A temporada Minas S/A Gestão & Marca tem hoje o quinto episódio com Filipe Martins, diretor das redes de atacarejo Mart Minas e Dom Atacadista, nas plataformas de O TEMPO.
Nona maior rede supermercadista do Brasil, de acordo com o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a empresa familiar está há 23 anos no mercado, quando abriu a primeira loja em Divinópolis (MG).
O Mart Minas e Dom Atacadista têm mais de 15 mil funcionários, 83 lojas – sendo 63 unidades do Mart Minas, em Minas Gerais, e 20 do Dom Atacadista, no Rio de Janeiro – e faturamento de R$ 9,4 bilhões em 2023.
Filipe lembra que o Dom estava com oito lojas, em março de 2022.
“O objetivo de médio prazo do Dom Atacadista são 30 lojas. A gente fecha esse ano (de 2024) com 22 (lojas) e tem um plano para 30 lojas até o final de 2025, início de 2026”, calcula o diretor.
Com a bandeira Mart Minas serão inauguradas mais três lojas ainda neste ano.
Para 2024, a projeção do executivo é que o resultado financeiro ultrapasse os R$ 10 bilhões com o faturamento combinado dentro das duas companhias.
"Está sendo um ano muito bom para o Mart Minas aqui em Minas Gerais e para o Dom também no Rio de Janeiro", comemora.
Filipe aponta também que a companhia tem um crescimento acima do que o mercado vem crescendo.
"Então para a gente também é um número importante", garante o diretor.
A seguir a íntegra da entrevista de Filipe Martins:
HL: Filipe, eu já te conheço há um tempo, que a gente faz entrevista, e você sempre muito objetivo, com uma garra imensa para fazer a rede crescer. Eu queria que você começasse, primeiro, se apresentando, falando como foi a sua trajetória e como que vocês fizeram até chegar aqui.
FM: Bom, eu comecei muito jovem, de 12 para 13 anos já comecei a trabalhar, mas ali no chão de loja mesmo. Então, já fiz de tudo um pouco, na frente de caixa, repondo mercadoria, recepção, passei pelo financeiro, T.I., fiquei muito tempo na parte administrativa, e com 20, 21 anos de idade eu fui para a área comercial e ali eu acho que me encontrei, falei “pô, é aqui que eu gosto, aqui é meu lugar”.
HL: É mesmo? Por quê?
FM: Eu gostei do dinamismo daquilo, do relacionamento com as pessoas e lidar com fornecedor, e para mim, assim, eu achei aquilo maravilhoso, e até hoje, também com a área comercial, né, até hoje, e outras áreas também… depois fui assumindo mais responsabilidade. Eu fiz um resumo breve aqui, mas quando eu comecei isso era em Divinópolis/MG ainda.
HL: A rede nasceu em Divinópolis/MG, né.
FM: Nasceu em Divinópolis. Eu nasci em Belo Horizonte e fui para Divinópolis, estava ali com 10 anos de idade quando eu mudei pra lá. Minha mãe é de Divinópolis, aí eu comecei lá com 12 para 13 anos e com 17 anos de idade, foi quando a empresa, na época, foi abrir a primeira unidade dela fora de Divinópolis, que foi em Contagem/MG. Era um Atacado Balcão, não existia o Mart Minas ainda, né, dentro do Ceasa, e eu vim para a inauguração dessa unidade, e depois veio o Atacado de Venda Externa, que era um outro negócio que a gente tinha, que na época era o grande negócio. As lojas não existiam ainda, tinha uma loja muito pequena em Divinópolis, mas o grande negócio era o Atacado Distribuidor, que atendia quase que o Estado de Minas Gerais inteiro. Minas Gerais tem 853 municípios, na época a gente fazia próximo de 600 municípios no Estado, então era a operação importante, relevante, que veio depois desse Atacado Balcão que ficava dentro do Ceasa. Aí depois veio a segunda loja Mart Minas, já foi em 2001, que foi a primeira em Divinópolis, a segunda ali em Contagem, de frente para o Carrefour, aí depois fomos para (Governador) Valadares/MG, Juiz de Fora/MG e começou toda a história da Mart Minas no Estado.
HL: É interessante, né, Felipe, a gente vê hoje que a rede é a nona maior do País, mas até chegar a esse ponto é uma jornada de 23 anos e que tem sim os altos e baixos, tem tentativas, é um negócio de um jeito ou de outro, de lidar com gente, não é? Você olhando para trás, assim, essa trajetória agora de 23 anos dessa rede de atacarejo, que a gente vai falar um pouquinho também sobre o que é, o que você considera que foi o grande divisor de águas para a empresa tomar o rumo que tomou hoje?
FM: Eu acho que foram 2 momentos, sabe. Primeiro, acho que foi a visão que o Murilo teve de apostar nesse modelo onde praticamente não existia em Minas Gerais. Em 2001, quando tudo começou, eu arrisco a dizer que tinha ali, ao olhar para o Estado todo, 6, 7 lojas, no máximo, lógico, em um formato um pouquinho diferente do que é o atacarejo hoje, que na época nem existia esse nome atacarejo, falava de atacado, atacado auto-serviço e tal, um formato um pouco diferente. Hoje, ele evoluiu bastante, depois a gente vai falar disso, mas eu acho que foi a visão que o Murilo teve lá no início de apostar nesse modelo de loja, de custo baixo, de sortimento limitado, algo que praticamente não existia e hoje tomou a dimensão que tomou, então, acho que esse foi o primeiro momento. O segundo momento, acho que foi a entrada do Rono, e junto com o filho dele, o Mateus, isso aconteceu em 2011, o Rono tem uma história fantástica de varejo e ele acabou trazendo um know-how que a gente não tinha, porque a origem nossa era atacado distribuidor, e operar a loja, lidar com consumidor final é algo completamente diferente, e ele já tinha essa expertise, porque o Rono foi um dos, junto com o sócio dele, que fundou o Mineirão, depois venderam para o Carrefour, depois ele associou ao DMA, que é a rede EPA, né, e fizeram a expansão do EPA junto com a família Nogueira, que eram os fundadores da Rede EPA, então ele já dominava o varejo, o consumidor final, as indústrias e tal. Então, ele trouxe um conhecimento que faltava, aí juntou o expertise que a gente já tinha na parte de atacado e ele trouxe esse lado de varejo, de lidar com consumidor final, de ampliar sortimento, de precificar um pouco melhor, aí juntou o atacado com varejo e virou o que virou, e de lá para cá foi um crescimento muito forte, crescemos aí em um pouco mais de 10 anos, em média, 30%, crescendo muito acima do que o mercado veio crescendo, e há 5 anos atrás atingimos a liderança do segmento no Estado. Hoje, já é a maior empresa de atacado e varejo dentro de Minas Gerais, e quando você olha no total o mercado, a gente está ali na segunda posição, quando você junta a operação de varejo e de atacarejo, que a gente não tem, mas se você isolar só o atacarejo, hoje a Mart Minas é a maior empresa de Minas Gerais.
