Juliano Duarte, prefeito eleito de Mariana (MG), é o sexto entrevistado da Temporada Minas S/A Desenvolvimento e Construção em todas as plataformas de O TEMPO.

Juliano reclama que os prefeitos não foram ouvidos desde o início do processo de elaboração do acordo de reparação para os danos causados pelo rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana, em 2015.

"Mariana vai receber, caso assine o acordo de reparação, em torno de R$ 60 milhões por ano (nos próximos 20 anos) o que não representa nada no orçamento do município que tem um grande déficit. O recurso é muito aquém do que a gente precisa com obras viárias, atendimento na saúde", critica Duarte. 

Mariana vai assinar o acordo de reparação? Duarte explica que a assinatura hoje da repactuação no Brasil implica em dar quitação integral a todas as ações que envolvem a Fundação Renova, a Vale e a BHP.

"E, consequentemente, a assinatura aqui no Brasil vai dar quitação em uma ação que corre na Inglaterra contra a BHP, que é sócia majoritária da Samarco, juntamente com a Vale. E na Inglaterra o município de Mariana está pleiteando um valor muito maior do que foi repactuado e calculado no Brasil de R$ 28 bilhões".

O prefeito de Mariana diz que até o final de fevereiro e início de março do ano que vem o julgamento na Inglaterra se encerra por conta de um prazo obrigatório.

"Eu pretendo, sob a minha responsabilidade, utilizar o prazo máximo que eu tiver para tomar a melhor decisão (as prefeituras têm um prazo de 120 dias após a homologação do acordo no STF, o que finda em março de 2025). Vou olhar o interesse público", garante.

Na Inglaterra

Duarte acredita que assinar o acordo de reparação na Inglaterra é mais viável do que o acordo no Brasil. Na ação da Inglaterra o pleito de Mariana é de R$ 28 bilhões e o prefeito eleito pretende um valor que, no mínimo, chegue à metade disso.

"O valor da Inglaterra é muito mais viável. Assinar o acordo de reparação na Inglaterra é mais viável do que o acordo no Brasil. Aqui vamos receber em 20 anos, lá é à vista", compara.

Outro questionamento do prefeito eleito é quanto ao prazo de pagamento em 20 anos no Brasil.

"E questionamos também a assinatura do acordo no Brasil à quitação total em todos os litígios e processos que envolvam as mineradoras. A gente está dando a quitação antes de receber a última parcela, estou atestando antes de receber todos os valores. Queremos discutir com as mineradoras", reivindica.

Novos investimentos

Ao mesmo tempo, Mariana recebe novos investimentos da mineração com a Samarco, a Vale e a Cedro Mineração.

Segundo ele, a expectativa de mineração é para além de 100 anos em Mariana.

"A grande parcela dos pedidos de exploração mineral em Minas Gerais está em Mariana".

Para Duarte, é preciso reestruturar a rede de saúde, leitos de UTI, investir no sistema de abastecimento de água que tem faltado, investir na segurança púbica, obras de mobilidade, saneamento básico que Mariana não tem, e o atendimento aos distritos.

O prefeito eleito de Mariana quer um planejamento pensado para os próximos 50 anos da cidade.

"Quero buscar diálogo com as mineradoras porque elas precisam investir mais em Mariana", acredita.

Gerações

Juliano Duarte vem de uma família com vocação política.

O avô foi vereador da cidade, o pai foi vereador por quatro mandatos, o irmão foi vereador aos 18 anos e prefeito por dois mandatos e Juliano acabou seguindo essa linha.

Formado em enfermagem e bacharel em direito, Juliano está no quarto mandato como vereador.

Com a vice-prefeita eleita Sônia Azzi, Duarte quer ter também as mulheres na decisão dos rumos de Mariana.

A seguir, a entrevista na íntegra com Juliano Duarte: 

HL: Para começar, eu queria que você se apresentasse, falasse um pouco sobre a sua trajetória antes de virar, agora, Prefeito para os próximos 4 anos. Como foi sua vida, sua criação, todo seu entendimento de Minas Gerais? 
 
JD: Bom, primeiro eu venho de uma família que tem uma tradição na política de Mariana/MG. O meu avô foi vereador pela cidade de Mariana em uma época em que vereador era ofício, você não recebia para exercer o cargo público, o meu pai foi vereador por 4 mandatos, o meu irmão foi vereador com 18 anos, o mais jovem da história de Mariana e um dos mais jovens também do Brasil, foi Prefeito por 2 mandatos, inclusive ele era o Prefeito na época do rompimento da Barragem de Fundão no ano de 2015, e eu acabei seguindo essa essa linha. Disputei a minha eleição pela primeira vez, tive uma excelente votação, e depois disputei as eleições subsequentes. Estou no meu quarto mandato e sempre tive a felicidade de ser um dos mais votados da cidade de Mariana. Eu sou enfermeiro, tenho curso de Enfermagem superior, pós-graduado em Saúde Pública e também sou Bacharel em Direito, e nessa eleição vim candidato pelo partido PSB, número 40, e a minha vice, a Sônia Azzi, nós trouxemos uma mulher para compor a chapa, porque nós queremos também, cada vez mais, a participação das mulheres na política, é importante, nós temos o maior eleitorado feminino e temos uma pouca participação das mulheres na tomada de decisão, e a Sônia também me ajudou muito nessa caminhada. 
 
HL: Que bom esse olhar diverso da mulher, do homem para atender toda a população. Essa vocação política da família influenciou muito na sua tomada de decisão, Juliano? Você talvez não teria levado a sua vida para isso ou essa questão do servir, do querer o coletivo cada vez melhor também influenciou muito? 
 
JD: Olha, a princípio eu nunca pretendia disputar um cargo público, porque eu acompanhava meu pai, as cobranças, as demandas, então não era de fato meu objetivo de vida, a minha missão, mas chegou um tempo que eu comecei a auxiliar o meu pai nos trabalhos dele como parlamentar, meu pai é comerciante, é produtor rural e ele não tinha tanto tempo para dedicar exclusivamente ao seu trabalho, ao legislativo, e eu comecei a trabalhar com ele. Eu sempre fui muito organizado com minhas coisas e chegou uma época em que ele falou que não viria mais candidato. Eu também não queria vir, mas por conversar com os amigos, por vontade das pessoas, falaram “vem candidato, acredito que você possa contribuir muito”, acabou que eu vim, tive a felicidade de ser eleito, e aí eu segui a minha trajetória política até chegar agora, graças a Deus, ao cargo de Prefeito da cidade de Mariana. 
 
HL: Quatro mandatos como vereador é um bom tempo, né, Prefeito? São quase 20 anos que a gente tem dessa carreira no legislativo. Isso ajuda bastante, agora, nesse caminhar no Executivo? 
 
