A temporada Minas S/A Gestão & Marca tem hoje o nono episódio, com Humberto Machado Zica, CEO da Delp Engenharia, nas plataformas de O TEMPO.

Há 60 anos no mercado, a Delp é uma das maiores produtoras de equipamentos pesados em aço.

Com sede em Vespasiano (MG) onde tem uma fábrica numa área de 350 mil m², a Delp tem a segunda unidade industrial no Porto do Açu (RJ) e escritório em Houston (EUA).

A Delp atua nos mercados de petróleo, gás, energia, mineração, siderurgia e ferroviário.

Com quatro tipos de negócios – Delp Mooring, Delp Subsea, Delp Indústria e Delp Serviços – e 950 colaboradores, a Delp se destaca pela produção da estaca torpedo: “A economia que a estaca torpedo gera num sistema de ancoragem de uma unidade flutuante é da ordem de 40% a 50% em relação à estaca de sucção”, calcula o executivo.

Humberto também preside a Câmara de Energia, Petróleo e Gás da Fiemg e o sindicato patronal em Vespasiano (MG).

A seguir, a entrevista na íntegra: 

HL: Quero agradecer muito a sua presença aqui, Humberto, tudo bem? 
 
HM: Tudo bem, Helenice, eu que agradeço, nunca estive aqui no O Tempo e a sede é fantástica, estúdio muito legal, e muito obrigado por essa oportunidade de poder contar um pouco da nossa história aqui. Queria aproveitar e te entregar aqui o nosso livro que a gente fez agora comemorando os nossos 60 anos, e que a gente conta um pouco da nossa história, contamos um pouco da história também do meu pai (Petrônio Zica) , que é o fundador da empresa. 
 
HL: É um livro lindíssimo. Eu estava vendo, e pensar que a empresa começou nesse pequeno galpão, né, gente, e hoje é essa potência, uma das maiores do Mundo nessa área de equipamentos para todos esses setores de petróleo, gás, energia, e é produto mineiro, né. Quer dizer, a empresa nasceu em São Paulo, em 64, e o seu pai, Petrônio Zica, foi lá… eu o conheci, um carisma enorme… 
 
HM: Essa é uma história legal de contar, Helenice. A Delp é a formação de 4 sócios iniciais: Deus, era o sobrenome dele, Eliezer, Loureiro e Pimentel, e o Pimentel, tem até uma foto aí no livro que depois a gente pode mostrar, era meu tio, trabalhava numa empresa em São Paulo, tinha dificuldade de comprar porca e parafuso, aí ele resolveu comprar um torno com o sócio para fabricar porta e parafuso, aí eles compraram a máquina, mas não colocaram ela pra rodar e aí ele ligou para o meu pai e falou “Petrônio, vem cá me ajudar a instalar essa máquina”. Ele foi para São Paulo, tinha 20 anos na época, não era engenheiro, era administrador, mas aceitou o desafio. Aí, ele colocou a máquina para funcionar, e no dia que colocou,1 mês depois, esse meu tio falou assim “agora já que você colocou ela pra funcionar, você compra a máquina da gente e põe ela pra rodar”.  E aí ele, de novo, aceitou e comprou a máquina, e seguiu o desafio de começar com porcas e parafusos e foi fazendo depois vários outros equipamentos para os setores todos que você disse. 
 
HL: Humberto, aqui é você ainda menino, né, com seu pai… 
 
HM: É, isso mesmo. Meu pai e meu tio aí, que é o Olival Pimentel. E tem uma outra história muito legal também, agora já recente, eu estava em janeiro, nos Estados Unidos, em Houston, num congresso de Eólico Flutuante, que a gente vai falar um pouco mais à frente, e aí me chegou um senhor, Olaf, e tinha no crachá dele Delp, eu falei assim “erraram o nome dele, né, e aí ele vai me pedir emprego na Delp”, de brincadeira e tal, e ele chegou “não, eu queria conhecer o pessoal da Delp, porque meu sobrenome é Delp”, e é uma região na Noruega, Delp significa planície atrás de uma montanha, e ele disse que é a região onde se pesca o bacalhau na Noruega, e aí ele foi lá para a gente conversar e tal, eu estava até com broche da Delp falando “você merece ficar com broche mais do que eu”, e tal, dei broche pra ele, foi uma história interessante. 
 
HL: Legal demais. A gente estava conversando um pouco antes, gente, e o Humberto contando sobre a família do seu pai, como ela é grande, e seus avós maravilhosos, lindos aqui, e foram vários irmãos, né? 
 
HM: Foram 15 irmãos, irmãos do meu pai. O meu avô era médico, jogou até no Atlético, que a gente estava falando, foi atacante do Galo, depois foi goleiro e depois foi médico, em 1920, é uma história bem legal, todos nós somos atleticanos lá na nossa família. Então, ele era médico e aí minha avó faleceu, até meu pai que é o filho mais ou menos do meio, quando ela morreu ele tinha 9 anos e aí as irmãs mais velhas pegaram os irmãos mais novos para criar e ajudar o pai, né. 
 
HL: Cada irmã foi ajudando a criar. 
 
HM: Isso. Então foi uma união da família, apesar do acontecimento trágico, mas que se juntaram lá para criar a família e ter uma história bastante legal, de bastante luta e tal 
 
HL: É, porque às vezes as pessoas acham a que a empresa está desse tamanho, enorme, não tem problema nenhum, e pelo contrário, é uma empresa que passou por várias situações, vários altos e baixos. 
 
HM: Até porque 60 anos não são só de céu azul, foram várias dificuldades aí, várias crises que a gente passou. 
 
HL: Vários planos econômicos, várias crises, várias viradas de mercado. 
 
HM: Tem um gráfico lá que eu acompanho, sabe, Helenice, mais ou menos a cada 4 ou 5 anos a gente tem algum tropeço. 
 
HL: É cíclico isso, né, Humberto? 
 
HM: É o ciclo da economia mesmo. Então, pode ser sim uma crise econômica, a gente teve mais recente a crise da Lava Jato, que impactou o setor de engenharia, onde a gente está, e de infraestrutura, então as crises geram, por um lado problemas, mas geram também oportunidades. Então, foram nesses 60 anos aí, nessas 6 décadas que a gente foi superando essas crises. 
 
HL: Humberto, você assumiu a Delp como CEO em 2020, em plena pandemia, seu pai, saudoso, uma pena, mas você já me falou que acompanhava na Delp todo trabalho… 
 
HM: Há 25 anos, mais ou menos, que eu estou lá. 
 
