Luiz Alexandre Garcia, presidente do Conselho de Administração do Grupo Algar, é o terceiro entrevistado da Temporada Minas S/A Governança nas plataformas de O TEMPO até agosto.
O Grupo Algar nasceu em 1930 como marca de beneficiar arroz em Uberlândia (MG).
Tem 14 mil funcionários chamados pela empresa de associados e 3,4 milhões de clientes.
A atuação é nos setores de Tecnologia da Informação e Comunicação, entretenimento, agro e imobiliário com as seguintes companhias: Algar Telecom, Algar Tech, Algar Farming, Aviva – que engloba dois complexos hoteleiros Rio Quente Resorts e Costa do Sauípe – Algar Empreendimentos, Algar Properties, Granja Marileusa e Comtec.
Luiz Alexandre, neto do fundador Alexandrino Garcia, conversa sobre os novos investimentos e a atuação na selva amazônica, por meio de uma fazenda de 150 mil hectares de floresta preservada para venda de crédito de carbono.
A seguir a entrevista de Luiz Alexandre na íntegra:
HL: Luiz Alexandre, muito obrigada por estar aqui no Jornal O Tempo, vir aqui em Contagem para a gente bater esse papo, você que é da família, neto do fundador, eu fico tão feliz quando eu vejo uma empresa com essa longevidade e rumo aos 100 anos, né? Obrigada pela sua presença aqui!
LG: Helenice, eu que agradeço imensamente por estar aqui no Jornal O Tempo batendo um papo, realmente contando um pouco da história do grupo Algar. Nós temos 95 anos de história e eu digo que não é o passado que vai construir o futuro, mas o passado traz muita experiência e muitos exemplos que nos trouxeram até aqui, e o futuro depende, agora, do engajamento, dos nossos princípios, dos nossos valores, e sobretudo da nossa força empreendedora, porque o grupo Algar é um grupo que vai completar 100 anos daqui a 5 anos, e a gente fala que iremos completar os nossos primeiros 100 anos, porque uma empresa feita para durar precisa ter uma visão para o futuro.
HL: O nome Algar é uma composição das iniciais do fundador, Alexandrino Garcia. Eu fiquei assim “gente, de onde vem esse nome que é tão diferente?”
LG: Exatamente. A gente brinca que o nosso fundador, Alexandrino Garcia, o meu avô, é um imigrante português, que veio conhecer energia elétrica aqui no Brasil, para vocês terem ideia, então era uma pessoa que tinha com ele a força do empreendedorismo e que foi tão generoso com a Algar que cedeu as iniciais do seu nome. Algar é uma homenagem ao nosso fundador Alexandrino Garcia, e o que nós herdamos dele e o que ele deixou de mais valor para a companhia foram os princípios e os valores, porque nesses 95 anos a Algar já atuou em vários segmentos, em vários negócios de mercado, mas os princípios e valores são perenes, e o propósito que nós aprendemos com ele, nós temos até hoje, que é ‘gente servindo gente’. Então, ele nos ensinou que uma empresa só consegue se desenvolver se ela servir bem as pessoas, e as pessoas é todo o nosso entorno, a sociedade onde nós estamos inseridos, é servir os nossos associados que são os nossos funcionários, e principalmente servir os nossos clientes. Então, nós temos isso muito forte, que é o motivar, incentivar e preparar a nossa equipe de associados e executivos sempre buscando servir e atender melhor os nossos clientes.
HL: Não é o lucro a qualquer custo, não é, Luiz Alexandre? É uma cultura baseada em princípios e que todos ganham.
LG: É, sem dúvida nenhuma. A gente estudou muito tempo com o José Carlos Teixeira Moreira, um professor da Escola de Marketing Industrial, em São Paulo, e aprendemos com ele o que ele chama de lucro válido. O lucro válido é aquele que gera valor para toda a sociedade, e quando uma empresa, uma organização consegue gerar valor para toda a sociedade, todos os stakeholders onde ela está inserida, esse é o lucro válido, lucro sustentável, que é obrigação das empresas, obviamente, gerar valor para todos que estão participando daquele ambiente empresarial. E a Algar tem isso muito forte, a gente vem praticando isso nos nossos últimos 95 anos nos diferentes setores de negócio nos quais nós já atuamos, e os que nós atuamos hoje e nos que nós atuaremos no futuro.
HL: Luiz, eu acho tão especial isso de a empresa se reinventar. Ela nasceu como beneficiadora de arroz numa região que agora nem tem mais o arroz como tradição, e foi migrando para outros setores e fazendo uma migração bem pé no chão para poder ter essa perenidade. Foram vários desafios, né, a gente estava conversando antes, assim, foram vários planos econômicos, várias moedas… o que você, hoje, com a sua visão global do grupo, entende que fez a empresa sobreviver a tudo isso?
LG: Olha, Helenice, quando a gente olha o passado, a gente verifica que o grupo Algar é um grupo empreendedor desde a sua origem, porque nós já passamos por vários setores de atividades e o que sempre nos moveu foi, primeiro, a inovação, a Algar sempre esteve muito ligada a inovação, e estar muito atento às tendências de mercado. O Alexandrino Garcia, o comendador Alexandrino Garcia, o nosso fundador, o primeiro empreendimento empresarial que a família teve desse imigrante português, que veio de Portugal para cá só com a sua força de trabalho, foi, como você mencionou, uma máquina de beneficiar arroz. Na região de Uberlândia não existe mais arroz, hoje é uma região que tem mais soja, milho, algodão, então se nós tivéssemos atrelados aquele negócio específico talvez a empresa não existisse, mas a visão empreendedora fez com que, aos 54 anos de idade, ele já estivesse consolidado no ramo de vendas de automóveis e os derivados, bateria, combustível e pneus, e ele iniciou o trabalho com telecomunicações, porque ele percebeu a necessidade que o interior tinha, naquela época, de se comunicar com a capital. A capital do Brasil naquela época, há mais de 70 anos, era o Rio de Janeiro, e o sistema de comunicação era CDB, na época, antes da Telebras. A Telebras, que tinha Telemig, Telerj e a Telesp, era um sistema estatal, então ele percebendo isso, ele resolveu levar telecomunicações para o interior do país para que essas pessoas pudessem se conectar com a capital do Brasil, que naquela época era o Rio de Janeiro, e a principal cidade do país, que São Paulo. Então, estar atento à inovação tecnológica, estar atento às tendências de mercado e, sobretudo, ter um espírito empreendedor bastante forte é o que faz com que as empresas consigam, justamente, passar pelas volatilidades de mercado. Como você mencionou, em 95 anos a Algar já viveu ditadura, a Algar já passou pelo pós-guerra, a Algar já teve períodos de hiperinflação de mais de 1.000% por ano, nós já passamos por diversas crises, mas a capacidade de ler cenários e de se adaptar rapidamente é um ingrediente extremamente importante para empresas que queiram superar tempos voláteis.
