologia e a área de suporte – RH, TI, financeiro, contabilidade, segurança, meio ambiente. 
 
A Ero Brasil desenvolve um projeto chamado Fazenda Renascer, que é um cuidado com pessoas com dependência química. Como funciona? 

Esse é um projeto que existe há algum tempo. Começou com um ex-funcionário que se envolveu com esse problema, foi recuperado, e hoje o Carranca toca esse projeto para nós. A gente procura identificar pessoas que acabaram por vários motivos indo para o caminho da droga. É uma instalação que tem dormitórios, tem apoio psicológico, tem atividades. Tem atividade física e, paralelo a isso, acompanhamento médico e psicológico para tentar reinserir aquela pessoa na comunidade, na vida normal. 
 
Como a diversidade está sendo tratada na Ero Brasil? Tem muita mulher lá? 

O setor de mineração é historicamente rústico, você trabalha num setor agressivo. Mas a gente hoje tem bastante mulher na operação – tem muita geóloga, engenheiras de Minas, nossa gerente da planta de processamento é uma mulher, a gente tem muitas engenheiras na área de projeto, nossa gerente de suprimentos é uma mulher, gerente comercial é uma mulher, gerente financeira, a nossa diretora de sustentabilidade. No conselho, em Vancouver (Canadá), de dez membros a gente tem três mulheres. 
 
Qual é a previsão de faturamento para os próximos anos? Foram R$ 2 bilhões no ano passado. Em 2023 já é outro patamar? 

O volume de produção do cobre é mais ou menos igual e vai ficar em torno de 45 mil toneladas. A gente espera um faturamento um pouco maior neste ano, mas vai depender do que vai acontecer com o cobre daqui até dezembro. O ouro a gente tem um aumento de produção, então a gente vai sair de um faturamento de R$ 380 milhões e projeta R$ 450 milhões, mas também depende da cotação do ouro, do dólar. E, no ano que vem, com a entrada em operação de Tucumã, no Pará, aí a gente dá outro pulo. A gente espera tirar 20 mil toneladas de cobre em Tucumã e, em 2025, passar a ser um produtor de mais de 100 mil toneladas de cobre por ano.

Frases de Eduardo de Come, CEO da Ero Brasil

“A Ero Copper tem ações na Bolsa de Toronto (Canadá) e ações na Bolsa de Nova York (EUA)” 

“Quando os sócios começam a olhar outros países mineradores - Chile, Peru - eles estão felizes de estarem no Brasil”