JD: Ajuda bastante. Eu até falo que todo Prefeito, se ele tivesse oportunidade de passar pela Câmara é muito melhor para você ter o entendimento da Administração Pública, de como funciona o Poder Legislativo, a importância do Poder Legislativo, o Poder Executivo caminhar em consonância também com o Poder Legislativo para que as decisões, para que o Governo flua da melhor maneira possível. Então, o cargo de vereador te dá uma experiência muito grande, também, das funções de uma Administração Pública Municipal e foi fundamental para que nós, mesmo como Prefeito Interino, que eu assumi a cidade de Mariana neste mandato, porque nós tivemos 4 Prefeitos neste mandato, nos auxiliou para que tivéssemos uma boa aprovação do tempo também em que estive exercendo o cargo em exercício como Presidente de Câmara, mas Prefeito da cidade de Mariana. 
 
HL: Com o apoio, você fez uma coligação enorme do PSB com outros partidos e elegeu também muitos vereadores. Você acredita que isso pavimenta melhor o caminho, a relação da Prefeitura com a Câmara, na aprovação de projetos, no diálogo diário que precisa ter um Prefeito com seus vereadores? 
 
JD: Sim, eu acredito que vai auxiliar muito para que o nosso Governo possa ter velocidade, celeridade na aprovação de projetos e consequentemente realizar uma boa gestão e as mudanças que a população espera do Juliano, Prefeito na cidade de Mariana. O meu grupo político teve a felicidade de fazer 11 vereadores dos 15 que declararam apoio à nossa candidatura, ao Juliano e a Sônia Azzi, e é fundamental você ter uma Câmara forte, uma Câmara a seu lado para também te auxiliar nas decisões. Como eu sou Vereador hoje, o meu mandato vai ser encerrado dia 31 de dezembro, nós temos uma excelente relação, também, com a Câmara Municipal de Mariana. 
 
HL: Como vai ser a atuação da Sônia como Vice-Prefeita? O que você pensa no papel dela para a sua administração? 
 
JD: Olha, a Sônia, quem conhece sabe que é uma pessoa muito humana. A Sônia tem um coração gigante e a Sônia gosta muito de estar presente junto com o povo, ouvindo o povo e atendendo a população. Então, a Sônia terá um protagonismo no nosso Governo de atender de fato as pessoas que chegam à Prefeitura e muitas vezes não conseguem falar com o Prefeito, não porque o Prefeito não quer, mas por compromissos de agenda que são muitos. A gente precisa planejar para organizar a cidade para o futuro e a Sônia vai ter esse papel de receber a população, de atender as demandas da população que todos os dias procura a Prefeitura querendo soluções em relação às demandas que chegam nas comunidades. 
 
HL: Prefeito, vamos passar para um assunto que é importantíssimo para a cidade, para toda a região, para o país, repercussão mundial, que é o acordo de reparação para Mariana. Desses R$ 132 bilhões que foram acordados, assinados com aval do STF, entre Governo Federal, Governo Estadual, Ministérios Público Estadual, Federal, qual é o entendimento seu em relação a esse acordo? 
 
JD: Olha, é importante quando se fala do acordo falar desde o início, desde a constituição da Fundação Renova. A Fundação Renova, quando ela foi constituída para reparar toda a tragédia que aconteceu em Mariana e passou pelo Rio Doce até o Espírito Santo, quando ela foi criada os Prefeitos não foram ouvidos, eles não são signatários do TTAC, eles não assinaram, então ali já nasceu errado, não ouviu onde está acontecendo os problemas, que é aonde? Nas cidades, e os seus representantes que são os Prefeitos municipais da época. 
 
HL: Por que você acha que isso aconteceu? 
 
JD: Eu acho que foi uma falha dos órgãos que compõem a assinatura do TTAC (Governo Federal, o Governo do Estado, Ministério Público, Defensoria Pública), os Municípios também teriam que fazer parte da constituição da Fundação Renova e infelizmente não fizeram. 
 
HL: É, porque o acidente foi na cidade de Mariana, então como é que o Prefeito não é ouvido? 
 
JD: Não foram ouvidos os Prefeitos da época, nenhum Prefeito, não só de Mariana, mas de todas as cidades que foram atingidas pelo rompimento da barragem. Então, após 9 anos desde o rompimento da barragem, a gente está falando de um lapso temporal de 9 anos, agora que finalmente aconteceu o acordo, que é a chamada repactuação do Brasil, e aí acontece, também, mais uma falha: os Municípios, novamente, os prefeitos não foram chamados a sentar, a participar diretamente da repactuação e da assinatura desse acordo. O acordo aconteceu entre Governo Federal, Governo do Estado, Ministério Público e Defensoria Pública. 
 
HL: Você entende que foi uma decisão de cima para baixo, sem um diálogo? 
 
JD: O que nós esperávamos era o diálogo com os Municípios para que todos os entes que assinaram entendessem a gravidade que cada cidade vivencia, cada cidade tem os seus problemas, e eu falo especificamente de Mariana, porque foi a cidade mais impactada. Mariana, no rompimento da barragem, parou a mineração.  
 
HL: Foram 2 anos praticamente parado, sem arrecadação de impostos da mineração, do CFEM, do ICMS, não é, praticamente à míngua. 
 
JD: Ocorreu uma queda significativa da receita que comprometeu em 70% da receita do Município. Então, o Município teve que realizar demissões, o Município teve que parar obras que estavam em andamento, o Município teve que paralisar programas, empresas fecharam as portas, muitas pessoas demitidas, e com uma queda brusca de receita e ainda, na contramão, um grande aumento de demanda nos serviços públicos, porque quem é mandado embora vai procurar o Sistema Único de Saúde, vai procurar Rede Municipal de Educação, vai procurar a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, então você tem uma queda de receita e uma demanda que aumentou consideravelmente no seu Município. Então, o Município passou por situações muito ruins. 
 
HL: Ficou com um déficit social enorme. 
 
JD: Gigantesco. Mariana parou durante esse período e agora na assinatura desse acordo, novamente os prefeitos não se sentaram à mesa e os valores que foram definidos nesse acordo são muito aquém do que os municípios pleiteavam. A fundação fala de R$ 132 bilhões, porém quando fala do investimento total que ela já tinha feito na bacia do Rio Doce, a gente totaliza R$ 170 bilhões, porém desse valor de R$ 170 bilhões, apenas 4% estão ficando com as cidades, não só Mariana, mas são as 48 cidades que compõem, desde Mariana, passando pela bacia do Rio Doce até o Espírito Santo. 
 
HL: 4% estão sendo divididos… 
 
JD: Está dando R$ 6,8 bilhões divididos para 48 municípios, 94% ficaram fora dos municípios. Então, em Mariana, eu falo especificamente do nosso município, Mariana vai receber, caso assine o acordo, que não foi assinado, as Prefeituras têm um prazo de 120 dias após a homologação do STF, que já aconteceu 
 
HL: E só depois da assinatura que também o dinheiro chega, que tem esse entendimento, não é? 
 
JD: Somente após assinatura que o recurso vai chegar, e ainda, um grande questionamento por parte de todos os municípios, o dinheiro vai vir em 20 parcelas, em 20 anos, cada parcela corresponde a um ano, então você aguarda 9 anos por uma repactuação e quando você imagina que o recurso vai cair, não. Você vai receber em 20 anos, uma parcela por ano 
 
HL: Ou seja, o valor para Mariana por ano será de R$ 60 milhões, se for aceito esse acordo do jeito que está? 
 