HL: Nossa, Bodas de prata já, né? (risos) E aí você assumiu a Delp num momento de pura neblina, foi aquela crise mundial, todo mundo sem saber o que ia ser. Como foi esse comando? Agora que você olha para trás e todas essas guerras, essas lutas todas que a gente estava falando aqui de planos econômicos, de produtos, como você olha, agora, e vê esse desafio? 
 
HM: Helenice, principalmente aqueles 6 meses, o primeiro 1 ano ali da pandemia foi realmente uma loucura. Assim, a gente não sabia o que ia acontecer direito e tal, então foi muito duro, a gente até teve uma perda de um funcionário nosso que pegou covid, ele não pegou lá na Delp, mas chegou a falecer, que foi o único fato assim que aconteceu conosco, então assim foi bastante duro, bastante traumático para todos nós, várias pessoas perderam entes queridos, então isso foi muito impactante. Para a gente, a gente não esperava a pandemia, mas a gente já esperava uma retomada do mercado nessa mesma época, lá em 2020, porque tinham acontecido alguns leilões na área de petróleo, que tinham sido parados, e tinham sido retomados, então a gente já via que ia ter uma retomada do setor em que a gente atua e que é grande parte do que a gente faz hoje. Teve o atraso ali da pandemia, e logo depois da pandemia os projetos começaram a surgir e aí a gente começou a retomar. Desde a Lava Jato até mais ou menos esse período aí, que foi 2019, então foram aí 4, 5 anos que foram muito duros, a gente teve que reestruturar a empresa, diminuir o quadro. 
 
HL: Vocês tiveram um grande aprendizado, né, porque a Delp estava muito ancorada em projetos com a Petrobras, predominantemente. 
 
HM: Sim, e então a gente teve que reestruturar a empresa, procuramos diversificar, a gente estava muito concentrado em petróleo e gás, voltamos a trabalhar na área de Indústria, mineração e siderurgia, que a gente ainda continua atuando nisso, mas foi então depois da pandemia que os projetos começaram a acontecer, principalmente na área de petróleo e gás, depois teve também alguns projetos de mineração e de siderurgia que retomaram, então foi um período, está sendo até então, um período bastante positivo para a gente. Então, na época da pandemia, a gente estava com 300 pessoas, hoje a gente está com 950 pessoas, a gente não tinha fábrica no Porto do Açu, abrimos a nossa operação no Açu, então foi bastante positivo para a gente nesse aspecto. E temos vários outros desafios, hoje, de qualificação de mão de obra, desenvolvimento de produto, desenvolvimento de mercados, que a gente está querendo ampliar nosso espectro, não ficar só restrito ao Brasil, mas então foi um período difícil que a gente soube passar e superar com o trabalho do time, da equipe, para que a gente possa estar aqui hoje. 
 
HL: Atualmente, o mercado externo representa 5% do faturamento de vocês e você quer passar isso para 20%. É muita coisa, né, é uma mudança significativa no portfólio de clientes. Quais são os desafios para conseguir fazer essa mudança? Quer dizer, vocês estão ancorados, digamos assim, basicamente no Brasil, em clientes do Brasil, mas precisa ter essa diversificação para não ficar dependendo só de um mercado. 
 
HM: A gente tem 4 unidades de negócio, Helenice. É uma área de ancoragem voltada para petróleo e gás, que é a estaca torpedo, que a gente pode falar um pouco depois, que é uma tecnologia brasileira que a gente está desenvolvendo. Aí a gente tem a área subsea, que são os equipamentos que ficam no fundo do mar, também para área de petróleo e gás. Essas duas áreas aí correspondem a 80% do que a gente executa. Aí tem a nossa unidade de indústria e a unidade de serviço, duas áreas que correspondem a 20% do que a gente faz. A gente acredita muito na área de ancoragem, que é utilizando a estaca torpedo, é o produto que a gente quer vender fora do Brasil, foi uma tecnologia desenvolvida pela Petrobras, há 5 anos existia uma patente, a patente caiu, os dois inventores da patente que eram funcionários da Petrobras, se aposentaram, a gente fez uma parceria com eles, temos uma sociedade com eles, e aí a gente está desenvolvendo o mercado de ancoragem. A gente já tem a liderança no mercado brasileiro de ancoragem e agora a gente quer capturar a outra metade, que é fora do Brasil, e estamos olhando também outros mercados, como o eólico offshore flutuante, que vão ser necessários também utilizar algum tipo de ancoragem, e a gente entende que a estaca torpedo é muito competitiva e vai ser uma ótima solução para os nossos clientes. 
 
HL: Essa estaca torpedo mudou a cara da empresa, não é? Ela teve uma aplicabilidade que vocês, agora, têm uma fronteira imensa para atingir. 
 
HM: A gente já fabrica a estaca torpedo para a Petrobras, que é um dos grandes clientes nossos há 15 anos, então a gente veio otimizando o nosso processo produtivo, ganhando escala e aumentando a produtividade, por isso que a gente também está vivo até hoje, porque a gente tem esse lado de fazer a melhoria contínua, temos um projeto do lean manufacturing, que é procurar processos automatizados e mais produtivos também, mas falando um pouco da estaca torpedo, a gente entendeu que esse é um produto que não era apresentado para o mercado fora do Brasil, porque existia essa patente da Petrobras. 
 
HL: Lá fora também é estaca de sucção… 
 
HM: É uma outra tecnologia, que é a estaca de sucção. Então, assim, qual é a vantagem da estaca torpedo? A grande vantagem dela é ser um modo muito mais simples de fazer a instalação, porque ela não precisa de um barco grande, não precisa de um guindaste também muito grande para poder descer até o fundo do mar, ela você praticamente a lança do navio, tem até um vídeo na internet que é muito legal, no nosso site também tem, mas na internet também tem. 
 
HL: E é certeiro, ela cai exatamente e fica lá no fundo do mar. 
 