HL: Está no DNA da empresa, né.
LG: Está no DNA. Uma coisa que o nosso presidente de honra diz bastante, Luiz Alberto Garcia, é que existem crises, as crises passarão e outras acontecerão. Então, as empresas precisam estar muito hábeis e ágeis, não para acertar o futuro, mas para ler os cenários e ter ali a velocidade e a capacidade de se adaptar rapidamente aos diferentes cenários que acontecem hoje e sempre acontecerão.
HL: E vocês continuam lendo esses cenários, né. Na própria área de telecom, a Algar, antes era 99% voz, hoje já é produto, que é o negócio principal dela. Atualmente, como está delineada a empresa? Ela continua um grupo familiar, o controle acionário continua todo com a família Garcia, como que, hoje, ela está desenhada?
LG: Hoje nós somos um grupo empresarial de controle familiar, mas de gestão profissionalizada desde 1989. Em 1989 nós profissionalizamos o grupo Algar, como nós dissemos, trouxemos um CEO profissional, uma gestão profissional para a empresa. Então, é assim que nós nos qualificamos hoje, uma empresa de controle familiar com gestão profissional em diversos segmentos, hoje são 4 segmentos e sempre passando por transformações. Você mencionou a questão da telefonia. Olha, nós vivemos a época do monopólio, então nada melhor do que você ter um mercado monopolista onde você não tem basicamente concorrentes, porque você está protegido por uma concessão. Incentivamos fortemente a privatização das telecomunicações, sendo uma empresa estatal nós influenciamos fortemente o Governo para que fosse adiante com as privatizações.
HL: É democratizar o acesso, né.
LG: 99% da nossa receita era voz. Voz, hoje, representa menos de 10% da receita. Hoje, a maior parte da receita vem de transmissão de dados, não existia telefonia celular, hoje existe telefonia celular, então são evoluções tecnológicas…
HL: Tem mercado para tudo, né.
LG: É muito interessante ver a evolução dos negócios.
HL: E uma coisa interessante também… a gente bate um papo, gente, antes de começar, e vocês estavam falando da participação da família, né, que não é assim, não começa a trabalhar lá e pronto, tem que ter uma experiência fora do país, tem que se profissionalizar, não são herdeiros, são gestores que a família quer.
LG: É verdade. Os gestores das novas gerações são melhor preparados do que os antigos, sem dúvida nenhuma. Hoje nós temos uma governança corporativa muito bem estruturada, que trata dos negócios com seu conselho de administração, e nós temos uma governança familiar que também é muito bem estruturada, onde ela procura preparar as novas gerações. Eu sou da terceira geração de uma família empresária, nós já estamos na quarta geração, que já começa a fazer o seu onboarding iniciando o seu trabalho na empresa, mas buscando seguir um processo de preparação cuidadosamente analisado e construído para cada pessoa. Então, nós temos requisitos de formação acadêmica, buscar fazer um Mestrado, aprender línguas, preferencialmente o inglês, ter uma experiência mais globalizada, para quando vierem contribuir com o negócio da família, que estejam realmente preparados, que tenham tido experiências em outras empresas fora da empresa de controle familiar para que possam continuar esse legado de uma família empresária, para continuar empreendendo e desenvolvendo os negócios para o futuro, que é bastante volátil, vamos dizer assim, para não dizer incerto.
HL: E atualmente, o grupo Algar tem quatro eixos de negócio, digamos assim, né, Luiz?
LG: Sim. Nós viemos de telecomunicações, entramos no setor de equipamentos de telecomunicações na época da reserva de mercado. Quando terminou a reserva de mercado… muitos não conhecem o que é reserva de mercado, mas o Brasil era proibido de importar produtos internacionais, nós saímos da reserva de mercado e hoje estamos basicamente na área de serviços. Então, em telecomunicações nós temos a Algar, que atua com provedores de internet, que nós chamamos de dados, a voz, soluções de telefonia celular, iniciamos na concessão do triângulo mineiro, mas hoje atuamos no Brasil todo no segmento de mercado corporativo, pequena e média empresa, e em alguns locais no segmento que nós chamamos do B2C, que é de clientes. Entramos, também, no segmento do agronegócio, onde nós temos dois negócios importantes. Um é a agricultura e pecuária na região do triângulo mineiro, onde nós temos mais de 30 mil hectares de agricultura irrigada, soja, milho, algodão e um pouco de outros produtos como batata, feijão, fazemos confinamento de gado no Mato Grosso, nós chamamos de boitel, onde nós prestamos serviço para terceiros, são mais de 30 mil cabeças de gado por ano, e temos um empreendimento encantador na Amazônia. É uma fazenda de dimensões incríveis, são 150 mil hectares de floresta, e já tem 40 anos esse empreendimento, e nós aprendemos durante esses 40 anos que preservar a selva amazônica é o maior valor que a gente pode trazer para uma economia sustentável, e respeitando o meio ambiente. Então, nesse negócio, hoje, nós fizemos uma certificação da floresta e o produto que nós vendemos são créditos de carbono, e nós vendemos créditos de carbono para empresas que precisam compensar as suas emissões. Isso é muito interessante, a gente imaginar que preservar a selva intacta é o maior valor que a gente pode estar gerando para aquele empreendimento naquela região.
HL: E é muito novo, né, porque o que a gente vê, Luiz, de floresta plantada é aquela floresta de madeira certificada, que é muito usada depois para mineradoras siderúrgicas que precisam do carvão vegetal, que também é um carvão limpo, mas se tratando de Floresta Amazônica, vocês mantêm esses 150 mil hectares lá e como que faz? Explica um pouquinho melhor para a gente essa área, agora, de as empresas procurarem a Algar para fazer essa troca.