JD: Mariana, especificamente, vai ser em torno de R$ 60 milhões por ano, que não representa nada no orçamento do município que tem um grande déficit em várias questões de mobilidade, de saúde, de saneamento básico, de habitação, então esse recurso que vai cair por ano ele é muito aquém, porque a gente precisa em Mariana de obras estruturantes e esse valor é insuficiente devido aos problemas sociais que o município de Mariana enfrenta. 
 
HL: Vocês vão fazer um levantamento ou você já tem esse levantamento de qual seria o volume necessário para essas obras todas, para esse déficit social todo que foi deixado aí nesses anos todos? 
 
JD: Nós temos grandes projetos que foram feitos, estão na Prefeitura, na Secretaria Municipal de Obras, projetos estruturantes. Vou citar, por exemplo, uma alça viária para tirar todo o trânsito da mineração que hoje passa por Mariana. 
 
HL: Passa dentro da cidade? 
 
JD: Passa da rodovia que corta a cidade de Mariana e, também, dentro de alguns bairros que a rodovia passa, que é a MG-129. 
 
HL: Você falou que são 1.000 caminhões por dia que passam dentro da cidade? 
 
JD: A gente vai chegar a uma média de 1.000 carretas que saem de Mariana e vão, através da mineração, para diversos locais, e isso causa um impacto gigantesco na mobilidade urbana, surgem buracos nas vias, trânsito parado. 
 
HL: Casas rachadas, né, o estrago vai reverberando na cidade toda. 
 
JD: Então, a gente precisa de um grande volume para fazer essa alça viária, que é necessária, a gente precisa investir na saúde de Mariana, porque o número de usuários no Sistema Único de Saúde cresceu exorbitantemente. 
 
HL: Acho que tem 1.400 atendimentos, né, que o Prefeito Celso Cota havia me falado… 
 
JD: Hoje nós temos, só para você ter dimensão, hoje nós temos pelo IBGE, Mariana está calculando em próximo de 64 mil habitantes, no último censo, mas quando a gente vai olhar o número de cartão do SUS que temos de Mariana, a gente chega a 98 mil cartões do SUS. 
 
HL: Ou seja, são as pessoas que… 
 
JD: A população flutuante que está em Mariana e que está utilizando a nossa rede, e 100% são pessoas que vêm de outros Estados trabalhar na mineração, tanto contratados diretos como as empresas terceirizadas que estão chegando cada dia mais em Mariana, já que as empresas que estão lá estão ampliando as suas minas. 
 
HL: É, a Samarco está retomando toda a produção dela, aos poucos, mas está retomando tudo. 
 
JD: A Samarco vai chegar agora na ampliação, projeto de expansão a longo prazo, a 65% da sua produção. A Vale pretende, também, aumentar a sua produção de minério de ferro em Mariana, e a Cedro Mineração, que também está em Mariana, também já entrou com o pedido de ampliação da sua capacidade de produção. Então, à medida que a mineração expande, ela também traz sérios problemas sociais que a cidade de Mariana enfrenta, como eu disse, na Saúde, na Educação, na Mobilidade Urbana, na Segurança Pública  
 
HL: E se está expandindo, é porque ainda tem uma reserva minerária enorme lá, não é? Para o próximo século, inclusive, não acaba por agora. 
 
JD: Nós temos uma expectativa de mineração em Mariana para além de 100 anos. Inclusive, grande parte dos pedidos de exploração mineral no Estado de Minas Gerais, uma grande parcela, hoje, está justamente no município de Mariana. 
 
HL: Como a conta fecha? A última vez que eu tive notícia, que o prefeito Celso Cota me disse, eram R$ 700 milhões de receita para um déficit social que ele calculava em R$ 3 bilhões. Essa arrecadação sobe também com esses novos ativos na mineração, novos investimentos, mas essa conta aí… agora que tinha uma expectativa com o acordo de reparação, não fecha de jeito nenhum, né? 
 
JD: Não fecha, porque a receita sobe, mas os problemas sociais aumentam também. Então, como eu disse, Mariana precisa de obras estruturantes, a gente fala de investimentos que vão gerar em torno de R$ 5 bilhões em Mariana, que a gente precisa expandir Mariana, ela precisa de fato de crescer.  
 
HL: Os investimentos das mineradoras vão chegar esse ano? 
 
JD: Não, a gente fala de recursos que o município pleiteia, em torno de R$ 5 bilhões para que a gente possa, primeiro, ampliar Mariana, promover uma expansão urbana organizada, um crescimento habitacional organizado, já que nós temos um déficit habitacional, hoje, de quase 6 mil moradias, a gente precisa estruturar nossa Rede Municipal de Saúde com a construção de novas unidades básicas de saúde, construção dos leitos de UTI, investir na atenção secundária do município, nós precisamos investir no Sistema de Abastecimento e Distribuição de Água de Mariana, que no período da seca, em muitos bairros estão faltando água, chegam a faltar 2, 3 meses de água. Só em Mariana, a gente tem mais de 600 repúblicas instaladas no município, cada república tem 20, 30 pessoas morando, a gente precisa investir também na Segurança Pública, Mariana aumentou consideravelmente o número de furtos, de roubos, precisa investir em tecnologia de segurança no nosso município, Saneamento Básico da cidade, Mariana não tem, a gente precisa. 
 
HL: Não tem até hoje? É a mesma situação de Brumadinho, não tem, é zero. Tem que fazer todo o saneamento? É tudo jogado no rio? 
 
JD: Tudo jogado no rio. A gente tem que fazer o tratamento do Saneamento Básico não só da Cidade, mas também de todos os Distritos. Mariana tem 1.200 km², é um dos maiores municípios de Minas, inclusive Mariana é maior que Belo Horizonte, então Mariana tem uma extensão territorial muito grande. A gente tem 11 Distritos, a gente tem 20 Subdistritos e eu tenho Distrito que está há quase 50 quilômetros da sede, só para ter o dimensionamento. 
 
HL: Vocês ainda têm essa questão da logística que Mariana tem que servir a esses Distritos todos. É muita coisa, Juliano, agora, ao mesmo tempo, esse acordo, Mariana vai assinar? 
 
JD: Olha, é uma excelente pergunta. Eu tenho conversado muito com o Celso, que é o atual Prefeito, e pedindo ao Celso que a gente tenha muita responsabilidade para assinar esse termo, porque a gente está falando, não é do Governo meu, do Governo do atual Prefeito, a gente está falando do interesse público da cidade de Mariana. E a assinatura, hoje, da repactuação no Brasil ela implica em dar quitação total e integral em todas as ações que envolvem a Fundação Renova, a Vale e a BHP, e, consequentemente, a assinatura aqui no Brasil vai dar quitação em uma ação que corre na Inglaterra contra a BHP, que é sócia majoritária, juntamente com a Vale, da Samarco. E na Inglaterra, o município está pleiteando um valor muito maior do que foi repactuado e calculado aqui no Brasil. Então, a gente tem que ter muita responsabilidade, acompanhar de perto esse julgamento que vai acontecer, que já iniciou na Inglaterra, inclusive, está em tramitação.  
 
HL: Está em tramitação até fevereiro, né? 
 