HM: Ela entra, na verdade, 25 metros para dentro do fundo do mar e vira uma âncora no final do dia, para a plataforma ou qualquer coisa flutuante no mar. A única restrição dela é o tipo de solo que você vai instalar, então precisa de ter um solo ali argiloso, que normalmente está em águas mais profundas, então por isso que é a gente tem uma restrição, mas é um nicho de mercado que a gente atua. Então, a gente aumentou muito a nossa produtividade, a nossa competitividade e a gente entende que vamos conseguir competir no mercado externo, que é um grande pedaço desse mercado fora do Brasil. A gente tem um escritório em um agente comercial em Houston, nos Estados Unidos, e estamos procurando aprovar essa tecnologia, já tem quase 5 anos que a gente está fazendo a interlocução com os nossos clientes, Exxon, Sheel, Total e vários outros, para que eles aprovem a tecnologia, porque eles não conhecem a tecnologia da estaca torpedo, usam outra, então eles têm que entender como é que se aplica, como se instala e tal, então a gente está fazendo esse trabalho de, vamos falar assim, educação do nosso cliente. A gente conseguiu no ano passado um marco superimportante, que a gente aprovou a tecnologia com a Equinor, né, que é a Petrobras da Noruega. 
 
HL: Tem uma baita de uma credibilidade. 
 
HM: Exatamente. Então, foi um trabalho aí de 2 anos de desenvolvimento e apresentação da engenharia da tecnologia, pegamos um caso que eles têm um projeto aqui no Brasil, então já estamos fabricando e entregando para eles agora no final do ano. Para a Equinor foi um marco superimportante e, inclusive, ajudou a gente abrir outras portas em outros clientes internacionais, como eu disse mais cedo. 
 
HL: Essa estaca tem um diferencial competitivo em termos de custo em relação ao que já existe no mercado internacional? Como vocês têm entrado nesse mercado? É pela entrega dela ou é pelo preço? 
 
HM: A fabricação não é simples, da estaca, mas ela é uma fabricação mais simples do que a estaca de sucção. São 2 meses, 60 dias, para a gente fabricar uma estaca, então ela é um pouco mais simples de ser fabricada do que a estaca de sucção, e normalmente a estaca de sucção você faz em um estaleiro, porque é uma estrutura muito grande e tal. Então, equipamento por equipamento, a estaca torpedo é mais competitiva, tem um componente de aço e de material super relevante. Então, a gente está sujeito às variações aí do mercado, estamos procurando fornecedores mais competitivos, a gente tem uma grande parceria com a Gerdau, que é nossa fornecedora. 
 
HL: Que também operação nos Estados Unidos, então isso também facilita a logística, né? 
 
HM: Ajuda muito, mas esse é o trabalho nosso de desenvolver materiais mais competitivos. A grande vantagem da estaca torpedo é o modo como ela é instalada, né, então a economia que ela gera num sistema de ancoragem de uma unidade flutuante, como a gente chama, é da ordem de 40%, 50% em relação à estaca de sucção, e tem várias outras vantagens, é muito mais simples, condição de mar é mais fácil, a manutenção, que na verdade é quase nenhuma, então essas são as vantagens e que os nossos clientes estão reconhecendo e estão, agora, aprendendo para que a gente possa utilizar ela fora do Brasil. 
 
HL: E que faz muita diferença no custo final de um projeto, e são grandes projetos, são mega investimentos onde 40%, 50% você faz um outro projeto até, né? 
 
HM: Com certeza.  
 
HL: Humberto, além dessa estaca torpedo, vocês têm também produtos para Torres Eólicas Flutuantes, que vocês estão criando um mercado, né, já se preparando, se antevendo ao que vai ser o mercado brasileiro e cada vez mais o mundial. Como é isso? A gente vê muito, eu vi, por exemplo, na Holanda, a gente vai chegando, tem aquelas milhares de torres em alto mar, eu “poxa, um mar desse ‘tamanico’ aqui, um país desse ‘tamanico’ e o Brasil lá com todo aquele potencial, né”. Como está sendo isso? 
 
HM: O Brasil ainda tem um potencial enorme, Helenice, nas energias renováveis eólicas onshore, em terra, ainda tem um vasto portfólio de projetos para serem executados, mas é uma tendência de ir para o mar, onde tem ventos mais constantes, ventos mais fortes, o que é muito bom pra aumentar o rendimento do equipamento, da pá eólica. Então, é uma tendência você ir para o mar, e a tendência é, primeiro, você fazer a eólica flutuante fixa, não é a flutuante, é a fixa, e depois você passa para a flutuante, como é lá na Holanda e nesses países menores, onde eles já ocuparam a faixa que era da fixa e estão indo para o flutuante. E aí o flutuante a gente quer de novo usar a estaca torpedo, que é o produto que a gente tem, que dá para usar também, porque ela serve como âncora, você pega o flutuador e coloca lá a âncora e ela funciona muito bem. De novo, a tecnologia concorrente é estaca de sucção, então a gente bate ali cabeça a cabeça com eles. O que a gente está fazendo para o mercado brasileiro, pensando na transição energética, os projetos que têm, até então, são projetos de fundação, que a gente chama, que é monopile que é o fixo, o eólico offshore fixo. O projeto existe na Europa, nos Estados Unidos e em outros locais, mas não existe um projeto dimensionado para as condições brasileiras, então a gente acabou de assinar, teve a Feira da Rio Oil & Gás, no mês de setembro, então a gente assinou lá um convênio em que a gente vai fazer esse desenvolvimento dessa engenharia pensando no mercado futuro, acreditando que esse mercado vai ser desenvolvido no Brasil, então a gente vai ter um produto que é a fundação para o fixo, e num segundo momento a gente vai ter o flutuante. E o que a gente está pensando no flutuante e o que a gente está atuando hoje, é o flutuante fora do Brasil também. Ele já está mais maduro, a gente tem grandes projetos nos Estados Unidos, na Europa, e tem alguns projetos também no Japão e na Coreia, então estamos perseguindo esses projetos aí, já estamos em contato com alguns clientes, já aprovamos o uso da estaca e agora estamos aguardando o projeto ter a maturação para que eles possam seguir em frente. 
 
HL: No Brasil, aí a produção é toda em Vespasiano/MG, aqui perto de Contagem/MG, é aqui em Minas mesmo? 
 
HM: É, hoje a produção toda de estaca a torpedo, equipamento para indústria, a gente faz tudo em Vespasiano/MG. Temos a nossa base lá no Porto do Açu (RJ), onde a gente faz como se fosse uma montadora, a gente faz os kits e leva para fazer a montagem final lá e aí entregamos para o nosso cliente, mas essa fundação do eólico aqui no Brasil, a gente teria que montar uma nova fábrica, mas ainda a gente está num estágio embrionário. Eu acho que daqui há uns 5 anos ainda, acho que vai demorar ainda mais uns 5 anos, porque ainda falta um pedaço da regulamentação no mercado, Marco Regulatório ainda falta. 
 
HL: O Marco Regulatório ainda não está aprovado. 
 