HL: Nessa versão de atacarejo, né, que é o que junta os dois melhores mundos. Vocês “beberam água limpa”, uma visão estratégica que ninguém ainda dava muita atenção e foram crescendo. Essa questão da família, de uma empresa familiar, quais são os pontos bons que levam adiante, você é da família ou é da segunda geração, né. Conta um pouco dessa experiência, como lidar com isso no dia a dia?
FM: Bom, acho que sempre tem vantagens e desvantagens. No nosso caso, eu vejo muito mais vantagem, porque acho que uma empresa familiar traz uma outra dinâmica para o negócio, as coisas são resolvidas mais rápido, é muito mais informal, as decisões, às vezes, é uma decisão super importante, mas às vezes é uma decisão de corredor que você já combina e toma no café ou no almoço, então, eu acho que traz uma dinâmica muito diferente, mas tem também os desafios ali, talvez de ter uma boa governança estabelecida e tal, apesar que a gente já evoluiu muito nisso também, acredito que a gente está fazendo o para casa direitinho aí também, sabe.
HL: E a empresa vai continuar familiar ou ela vai abrir para investidor, fazer private equity, abrir capital na Bolsa? Quais são os rumos dela, da cultura da empresa, do grupo?
FM: Tem empresas do segmento que já fizeram isso, né, as multinacionais desde sempre, e recentemente, acho que foi em 2020 ou 2021, o Grupo Mateus, lá do Norte, que abriu capital, era uma empresa regional até então, que estava lá no Norte, agora já está desbravando o Nordeste aí também, crescendo muito, inaugurando muitas lojas, mas é algo que nem passa pela nossa cabeça.
HL: Por quê?
FM: Nunca foi pauta. A gente entendeu que isso não é necessário para fazer o movimento que a gente acha importante fazer, esse de expansão.
HL: Dá para a empresa crescer com as próprias mãos, com o próprio caixa.
FM: Dá para a gente crescer com as próprias mãos, com o próprio caixa. Hoje, pelo tamanho do negócio, a gente cresce já com a geração de caixa, então a empresa já financia seu próprio crescimento, diferente de há 15 anos atrás, quando a gente estava começando, eram poucas lojas, o negócio estava indo bem, mas para a velocidade que a gente queria imprimir de crescimento isso não era possível, mas hoje a gente já faz isso de uma forma bem tranquila.
HL: Filipe, vamos falar um pouquinho sobre o atacarejo, que é o que levou o Mart Minas a ser o que é hoje. Quais são os pontos que você entende que fizeram esse sucesso da rede do Mart Minas e recentemente do Dom Atacadista?
FM: Antes de falar de Mart Minas, eu vou falar do modelo de negócio, porque esse modelo não é sucesso só em Minas, é sucesso no Brasil, e não é sucesso só no Brasil, é sucesso no Mundo todo, é lógico que cada país com as suas particularidades, né. Hoje, no Brasil, o atacarejo aqui é algo muito brasileiro, se você for olhar a essência da operação, você vai para os Estados Unidos é um pouco diferente…
HL: Teve uma adaptação, né?
FM: Teve uma adaptação, teve uma brasileirada aí no modelo, você vai para os Estados Unidos… mas as propostas são as mesmas, acho que essa mensagem que tem que ficar, operação com custo baixo para vender alimento a baixo custo. É isso. Cada um fazendo de um jeito, mas o objetivo final é o que todo mundo busca ali, que é vender mais barato. Então, você vai para os Estados Unidos, você vê os Clubes de Compra lá, o Sam’s Club, o Costco, o BJ’s.
HL: O Walmart, né?
FM: o Walmart não, porque é uma operação de supermercado, mas quando você fala de Clube de Compras, que é uma proposta muito parecida com o atacarejo no Brasil aqui hoje, sucesso lá também no Estados Unidos, você vai para a Europa é um modelo diferente, mas com uma proposta também parecida, que já são lojas menores, mas com custo operacional baixo para vender alimento a baixo custo.
HL: Sem muita frescuragem.
FM: Sem muita frescuragem. Estive no Japão agora, na semana passada, e a Costco já é uma operação também americana e lá também já é um sucesso danado, estamos falando de Ásia, Europa, América Central. Vender produtos mais baratos, independente se é uma economia emergente ou desenvolvida, você vê que é sucesso no mundo todo.
HL: É, todo mundo quer pagar mais barato.
FM: Todo mundo, o rico e o pobre, está todo mundo buscando isso aí.
HL: Isso que eu ia falar, o rico, o pobre, a classe média, ninguém quer ser explorado.
FM: Então, assim, isso é sucesso no mundo todo, foi uma aposta aqui também e dificilmente isso dá errado aqui, né, se o americano precisa comprar mais barato, imagina o brasileiro, que a economia é emergente…
HL: Taxa de juros alta, né, dividindo o cartão.
FM: E quando a gente começa a pensar ali no “inicinho” como isso tudo começou aqui, né, se você pegar ali a década de 1990, início dos anos 2000, pegar o hipermercado, que fazia o papel do atacarejo hoje, né, que é a compra de abastecimento. Todo mundo recebia, ia lá para o hipermercado, fazia aquela compra do mês e mês que vem de novo.
HL: Aquela inflação de 80%, né.