LG: É muito interessante, porque a gente mantém a floresta em pé, como se diz, nós temos um trabalho social no entorno dessa área. Só para você ter uma dimensão do que são 150 mil hectares, uma fronteira da fazenda tem 80 quilômetros de estrada, então é muita coisa.
HL: Ela fica onde? Ela fica no Pará?
LG: Ela fica no Pará, na região de Portel, que está há aproximadamente uns 300 quilômetros, 400 quilômetros de Belém. Nós fazemos um inventário da mata… o inventário da mata é o seguinte: nós dividimos a mata em quadrantes e analisamos quais são os indivíduos (os indivíduos são as árvores) e nós catalogamos as árvores que existem nessa mata. Então, nesses quadrantes nós fazemos a amostragem, lá tem mais de 30 espécies de árvores, e com isso você consegue dimensionar quantos milhões de árvores existem nessa região, e aí você tem um cálculo que é feito, um cálculo matemático, porque a floresta sequestra carbono da atmosfera e ele retorna como oxigênio. A certificação é feita por órgãos internacionais, onde uma vez você tendo essa certificação, nós temos clientes hoje como a Vale, como a Netflix, é muito interessante.
HL: E aí elas informam que não estão só emitindo o gás carbônico, né, elas estão mantendo uma floresta para que ele seja recolocado na terra e volte como oxigênio.
LG: Exatamente. Então tem o comércio de carbono de reflorestamento, e esse nosso é inédito, porque é preservando a floresta em pé.
HL: Vocês pretendem aumentar essa área, Luiz? Fazer novos investimentos? É um investimento alto ou do tamanho que está, com os clientes que vocês têm, está bom?
LG: Esse empreendimento, só para você ter uma ideia, a gente tem algumas centenas de pessoas morando lá. Nós temos escola, nós temos ambulatório, nós temos internet, é uma pequena cidade, mas a ideia, para o futuro, pensando a longo prazo, é nós entrarmos em concessões de florestas para que a gente possa replicar esse modelo que nós fazemos hoje.
HL: É, porque a demanda só aumenta, né, tem que haver um equilíbrio das empresas que estão emitindo CO2. Então, vocês, de certa forma, vão verticalizar esse negócio, chamar outras pessoas que tem fazendas, que têm terras na região e fazer essa administração?
LG: A nossa ideia é participar de leilões que são feitos pelo Governo Federal e pelo Governo Estadual. A gente prefere os leilões federais, que são dimensões imensas, a gente fala de 100 mil, 200 mil hectares para que a gente possa replicar esse modelo que está funcionando nessa atividade atual, fazendo o crescimento.
HL: Então vocês não terceirizam, né? É até melhor não, porque aí não tem problemas de não ter controle sobre o negócio. Participando dos leilões vocês continuam no controle, no comando.
LG: É, nós operamos dessa forma e essa é uma prática da Algar, aquilo que está funcionando a gente procura replicar e crescer, aquele que não funciona a gente encerra.
HL: Sem dor, né.
LG: Sem dor. É testar rápido para errar rápido, errando rápido você tem chance de testar, e aquilo que der certo você promove o crescimento e o desenvolvimento.
HL: Porque aí o faturamento da empresa não vai para aquele negócio que não está… eu vejo isso muito, tem empresas que têm certa dificuldade em desinvestir num negócio, demoram muito e aí passa aquela janela de oportunidades, e aí vocês, dentro do agronegócio, estão procurando essas inovações, né, ou seja, não é só plantar commodities ou criar gado, é ir para inovações que vão ter uma demanda maior no mercado. Você já tem um plano plurianual para essa área ou não, isso vai depender muito da demanda mesmo do mercado?
LG: Não, a gente está acompanhando agora os leilões dessas licitações de áreas federais, que basicamente é algo novo, a gente fala que é um oceano azul em agricultura, porque a Algar já está em agricultura aqui no Centro-Oeste há mais de 50 anos, então nós já conhecemos bem, mas o negócio de florestas é um negócio bastante novo, mas muito promissor na nossa visão.
HL: Tem que fazer um investimento muito alto? É uma coisa que você está ‘bebendo água limpa’, mas como é um mercado muito novo, é tudo para se fazer, não é?
LG: É um investimento que não é alto, é um investimento razoável dependendo do tamanho da área, mas ele é um investimento muito robusto em conhecimento, porque como é algo novo, é algo que nós estamos aprendendo a fazer, e uma vez aprendendo, desenvolvendo aquele know-how de como fazer essa certificação e esse manejo florestal, é algo que se pode duplicar.
HL: Eu vejo muito o pessoal reclamar, no meio rural, da falta de conexão. Vocês estão fazendo também investimentos nessa área, é um mercado, ainda, que tem muito para crescer?
LG: Sim. Olha, aí a gente mistura um pouco o agro com a Algar Telecom. A Algar Telecom é uma empresa que tem mais de 70 anos na região do triângulo mineiro, onde nós temos a nossa concessão de telefonia celular. Nós fazemos 3G, 4G e 5G, a gente já leva a comunicação ao campo de uma forma bastante eficiente. Agora, a gente tem que lembrar que o Brasil é um país de dimensões continentais. Há poucos anos, a gente tinha 20% da população com acesso à internet física, que a gente chama de fibra óptica, hoje nós temos mais de 75% da população. A cobertura sem fio, cobertura móvel que nós chamamos, o celular também está evoluindo de uma forma muito rápida, mas o que é possível fazer agora, e que a Algar tem trabalhado bastante, é o desenvolvimento de redes privadas de telecomunicações. Então, nós já temos alguns clientes, na nossa região tem muitas usinas de açúcar, têm áreas imensas, e nós estamos investindo, levando para essas empresas agrícolas, não só a cobertura de comunicação para o campo, mas também levando a solução de telecomunicações. Isso será o futuro das telecomunicações. A Algar Telecom, hoje, é uma empresa de dimensão nacional, nós atuamos do Rio Grande do Sul até Fortaleza, no Nordeste, passando aqui pelo Sudeste, Centro-Oeste, Brasília, mas nós estamos trabalhando para que nós sejamos uma empresa de soluções, não somente uma empresa que entrega a conectividade, a internet que nós chamamos. Então, nós queremos levar para o setor agrícola, por exemplo, toda a solução de conectividade e poder gerenciar o deslocamento das máquinas, poder gerenciar o funcionamento dos pivôs centrais, poder gerenciar os centros de meteorologia, se choveu, se ventou, e escolhemos alguns segmentos. O setor agrícola é um, o setor de hospital é outro também, nós estamos trabalhando para automação hospitalar, nós já temos um serviço fantástico que se chama Mediquo, que é um sistema de você fazer consulta médica via Internet, nós oferecemos isso para os nossos clientes, principalmente para as pequenas e médias empresas. Trabalhamos com casas inteligentes, com cidades inteligentes, então a Algar Telecom está se transformando numa empresa provedora de soluções completas para os segmentos de mercado onde nós estamos inseridos.