JD: A gente tem a expectativa que até o final de fevereiro, no máximo início de março, o julgamento na Inglaterra se encerre sem adiamentos. 
 
HL: Sem adiamentos, lá não acontece isso. 
 
JD: Não acontece isso não, lá não. Lá tem um prazo definido para início e para término, e a assinatura no Brasil, como eu disse, vai da causa, dar quitação da causa, da ação na Inglaterra. Então, por isso tem que ter muita responsabilidade na hora de assinar esse documento. O atual Prefeito tem até dia 31 de dezembro (de 2024), ele tem a autonomia de assinar, porque ele é o legítimo representante da população de Mariana. Caso ele não assine, vai ficar sob a minha responsabilidade a partir do dia 1º de janeiro de 2025. 
 
HL: E aí, a partir do dia 1º de janeiro você tem até quando, qual é a data? É até março, né que você tem que assinar? Depois, se você não assinar, subentende-se que você não quis o acordo, aí Mariana não recebe nada, Mariana fica de fora? 
 
JD: Isso mesmo. Após a homologação que ocorreu no STF, todos os municípios têm 120 dias após a homologação para assinar o acordo.  
 
HL: Os municípios estão assinando? Você já tem tido conversas com os outros Prefeitos? 
 
JD: Alguns sinalizaram que pretendem assinar, porque não ingressaram na época com ação na Inglaterra, então eles não têm, como se diz, o plano B, não tem direito, então eles vão assinar. Agora, os municípios que ingressaram, todos estão acompanhando de perto a ação inglesa como também estão acompanhando a repactuação no Brasil. 
 
HL: Ou seja, os prefeitos vão esperar o fim da ação na Inglaterra, que acontece aí, como você falou, no início de março. Então, dá tempo de esperar acabar a ação na Inglaterra? Então vocês vão esperar para decidir se assinam ou não? 
 
JD: Olha, eu pretendo. 
 
HL: Qual é o seu entendimento? 
 
JD: Eu pretendo, se essa responsabilidade ficar a cargo do Prefeito a partir de janeiro, sob a minha responsabilidade, eu pretendo utilizar o prazo máximo que eu tiver para tomar a melhor decisão, porque assim como ao Estado é legítimo defender o seu interesse, à União é legítimo também defender o seu interesse, eu estou defendendo o interesse do meu Município, da população de Mariana, e eu vou aguardar até o último dia e vou olhar o interesse público. Onde nós tivermos a certeza de que o município vai receber o maior volume financeiro, pode ter certeza de que terá a nossa assinatura, porque nós precisamos de recurso, porque a minha vontade é planejar Mariana para os próximos 50 anos, é planejar, organizar, estruturar o município, atrair investimentos para Mariana, promover a diversificação da economia, incentivar e promover o turismo. 
 
HL: Então não dá para fazer só com R$ 60 milhões por ano, Juliano. 
 
JD: É totalmente inviável. 
 
HL: É, mas aí tem o seguinte: o que o Celso Cota fala? O Prefeito atual, até dia 31 de dezembro, ele vai esperar, ele vai aceitar deixar essa tarefa para você? 
 
JD: O nosso entendimento é de aguardar, de tentar melhorar os valores aqui no Brasil, de buscar um diálogo com as mineradoras para que elas entendam que investir em Mariana vai gerar benefício também para elas, já que elas estão instaladas lá e quanto melhor for o desenvolvimento da cidade de Mariana, também é melhor para a mineração. Então, mesmo o acordo sendo homologado no STF, não tendo mais como discutir valores do acordo, mas a gente vai procurar as mineradoras para elas entenderem que elas têm uma responsabilidade social com Mariana e que elas precisam investir mais no nosso município. Esse é um ponto. 
 
HL: Você tem esperança disso? Porque se elas já assinaram lá, se todo mundo já assinou lá o acordo… 
 
JD: Nós temos esperança, porque é interessante para as mineradoras que esse acordo seja assinado no Brasil, é interessante para elas, para a imagem social delas, “olha, Mariana aderiu ao maior acordo que aconteceu no Brasil na maior tragédia ambiental, já que iniciou ali”. Então, isso tem um simbolismo também muito grande para mostrar a boa fé e a responsabilidade social das mineradoras. Então, nós acreditamos que as mineradoras podem, mesmo com o acordo homologado, investir em projetos estruturantes que nós temos no município, que nós temos condições de apresentar com dados, com números, com projetos para melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida de Mariana. 
 
HL: Aí seriam já projetos carimbados, elas já sabendo o que é. Você já abriu diálogo com essas mineradoras ou você está esperando assumir para poder começar essas conversas, essas rodadas de negociação? 
 
JD: Junto com o Celso, a gente vai protocolar essa semana ainda um documento junto à Samarco, à Vale e à BHP para iniciar esse diálogo, e o Fórum de Prefeitos, que tem o Coridoce, que representa todos os municípios atingidos pelo rompimento da barragem, o Coridoce também já protocolou um pedido junto à Samarco, à Vale e à BHP pedindo uma abertura de diálogo, porque os municípios também de outras cidades pleiteiam valores maiores do que foi pactuado na repactuação aqui no Brasil 
 
HL: Tem o entendimento das Prefeituras, todas elas entendem que os valores não fazem parte da realidade das cidades. 
 
JD: Quando você pega 4% de um acordo que vai ficar nas cidades, você vê que realmente, nós entendemos que essa conta não fecha. 
 
HL: A maior parte então está ficando para o Governo do Estado… 

JD: O Governo do Estado e o Governo Federal estão ficando com a maior parte, e o Governo do Espírito Santo, que também ficou com uma parte junto também com o Governo de Minas Gerais. 
 
HL: Aí tem a outra alça, vamos lá para Londres, onde está sendo julgado. Lá, por suas contas, se a decisão sair em março e a favor das prefeituras que entraram na justiça lá também, Mariana ficaria com quanto? 
 
JD: O valor pleiteado hoje na Inglaterra, que Mariana pleiteou, o que está na ação é de R$ 28 bilhões. Nós entendemos que o Município não vai receber todo esse valor, mas nós entendemos também que a empresa, no caso a BHP, vai querer negociar com a Prefeitura municipal de Mariana. É muito melhor ela negociar do que ter uma decisão na corte inglesa, e uma decisão dessa na Bolsa de Valores é muito negativa para uma das maiores mineradoras do mundo. Então, é muito melhor ela procurar o município e negociar, e nós estamos abertos ao diálogo. O Juliano, enquanto Prefeito, quando assumir sempre estará aberto ao diálogo, porque sempre foi a minha forma de trabalho, mas eu também não posso abrir mão de receitas que são importantes, que as mineradoras deram causa à cidade de Mariana, porque eu conheço a realidade que o nosso município enfrenta hoje e os desafios que nós teremos a partir do próximo ano. 
 
HL: É você que vai ter que dar conta, né, Juliano. O pessoal vai falar assim “ah, mas aceitou o acordo, então agora se vira”. 
 
JD: Não adianta, por isso que tem que ter muita responsabilidade, eu até agradeço ao atual Prefeito por ter essa maturidade de entender que é momento agora é de pensar, é momento de diálogo e momento de negociação. 
 