FM: Isso. E é como funciona o atacarejo hoje, né, 76% das compras lá é compra do mês. Então, ele é muito voltado para a compra do mês, os grandes volumes, até mesmo porque quanto mais você compra, mais barato fica, então ela é interessante para esse momento. Então, quando você vai ali no final da década de 1990, início dos anos 2000, as margens do hipermercado em alimento eram menores do que a do atacarejo hoje, mas como isso acontecia, né? Porque ele tinha uma parte de alimento que era muito forte, acho que todo mundo aqui, quem comprou num hipermercado de 20 anos atrás, lojas grandes, metade da loja ali era ferramenta, jardinagem, brinquedo, eletrodoméstico, cama, mesa e banho, tinha uma área têxtil muito grande, que acabava que subsidiava um pouquinho essa margem baixa do alimento aí, né. Só que essa parte aqui de não alimentos, com o tempo, foi perdendo um pouco de relevância dentro do hipermercado, porque os especializados foram crescendo, aí eu estou falando de Magazine Luiza, na época, Ricardo Eletro, Ponto Frio, Casas Bahia, aí você vai para parte Têxtil, tem a Renner, Marisa, Riachuelo, C&A, enfim, já existiam essas empresas, óbvio, mas foram ganhando relevância e eu acho que o hipermercado foi perdendo um pouquinho de força nessa parte de não alimento, que é uma parte de margens alta, que subsidiava ali o alimento mais barato.
HL: Os nichos de mercado, né, eles foram…
FM: E ele (hipermercado) acabou que teve que equilibrar as contas ali e acabou subindo a margem, Aí surge o atacarejo, com uma operação simples, com a loja escura, com pouco conforto, sortimento limitado, nas saídas da cidades, porque não era coisa de estar dentro da cidade.
HL: Tudo estocado lá mesmo, os pallets lá pra cima.
FM: E a gente assistiu esse movimento, sei lá, de 2000 e pouquinho para cá o consumidor final, às vezes abrindo mão de um conforto, de um hipermercado e entrando numa loja de atacarejo, uma loja muito simples, com sortimento limitado, buscando uma única coisa, preço mais baixo.
HL: Aquelas lojas sem padaria, sem serviço.
FM: Zero serviço. Hoje tem alguma coisa, mas naquela época não existia, era zero, e num hipermercado você tinha de tudo, você tinha uma pizzaria, uma peixaria, uma rotisseria, uma padaria, enfim, um açougue. Então, ele abriu mão disso, desse conforto, para pagar um pouco mais barato e aí eu acho que começa a trajetória do atacarejo Brasil afora, né. Então, ele foi crescendo e ele evoluiu muito de lá pra cá. Não dá para comparar uma loja ali do início do ano 2000, final da década de 1990 com a loja de hoje, que é uma loja extremamente confortável ou ampla, hoje mais para dentro da cidade também, dentro não só nos grandes centros, agora no interior também, que era muito coisa, assim, de capital, naquela época, né.
HL: Ela tem localização, tem capilaridade, todo mundo já assumiu o hábito de consumo.
FM: Isso, e agora com sortimento muito mais amplo, presente em todas as categorias, isso não tinha lá atrás, então ele evoluiu muito e eu acho que é isso que fez ele cair no gosto da classe, na época era B, C e D, muito focado talvez no C e D, hoje é A, B, C e D, está todo mundo dentro do atacarejo no Brasil inteiro, inclusive quando você separa isso por gasto, o gasto hoje da classe A é maior do que a classe B, C e D dentro do atacarejo. Então, hoje se atende todos os públicos e todo mundo que frequenta um atacarejo é muito bem atendido.
HL: E encontra todo tipo de produto, não é, Felipe? Você vai no Mart Minas e tem todos os itens lá, de todas as marcas, antigamente não, né? Eram aquelas marcas mais baratas mesmo, para atender esse público C e D.
FM: Isso, era um negócio focado muito no produto mais barato, a gente chama de “primeiro preço”, mas hoje não, você tem as marcas líderes de todas as categorias lá.
HL: Todo mundo quer estar no atacarejo.
FM: É, então o consumidor gostou e a Indústria abriu o olho também para o canal, porque lá atrás, também, ela enxergava isso como um canal transacional, só de volume e tal, não de trabalhar sortimento, lançamento, mas hoje isso mudou muito, hoje já é o principal canal, porque quando você olha para o todo alimentar que tem, eu estou falando de hiper, super e atacarejo, o atacarejo já é metade desse negócio, hoje ele tem 50% de participação, já é o maior canal dentro do total alimentar, então ele é super relevante hoje no Brasil todo.
HL: Nossa! Felipe, e aí no caso do Mart Minas e Dom Atacadista, como que ficam divididos esses itens? São quantos itens em cada loja, o tamanho das lojas, como vocês estão fazendo com esse projeto?
FM: A gente apostou num modelo de lojas maiores, né. Hoje tem lojas menores, tem atacarejo, hoje, de 2 mil, 3 mil, 4 mil, 8 mil metros de área de venda, né, a nossa aposta foi em lojas maiores, pensando até mesmo em nossa operação, que sempre foi independente, nós nunca tivemos um Centro de Distribuição, a própria loja armazena sua própria venda, então elas são muito estruturadas, tanto pensando no recebimento da Indústria, que do jeito que ela chegar pra receber, a gente está pronto, do jeito que ela chegar para entregar, a gente está pronto, para poder receber um bitrem, uma carreta, um caminhão, enfim, do jeito que chegar a loja está super estruturada, preparada para poder receber e armazenar a própria venda também, que a gente tem lá os porta paletes, a gente armazena isso tudo no aéreo, então a gente apostou e investiu em lojas grandes. Então, a gente tem loja ali de 5.500 mil metros de área de venda até 7 mil metros de área de venda, e isso também no Rio (de Janeiro), a gente também replicou isso no Rio, e o sortimento próximo de 10 mil itens, que a gente trabalha também nos dois Estados, tanto em Minas quanto no Rio, são as mesmas categorias, mas mudam as marcas, porque tem as marcas de Minas, tem as marcas do Rio.
HL: As marcas locais que o consumidor quer ver, ele quer se identificar ali com a marca da região dele, né. Isso ainda é muito forte, Felipe?