HL: Ou seja, é uma plataforma que o cliente vai ter a jornada completa dele lá, né? Desde a casa até a empresa dele, e fidelizar, que é o mais importante.
LG: Exatamente. É uma plataforma de soluções, e dentro dos mercados onde nós atuamos, hoje a Algar Telecom… mais de 60% da sua receita vem de clientes corporativos, que são pequenas, médias e grandes empresas, então levar para os nossos clientes soluções além da conectividade. Hoje, nós provemos antivírus, nós provemos data center, nós provemos soluções em nuvem, uma série de soluções que podem ajudar o desenvolvimento dos nossos clientes, e para os clientes do mercado pessoa física, é o que a gente chama dos pacotes, onde você vende celular, internet na casa, televisão, uma série de produtos. Então, essa é a fórmula da Algar Telecom, de estar sempre muito focada no nosso cliente para que a gente possa desenvolver as soluções. A gente diz o seguinte, a empresa de telecomunicações cresce através do crescimento dos seus clientes, então aquilo que nós pudermos oferecer para que o nosso cliente tenha sucesso, nós teremos sucesso juntos.
HL: E demandar mais dados, né. Luiz, agora tem uma nova fronteira do grupo Algar que vocês já começam também com uma solidez financeira, com 1 bilhão de ativos, que é área imobiliária. Como foi essa decisão de diversificar o negócio para não ficar dependendo só de telecomunicações, de agro, de entretenimento, que a gente ainda tem que falar também, como se delineou esse plano?
LG: Foi muito interessante o lançamento do nosso setor imobiliário, porque o nosso setor imobiliário é o caçulinha do grupo Algar. Ele foi lançado no ano passado, mas ele já existe no grupo há bastante tempo, porque para o serviço de telecomunicações, nós temos centenas de imóveis técnicos, imóveis onde ficam os nossos equipamentos, porque Telecom você faz com equipamento, é como se fosse um computador, e você faz a conexão via fibra ótica ou via torres, para o celular. Então, nos deparando com essa quantidade de imóveis técnicos que nós já possuíamos da Algar Telecom e com outros imóveis do grupo, nós administramos hoje mais de 300 imóveis em 5 Estados no Brasil e com valor patrimonial de mais de R$ 1 bilhão, então é um negócio novo que já nasce grande. O que nós fizemos no ano passado foi dar foco estratégico para esse negócio, porque empresarialmente a gente diz o seguinte, que para você desenvolver um negócio você tem que ter competência, você tem que ter pessoas e você tem que ter capital, porque sem capital e sem pessoas a gente não desenvolve nada, e dedicar tempo administrativo. Então, no setor imobiliário nós, hoje, continuamos expandindo esses imóveis técnicos, nós temos trabalhado bastante em BTS, que é construir imóveis específicos para certo tipo de utilidade
HL: Para qual setor vocês têm feito isso?
LG: Para supermercados e para agências de automóveis.
HL: E aí a empresa não precisa colocar o capital dela naquilo ali, né, de comprar o lote e de fazer tudo, ela só investe no enxoval que ela precisa, vocês constroem e ela administra o negócio?
LG: Exatamente. Construímos os imóveis exatamente conforme o usuário precisa, então este é um exemplo, e criamos já há alguns anos, construímos um bairro em Uberlândia, nós chamamos de Granja Marileusa. É muito interessante que quem fala Granja Marileusa, o que é isso? A minha avó chama Maria e a minha tia chama Eleusa, a minha tia inclusive mora aqui em Belo Horizonte. Então, o Granja Marileusa é um bairro, hoje, que nós temos mais de 4 mil moradores, onde ele tem um conceito de você trabalhar, você morar e você ter lazer no mesmo bairro.
HL: É multiuso, né?
LG: É multiuso, mas é um lazer de uma forma um pouco diferente, é um lazer nas praças, é um lazer nas ruas, então nós estamos recriando aquele ambiente que eu, na minha infância, brincava nas ruas, eu queria andar de skate, ver um show de música, era nas praças e a gente está recriando exatamente esse modelo em Uberlândia.
HL: E lá é enorme, né, são 2 milhões de metros quadrados, tem 80 empresas já.
LG: É, e nós temos um VGV, o valor de geração de vendas, são bilhões de reais para os próximos anos, aonde nós já temos vários condomínios residenciais, temos Alphaville 1, 2 e 3, estamos lançando outros condomínios, temos condomínios de prédios verticais também, temos um shopping dentro do bairro, temos também empresas dentro do bairro, então é um novo bairro dentro de Uberlândia que é muito gratificante, porque junto com esse conceito, que é o masterplan, onde nós respeitamos muito também a poluição visual, porque é horrível quando você chega no local que cresceu muito, mas desordenadamente. A gente respeita muito bem o masterplan, que nós chamamos, e já lançamos esse ano o hospital do amor, o antigo hospital do câncer, que é o Hospital de Barretos. Então, iremos lançar no bairro já este ano um Centro Hospitalar. Então, era uma fazenda que hoje se tornou um bairro e utilizando também toda a tecnologia do grupo Algar, porque nós temos câmeras de segurança, nós temos toda o monitoramento do bairro utilizando as nossas tecnologias e, obviamente, uma internet e uma telecomunicações de primeiríssima qualidade, porque afinal de contas é a terra dá Algar. E lançamos agora, também, esse ano, os nossos primeiros investimentos fora do Brasil
HL: É um olhar do grupo, assim, para o mercado internacional? Começando pelo imobiliário, ou vai ficar só no imobiliário, ou não dá para falar por enquanto, o plano plurianual é esse? O que você está pensando?
LG: Helenice, é o primeiro passo de uma internacionalização, porque quando nós olhamos a Europa, que são países muito pequenos, as empresas já nascem internacionalizadas, porque se você tiver em Portugal tem 12 milhões de habitantes, se você nasceu na Suíça tem 6.