HL: Na Inglaterra vocês querem R$ 28 bilhões. Sai metade disso? Você acha viável, pelo jeito que está andando a ação lá? 
 
JD: É o que nós pretendemos. Nós pretendemos um valor que, no mínimo, chegue à metade do que nós estamos pleiteando na Inglaterra. 
 
HL: Então a negociação na Inglaterra é mais viável do que assinar o acordo aqui? 
 
JD: Hoje sim, em número e valores sim, é muito mais viável do que aqui, porque aqui a gente vai receber em 20 anos, lá a gente recebe, tem um detalhe, de imediato. 
 
HL: É à vista? 
 
JD: É à vista. Lá não fala em parcelamento de pagamento. Aqui não, aqui são 20 parcelas, uma parcela por ano, e as 5 maiores parcelas, que também nós não concordamos, são as últimas. A décima quinta, décima sexta, décima sétima, décima oitava, décima nona e a vigésima são as maiores parcelas. 
 
HL: Até lá, já não vale mais nada, do jeito que está a inflação, do jeito que estão as coisas, né, a inflação das obras que a gente está vendo aí. 
 
JD: A gente entende que vai ter uma desvalorização, vai recompor com a inflação, mas a inflação é muito aquém em vista de muitos outros produtos. 
 
HL: Não acompanha, né, é irreal essa pactuação de índices. 
 
JD: Nós questionamos, principalmente, prazo de pagamento, que é em 20 anos, nós questionamos os valores que foram enviados para Mariana, que são muito aquém do que nós esperamos, e nós questionamos, também, a assinatura do acordo no Brasil da quitação na ação inglesa, e ainda a quitação total em todos os litígios e processos que envolvam as mineradoras. A gente está dando quitação antes de receber a última parcela, o correto é você dar quitação total depois que você recebe a última parcela, depois que você recebe tudo. Eu estou atestando antes de receber todos os valores, então são questionamentos que nós apontamos e que a gente quer discutir com as mineradoras. 
 
HL: É, porque, assim, se acontece alguma coisa no meio desse caminho, se a empresa é vendida… 
 
JD: Você já deu quitação total. 
 
HL: Já assinou e pronto, acabou. Nossa, Juliano, a sua função, o seu futuro, nem bola de cristal conta. Vai ser muito trabalho e dinheiro curto. 
 
JD: Muito trabalho e dinheiro curto, mas a gente está preparado para assumir Mariana, a gente tem uma equipe técnica muito boa conosco, a gente está em momento de transição, trazendo pessoas que realmente tenham capacidade para assumir a Secretarias Municipais e realizar a mudança que a população de Mariana espera. Mariana sofreu muito nos últimos anos com a repactuação, com o rompimento da barragem, com a pandemia, com as trocas constantes de Governo, então a gente espera agora um Governo de estabilidade e um Governo que possa, de fato, fazer obras estruturantes para melhorar a qualidade de vida de Mariana, colocar Mariana num cenário nacional do turismo. Mariana é a primeira cidade do Estado de Minas Gerais. 
 
HL: É patrimônio histórico e cultural, né. 
 
JD: Gigantesco. 
 
HL: Gigantesco e que eu acho que poderia ser mais bem aproveitado, não? 
 
JD: Sim, poderia e pode. O que aconteceu foram as trocas de Governo e, consequentemente, trocas de Secretários, paralisação de programas, então nós acreditamos que agora, com o Governo de estabilidade, a gente vai levar Mariana ao patamar que ela sempre mereceu, que Mariana possa ser reconhecida não só em Minas Gerais, mas também em todo o Brasil. A gente tem um patrimônio material gigantesco em Mariana, nós temos arquidiocese em Mariana, nós temos um potencial turístico muito grande. 
 
HL: Aquela imagem de Dom Luciano para ser beatificado, o processo está todo aí em Roma, né, quer dizer, eu acho que tem vários apelos culturais, você estava falando do ecoturismo, que a gente estava conversando antes de entrar para a gravação. Outro dia eu fui à Fórmula 1, lá em São Paulo, aí me falaram assim “sabia que esse é o evento em que São Paulo mais arrecada?” É com a Fórmula 1, quando tem o evento, a semana que está acontecendo o evento, as semanas todas, a preparação toda é quando o comércio, o turismo, é o evento que mais gera dividendos para a cidade. Não é essa a nossa realidade aqui, mas por exemplo, Mariana pode criar outras realidades lá para o turismo, não? 
 
JD: Sim, e a gente precisa criar alternativas para o turismo em Mariana. Eu vou citar um exemplo: nós temos em Mariana um evento esportivo que chama ‘Iron Biker Brasil’, e é justamente nesse evento que o Comércio também… é um dos que mais faturam, porque a rede hoteleira fica 100% completa, as pessoas alugam casas para atletas, os restaurantes ficam cheios, os postos de combustíveis vendem, as padarias vendem, enfim, a cadeia produtiva toda movimenta com esse evento. Então, nós identificamos o potencial de turismo esportivo que a cidade de Mariana tem, já que são 2 mil atletas que vão durante 2 dias percorrer as trilhas, as montanhas de Mariana, que nós temos um relevo muito variado e quem gosta de pedalar vê Mariana como um paraíso, vai sem reclamar e vai todo ano. Mariana, hoje, tem 11 sociedades musicais, 11 bandas de músicas, banda centenárias, é a única cidade no estado de Minas Gerais que tem 11 sociedades musicais ativas. 
 
HL: É, porque as bandas estão acabando, né, a gente não vê mais essa tradição nas cidades. 
 
JD: A gente quer trazer igual Diamantina faz a Vesperata, criar um formato parecido em Mariana para o turista ir visitar, ficar lá hospedado, comer lá no restaurante. A gente não quer que o turista vá para Ouro Preto, passe em Mariana e volte para Ouro Preto. Mariana e Ouro Preto estão há 10 quilômetros de distância. 
 
HL: Pois é, mas é o que acontece atualmente, que eu vejo muito. “Ah não, eu vou ficar hospedado em Ouro Preto, que tem mais estrutura, vou lá em Mariana, visito em um dia e volto para dormir em Ouro Preto”. Nada contra, né, gente, eu já até entrevistei o Prefeito Angelo Oswaldo, é maravilhosa a proposta lá. 
 
JD: A gente quer trabalhar em conjunto, mas eu quero que o turista também durma em Mariana, que ele possa conhecer e que ele tenha roteiros definidos quando ele chegar no no seu hotel. “Olha, hoje eu vou fazer um turismo religioso, eu quero conhecer a Catedral de Mariana, a Basílica da Sé, eu quero conhecer as outras igrejas, eu quero conhecer o órgão que tem Mariana, que é o único fora de Portugal que está lá, eu quero conhecer o Museu da Música, eu quero conhecer o Museu da Cidade, eu quero conhecer as praças de Mariana, que são lindas”, e aí a gente quer criar outros roteiros. “Olha, hoje eu quero ir em cachoeiras”, Mariana tem diversas cachoeiras para quem gosta de caminhada, de turismo, de aventura. “Eu quero conhecer os Distritos de Mariana”, porque cada Distrito tem a sua tradição e a sua vocação turística, mas é necessário o que? Política de continuidade, coisa que não aconteceu em Mariana nos últimos 4 anos. Nós tivemos 4 prefeitos, então as Políticas Públicas iniciavam e paralisavam, e o turismo também é importante, porque ele vai inverter um pouquinho a dependência da mineração do nosso município. 
 