FM: Muito forte, principalmente em Minas Gerais, no Rio menos, mas principalmente em Minas Gerais. Tem muito produto regional e tem muito produto local que às vezes é só daquela cidade, não é daquela região, mas é só daquela cidade, e a gente tenta fazer um trabalho excelente, neste ponto do produto regional, porque é o que vende na região, é o que o cliente procura. Então, é uma forma, também, até de respeitar o cliente que está frequentando as nossas lojas, de encontrar a marca que ele está buscando, que é a marca da região, é o café, é o tempero, é o arroz, é o açúcar, então a gente faz um trabalho muito bom com isso, e Minas Gerais acho que mais do que o Rio, mas é por causa da influência dos outros Estados, né. Você pega o estado de Minas Gerais, ele faz divisa com 6 Estados, então ele tem aqui a divisa do Espírito Santo, que recebe uma influência ali do Espírito Santo, ele tem a divisa com Rio de Janeiro, que quando você vai pra Zona da Mata, ali tem muita influência, inclusive no futebol, lá não tem Cruzeiro e Atlético.
HL: Também. Eu sou de Barbacena/MG e lá meu pai torcia para o Botafogo e para o Cruzeiro, mas tinha o time do Rio, né. Lá também tem o Mart Minas, maravilhoso.
FM: Aí quando você vai ali para o sul de Minas, Triângulo Mineiro, tem muita influência de São Paulo, você vai subindo um pouquinho ali para o Alto Paranaíba, aí você pega um pedacinho ali na ponta do triângulo de Mato Grosso, depois tem Goiás ali também, quando você vai ali para Unaí ainda pega um pedacinho de Brasília, então tem Goiás aqui também, então recebe muita influência, acho que por isso muda um pouquinho da marca regional e até o ato de consumo também, às vezes um produto que vende no Norte não vende no Sul, e a gente tenta fazer o melhor possível para atender da melhor maneira o cliente.
HL: E para fidelizar também, não é? Porque aí o cliente vai lá no Mart Minas aqui em Minas, vê que tem a marca dele, ele não vai no concorrente, vai ficar lá e já faz tudo lá, e ele quer se sentir também homenageado com a marca da região, que entende que está dando emprego ali na região mesmo, gerando renda. É interessante isso, porque o mineiro gosta de proteger mesmo, né. Felipe, e agora, assim, no Mart Minas são quantas lojas atualmente e onde elas estão mais concentradas em Minas Gerais? Como é esse planejamento de crescimento da marca do Mart Minas aqui?
FM: Hoje, em Minas, a gente está com 63 lojas. Não existe, assim, uma concentração, lógico que tem umas áreas que para a gente talvez tenha um volume maior de faturamento, mas não existe uma concentração de loja. Se você pegar o mapa de Minas Gerais, você vai ver a gente presente em todas as regiões, nas principais cidades. Acima de 100 mil habitantes, a gente está presente em 90% delas, e de 3 anos pra cá, a gente entrou em algumas cidades menores, com 50, 60 mil habitantes também. Então, você vai ali no Triângulo Mineiro, uma região muito importante não só para o Estado, mas para a gente também, Norte de Minas, Sul de Minas, Zona da Mata, Região Central ali também, ali você pega o Vale do Aço, Vale do Jequitinhonha, a gente está presente em todas as regiões. Então, hoje não tem jeito, você andar em Minas Gerais por mais de 50, 60km e não passar por um Mart Minas, não tem jeito.
HL: E como vocês vão fazer? Vocês vão crescer mais em Minas ou agora o foco é crescer mais no Rio, onde vocês compraram o Dom Atacadista? Como vai ser esse crescimento em Minas? Ainda tem muito lugar para crescer em Minas?
FM: A gente continua com o plano de expansão para as duas bandeiras, o Dom no Rio e o Mart Minas em Minas. É lógico que no Rio tem mais assim… a gente tem um projeto muito ambicioso para essa bandeira no Rio, dado que a gente entende que tem oportunidade lá. Hoje, você pega o Rio de Janeiro e quando você olha a participação do atacarejo dentro do total mercado alimentar é a menor participação do Brasil, então, a gente entende que tem muito espaço ainda pra crescer. Lógico, isso não é fácil, tem alguém ocupando esse mercado lá hoje, não é um atacarejo, mas é um supermercado regional que faz um baita de um trabalho lá também, ou é um hipermercado, então a gente entende que tem uma oportunidade muito grande lá. Em Minas, o mercado é um pouco mais consolidado, até mesmo, porque todos os players aqui hoje também têm atacarejos.
HL: Todos eles diversificados.
FM: O Mart Minas é 100%, mas todos eles têm ali uma operação de supermercado, mas tem um braço de atacarejo também, mas a gente entende que tem muito o que fazer aqui, tem muita oportunidade, principalmente aqui na Região Metropolitana, então tem muito o que fazer ainda. A gente continua com plano de expansão aqui, esse ano serão 3 lojas.
HL: Ainda em 2024? Vocês têm 3 lojas para abrir?
FM: Agora em 2024 e já tem muita coisa planejada para 2025 também.
HL: Como é que está essa média de abertura de lojas por ano, que vocês estão pretendendo nos próximos 5 anos, assim, se é que dá para fazer um plano plurianual tão longo, assim, do setor?
FM: A gente não tem um desenho de 5 anos, mas a gente vem num ritmo muito mais forte até 2022, e em 2023 e agora em 2024 a gente inaugura menos do que a gente inaugurava até 2022, mas esse movimento não foi só de Mart Minas, foi um movimento Brasil. Acho que o varejo inaugurou muitas lojas até 2022, um pouco em 2023, mas todas as empresas reduziram um pouco o ritmo de inauguração, porque o mercado também foi ficando mais cheio, muita loja, todo mundo inaugurou.
HL: E aí você já tem que avaliar faturamento por metro quadrado, se ele está cobrindo os custos, né?
FM: É, muita sobreposição, muita loja perto uma da outra, e às vezes até a canibalização mesmo, você tirando de você mesmo, porque as lojas estavam muito próximas. Então, hoje esse movimento não para, mas ele é mais cirúrgico, esse de inauguração de loja.