HL: Não dá para viver só com aquele tipo de cliente ali.
LG: O Brasil com 200 milhões é uma abrangência continental.
HL: Tem muito lugar pra crescer aqui, não, e vocês acham que precisa ter esse olhar no mercado externo.
LG: Então, foi uma determinação estratégica onde nós queremos explorar atividades em países de moeda forte. Isso quer dizer que o país é melhor ou pior que o Brasil? Não. Isso significa, simplesmente, uma diversificação de riscos
HL: É não ficar ancorado só num tipo de moeda, né, só numa atividade.
LG: Exatamente, e eu diria que isso até muda de problema (risos).
HL: (risos) O pessoal acha que é só aqui no Brasil que tem problema. Cada lugar tem as suas especificidades.
LG: Exatamente. Então, a gente lançou o Algar Properties, que nós estamos fazendo investimentos no mercado imobiliário muito concentrados nesse momento na Flórida, já estamos ali na região de Miami, Boca Raton, West Palm Beach, Orlando, mas temos alguns outros investimentos também em outros Estados americanos, e focando muito no que se chama hoje de multifamily. Multifamily são residências ou apartamentos que vão até 2 milhões de dólares, esse é o valor médio dos imóveis que nós estamos participando nesse tipo de investimento.
HL: É um consumidor de renda média lá nos Estados Unidos? É diferente aqui do Brasil?
LG: É, o Estados Unidos ele trata o superar, a altíssima renda, e esse eu diria que é um pouco acima da renda média, mas estamos participando, nesse momento, como investidores de empreendimentos que já existem.
HL: Ah, isso que eu queria saber de você. Assim, não é que vocês estão criando uma construtora para ir para lá e construir, vocês estão se aliando a parceiros na região?
LG: Exatamente, nós identificamos empresas que participam dos projetos.
HL: Então já tem o Know how lá, já conhecem o mercado lá…
LG: Tem o Know how, e nós participamos da estruturação financeira desses investimentos e, obviamente, essas empresas contratam as suas construtoras para fazer os projetos. Tem um projeto muito interessante que chama Idrive, que é um conjunto de casas em Orlando, muito próximo do parque novo, acho que é o Universal Studios que fez um parque novo, onde são 600 residências que estão se alugando casas para férias. Então, uma família, ao invés de ficar uma semana no hotel, aluga um apartamento lá.
HL: Lá o pessoal gosta muito de fazer isso, né, para se sentir em casa.
LG: Exatamente, tem apartamento de dois quartos até nove quartos, que é diferente, você vai passar uma semana de férias alugando uma casa…
HL: Tendo a experiência da casa, né, em outro país.
LG: Tendo uma experiência mais adequada, mas a gente está muito animado. A gente iniciou agora os investimentos, nesses últimos dois anos, a gente pretende dobrar esse volume de investimento já para o ano que vem, e o Estados Unidos é uma porta de entrada, porque nós identificamos essa oportunidade, mas vamos analisar também outros países.
HL: Mas aí vocês podem replicar? Por exemplo, Portugal, né, que tem muito brasileiro lá, já tem um mercado bem maduro e está vivendo um Boom, não é? A gente vai em Portugal na década de 1990 e volta agora, é outro país, muito pelo turismo. Como está esse plano de vocês?
LG: É replicável sim. Portugal tem a vantagem da língua, e como uma família de origens portuguesas, a gente tem muita satisfação de replicar esse modelo, talvez, em Portugal.
HL: Mas não tem um ano certo ainda não, né?
LG: Ainda não tem nada. Este ano e o ano que vem a gente deve continuar focando no mercado americano para depois pensar.
HL: E aí, Luiz, nessa área do imobiliário vocês pretendem chegar em algum lugar que a Algar não está ainda? Seja no Brasil, seja lá fora… primeiro precisa consolidar nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil tem planos de ir pra outros Estados que vocês não estão ainda? Dos Estados brasileiros, tem algum que você tem vontade de estar?
LG: Nesses 300 imóveis que eu mencionei, a gente tem um Land Bank, que é o volume de áreas, terrenos consideráveis, que estão divididos em 5 Estados brasileiros, a gente tem olhado bastante o Tocantins, que é muito promissor, e a gente tem olhado a cidade satélite de Brasília, não o Distrito Federal, mas o entorno de Brasília.
HL: Muita gente está indo morar no entorno, porque Brasília é caríssimo.
LG: E analisando também, como eu mencionei a floresta, que é replicar aquilo que está funcionando, porque não replicar o nosso projeto Granja Marileusa, que é um projeto que já está maduro, um projeto onde nós já desenvolvemos…
HL: Mas então vocês têm áreas do porte do Granja Marileusa, de 2 milhões de metros quadrados já reservadas para isso, digamos assim?
LG: Do porte do Granja Marileusa nós temos algumas parcerias que nós estamos analisando. O nosso Land Bank são áreas mais modestas, que são adequadas para empreendimentos imobiliários, mas não para um projeto grandioso como o do Grande Marileusa.
HL: E esses lançamentos, Luiz, dependem de quê? Tem o Land Bank lá, o terreno não vai sair do lugar, né, está com controle da Algar, depende mais de mercado, de perspectivas, da condição do consumidor querer comprar ou não? O que vocês avaliam no mercado para fazer os lançamentos?
LG: Olha, Helenice, o mercado imobiliário está diretamente relacionado com a atividade econômica, então é um investimento longo, não gosta muito de taxa de juros alta, aliás acho que ninguém gosta, mas a gente tem analisado os produtos que são adequados para aquele mercado, porque o mercado imobiliário, apesar de ser imenso, ele é muito específico de cada região. Se nós pegarmos aqui em Belo Horizonte, um produto que serve para a Savassi talvez não sirva para a Pampulha.
HL: Ou para Venda Nova, ou para Nova Lima.
LG: Um produto de 500m² pode ser adequado para um local, o de 50 m² para outro, então a gente observa muito o potencial comercial de cada região para que a gente possa desenvolver o produto adequado e trabalhamos 100% do tempo com parcerias, então nós não somos construtores.
HL: Vocês não assumem o risco completamente, 100%.
LG: Nós não somos construtores, a gente trabalha em parceria, preferencialmente, com construtoras locais e nós levamos, obviamente, todo o estudo de pesquisa de mercado e sobretudo a força e a credibilidade da marca Algar para desenvolver esses empreendimentos.