HL: Vocês têm que criar outras fontes, porque tudo bem, você falou aí que não acaba o minério nesse século, só para mais de 100 anos que tem as reservas lá, mesmo assim a cidade já teve essa experiência, ou seja, totalmente baseada nesse tipo de economia, não dá, né? A gente vê isso em todas as cidades, não dá para ficar só dependendo de um ativo. Agora, aí é um outro desafio grande também, que é criar na cabeça das pessoas vocações. Como faz isso? Porque o que eu tenho visto das Prefeituras, elas tentando fazer acordos com o Sistema S, das entidades, é Fecomércio, Fameg, Fiemg, tanto no setor do Comércio, da Indústria e da Agropecuária. Você vai procurar também os Presidentes dessas entidades para firmar acordos, firmar cursos de capacitação para o pessoal ficar em Mariana, não virar só uma cidade dormitório? 
 
JD: A gente pretende, além de criar cursos de capacitação para os marianenses com o Sistema S, que hoje tem, a gente fala a expertise, para a realidade de cada cidade a gente pretende levar o sistema para Mariana, mas a gente pretende também fazer um estudo para trazer novas empresas para o município de Mariana, aproveitar essa questão da receita da mineração e tentar diversificar nossa economia e não ser 100% dependente, como é hoje. É criar áreas de expansão comercial, empresarial para que empresas possam se instalar em Mariana. Mariana está a 120 quilômetros da capital, e agora, com a duplicação que foi anunciada pelo governador da 356, de Belo Horizonte a Mariana nós teremos faixas duplicadas que vão proporcionar, também, o crescimento do turismo na nossa região, não só Mariana, como Ouro Preto e Itabirito, mas também atrativo para empresas se instalarem na nossa região. 
 
HL: É, porque a empresa olha e fala “poxa, mas uma estrada dessas, né?” Você mesmo teve essa experiência para vir aqui hoje gravar. É uma viagem que demorava 1 hora e meia, hoje não demora mais só isso, é o dobro. Se tiver um acidente então na estrada, aí para é tudo, não chega de jeito nenhum. Então, como ter a logística, treinamento de pessoal, mão de obra? Que você falou também que tem um problema lá, aliás como em todo país está faltando mão de obra. Como alinhar isso tudo? Nessa matemática bem complicada, porque a obra da estrada vai sair “ah, adiou”, “ah, teve uma desistência da empresa que ia fazer a obra”. Como você está vendo essas questões todas aí? 
 
JD: Olha, em relação às obras, nós temos muitas dúvidas ainda de quando vai iniciar, qual é o prazo, quanto tempo, vai ser concessão depois ou não, porque nós não vamos aceitar que cobre do marianense, porque esse recurso ele está vindo da repactuação, é muito importante, a gente não pode jogar depois esse custo na população, é totalmente inviável. Então, o Governador vai, a gente estará presente e vamos fazer os questionamentos. O investimento é muito bem-vindo, mas a gente também não quer que o marianense tenha que pagar pedágio para vir até a capital, até Belo Horizonte. Em relação a capacitação, como eu disse, a gente vai procurar o Sistema S, já tem uma parceria de Mariana com o Senai para construção de uma escola técnica do Senai na cidade de Mariana, esse convênio está assinado, o Município vai doar uma área e a gente vai ter uma das escolas mais modernas do Senai no município de Mariana justamente para qualificar e capacitar a mão de obra dos nossos jovens. 
 
HL: Para quando essa escola fica pronta? 
 
JD: Essa escola já pretende iniciar no próximo ano um investimento, não sei o valor ao certo, mas ele gira em torno de R$ 50 milhões, uma nova escola para a cidade de Mariana, de capacitação. 
 
HL: E a obra deve demorar aí uns 2 anos? 
 
JD: 1 ano e meio a 2 anos. 
 
HL: A obra é do zero. 
 
JD: O Município está entrando com a contrapartida de cessão do terreno. 
 
HL: Isso é bom, porque o Senai tem vários cursos, de robótica por exemplo, que está sendo muito visado aí no mercado. Atualmente, a mão de obra está toda empregada na mineração? 
 
JD: Grande parcela da cidade de Mariana está trabalhando na mineração ou trabalha indiretamente na mineração em empresas que prestam serviços ligados ao ramo de mineração, por isso que a nossa vontade é trazer outras empresas que não tenham ligação com a mineração, pois quando a mineração for embora, as empresas naturalmente que são ligadas também vão sair da cidade. Agora, quando você traz outras empresas de outros ramos, a tendência é que ela fique instalada no seu Município, então a gente vai procurar também dar incentivos para que essas empresas venham. Vamos procurar o BDMG, vamos procurar o INDI em Minas Gerais, e outras instituições que possam contribuir com mão de obra técnica qualificada para nos auxiliar a buscar e capacitar empresas em Mariana. 
 
HL: Juliano, a questão da saúde também, você me disse que não tem leito de UTI em Mariana, o pessoal tem que vir todo para Belo Horizonte se precisar de um leito com uma complexidade maior no tratamento.  
 
JD: É, em Mariana não temos leitos de UTI, é um sonho da população de Mariana. 
 
HL: E você como enfermeiro, formado, isso é preocupante, né, na sua cabeça, não deve nem dormir direito agora pensando que vai assumir a cidade com um problemão desses. 
 
JD: É, a gente entende a importância dos leitos de UTI, eu falo que uma família só dá valor a UTI na hora que precisa, porque muitas vezes nem com recurso financeiro você consegue um leito no Brasil. 
 
HL: A gente viu isso na pandemia. Chegava na porta do hospital e não tinha leito. 
 
JD:  A gente vivenciou na pandemia e quando eu estava como Prefeito interino, eu iniciei as construções de 10 leitos junto ao Hospital Monsenhor Horta, que pertence à Rede São Camilo, que é um hospital beneficente em Mariana. Porém, com as trocas de gestão, também a obra hoje está paralisada. É necessário um aporte financeiro, a gente fala que da construção, de equipar, montar a equipe, a gente estima um custo de em torno de R$ 10 milhões, e depois a sua manutenção. Mas é uma das prioridades, quando eu assumir, entregar os 10 leitos para Mariana. Quando o marianense depende, ou ele é referenciado para Ouro Preto ou para Belo Horizonte, que são as regionais que nos atendem, e muitas vezes nós conseguimos, mas infelizmente tem hora e você não consegue, e aí a gente sabe da importância de ter leitos de UTI no nosso município. 
 
HL: Essas obras de mobilidade também, você instaurou a tarifa zero e vai mantê-la na sua administração? Como vai ser o entendimento da recuperação das vias? 
 