HL: Tem um pensamento maior se vale a pena mesmo. Tem esse pensamento, porque no setor farmacêutico eu vejo muito isso, no setor supermercadista, como você disse tem a canibalização, então vou abrir para o concorrente não entrar ali, porque senão o faturamento da loja ainda diminui mais ainda, né. Isso existe, assim, essa visão do setor?
FM: Existe. É lógico que não dá para fazer isso em todas as praças e replicar isso Estado afora, mas você tem que interpretar ali, se você quer defender aquele território, se faz sentido, porque você blinda aquilo lá, mas você leva um custo para poder blindar, tem que ver se essa conta fecha, porque você vai ter que comprar um terreno, construir uma loja, contratar funcionário. Você tem um faturamento incremental ali por aquele ponto, mas tem que ver o quanto aquilo é importante para aquele momento.
HL: Senão começa a tirar do caixa, né? “Abrir a torneira” demais.
FM: Então, tem que fazer muita conta, até mesmo porque o investimento não é baixo. Para uma loja Mart Minas, vamos falar de uma área de 30.000m, de 11.000m de área construída, então, assim, é um investimento grande, então tem que ser muito bem estudado.
HL: Vocês divulgam a média de investimentos por loja ou depende muito da loja, da localização, do padrão que ela vai ter, do tipo de mão de obra da região, tem essa essa conta?
FM: Tem. A gente não divulga o valor, mas a conta de obra é muito parecida, da área construída, assim, é muito parecida, não muda muita coisa. O que muda é o terreno, que depende de onde você vai construir, se é um terreno mais central, ele tem um valor de metro quadrado um pouco mais alto ou muito mais alto do que um terreno que está mais afastado da cidade, se é um terreno que já está todo plano, pronto para construir, ele tem um outro valor, se é um terreno que está mais acidentado, é um pouco mais barato, você vai ter que fazer muita movimentação, terraplanagem. Então, sim…
HL: Tem várias variáveis que precisam ser avaliadas antes de decidir pelo negócio. É muita pesquisa que vocês fazem para abrir uma loja? Tem que olhar o PIB da cidade, a capacidade de renda da região? Por exemplo, a gente tem o Vale do Aço, a cidade no entorno ali tem uma capacidade de consumo enorme, né.
FM: É muito estudado, é muito pensado, até mesmo, pelo o que eu falei aqui atrás, pelo valor do investimento que é feito ali, então é algo muito pensado. O Murilo, hoje, que é o sócio-fundador, ele que olha muito esse movimento, toda a expansão passa por ele, que define, lógico que divide com toda a diretoria também, pega a opinião de todo mundo, mas é um negócio muito pensado, porque não pode dar errado. Se você tem um gerente que não está fazendo um bom trabalho, você substitui o gerente, já a loja não tem jeito de trocar de lugar, “ah, não gostei desse ponto. Tira a loja daqui e agora deixa eu colocar aqui”, não tem jeito (risos). Não tem jeito, então tem que dar certo
HL: Uma vez eu entrevistei o pessoal da ABRAS, o Márcio, vice-presidente, e ele falando “olha tem que tomar muito cuidado, os supermercados, o atacarejo, porque a linha do investimento e do que é consumido por mês de custo para as margens é uma linha muito tênue, ela é fininha demais”, se deixar está gastando mais do que está entrando, e isso é uma realidade para qualquer rede, né, inclusive para a rede Mart Minas, Dom Atacadista?
FM: Qualquer rede, não tem vida fácil para ninguém desse setor. Uns talvez tenham uma margem um pouco maior do que os outros, mas não quer dizer que ele está ganhando mais, porque talvez ele tem uma margem maior, mas também tem um custo maior, porque às vezes é uma operação que agrega mais serviço. Enfim, então não tem vida fácil para ninguém no varejo alimentar, não tem, a distância do lucro para o prejuízo é um cochilo que você dá, então é muito justo. Acho que a eficiência operacional é o segredo do negócio, porque não adianta, se você não for eficiente e querer passar essa conta para o cliente, ele não paga sua conta, ele não quer pagar a conta da sua ineficiência.
HL É, ele quer sentir que ele está comprando bem por um preço bom, né? O fornecedor também, a Indústria que fornece para o atacarejo também quer ter a margem dela, e não dá para repassar isso para o produtor também, que está fornecendo os produtos. Quer dizer, é uma conjunção bem difícil, né?
FM: É um negócio de muito volume, então, assim, é um negócio de margem baixa, mas tem que ter escala, principalmente no atacarejo, tem que ser um negócio de volume, de escala, de giro…
HL: Porque senão essa conta não vai fechar no final do ano. E aí vocês estão com sede em Belo Horizonte. Essa mudança, também, de Divinópolis para cá foi estratégica pensando em crescer a partir da Região Metropolitana? Como foi essa tomada de decisão?
FM: Sim. Também foi difícil na época, porque você sai do interior, vem para a capital, equipe também toda no interior, e foi um movimento lá atrás, foi complexo, foi desgastante para as pessoas, inclusive, mas não tinha outra opção. A empresa precisava sair de Divinópolis, vir para a capital, porque tinha um deslocamento diário de ir e voltar para Divinópolis todos os dias para muitas pessoas, então foi desgastante. Aí no meio do caminho foram adaptando, uns resolveram mudar para Belo Horizonte, outros talvez não toparam essa mudança e ficaram em Divinópolis, mas depois as coisas se resolveram e para a empresa foi muito bom, porque aí abriu a cabeça para muita coisa. Você sai do interior para a capital, você tem uma outra visão de mercado, então acho que foi um movimento importante para a empresa naquela época.
HL: Felipe, me fala um pouco sobre a operação do Rio de janeiro. De quem foi a ideia? Foi uma oportunidade que caiu na mão de vocês ou foi uma ideia mesmo de querer ir para esse mercado do Rio de Janeiro? Conta um pouco sobre essa expansão, como é que ela se deu?