HM: Exatamente, mas a gente acredita que vai ser aprovado 
 
HL: Tem que tirar os jabutis dele, né, botaram um monte lá, gente, aquelas matérias que não têm nada a ver com o Marco. 
 
HM: Aí a gente está entrando nos assuntos lá da Câmara de Petróleo, Gás e Energia lá da Fiemg, que é uma luta diária também. 
 
HL: Que a gente vai falar depois (risos). Mas, enquanto isso, vocês já vão preparando a fábrica, uma área de 350 mil metros quadrados em Vespasiano, que tem espaço para desenvolver esse projeto, depois pode ser que tenha que abrir uma outra fábrica mais perto dos clientes, né? 
 
HM: Mais perto dos clientes. Assim, há uma tendência de a gente ir para a beira do mar, porque a gente trabalha muito mais para o mar do que para alguns projetos aqui, mas a gente já fez várias contas, simulações, ainda não compensa para a gente, o custo-benefício ainda não é bom, então a gente, hoje, opera tudo aqui de Vespasiano, mas há uma tendência de a gente ir para o Porto do Açu ou para alguma outra localidade que seja mais perto do mar. 
 
HL: Essa questão do petróleo, essa perspectiva toda aí de tirar o óleo do fundo do mar, que é um trabalho que a Delp ajuda com os equipamentos que ela faz, você acha que o Brasil está dentro, ainda, da janela de oportunidades ou a coisa podia ser mais rápida para ter mais oportunidade no mercado? 
 
HM: Essa é uma boa pergunta e bastante complexa (risos). O Brasil tem uma vantagem competitiva muito grande por causa do pré-sal, que é uma área muito produtiva, então um poço normal offshore produz 5 mil barris de petróleo, 10 mil barris de petróleo, o que já é muito bom, o pré-sal produz 50 mil, 40 mil barris de petróleo, o que ajuda a viabilizar e a torná-lo mais competitivo. Existe toda a dificuldade da exploração, perfuração do poço, mas ele é um campo muito produtivo. A gente tem uma janela de oportunidade que é a famosa Margem Equatorial, né, que vai desde Natal, lá no Rio Grande do Norte, até o Amapá, porque os outros países ali, a Guiana e o Suriname já estão desenvolvendo, já estão produzindo petróleo e gás naquela faixa. É a mesma formação geológica, então existe a tendência de ter o mesmo petróleo nas mesmas condições que estão lá, de existir aqui no lado do Brasil, mas a gente tem as restrições ambientais que no meu entendimento não são pertinentes, porque a gente está falando de uma exploração há 200 quilômetros mar adentro. A Petrobras e as outras operadoras têm uma preocupação enorme com relação a segurança operacional. 
 
HL: Não vai afetar a foz do rio. 
 
HM: Exatamente, não vai afetar em nada isso, mas o discurso ecológico é muito pesado, as narrativas, então é uma dificuldade que as empresas têm que vencer, mas eu acho que elas estão agora convencendo. Eu acho que a gente não pode demorar muito para poder fazer esse desenvolvimento, existem outros países que competem com esse mesmo capital, com esse mesmo dinheiro, tem alguns países na África, tem os países aqui, a Guiana, o Suriname, mas eu acho que o Brasil ainda tem algumas vantagens institucionais, que a gente precisa melhorar muito ainda, mas comparativamente, a gente é melhor do que alguns outros países. 
 
HL: Sim. Agora é questão de atender as exigências do Ibama, que parece que o processo está caminhando é já estão sendo apresentadas todas as exigências, as contrapartidas, então acho que é uma questão de tempo, esperamos assim. Humberto, vamos falar um pouquinho das fábricas, né, a fábrica de Vespasiano, da Delp, e a fábrica de Porto do Açu, que parece que também é uma nova dimensão que deu para empresa. Lá tem expansão prevista? Como está sendo o entendimento, porque são grandes equipamentos que tomam muito espaço. Você falou “para torres eólicas pode ser que a gente tenha que fazer uma outra fábrica”, por enquanto, assim, os investimentos são lá? Todos os anos têm que fazer algum tipo de investimento, seja em mão de obra, em equipamentos, em modernização de equipamento, soldagem, robótica? 
 
HM: A gente está lá na fábrica de Vespasiano desde 2005, onde a gente comprou operação da empresa alemã que era dona da fábrica, a gente comprou a operação, então estamos lá desde 2005. Então, a gente veio fazendo uma série de investimentos, de novo, para aumentar a produtividade e a nossa competitividade. Nos últimos 2 anos, a gente fez um investimento para ampliar nossa capacidade produtiva, da ordem de 20%, para esse próximo ano a gente tem um plano de investimento, mas ele é bem menor do que nos outros anos, porque a gente ainda tem uma ociosidade que a gente tem que ocupar para poder justificar da gente fazer novas ampliações, né. O mercado, do meio do ano para agora, deu uma arrefecida, alguns projetos foram postergados, mas eu acho que faz parte também, nada muito sério, muito grave. 
 
HL: É um momento complicado também, né, as guerras continuam, os juros aqui no Brasil estão muito altos, então o custo do dinheiro fica maior. 
 
HM: Estamos acabando de recompor o nosso backlog (lista de tarefas), temos alguns contratos aí para serem negociados no nosso pipeline para a gente poder estar mais firme para poder voltar a fazer algum investimento. Assim, a princípio, ano que vem não tem nenhum grande investimento, o que a gente está procurando fazer é aumentar a nossa produtividade, estamos com algumas iniciativas de automatização, a gente já tem uma célula robotizada para fabricar alguns equipamentos. Então a gente tem feito vários investimentos para aumentar a produtividade. Por exemplo, o nosso soldador médio, que é o nosso principal ofício lá dentro da fábrica, o nosso soldador médio solda 700 gramas por hora mais ou menos, o robô solda 3,20 quilos por hora. O robô não consegue executar todos os tipos de solda que o soldador manual consegue, por habilidade mesmo, o manual ainda é mais habilidoso. 
 
HL: A máquina não está preparada para isso. 
 
HM: Ainda, né, mas já é uma vantagem, em alguns processos a gente consegue ser bastante produtivo. A gente tem uma outra, que até da linha da ancoragem, a gente tinha um processo que a gente soldava 3 quilos, hoje a gente solda 30 quilos por hora, então a gente veio fazendo esses investimentos para aumentar a nossa competitividade e manter a nossa liderança, esse que é o nosso principal objetivo. Falando dos nossos CTS, que é o nosso Centro de Tecnologia de Soldagem, Helenice, a gente tem um programa de formação de mão de obra, então a gente contrata jovens que não têm uma profissão, ou que tinham outra profissão, para se tornarem soldadores. Então, eles ficam 2 meses no Senai fazendo um treinamento básico para aprender o ofício da solda, depois eles ficam mais 2 meses dentro do nosso Centro de Treinamento aprendendo as habilidades necessárias da solda que a gente exige, né. 
 