JD: Olha, em Mariana a gente implantou o programa tarifa zero. Hoje, o município é 100% a gratuidade do transporte público. Eu tenho muita felicidade de ser o autor desse projeto de lei, que foi aprovado em Mariana. Nós saímos de 180 mil usuários quando a tarifa era paga por mês para 550 mil usuários por mês com a tarifa gratuita, e o programa tarifa zero tem várias vertentes. Primeiro, é a gratuidade da passagem, que hoje é R$ 5,90 em Mariana, então quem anda de um bairro por outro economiza R$ 11,80 por dia. Eu tenho distritos em Mariana que se pagasse a passagem o morador pagaria R$ 25,00 para ir a Mariana e R$ 25,00 para voltar, a gente está falando de R$ 50,00 por dia 
 
HL: Isso no impacto do orçamento é enorme, né? 
 
JD: É enorme e o impacto no orçamento familiar é gigantesco, porque as famílias, a economia que elas fazem, elas investem na sua qualidade de vida, na sua formação, na melhoria da sua casa, na educação dos seus filhos, em comprar mais no comércio, então tem esse impacto social. Também é um direito constitucional, o direito de ir e vir, muitas pessoas que não tinham oportunidade de emprego agora vão trabalhar, saem dos Distritos e vem para a Cidade, já que o programa prevê 100% da gratuidade. A gente fala de acesso à saúde, acesso à educação, por quê? Porque você tem o transporte agora para ir, para estudar, você tem um transporte para ir ao médico que muitas vezes você não tinha condição de pagar pela passagem. O empresariado não paga mais pelo vale transporte e, hoje, 93% dos encargos do vale transporte é cobrado da empresa e 7% do empregado, então o empresário que não paga o vale transporte vai gerar uma receita que antes ele pagava, e ele vai poder contratar mais pessoas e investir mais no seu comércio, e ainda há grande circulação de pessoas na sua cidade, quanto mais pessoas circulando, mais pessoas comprando. Então, nós pretendemos melhorar o programa tarifa zero, eu quero criar um aplicativo para que a pessoa saiba o horário certinho onde que o ônibus está, modernizar a frota, modernizar os pontos de ônibus, colocar wi-fi nos ônibus, câmeras de segurança nos ônibus, e a gente pretende colocar tarifa zero como um dos programas referências no Brasil. Hoje, nós temos cerca de 118 cidades no Brasil que já tem 100% da gratuidade da passagem. Depois que Mariana implantou, Ouro Branco foi lá conhecer e já implantou, nós temos Caeté aqui próximo também que o prefeito Lucas implantou, Brumadinho implantou depois de Mariana, que também foi lá para conhecer o nosso sistema, e eu falo que foi uma das melhores decisões de como prefeito de ter implantado. Hoje, nós temos mais de 80% de aprovação do programa na cidade de Mariana, e eu falo que além de 1 programa de mobilidade, é um programa também de distribuição e transferência de renda. 
 
HL: Juliano, a arrecadação, como vai ser no seu primeiro ano de governo? 
 
JD: A lei orçamentária que foi enviada para a Câmara Municipal, que será votada agora em dezembro, ela previu um orçamento para o ano de 2025 de R$ 912 milhões para a cidade de Mariana, um valor, se a gente olhar, é um valor considerável, mas devido aos problemas que Mariana enfrenta após rompimento de barragem, como eu disse, de obras estruturantes que são necessárias, esse valor é totalmente insuficiente 
 
HL: Isso é o que ela tem para gastar, é o que ela vai arrecadar e o que ela vai ter para gastar? 
 
JD: Isso, é a previsão de receita. Comparado a receita do ano anterior, é uma previsão para o ano subsequente, ele só vai se consolidar no final do próximo ano, mas é uma estimativa que os técnicos fazem para o ano de 2025. 
 
HL: Você tem um cálculo desses investimentos que essas 3 mineradoras vão fazer nos próximos anos em Mariana? Porque, um projeto de mineração a gente sabe que demanda um investimento altíssimo, então tem a Samarco, tem a Vale e a Cedro com investimentos maiores, mais robustos. Você já tem essa sinalização deles, do quanto? 
 
JD: Os números ainda nós não temos, eu pretendo agora, assim que assumir a Prefeitura, sentar-se com as 3 empresas para que eu possa ter uma dimensão da produção do número de toneladas que elas terão no Município para o próximo ano, e aí de acordo com a tonelada, a gente tem que ver o preço que é pago no mercado internacional, porque o CFEM varia muito. 
 
HL: De acordo com a cotação também do dólar, da tonelada. 
 
JD: E o percentual que o município tem direito, que ainda é um percentual baixo, que é uma luta dos municípios mineradores para aumentar o percentual que é repassado às prefeituras, né, porque o Estado tem uma cota parte e a União também tem uma cota parte, porém problemas sociais estão nas cidades, estão nos municípios mineradores. 
 
HL: Aí vocês, Prefeitos, é que tem que resolver os problemas. É o que vem do Estado, da União, e aí vocês é que vão administrar, né. Aí eles deixam de ser sócios, né, digamos assim. 
 
JD: Eles arrecadam, mas os problemas estão nos Municípios. 
 
HL: Qual vai ser o seu maior combate? O bom combate, digamos assim, para Mariana nesses próximos quatro anos? 
 
JD: A gente pretende, no próximo ano, investir muito no sistema de captação, armazenamento e distribuição de água em Mariana. Esse ano, Mariana sofreu muito com a falta de água, é um grande problema, bairros ficaram 3 meses sem receber água, somente com caminhão-pipa, o que não é solução, caminhão-pipa é solução temporária, a gente quer resolver definitivamente os problemas. 
 
HL: A qualidade de vida fica muito ruim. 
 
JD: Muito ruim ficar dependendo de caminhão-pipa, tem que aguardar um caminhão pipa chegar na sua casa, então a gente vai investir muito já no próximo ano para mitigar a falta de água que Mariana sofre no período das secas, de novas adutoras, de novas redes, de novos reservatórios, e isso também demanda recursos financeiros. A gente pretende, também, concluir os leitos de UTI, investir na atenção primária no município de Mariana. 
 
HL: O primeiro ano de governo é sempre o mais forte, não é? Ou você coloca as coisas para andar ou começa a se arrastar nos outros anos, porque a população vai ver a capacidade de gestão do Prefeito. 
 
JD: Sim, e eu pretendo, também, diminuir o custo da máquina pública. Eu falo, a Prefeitura de Mariana, hoje, eu entendo que ela está com o número excessivo de funcionários 
 
HL: Tem quantos funcionários hoje? 
 
JD: Hoje, a gente tem em torno de 4 mil a 4,5 mil funcionários. 
 
HL: Você acha que ela roda com quantos? 
 
JD: Eu acredito que a gente pode cortar uma média de mil funcionários que Mariana vai andar da mesma forma, e a gente economizando na folha, a gente vai ter recurso para fazer investimentos. Eu entendo que o que marca um Governo não é prefeitura inchada, é obra que vai melhorar a qualidade de vida de quem mora ali. Então, eu pretendo enxugar a máquina pública para que meu Governo tenha recurso, para que o governo do Juliano fique marcado como o Governo que entregou obras estruturantes para a nossa cidade. 
 