FM: Pois é, foi um movimento até engraçado, porque não foi planejado, assim, não passava pela cabeça da Mart Minas ir para um outro Estado, até mesmo porque a gente estava num momento muito bom em Minas, as coisas crescendo e demandando muita gente ali também, porque a operação já estava ficando grande também, a gente vendo toda aquela oportunidade, e o Erasmo, que é o sócio, o fundador Dom, que é uma empresa nova, de 2019, o Erasmo era um supermercadista lá no Rio, que acertou a sociedade dele no varejo e foi apostar no atacarejo, e começou em 2019, e já era um conhecido do Rono na época e, inclusive, a gente bateu muito papo quando ele estava começando o negócio dele, ele veio para Minas algumas vezes para poder conhecer como era operação, o layout, o que faz, como constrói, para conhecer, mas sem nenhum interesse dos dois lados. Era uma amizade que teve uma troca ali de informação, ele estava no momento de formar opinião de tamanho de loja, para onde seguir, qual o tamanho de área e tudo, e de lá pra cá foi amadurecendo a conversa, a gente também entendendo e ele mostrando a oportunidade que o Rio tinha, e o Rono comprou a ideia e depois levou isso para dentro de casa e apresentou para todo mundo, e foi um negócio rápido, coisa de 3 meses, enquanto ele comprou a ideia e para tudo acontecer e pegar na mão, isso aconteceu em março de 2022.
HL: Ou seja, aí vocês pegaram Dom com quantas lojas?
FM: Naquela época o Dom estava com 8 lojas, em março de 2022, e fechamos o final de 2023, agora, com 19. Então, assim, em pouco mais de 1 ano e meio de operação mais que dobrou o número de lojas, então foi uma arrancada muito forte lá. Hoje estamos com 20 e estamos indo para 21 agora, sem ser essa semana na outra, que a gente inaugura em Belford Roxo, ali na baixada, vai ser uma loja também importante.
HL: E essa expansão do Dom Atacadista fica todinha na cidade do Rio de Janeiro ou vocês tem também esse plano de fazer, como vocês fizeram com o Mart Minas, que também o Dom Atacadista seja uma marca que vai para o interior do Rio?
FM: Um movimento muito parecido com o que foi feito em Minas é o que está sendo feito no Rio, também presente nas principais cidades do Estado. Hoje, a gente está praticamente em todas as regiões do Rio, então tem ali na Região Metropolitana, quando você vai ali também para a Região dos Lagos ali nas principais cidades já tem loja, subindo ali para Campos dos Goytacazes, Araruama, loja também, ali na região de Angra dos Reis também já tem loja, até um movimento parecido com o que foi feito em Minas é o que tá sendo feito no Rio.
HL: Lá também vocês têm, assim, um limite de lojas que vocês querem abrir ou também vai dependendo dessa oportunidade de mercado?
FM: Não, o objetivo de médio prazo são 30 lojas. A gente fecha esse ano com 22 e tem um plano para 30 lojas até o final de 2025, início de 2026.
HL: O Rio tem muita diferença de Minas Gerais? Na cultura, no tipo de negócio, a economia é diferente, né, a gente vê que tem muito mais turismo, tem a questão do petróleo…
FM: Tem. São completamente diferentes. Então Minas é Minas, aí eu estou falando da parte cultural, porque quando você olha uma loja Mart Minas e uma loja Dom você vê muita coisa similar, quando você for olhar para as marcas tem algo diferente, aquilo que a gente falou um pouco antes aqui do produto regional, das marcas que são do Rio, mas quando você olha a parte comercial, que é o comprar e vender, e cultura, é muito diferente o carioca do mineiro. Não estou falando que é melhor ou que é pior, é que são diferentes, muito diferentes. Eu estou aprendendo muito lá no Rio.
HL: O que você está aprendendo?
FM: Assim, você pega o jogo do varejo lá é muito diferente do jogo do varejo aqui, sabe.
HL: Dá um exemplo, Filipe.
FM: Concorrer aqui com o Supermercado BH, com o ABC é muito diferente de concorrer com o Guanabara e com uma rede Supermarket lá no Rio. Eles têm um jeito de vender, de precificar, de promocionar, de fazer as campanhas muito diferente do que é feito aqui. Então, assim, foi importante essa sociedade para o Erasmo, ele conhece muito o mercado do Rio, então para a gente é algo novo, mas para ele não era.
HL: Então ele já sabia como funcionava lá.
FM: Super adaptado. Então, ele já sabe da forma de lidar e tudo. E, também, junto, lá em 2022, veio o executivo Caio Lira. Ele era vice-presidente de vendas da Ambev e topou esse desafio também, virou sócio do Dom e hoje é um diretor lá, o Diretor Geral que toca a operação do Rio, que está nos ajudando muito também, sabe de planejamento estratégico, governança, ele tem um know-how muito grande, meritocracia, né, a Ambev… então tem ajudado, tem contribuído muito, foi uma peça fundamental nessa jornada de crescimento do Rio também.
HL: Os preços no Rio são bem diferentes, né, a gente vê cada coisa lá, eu fico, assim, nossa! É desafiador, eu acho, precificar lá no Rio, é uma cidade turista, é a galera que vem ganhando em Euro, em Dólar, mas você acha que essas diferenças ajudam a operação a ficar mais ágil na troca de preços, nas promoções? É muito diferente isso?
FM: Não, aqui não é muito diferente, aqui também tem um dinamismo muito forte, porque você tem…
HL: Eu vejo também, muda muito as promoções.
FM: Muda muito, e aqui a gente concorre com gente grande, as empresas aqui de Minas Gerais estão dentro do top 20 ABRAS, então, assim, são grandes empresas que fazem um bom trabalho, Minas Gerais não é fácil. O Rio é diferente, mas como o Erasmo já domina toda essa parte junto com Caio lá também, então facilitou muito a vida nossa, que estava chegando no Rio sem conhecer esse dinamismo do mercado lá.
HL: Você está gostando dessa experiência até agora? Ela foi boa? Ela está rentabilizando a rede, está valendo a pena ter saído de Minas, ter expandido para fora de Minas?
FM: Muito, muito, valendo muito mesmo. Está sendo uma experiência super positiva.
HL: Tem alguma coisa que vocês colocaram aqui da cultura de lá, seja no jeito de lidar com a loja, de custo, de segurança, de tudo? Porque o Rio tem aquela fama da questão da segurança, né, isso mudou para vocês em alguma coisa?