HL: Tem uma área de entretenimento na Algar, e às vezes muita gente pode não saber, mas a Costa do Sauipe tem a Algar como um dos grandes sócios, a Rio Quente Resorts também. O que vocês pensam para essa área do entretenimento? Ela é complexa também, né, hotel não é um negócio fácil, você tem que ter uma taxa de ocupação sempre acima de 80%, cada hora é uma moda, parque aquático agora todo grande resort tem que ter, e são investimentos também polpudos que tem que ser feitos.
LG: Exatamente. Nós temos também 38 anos de atuação na parte de hotelaria, mas nós qualificamos como turismo de entretenimento. Nós iniciamos as nossas atividades, é uma Joint Venture, 50/50%, iniciamos o que a gente chama de pousada do Rio Quente, que hoje é o Rio Quente Resorts. Então, no Rio Quente Resort (GO), que fica próximo de Brasília, entre Goiânia e Brasília, ele tem uma peculiaridade única, porque lá nós temos águas quentes minerais, isso significa que a água nasce quente dentro das piscinas, é algo único no mundo, eu não conheço um aquífero termal com aquele volume de água em lugar nenhum. Eu sei que no Nordeste tem, no Japão tem, em outras regiões tem, mas aquele volume talvez seja um dos maiores volumes de águas quentes naturais que nascem
HL: E é na temperatura certa, não é? Eu fico boba de ver!
LG: Eu vou fazer propaganda: para quem tem crianças aí de quatro a quinze anos é o lugar perfeito, porque todo toda criança e a gente também sonha e ir pra piscina à noite é e o que nós também fazemos muitas convenções e é muito bom você passa o dia inteiro na sala de convenções e à noite você faz seu happy hour dentro da piscina,
HL: É uma estrutura incrível, mas precisa de investimentos constantes.
LG: Nós temos lá hoje, se nós falarmos dos 2 complexos, nós temos 12 hotéis, 2 mil e 600 apartamentos.
HL: Lá no Rio Quente?
LG: Nos dois, Rio Quente e a Costa do Sauipe. Então, no Rio Quente, o que nós temos? Nós temos um complexo de 6 hotéis, nós temos o parque aquático que está anexo aos hotéis, nós recebemos 1 milhão de pessoas nesse parque aquático por ano, e esse parque aquático tem várias atividades de toboáguas. Então, o toboágua é dividido em atrações de família, onde você tem um rio lento, você tem uma boia, e que vão lá pai, filho, avô, todo mundo junto naquela boia, até o expirado, que a gente fala, que é um tobogã de muita adrenalina. E o outro produto, que é o principal produto, é o que nós chamamos de clube de férias, que tem um nome em inglês que se chama time sharing (multipropriedade imobiliária), onde as pessoas compram o direito de férias por 2 semanas por ano, você compra antecipadamente esse direito de férias por 10 anos, por 15 anos. Então, nós temos o clube de férias, não só em apartamentos, mas nós estamos lançando o clube de férias em residências, que nós estamos lançando agora, que nós chamamos de ‘em casa’, que são residências que tem de 1 a 4 quartos. Então, você pode comprar o direito de férias nessa casa por 10 anos, você terá ali uma casa de 4 quartos com todo o serviço de hotelaria, pode contratar, inclusive, cozinheiro, um chefe para que possa fazer aquele que for adequado.
HL: E ele paga o que por mês, como é esse comprometimento?
LG: Ele compra o direito, o time sharing, para 10 anos, por exemplo, ele tem um valor inicial que ele paga, obviamente ele não paga esse valor à vista.
HL: É igual na obra, né, quando você compra o apartamento na planta.
LG: Em 36 meses, mas ele tem o direito de utilizar durante um certo período. Ele pode, também, fazer intercâmbio de uso, então se ele tem o direito de uso de uma casa no Rio Quente Resort, se ele quer trocar por um semelhante em Aspen ou em Bariloche, tem uma empresa que chama CRCI onde ele troca esse direito de uso aqui por locais fora. E na Costa do Sauipe, que é uma aquisição nova, essa empresa chama-se A Viva, que é proprietária do Rio Quente Resort. Na Costa do Sauipe também são 6 hotéis, nós estamos revitalizando todos esses hotéis, nós já revitalizamos dois, estamos revitalizando mais dois, e está em andamento neste momento a construção de um parque aquático que chamará Parque Aquático das Tartarugas, fazendo uma analogia com as tartarugas, porque aquela é a região da desova das tartarugas. Então, é de preservação, estamos investindo R$400 milhões no parque aquático, e só a Costa do Sauipe, nos próximos 4 anos, investirá um R$ 1.2 bilhão fazendo a revitalização desses hotéis. Vamos lançar também um multipropriedade, que é o mesmo modelo do time sharing, onde as pessoas poderão comprar o direito de uso de um apartamento de 2 quartos até 4 quartos, em frente à praia, e é um empreendimento que a gente está muito é animado
HL: Tem muito potencial lá, não é?
LG: Sim, muito. Estamos relançando, este ano, o torneio de tênis, o Sauipe já foi muito conhecido, o Guga já jogou, o Nadal já jogou, então esse ano, quem sabe, o João Fonseca não possa seguir os mesmos passos do Guga.
HL: Você joga tênis também?
LG: Eu jogo.
HL: Então está explicado, né. (risos) Tem que fazer uma coisa dessas de novo lá, né.
LG: Sem dúvida, incentivando aí novos talentos.
HL: Quem sabe não surge aí um novo Guga, né?
LG: Exatamente, mas o turismo de entretenimento é muito animado e a gente diz o seguinte, na Algar a gente dá alguns nomes para os nossos negócios, então hotelaria é um negócio onde o cliente dorme na sua empresa. (risos) Telecomunicações o cliente lembra de você só na hora que não funciona, ninguém liga para falar assim “olha, a minha internet está ótima, a velocidade está ótima, muito obrigada!”. Mas se ela deixar de funcionar, você na hora precisa falar.
HL: Mas tem que ter um índice de satisfação, né, do cliente. Agora, só retomando essa questão do investimento aí em Costa do Sauipe, R$ 1 bilhão e 200 milhões de volume que é da própria Algar ou não, aí tem investidores também, um private equity, Joint Venture, como está esse modelo para vocês?