HL: Que é do orçamento, quanto se gasta para manter a máquina pública? 
 
JD: Olha, eu entendo que um custo ideal de uma máquina pública, um índice de folha, ele tem que girar entre 40% e 45% 
 
HL: Está em quanto hoje? 
 
JD: Hoje, ele varia muito, porque ele é proporcional à receita. Se o município arrecada mais, o índice de folha diminui, se o município arrecada menos, o índice de folha aumenta. Então, depende muito da receita mês a mês, mas eu entendo que o município de Mariana já está acima desse índice que eu comentei, acima de 45%.  
 
HL: Mas, Juliano, toda Prefeitura que a gente vê, quando o Prefeito assume, tem certas obrigações políticas, promessas de campanha. Você acha que é viável, é possível administrar fazendo esse enxugamento da máquina pública? 
 
JD: Eu acredito que sim. No meu governo, eu trabalhei com 42%, que era o meu índice de folha. 
 
HL: Você conseguiu trabalhar durante 1 ano nesse percentual? 
 
JD: Girava sempre em torno desse percentual. E no meu Governo, na minha candidatura a Prefeito, eu não fiz compromisso de ter que leiloar secretaria, de compromissos políticos, não. Eu vim porque eu estava decidido a disputar a eleição, eu poderia muito bem vir novamente candidato a vereador e ser reeleito ou disputar as eleições. E a gente tem que ter objetivo, foco, e meu objetivo e meu foco era disputar as eleições seja quem viesse como adversário político, e então a gente trabalhou… 
 
HL: Você não prometeu nada, né? 
 
JD: Sem comprometer 100% a máquina pública. Então, eu terei a liberdade para montar minha equipe de Governo e terei a liberdade, também, em não ter que inflar a máquina pública. 
 
HL: Mesmo com uma coligação tão grande, de vários partidos, né. A gente olha a sua coligação, ela tem a participação aí de diversos partidos, mas o PSB é um partido social. 
 
JD: O PSB é um partido mais social, o nosso presidente a nível de Estado, é o Deputado Noraldino Júnior, que é um Deputado muito amigo, que nos ajudou na campanha, e o Geraldo Alckmin, que é o Vice-Presidente da República, que também faz parte do Partido a nível nacional 
 
HL: Na relação com o Governo do Estado, Governo Federal, como vai ser essa relação? Ela já começa meio arranhada, não é? Com esse acordo da repactuação dos danos em Mariana causados pela queda da barragem da Samarco. 
 
JD: Olha, eu sempre falo, Partido político é importante, mas a gente sempre olha também as pessoas, e cada vez mais eu vejo as pessoas e não os partidos. Então, o meu Governo vai ser um Governo de diálogo, eu me relaciono muito bem com pessoas de direita, de esquerda, de centro, eu acho que o radicalismo político é muito ruim para quem tende a ter esse pensamento. Então, eu vou procurar o Governador de Minas, vou lá bater na porta dele, pedir recurso para a cidade de Mariana, ele será muito bem recebido no município de Mariana, vou procurar também o Presidente, vou procurar os Ministérios, vou procurar recursos para a minha cidade, vou olhar o interesse do meu município. Eu não tenho lado político A ou B, eu quero trabalhar pela cidade de Mariana. 
 
HL: Você tem um sonho ainda em relação a Mariana, um sonho possível ou impossível? Você tem alguma coisa aí de Dom Quixote? (risos) 
 
JD: Eu tenho um sonho de ver a minha cidade com 100% do esgoto tratado, de ver o Ribeirão do Carmo, onde nasceu Mariana, limpo, e a que as pessoas possam chegar no centro da cidade e ter aquela visão de uma cidade bem cuidada, é um sonho que eu tenho de ver a minha cidade 100% com Saneamento Básico, com água tratada na torneira da população, porque investir em saneamento significa também economia na Saúde Pública. Eu tenho um sonho também de criar um programa habitacional em Mariana, que nunca existiu. Muitas pessoas que moram hoje em áreas de ocupação, que estão em aluguéis sociais, que tenham a dignidade de ter a sua casa própria para morar.  
 
HL: É uma cidade histórica, né, não dá para ter invasão em área histórica. Tem isso lá? 
 
JD: Sim, tem muito, porque a cidade não se planejou, ela não está crescendo de forma organizada, e quando você não tem políticas habitacionais é natural que as pessoas vão procurar de algum modo morar em algum lugar, porque ninguém consegue pagar, igual em Mariana hoje, que é R$ 1.000 o aluguel de uma quitinete. 
 
HL: Mil reais o aluguel? 
 
JD: Hoje está girando em torno de R$ 1.000, ninguém consegue. Então, o assalariado, o trabalhador ou ele vai pagar aluguel ou ele vai colocar comida na boca da sua família, e aí vai morar longe, vai morar em área de risco, vai morar mal. Então, o nosso objetivo, também, é criar um plano habitacional que nunca existiu em Mariana e levar o programa Minha Casa Minha Vida, que também nunca aconteceu na cidade de Mariana. Nunca chegou, mas agora ele vai chegar e a gente terá a felicidade de entregar a chave na mão de muitos moradores que a décadas aguardam um programa habitacional em Mariana. 
 
HL: O Alckmin vai ajudar, né? Vice-Presidente, você vai bater lá no gabinete dele. 
 
JD: Se Deus quiser estaremos lá como Prefeito do partido procurando o Alckmin para que o mesmo possa nos auxiliar, não só no programa Minha Casa Minha vida, mas também em outros ministérios para buscar recursos para a cidade de Mariana. 
 
HL: Juliano, quero agradecer a sua entrevista, a sua transparência em falar sobre números, em descontentamentos e nesse futuro aí de Mariana, que é uma cidade muito importante para Minas Gerais, onde tudo começou, o Estado começou lá. Então, tem que ter uma boa administração e que você consiga vencer neste combate. Muito obrigada. 
 
JD: Muito obrigado, é um prazer, fico muito feliz de estar aqui, e sempre que possível voltarei mais vezes para poder falar da cidade de Mariana. Parabenizar, também, não só o Grupo O Tempo, mas também por todo trabalho sério da imprensa que é levado, não só a Minas Gerais, mas também ao Brasil. 
 
HL: Obrigada a você, e que as portas aqui estão abertas sempre para você falar. Você tem um filho, né? Um ano de idade, que você estava me falando, então é para essa nova geração aí que vem que tenha cada vez mais uma Mariana cada vez mais bonita, que a gente precisa disso. Gosto muito de ir lá! 
 
 JD: Será muito bem-vinda a Mariana. Quem vai a Mariana se encanta, porque é uma cidade muito próxima a capital, é uma cidade que ainda tem um clima de cidade histórica do interior e a gente quer preservar a nossa história, a nossa tradição, as nossas raízes, e Mariana merece, Mariana sofreu muito nos últimos anos e Mariana merece, agora, um Governo de estabilidade, um Governo de mudança e um Governo, que eu falo que meu tema de campanha era “Juntos vamos construir uma nova história”, e assumindo a Prefeitura de Mariana, nós vamos construir de fato uma nova história para a primeira capital do Estado de Minas Gerais.