FM: Em alguns aspectos, sim, teve muita troca ali no início, de boas práticas, acho que esse que é o barato ali, né, de quando você tem duas operações que eram independentes e de repente começa a trocar essas boas práticas, aí você pega ali o melhor dos dois mundos, o que está funcionando muito bem aqui, não está funcionando aqui, você leva daqui para lá e traz de lá para cá, então isso foi feito. Quando você olha para processos é em muitas áreas, então na área de segurança, teve também na área de gente, teve muita troca também na área comercial, então você acaba pegando aí o melhor dos dois mundos e fazendo essa importação ou exportação do melhor processo, da boa prática.
HL: O Mart Minas e o Dom Atacadista, juntando, são 15 mil funcionários?
FM: Hoje já são pouco mais de 15 mil funcionários.
HL: Como está esse crescimento? Para cada loja vocês gastam quantas pessoas, assim, qual é o investimento que vocês têm que fazer em pessoal?
FM: Uma loja nossa, hoje, vai ter um quadro aproximado de uns 180 funcionários
HL: Para girar o dia inteiro, 3 turnos praticamente. Então, tem muita contratação para os próximos anos, né? Vocês já fizeram essa conta também de quanto vocês vão ter que fazer para contratar?
FM: Tem muita contratação. Hoje, o setor de gente é extremamente desafiador, você contratar esse volume de gente, depois ter que treinar, reter, o varejo sempre foi um setor de turnover muito alto, é uma característica do varejo, é um setor de primeiro emprego, o jovem faz 18 anos, às vezes não tem uma formação, e o varejo abraça, o que é bom para quem está começando agora carreira profissional, é um setor que não tem uma barreira de entrada, não precisa de formação para estar ali dentro, e o varejo abraça. Quem vê valor nisso sai de operador de caixa, de repositor para gerente de loja, tem muita oportunidade.
HL: E, assim, você não vai entregar aqui o ouro, né, (risos) tem muitos benefícios, quem chega lá tem muita coisa boa para ficar, mas é uma área que vocês estão sempre olhando para ter esse pessoal sempre lá com vocês, né, subindo nos cargos lá, ficando. Tem gente muito antiga lá, Felipe?
FM: Tem.
HL: Você está lá desde os 12 anos, né! (risos)
FM: É, eu estou lá há 28 anos (risos)
HL: Mas tem aquele funcionário que está desde Divinópolis, desde o início da rede, né? Isso é importantíssimo.
FM: Tem muitos. Se você pega boa parte da liderança nossa, pega o Tiago, hoje está lá com a gente, eu estou com 28, ele deve estar com 26 (anos de empresa), é o Diretor Comercial hoje. O Danilo, que também muito jovem, Danilo meu irmão, está lá também há uns 22, 23 anos, hoje é o Diretor de Operação. O nosso Gerente Financeiro, que é o Marcelo, está há mais de 30 anos na empresa, e tem vários exemplos, estou citando alguns aqui.
HL: Vamos falar de produto. Vocês estão com um cartão, um cartão da rede, e está sendo uma experiência boa também? Você está gostando?
FM: Está sendo uma experiência muito boa, operação nova, ela vai fazer 2 anos agora, o cartão Mart Minas, e, também, no Dom, né, lá é uma operação um pouco mais recente e a gente começou isso com o objetivo de aumentar o poder de compra das pessoas, que é a nossa missão, inclusive, para gerar crédito para as pessoas, para aumentar o poder de compra mesmo, e está sendo super positivo essa operação.
HL: Tem um convênio também com a EmCash, né, uma plataforma de financiamento de consignado. Isso também tem sido uma experiência boa?
FM: É uma operação recente para a gente, está fazendo 4, 5 meses que é o crédito consignado. A gente fez esse movimento muito com o objetivo, com a intenção de contribuir. O brasileiro está endividado, acho que isso não é novidade para ninguém, e pior ainda, está endividado e com custo de dívida muito alto, então a gente pensando no público nosso lá interno, sabendo dessa necessidade que já existe, a gente disponibilizou essa plataforma com custo de empréstimo muito mais barato que o mercado oferece, mas muito mais com a intenção de ajudar as pessoas que precisam mesmo.
HL: É, que aí é um custo mais barato do dinheiro e ela vai aprendendo a lidar melhor, não ficar só no crédito rotativo do cartão, que muita gente faz cheque especial, né, e por aí vai. A imagem da empresa, Felipe, eu tenho visto assim que muita empresa está buscando uma sustentabilidade, uma intenção de, não somente uma imagem boa, o consumidor que está sempre procurando empresas com essa questão da sustentabilidade, mas também para reduzir custos. Vocês, por exemplo, têm feito um trabalho aí para olhar essa questão de energia limpa, não é? Isso também é uma preocupação da empresa, essa questão?
FM: Sim, uma preocupação muito grande. Recentemente, a gente até divulgou em uma parceria com uma usina, que foi feita em parceria com a Cemig, foi a primeira do Estado, que nós fizemos justamente com esse objetivo de ter uma energia mais limpa, ser mais sustentável, foi com esse objetivo.
HL: Para melhorar cada vez mais e impactar de uma maneira positiva nos custos, reduzir, né, porque energia sempre, seja Indústria, Varejo, todo mundo fala que impacta demais.
FM: É, para o varejo é uma conta muito alta, porque você pega toda aquela… um terço da loja é refrigerado, a gente também armazena o congelado, resfriado, dentro da própria loja também, tem as câmeras lá, né, que são muito grandes, então o consumo de energia é muito alto.
HL: Felipe, primeira vez que eu conversei com você foi numa feira da AMIS, da Associação Mineira de Supermercados, acho que foi 2015, e você falava naquela época que estava no DNA da rede o Just In Time, pegava a indústria, pegava e entregava em cada loja e não tinha Centro de Distribuição, porque isso era e continua sendo um custo alto em qualquer tipo de negócio, mas eu vejo que agora parece que está começando a mudar isso. A rede cresceu muito, vocês já estão com Centro de Distribuição, já foi necessário ter esse tipo de desempenho dentro do negócio?