LG: De uma forma geral…É, de uma forma geral eu digo que o grupo Algar é um grande cliente do mercado financeiro, porque nós trabalhamos com capital próprio e, obviamente, muito com financiamento do mercado financeiro. Exatamente, ali na região do Sauipe nós temos o Banco de Desenvolvimento do Nordeste, que está apoiando fortemente o investimento, transformacional na Costa do Sauipe.
HL: Está na área da Sudene também, ou não?
LG: Não, a Sudene é mais voltada para indústria, mas, então, a gente percebe o quão importante é nós termos como empresários e investidores uma estrutura financeira adequada que possa fomentar o desenvolvimento de toda e qualquer indústria.
HL: Porque, lá, se você pensar quantas famílias, a cadeia de fornecedores, são cadeias longas que vocês acabam criando nas regiões onde vocês estão.
LG: Helenice, só para você ter uma ideia, o Sauipe na sua capacidade de hospedagem são 5 mil pessoas por dia. Se nós pensarmos que o parque aquático deverá receber mais umas 5 mil pessoas por dia e se nós pensarmos que para 10 mil pessoas por dia, a gente precisa ter pelo menos umas 3 mil de associados, de funcionários, nós estamos falando de um público, vamos colocar por baixo, de 12 mil pessoas por dia. Você movimenta toda a cadeia produtiva, porque é fabricar alimento para todo esse pessoal, para todos esses clientes, é transporte, é táxi, é venda de souvenir, é venda nas lojinhas da região, não só do resort, mas das lojas do entorno.
HL: As pessoas querem visitar o entorno.
LG: Isso, as pessoas que vão visitar ali o projeto Tamar, que está próximo, que vão no restaurante vizinho.
HL: Essa economia criativa é incrível no turismo, né?
LG: É isso que eu falo que é gerar valor para toda a sociedade onde o empreendimento está inserido. Eu, quando vou ao Sauipe, eu fico maravilhado, porque nós temos um programa social muito bacana que ao invés de nós termos ambulantes andando na praia, nós montamos barraquinhas, como se fosse uns quiosques, para que eles possam utilizar aquelas barraquinhas para vender ali os produtos, os artesanatos que eles fazem, e com isso todo o entorno se transforma em algo que está gerando valor para todo mundo.
HL: Ele vira um microempreendedor, ele também consome, gera renda para ele, o turista se sente bem atendido, não fica aquela coisa ali o tempo inteiro.
LG: Todo turista quer comprar algo regional, seja alguma coisa feita com coco, madeira…
HL: Seja um imã de geladeira, né, Luiz, mas quer.
LG: Você cria um círculo muito virtuoso, que é um local 100% seguro, então você vai numa praia, convivendo com milhares de pessoas, num ambiente onde a gente deixa o celular em cima da cadeira, vai tomar um banho de mar e volta e ele está lá.
HL: Você falou de funcionários, que no caso vocês chamam de associados, são hoje 14 mil pessoas que vocês empregam. Vocês já pensaram assim qual é o volume total, assim, que vocês acabam gerando, além desses empregos diretos, os indiretos também em todas os setores que vocês atuam, ou não, isso é muito difícil de quantificar, essa cadeia de valor?
LG: A maior empregadora nossa é uma área de contact center, que estão em 3 regiões do Brasil (Uberlândia, tem no interior de São Paulo e um pouco no Nordeste), mas se nós falarmos aí que para cada associado nosso tem pelo menos mais 2 dois empregos indiretos, a gente fala aí de talvez 30, 40 mil pessoas.
HL: Que vocês impactam, né, que o grupo Algar tem esse impacto.
LG: Agora, a gente tem um dado muito interessante que a gente provê muito treinamento, muito desenvolvimento, e nós, como investidores, como empresários, principalmente a família, é muito gratificante quando a gente encontra com algum profissional que passaram pelas empresas Algar, seja como Executivo, como Presidente ou como um técnico, e que nos aborda e diz o seguinte “olha. eu passei um período na Algar e hoje eu sou diretor de uma empresa, eu sou gerente de outra empresa, eu sou presidente de uma empresa”, porque as empresas formam talentos para contribuir com a empresa, obviamente, e quando não estiverem mais com a empresa, para contribuírem com o desenvolvimento econômico e social do país. Então, é a formação de pessoas, a formação de talentos, é algo que faz parte dos princípios e valores da Algar e isso é muito gratificante.
HL: Fora a família do associado, do funcionário, que continua lá trabalhando, vocês já têm gerações lá também, né.
LG: Isso. Nós estamos na terceira, quarta geração de acionistas e na terceira, quarta geração de executivos e associados que contribuem com o Algar.
HL: Isso é bom, mostra que é um lugar muito bom para trabalhar. Luiz, agora, você fala muito sobre o plano 100 da Algar. Vocês têm metas para o business plan também dos 100 anos? Para chegar a quantos clientes, atingir quantos setores, tem esse faturamento, de crescer, ou não dá? Porque tem setores que eu pergunto isso e o pessoal, por exemplo, de infraestrutura fala assim “não dá para fazer esse plano plurianual tão longo, tem que ser ano a ano”. No caso de vocês, que é um portfólio mais diversificado, dá para fazer?
LG: Olha, é interessante que nós temos um programa que chama-se Algar 2100, e quem criou esse programa foi Luiz Alberto Garcia. O Luiz Alberto Garcia é meu pai, é a nossa segunda geração, trabalhou junto com o nosso fundador, Alexandrino Garcia, e ele queria criar um fórum de pensar o futuro. Aí ele começou assim “vamos fazer um programa ao longo daqui 5 anos, daqui 10 anos”, aí ele falou assim “olha eu quero fazer um programa para daqui 100 anos”, e as pessoas falaram “doutor Luiz…”, que é como eles o chamam “mas daqui 100 anos está muito longe”, aí ele falou assim “sabe por que que eu quero 100 anos? Porque ninguém que está aqui vai estar na empresa daqui 100 anos, então eu quero um programa totalmente isento de qualquer viés pessoal. Eu não quero que vocês pensem em vocês para projetarem a empresa para o futuro”, e isso foi muito disruptivo na forma de pensar o futuro da companhia pelo seguinte, nós deixamos de pensar em core business, nós começamos a pensar em core competence dizendo o seguinte “quais são as competências administrativas pessoais que eu preciso ter para que essa empresa chegue daqui a 100 anos?”. Porque o negócio pode mudar, a Algar já participou de indústria, de fabricar equipamentos, hoje nós estamos em serviço de telecomunicações, nós já tivemos frigoríficos, hoje nós não temos.