HL: Para aprimorar, para customizar a solda de acordo com o que a Delp precisa para o cliente dela. 
 
HM: De acordo com nosso requisito. E aí eles passam esses 2 meses, então ficam lá 4 meses em treinamento e aí depois entram lá como nosso, que é o primeiro nível na escala nossa de profissão de soldador, que é o operador de solda. 

HL: É um trabalho de carpintaria então, né? É uma coisa bem artesanal. 
 
HM: Artesanal, mas bem sofisticada. Então, a gente tem uma turma a cada semestre de 20 jovens, 20 operadores que passam por esse Centro. Nos últimos 2 anos, a gente treinou 120 pessoas, que entraram lá como soldadores, algumas foram até para o Mercado mesmo, não ficaram dentro da Delp, mas faz parte até do desenvolvimento da mão de obra e tal, e abastecimento é para a sociedade também. A gente tem um projeto também com o Senai e o Sindicato Patronal de fazer uma turma também para fornecer mão de obra qualificada para as empresas lá da região, a gente procura contratar as pessoas no entorno nosso, em Vespasiano, no Vetor Norte ali, mais de 80% dos nossos colaboradores são da região, até mesmo para gerar renda, mas no final é uma coisa simples de gerar qualidade de vida. O trânsito hoje está muito complicado, então no deslocamento a pessoa perde muito tempo, é tempo com a família e tal, e a gente tem desenvolvido muito as pessoas lá que às vezes não tinham uma oportunidade, e aí ganharam uma profissão e a gente fica muito feliz de estar contribuindo. 
 
HL: Movimenta tudo lá na região, né, Humberto. É o comércio, a agricultura, é mais pedidos no campo, mais pedidos no comércio, na própria indústria, a cadeia de fornecedores também. 
 
HM: E o vetor Norte, Vespasiano, Lagoa Santa, está se desenvolvendo muito também, então é a nossa contribuição para a sociedade. Outro ponto que eu acho que a gente tem que destacar também da nossa operação, Helenice, é o nosso trabalho todo de segurança operacional das pessoas. Eu falo que a minha primeira obrigação diária é receber as pessoas bem lá na fábrica, que elas não tenham nenhuma intercorrência ou acidente. 
 
HL: É o ESG (sigla em inglês - Ambiental, Social e Governança) que todos falam passa por isso também. 
 
HM: Elas irem para casa do mesmo jeito que elas voltaram. Parece uma coisa simples, mas para o nosso negócio é uma coisa bastante complexa, a gente está falando de equipamentos muito grandes, pesados. 
 
HL: São toneladas, né? Quanto que chega a ter um equipamento desses? 
 
HM: Uma estaca chega a 120, outros equipamentos lá, o manifold 120, 200 toneladas de aço. Então, são equipamentos muito grandes, qualquer falha ou incidente pode ser um incidente muito grave. A gente teve há 12 anos um acidente fatal e aí a gente mudou a nossa jornada de segurança, falo até que se eu pudesse mudar alguma coisa na minha jornada, era acreditar e investir mais na segurança das pessoas, da operação para a gente evitar isso, porque foi um episódio muito desgastante esse do nosso acidente fatal, mas que a gente pegou como lição e estamos aí, hoje, há quase 8 anos sem acidente com afastamento, que é para a gente um marco superimportante. 
 
HL: E até consegue outros certificados de qualidade, né. 
 
HM: Isso, e temos sido reconhecidos por vários clientes nossos por essa questão da segurança. A gente, ano passado, foi reconhecido por um grande cliente, que é TechnipFMC, uma multinacional, como o melhor fornecedor no requisito de segurança, e esse ano pelo terceiro ano consecutivo, a gente foi reconhecido pela Petrobras, um dos itens é a segurança também, mas como o melhor fornecedor de sistemas de ancoragem, porque o sistema de ancoragem tem a estaca, que é a âncora, mas tem vários outros itens.  
 
HL: Vocês ofereceram a melhor solução para a Petrobras na ancoragem. 
 
HM: Pelo terceiro ano, então é uma felicidade enorme e uma gratidão também pelos clientes, que eles exigem muito da gente e a gente, como contrapartida, faz o nosso esforço para atendê-los bem, porque no final do dia é isso que a gente quer, que eles estejam comprando de forma recorrente e estejam felizes com a gente. 
 
HL: E tem essas parcerias, você falou da Gerdau, por exemplo, ela também está no Centro de Formação? 
 
HM: Sim, ela está lá, ela nos apoia lá. Tem mais outros 2 parceiros, mas a Gerdau é um parceiro superimportante lá no nosso Centro de Treinamento, é um fornecedor relevante nosso, fornecendo chapas, perfis, alguns componentes também de soldagem, e é um grande cliente também. Então, eu brinco lá com eles que a gente tem que ter uma balança comercial positiva. 
 
HL: É um ganha-ganha. 
 
HM: Exatamente, então é muito legal. 
 
HL: Humberto, a gente estava falando da fábrica de Minas e aí eu queria falar um pouco, também, do contexto de Minas Gerais. A Delp é aqui em Minas a única que produz esse tipo de equipamento, no Brasil é uma das poucas também no mundo. Você acha que tem aí um diálogo que precisa ser mais refinado com o Governo para ter mais incentivo? Claro, vocês não querem nada de graça, mas para desenvolver mais esse mercado em Minas Gerais? A gente tem em Minas, a vocação aqui predominantemente é mineração, siderurgia e o setor agropecuário, é o PIB daqui basicamente, mas o que você acha, o que você gostaria de ter mais de discussão com o Governo do Estado? 
 
HM: Helenice, a gente tem essa dificuldade de estar em Minas, e falar de petróleo e gás em Minas não é fácil. Não é fácil porque as pessoas não têm conhecimento, não tem entendimento, então a gente tem essa dificuldade. Se a gente estivesse no Rio de Janeiro, a gente ia ter uma facilidade, talvez, porque lá é muito mais fácil de se falar disso, mas a gente tem uma abertura no Governo, tem alguns problemas logísticos que a gente tem que enfrentar. 
 
HL: É tudo pela estrada, esses equipamentos todos, pesadíssimos desse jeito? 
 