HL: Já teve empresa de comunicação, que você estava me contando.
LG: Já tivemos o jornal, que eu estava te mencionando, o nosso jornal, Correio de Uberlândia, durou 85 anos. Então, o core competence é algo importante. Outra coisa que nós discutimos muito nesse planejamento é a seguinte, a importância da formação de lideranças. Então, formar lideranças e ter líderes competentes é importante, porque são eles os representantes da empresa. Nós discutimos muito princípios, valores e formas de atuação, então o que a gente discutiu muito é o seguinte, que a inovação é muito inerente para que as empresas possam se desenvolver, porque você tem que inovar, você tem que estar ligado a novas tecnologias.
HL: A gente está aí num momento de Inteligência Artificial, né.
LG: A gente criou a universidade Algar há 20 anos, porque nós detectamos que desenvolver a competência dos nossos associados era extremamente importante. Então, eu vejo que são atributos importantíssimos para o futuro, e te dizer, sabe, Helenice, “será que no futuro o Algar vai continuar no setor de hotelaria? De entretenimento ou em telecomunicações?”, é difícil dizer quais os produtos que nós estaremos vendendo, mas que nós vamos fortalecer o nosso time, as nossas competências, isso é algo que nós já aprendemos, e é interessante que quando a gente vê o grupo Algar hoje, nós estamos inseridos em quatro áreas de negócios, tecnologia da informação e comunicação, que é telecomunicações, turismo de entretenimento, o agronegócio e o imobiliário, que são todos negócios extremamente promissores.
HL: Longevos, né.
LG: Longevos, promissores, e nós não estamos nesses negócios por acaso, porque nós tivemos a competência, através da formação do nosso time de executivos, de analisar as tendências e fazer as movimentações de acordo com a leitura de mercado, da mudança de hábito dos consumidores.
HL: Do que o ser humano vai precisar, né, comida, casa, entretenimento...
LG: O Algar 2010 eu não consigo te dizer que tamanho que Algar terá, mas eu consigo te dizer quais são as competências que nós continuaremos investindo para sermos um grupo empreendedor.
HL: Inteligência artificial, vocês também já estão muito ligados a ela, já tem um investimento alto nisso também?
LG: Sem dúvida. A inteligência artificial fará parte do cotidiano de todos nós, ela veio para ficar. Principalmente na Algar Telecom, nós temos dezenas de agentes, que é como nós tratamos hoje a inteligência artificial. Então, por exemplo, nós temos um que chama-se Billy, e o Billy verifica as contas telefônicas antes delas serem enviadas, conferindo para ver se tem algum problema. Nós temos agentes que auxiliam a nossa recepção de chamadas para instalação ou reclamação, eventualmente. Então, ali a inteligência artificial te presta uma assistência muito rápida para que você possa entender o que está acontecendo, nos auxiliando muito em vendas preditivas, dependendo do perfil e dos produtos que aqueles clientes já possuem, qual é a nova propensão de consumo.
HL: O histórico dele, né.
LG: Então, é o histórico, o que eu posso oferecer já tendo ali é um perfil
HL: Tem mais previsibilidade, né?
LG: Sem dúvida nenhuma. Então, a inteligência artificial veio pra ficar. Principalmente a nossa área de telecomunicações tem usado bastante e nós estamos fazendo um treinamento muito forte com toda a nossa equipe para que nós possamos usar a inteligência artificial para aumentar a eficiência daquilo que nós fazemos no dia a dia, porque é uma ferramenta fantástica de trabalho.
HL: Olha muito bom. Ela está do lado do trabalhador, não está contra, não está para tomar o emprego de ninguém, como tem muita gente aí com medo, né, Luiz.
LG: Mas a gente brinca que nós temos que ser letrados em inteligência artificial, porque é algo totalmente novo e todos nós, desde a presidência da empresa até todas as pessoas, nós temos que aprender a utilizá-la, porque, olha, é uma ferramenta de trabalho espetacular.
HL: Ela vai mudar muito, né, eu acho que vai mudar muito os hábitos, os conceitos, as profissões todas, acho que essa área burocrática que a gente perde tanto tempo vai ficar toda para IA. Então, profissões vão mudar, vão acabar ou não, vai diminuir a incidência, tem os desafios de lidar com todas as gerações também, não é, Luiz? Que a empresa precisa disso e é aquilo, sangue novo também…
LG: Nós temos que usar a tecnologia, mas ao mesmo tempo nós temos que preservar e prezar a relação entre empresa, entre produto e cliente. Uma das coisas que nós já discutimos muito, a gente estava falando de 100 anos à frente na hora de 2100, por exemplo, qual é o diferencial competitivo da Algar? Então, o diferencial competitivo da Algar é o relacionamento. Dizer que nós queremos ter o melhor produto, o mais barato, o mais eficiente, seria até uma prepotência da minha parte, mas nós entendemos que o relacionamento com os nossos clientes é algo que deverá nos diferenciar no ambiente competitivo. Nós criamos um slogan muito bacana que nós chamamos de Algar e Dono, que significa o seguinte: aonde cada gerente regional, cada associado da Algar precisa se comportar como dono. Então, nós temos uma empresa, hoje, de abrangência nacional, mas nós queremos que o nosso gerente que está lá em Porto Alegre, que ele realmente seja o dono da empresa, então ele precisa ter a cultura da empresa e ele precisa ter todas as ferramentas e os dados gerenciais para que ele possa administrar aquela regional da mesma forma de um outro gerente que está em Fortaleza, que está em Recife e o que está aqui em Belo Horizonte. Então, é isso que nós chamamos de Algar e Dono, os gerentes que realmente…
HL: Tem que tomar as próprias decisões também, né.
LG: Tomar as decisões com autonomia, com responsabilidade, que nós chamamos, e aquele que vai no cliente, que ele passe o telefone celular dele para o cliente e fale “olha, se você tiver algum problema e por acaso os meus canais de atendimento não funcionarem adequadamente, vocês liguem para mim eu resolvo”. Então, a empresa tem dono, o Algar e Dono é aquele que cuida dos detalhes e que enxerga as oportunidades e também enxerga os desafios para que a empresa possa ser mais dinâmica.