HM: É tudo pela estrada. Então a gente conseguiu um licenciamento para que a gente possa fazer o transporte, não é fácil, então a gente tem que ter muita interlocução. Existem alguns programas fiscais e tributários específicos para alguns mercados, existe um de petróleo e gás, então Minas, por falta de conhecimento muitas vezes, não aplica as mesmas condições que outros Estados aplicam, então a gente, no final do dia, perde tempo explicando isso para o Estado, a gente tem essa interlocução, mas a gente gasta uma energia que talvez eu não gastaria se eu não estivesse aqui, mas é a nossa condição, é onde a gente está. Como eu te disse, existe uma tendência para a gente ir para mais para perto do mar, a gente tem muito apoio lá da Prefeitura de Vespasiano, onde a gente está localizado, temos uma certa interlocução com o Governo de Minas, mas se você perguntar “você sabia que em Minas existe um fabricante de equipamento de petróleo e gás?” Muita gente, as pessoas que estão aqui, ninguém, talvez, poderá saber. Mas a gente é mineiro, talvez a gente não seja tão bom assim de marketing para poder falar sobre isso, mas é uma coisa que a gente tem que enfrentar. 
 
HL: É onde está o mercado, né, é o mercado da Delp. 
 
HM: E é o nosso mercado, então, assim, a gente faz projeto, temos isso na nossa pauta diária aí do nosso planejamento, de ter uma operação cada vez mais robusta, mais perto do mar, mas vai ser um processo aí que a gente vai ter ao longo do tempo. Eu acho que uma vantagem da Delp ao longo desses 60 anos, Helenice, foi até essa flexibilidade da gente se adaptar aos mercados, sabe? Porque a gente começou a nossa história há 60 anos para atender ao mercado de mineração e siderurgia  
 
HL: Tanto é que tem a Delp Indústria, né? 
 
HM: Isso. Estava muito pujante, ficamos aí talvez 30, 40 anos atendendo esse mercado que tinha muita demanda e aí, mais ou menos lá para o ano de 2000, a gente enxergou que estava ficando uma competição não tão leal com a gente e aí a gente começou a enxergar outros mercados, fomos para a área de energia, petróleo e gás, ferroviário também a gente enxergava que tinha um potencial. A gente tem duas vizinhas aqui, a gente tem a fábrica da Wabtec, que é a nossa cliente também. Então, a gente procurou diversificar os mercados onde a gente atendia e eu acho que essa é uma vantagem nossa em relação a alguns concorrentes, que talvez estavam muito presos a um determinado produto, e a gente teve uma flexibilidade maior para atender as demandas do cliente, e aí a gente adaptava a nossa produção para aquela demanda,  
 
HL: Como ela já está se adaptando agora, não é? As torres eólicas flutuantes… 
 
HM: Exatamente. A gente procura ter uma carteira estável de produtos, dá para a gente contar na mão quantos produtos… 
 
HL: É, isso eu queria saber também, a família de produtos. 
 
HM: É, quantos produtos a gente tem, mas é porque a gente também querer fazer muita coisa é muito complexo, o custo é muito caro, então a gente não consegue atender isso. Então, a gente, ao longo dos últimos 10, 15 anos, veio limpando nosso portfólio de produtos e hoje a gente tem a estaca torpedo no sistema de ancoragem, a gente tem os equipamentos subsea, que são projetos feitos sob encomenda. A estaca torpedo é mais padronizada, tem algumas variações, mas ela é bem padronizada. Os equipamentos subsea, que são manifolds e os plets, são os equipamentos que ficam no fundo do mar e que ajudam a escoar a produção de petróleo, eles já são feitos sob encomenda, mas são parecidos. Então, para a gente pegar uma analogia do setor automotivo, a gente fala que é uma plataforma só e depois você muda a carcaça de cima, mas a plataforma, o chassi, é mais ou menos igual. Então, isso é uma vantagem que a gente enxergou de a gente ter uma especialização, tem variações, não é simples, é complexo. 
 
HL: Não dá para ser aquela escala de muito volume, você vai fazer aquele produto ali Just-in-time, você tem o pedido, vou fazer e vou entregar, não é? 
 
HM: Eu uso uma analogia lá na fábrica que eu não gosto de filho único, que é um projeto que eu vou fazer só 20, 30 anos depois que eu vou fazer um outro de igual, porque a gente erra, a gente não acerta tudo da primeira vez. Então, assim, se a gente tem um lote de 5, 10 peças parecidas, a gente faz a primeira, erra na primeira tudo que a gente pode errar, né, e 
e depois nas outras a gente acerta, então a chance de dar sucesso é muito grande. Quando a gente fala de um equipamento só, uma peça, é muito difícil de você acertar na primeira, então a chance de terem sucesso é maior. 
 
HL: E fica dependendo só daquele produto ali, né. Aí se o Mercado dá uma guinada… 
 
HM: Então, falamos já da estaca torpedo, do subsea, aí na mineração a gente é bastante especializado em máquinas de pátio, que são as máquinas que empilham o minério nas minas, alguns equipamentos de siderurgia, o carro torpedo, o laminador, e aí a área de serviço, a gente faz a manutenção dos equipamentos que a gente fabrica e que a gente entrega para os nossos clientes, e muitas vezes a gente faz a instalação, o comissionamento. 
 
HL: É o pós-venda, né, tem que ir lá preparar o campo, arrumar tudo. No setor ferroviário como é o trabalho?  
 
HM: A gente faz o chassi da locomotiva e os trucks, né, que são o material rodante. E aí a gente faz para a Wabtec quanto para a Progress Rail, que é lá em Sete Lagoas/MG, a gente atende esse mercado. 
 
HL: E para os navios também vocês fazem o transporte deles, aquele equipamento que transporta o navio até o pátio. 
 
HM: É, que é o carregador de navio. É o equipamento que é a máquina de pátio, só que ele é especializado lá no navio. Teve até um projeto muito legal que a gente fez, que foi logo ali na época da pandemia, a Vale teve um incidente num carregador lá em São Luís, no Maranhão, que eu falo que é a máquina registradora, onde sai o faturamento lá da Vale e tal, e aí o Diretor, o pessoal da Vale me ligou e falou “Humberto, você precisa de fazer isso em 90 dias”. E é um equipamento aí que a gente demora 360 a 380 dias para executar, e eu falei, “ó, gente 90 não dá, mas 120 dá, vai ser uma loucura, mas vai dar para a gente fazer”, e o cara insistindo em 90, eu falando que não dava, e aí ele falou “então tá, vamos fazer em 120”. A gente executou em 119 dias, Helenice, foi um marco muito importante lá com a gente e com a Vale, e foi uma operação efetivamente de guerra, trabalhando quase que 24 horas por dia para atender, tivemos que fazer a contratação de algumas pessoas que a gente precisava para aumentar o nosso time e tivemos o apoio da Vale, da engenharia, para que a gente pudesse atender esse prazo. 
 
HL: E isso, concomitantemente, a fábrica rodando com outros produtos sem poder parar todo mundo para fazer só aquele produto, né? Quer dizer, aí a gestão tem que entrar e você tem que ficar orquestrando isso para que os outros prazos não se perdessem. 
 
HM: Aí a gente usa a prática do lean manufacturing, que é a escola japonesa da Toyota e tal. Então, a gente tem várias práticas, reuniões diárias com o time para que a gente possa acompanhar as pendências e resolver o problema quando ele está pequeno e não deixar que ele fique muito grande. Aí são vários requisitos, é material atrasado, é algum problema de qualidade de algum processo de soldagem, e a gente vai resolvendo esses problemas ali no dia a dia com o time, trabalho em equipe, que é o que gosto até de agradecer todo mundo que está lá conosco nesses 60 anos, eles que executam lá. 
 
HL: Você tem gente lá com muito tempo de casa? 
 
HM: Temos bastante gente. Temos o William, que trabalha comigo já tem 40 anos, comigo não, com a Delp há 40 anos. Tem o Josane, que é nosso Diretor de Operações, que está lá há 20 anos mais ou menos com a gente, começou como menor aprendiz, quando era outra fábrica ainda.  
 
HL: Olha só, você vê que é uma profissão boa, ela te dá perspectivas. 
 
HM: Exatamente. 
 
HL: Você pode começar como um soldador e vai caminhando, tem um plano de carreira na profissão. 
 
HM: Com certeza. E eu acho que esse desenvolvimento também, Helenice, que a gente tem, é com a parceria com o nosso cliente também. Como eu disse, os clientes são exigentes, mas eles ajudam a gente até mesmo a desenvolver a mão de obra. Já teve episódios que o nosso cliente mandou um soldador dele, que era especializado, para treinar o nosso time e aí a gente aprendeu com aquilo e seguimos. Essa metodologia que a gente está aplicando aí tem uns 3 ou 4 anos, do Lean Manufacturing - (uma filosofia de gestão que se baseia em princípios como: Just-in-time (produção sob demanda), Jidoka (automação), Kaizen (melhoria contínua) -, a gente aprendeu com um cliente nosso também numa visita que a gente fez, então, assim, a gente aprende demais com os nossos clientes, eles são grandes parceiros nossos para que a gente possa estar nessa caminhada e foram essenciais nessa jornada nossa dos 60 anos. 
 
HL: De adaptar-se aos novos mercados, né. Tem algum mercado, Humberto, que você já vislumbra, que você quer entrar, que a Delp quer estar nessa nova fronteira ou não, do jeito que está a atuação nesses equipamentos já está bom demais? 
 
HM: Assim, já tem bastante diversão para a gente, mas um mercado que a gente tenta entrar e que a gente está fazendo um esforço agora maior para a gente entrar é o setor de papel e celulose. O Brasil tem uma vantagem competitiva muito grande, tem uma série de investimentos para serem feitos aqui no Brasil, eu até brinco que Minas, eu acho uma tristeza, porque a gente tem a maior floresta de eucalipto e tem pouco projeto de papel e celulose. Lá em Vespasiano tem uma linha de trem, passa madeira saindo do Norte de Minas e indo para o Espírito Santo fabricar papel, agregar valor e tal. Então, a gente podia ter mais fábricas de papel aqui em Minas também, mas é um mercado super pujante no Brasil. O Brasil é líder nisso, várias empresas líderes mundiais aí na fabricação de celulose estão aqui no Brasil, muito investimento, então a gente está se preparando também para atuar nesse mercado, para fornecer equipamentos também para isso. 
 
HL: Aí é um outro tipo de equipamento, é uma outra expertise para desenvolver. 
 
HM: Exatamente. Então, a gente está se preparando. Esse, dos mercados que a gente já falou aqui, da ancoragem, do eólico e tal, esse é o mercado em que a gente está procurando atuar, porque tem boas perspectivas de investimento. Hoje, a gente não fabrica nada para a área de papel e celulose, mas a gente entende que tem um espaço para ocupar nesse mercado. 
 
HL: Legal. A gente já vai caminhando aqui para o final, Humberto, tanta coisa ainda para falar. 
 
HM: E está passando rápido. 
 
HL: Muito rápido, o assunto é bom, é tecnologia, é inovação, é olhar para o futuro, coisa que a gente tem condições de fazer aqui em Minas também.  
 
HM: Por falar em tecnologia, Helenice, já que falou, eu lembrei de um ponto aqui, a gente tem um projeto junto com o Senai também lá no CIT, tem a participação de algumas empresas, a Delp tem uma participação lá no projeto que é da manufatura aditiva, que é a impressão 3D, só que em aço. Então, a gente está há 2 anos nesse projeto e já é uma tecnologia que está sendo amadurecida no mundo, ainda tem alguns pontos para serem, vamos falar assim, regulamentados também, como é feita a inspeção, como que é feito o controle de qualidade desses equipamentos, mas a gente também está nessa investida para quem sabe, daqui a algum tempo, a gente estar fabricando um equipamento por uma impressora 3D. Vai ser bastante grande a impressora, né, mas a gente vai fabricar. Hoje, a gente já vê muito produto em plástico, mas vai ser a fabricação em aço, também 3D, isso que a gente está mirando aí para frente. 
 
HL: Isso dá diferença no produto final do aço, a impressão em 3D? 
 
HM: Alguns produtos vão ter uma vantagem competitiva aí para poder fazer isso, tem mercado pra isso.  
 
HL: Então, precisa ter um equipamento, a Delp vê mercado também nesse… 
 
HM: Para a gente atender esse mercado. 
 
HL: Que interessante isso. 
 
HM: Assim, o mercado, a gente vai atender o mercado de óleo e gás, é só um jeito novo de fabricar um equipamento, é uma nova tecnologia de fabricação. 
 
HL: Ele tem maior definição, vai ajudar. 
 
HM: Porque você vai usar menos material para fabricar o mesmo equipamento, e você também pode fazê-lo de forma mais local, não precisa de ter um estoque, esperar que a matéria-prima seja fabricada para depois você usinar, então é um equipamento que você tem a produção mais rápida ali. Não é aplicável em tudo, mas tem umas aplicações bastante interessantes que a gente está vislumbrando. 
 
HL: E que impactam também o preço do produto, a forma de fazer, reduz o consumo de material, muito legal. Humberto, você tem uma atuação também grande na Câmara de Energia, Petróleo e Gás da FIEMG, né, já há um bom tempo, e esse outro lado também de gestor, de tratar desses assuntos do setor, de reduzir a burocracia, de melhorar o ambiente de negócios, ele também tem muitos desafios ainda no Brasil? 
 
HM: Eu estou lá ajudando o presidente da FIEMG Flávio Roscoe. Eu falo que sou mais gestor mesmo, Helenice, porque o pessoal da FIEMG é que me ajuda com as pautas, quando a gente tem a pauta técnica, a pauta Legislativa também, que no Setor de Energia é praticamente diária, está sempre mudando alguma regulação, e os próprios membros da Câmara que nos ajudam com, às vezes, um aspecto técnico que às vezes é um especialista de determinado assunto que nos ajuda a construir ali uma solução para aquela questão, mas é a Câmara de Energia, Petróleo e Gás é uma câmara, vamos falar assim, transversal na Indústria, porque toda Indústria precisa de energia para poder rodar e funcionar, e a gente tem vários programas lá de aumento de eficiência, aumento da competitividade. A gente atuou bastante agora no mercado de energia renovável para que as empresas que não estavam no mercado livre, mas que estavam consumindo no cativo, pudessem ter uma economia que chega até 30% quem quiser participar ou verificar isso, pode entrar no site lá da FIEMG que tem um link da gerência de energia, eles ajudam você a fazer esse estudo que é super importante, e o networking ali e a possibilidade de troca de experiência com as pessoas, com as empresas, com convidados que muitas vezes a gente traz, né, quase toda reunião da Câmara que acontece de 2 em 2 meses, a gente leva um convidado de fora da Câmara para apresentar um tema, então é um momento muito rico. Queria poder me dedicar mais a esse assunto, que eu não consigo, mas é um trabalho também de time lá de todos da Câmara que nos ajudam a executar esse trabalho. 
 
HL: Pois é, aí você falando dessa dedicação, quer dizer, você já está há 25 anos na cruzada da Delp, né, você pensa em algum dia também seguir essa área na gestão sindical, de entidade, por exemplo na FIEMG, ter também essa experiência nessa área?  
 
HM: Assim, eu já sou Presidente do Sindicato Patronal lá de Vespasiano, então já é mais uma tarefa. Eu não tenho pretensão de nada na FIEMG, eu estou lá para ajudar, agregar o que eu puder agregar de contribuição, o conhecimento que eu tenho e tentar com que os outros também ajudem a gente a fazer com que a Indústria de Minas seja mais competitiva, que Minas cresça e que no final do dia o Brasil cresça, que eu queira que meus filhos tenham um país produtivo, um local bom para morar, para trabalhar, isso que é o que a gente quer no final do dia.  
 
HL: Você está com quantos filhos, Humberto? 
 
HM: Eu tenho 2 filhos. 
 
HL: A sua mulher (Tatiana), eu lembro dela num Dia da Indústria perguntando se eu entrevistava muitas mulheres, aí eu falei para ela “olha, não muitas, gostaria de entrevistar mais”. Essa questão da diversidade também na Delp, você tem visto na engenharia mais mulheres? 
 
HM: A gente teve um aumento lá do número de mulheres que estão trabalhando na empresa, era um número reduzido, hoje é um número bem maior, e dentro até do CTS lá, surpreendentemente as mulheres dão show enquanto soldadoras, tem uma habilidade, assim, fantástica, uma dedicação enorme 
 
HL: No detalhe, né! 
 
HM: Das 120 pessoas que a gente treinou nesses últimos 2 anos, a gente deve ter ali umas 30, 40 mulheres que estão lá como soldadoras e dão show, são excelentes mesmo pela habilidade de executar a solda, que é um trabalho ali bastante delicado, habilidade manual bastante grande e eu acho muito legal, lá a gente tem várias soldadoras. Outros ofícios lá dentro da fábrica, às vezes são muito pesados para a mulher, mas o trabalho de solda é um trabalho de bastante detalhe que eu acho que mulher tem uma habilidade muito grande, mas na nossa parte lá de escritório as mulheres reinam.  
 
HL: Ah, gostei de saber, é isso mesmo, porque aí que vai ter essa mudança na sociedade, no mercado de trabalho, mulheres e homens trabalhando ali, tendo as mesmas oportunidades. 
 
HM: Até porque no nosso Conselho lá eu tenho minhas 2 irmãs (Adriana e Mariana), são minhas sócias, então a gente tem quase metade, somos 5 membros do nosso conselho, 3 homens e 2 mulheres, então está bastante equilibrado. 
 
HL: Que bom que suas irmãs estão lá com você, uma família unida vai adiante. Eu vejo a Adriana, né, que ela é superanimada com a Delp (risos). Falou logo comigo, “Humberto tem que dar entrevista sim!”. Eu acho que a gente tem que falar mais das nossas empresas, da tecnologia que a gente está exportando, desse mercado que você está aí e vai conquistar lá fora com esses grandes players. 
 
HM: Muitas vezes o pessoal lá no Rio fala “ah, por que que o mineiro está aqui vendendo o equipamento?”. 
 
HL: É mesmo, tem isso? 
 
HM: Tem. 
 
HL: Aí você fala, é que eu tenho o produto, tenho qualidade, tenho o preço, tenho o combo que todo cliente quer. 
 
HM: Mas Minas tem 5 produtos muito bons viu, Helenice, a gente pode falar da cachaça, né, que é muito boa, a gente tem leite que é muito bom, o café.  
 
HL: Somos os maiores produtores. 
 
HM: A gente tem manifold, que é o maior track record do mundo, está aqui em Minas também, e o maior de estaca torpedo. Então, eu falo isso com os estrangeiros, eles acham um barato quando a gente fala dos 5 produtos e que tem o produto para petróleo e gás, e então eu brinco, faço essa brincadeira lá com a gente e eu acho superlegal isso em Minas, que estamos longe do petróleo e gás, mas a gente tem um representante aqui que eu fico muito orgulhoso de estar participando disso. 
 
HL: Fazendo parte dessa história, e vai fazer cada vez mais. 
 
HM: Com certeza.