FM: Então, assim, até agora, 2024, a gente apostou nesse modelo do loja a loja, então você compra direto da indústria e ela entrega isso loja a loja, o que não é uma tarefa fácil para nenhuma indústria pensando no tamanho de Minas Gerais, fazer essa logística toda, mas é o modelo em que a gente acreditou, que apostou, e fizemos até agora, 2024, e deu tudo certo. Agora, daqui pra frente, inclusive, a gente inaugurou agora em setembro uma empresa do grupo que é um operador logístico, que ele vai funcionar como se fosse um CD (Centro de Distribuição) mesmo, mas é um operador logístico, é uma empresa que nós abrimos dentro do grupo Mart Minas, que a gente vai receber de algumas indústrias, não são todas, mas algumas indústrias, e a gente vai fazer essa distribuição com o objetivo de diminuir ruptura, melhorar os níveis de estoque.
HL: Esse CD fica aonde?
FM: Em Contagem/MG.
HL: Vocês pensam em abrir mais CDs ou não, não tem necessidade? Dá para concentrar tudo, por enquanto, em Contagem?
FM: Mais não, mas eu acredito que entre 2 a 3 anos, a gente vai aprender a operar com isso, vai formar opinião do que exatamente a gente quer, porque em um CD você pode ter operações variadas, você pode armazenar ou senão trabalhar só com o que a gente chama de cross docking, onde você não armazena, mas só recebe, separa e já expede, então a gente vai formar a opinião do que a gente quer e eu acredito aí que nos próximos 2 ou 3 anos, a gente talvez tenha uma operação maior, né, mas não mais de 1, mas ter uma operação maior com Centro de Distribuição.
HL: Pode ser até um braço da companhia para atender outras empresas também ou não?
FM: Não com esse objetivo, é pensando em Mart Minas mesmo.
HL: Felipe, vejo que vocês estão patrocinando esportes, como está esse entendimento desta gestão e da marca, não é, de fazer a marca aparecer na sociedade?
FM: Os projetos sociais sempre fizeram parte do nosso dia a dia, tá, Helenice, isso nunca foi marketing para gente, a gente até mesmo sempre deu pouca visibilidade para isso, porque a gente entendia que era um papel social, que isso é importante fazer, o Rono e o Murilo já faziam isso na física, hoje a gente faz como empresa também de uma forma muito maior, muito mais estruturada. Esse ano, provavelmente, nós vamos repassar próximo de 10 milhões de reais entre projetos incentivados e projetos que a gente vai com recurso próprio também, e pensando no esporte tem os clubes que a gente apoia, são clubes formadores, o Mackenzie, o Olímpico, a gente apoia esses clubes há muitos anos, e, também, tem o projeto do “Troco Solidário”, que toda loja nossa, em cada cidade, a gente adota uma instituição e aquela loja gera, doa o troco para aquela instituição daquela loja.
HL: Isso é interessante, porque aí é na cidade, é local, não é uma instituição da capital, porque o dinheiro está vindo para cá, é para essa região e fica na própria cidade, numa instituição da própria cidade, porque isso é devolver para a cidade o que a empresa está tendo ali de lucro, de resultado.
FM: Isso aí.
HL: Legal isso. E aí vocês também tiveram um programa no Rio Grande do Sul, com toda aquela tragédia das enchentes, vocês foram para lá, fizeram um programa de doação.
FM: Fizemos. Fizemos uma doação de 90 mil litros de água, foi uma catástrofe que comoveu o Brasil todo, mobilizou o Brasil todo também, né. Lógico que tudo que chegou, talvez, era pouco pela dimensão da tragédia, porque foi um negócio assustador o que aconteceu lá, mas eu vi um movimento muito forte do Brasil todo, pessoas independentes ou empresas, todo mundo querendo colaborar, apoiar naquele momento, e a Mart Minas também apoiou, fez um movimento grande também, mandamos 10 caminhões de água para lá, para poder ajudar naquele momento.
HL: Felipe, em outras regiões do país dá para pensar em alguma coisa, como outras redes têm feito? Você olha para o ranking da ABRAS, um faturamento de 9 bilhões e 400 milhões de reais no ano passado, esse ano claro que vai crescer com essas… lógico que assim, uma nova loja ainda demora, tem uma fase de ramp-up, não sei se a expressão é essa também no varejo, até ela pegar o ritmo e entregar o potencial todo que ela tem ali, mas vocês têm planos, você olha para outras regiões? Quando você está viajando e descansando você vai em outras redes, você olha, você fala “poxa, essa região aqui tem potencial”, isso passa na sua cabeça, esse esboço do que é?
FM: Não, de sair hoje de Minas e Rio, hoje não tem nenhum plano, não passa pela nossa cabeça, mas, agora, visitar outros Estados e outros varejistas é uma prática nossa de muitos anos para poder abrir a cabeça, ver as melhores práticas, ver o que um está fazendo, tem sempre alguém inovando em alguma região, então esse é um exercício que a gente sempre faz de poder visitar e a gente conhece varejistas aí Brasil afora e sempre tem uma troca muito saudáve.l
HL: Sim. O faturamento, esse ano, vocês já têm, assim, a projeção de quanto que ele vai chegar, o que que vocês estão esperando?
FM: Eu tenho, mas eu não posso falar, porque senão eu atrapalho o principal evento do varejo, que é o Ranking da ABRAS, mas a gente já tem uma previsão do que vai acontecer, é duplo dígito, vai ser mais do 10.
HL: Aí é legal, você já deu um gostinho para gente.
FM: Vamos passar dos 10 bi aí com o faturamento combinado dentro das duas companhias. Está sendo um ano muito bom para a Mart Minas aqui em Minas e para o Dom também no Rio, mais ainda, né, porque inaugurou muitas lojas no ano passado, então a gente vem crescendo, mesmas lojas, duplo dígito, tanto em Minas quanto no Rio e é um crescimento acima do que o mercado vem crescendo, então para a gente também é um número importante.
HL: A renda do país, essa virada, o país está crescendo muito pelo consumo, atualmente, seja por conta dos programas sociais ou porque as pessoas estão mesmo focando nisso. Isso ajuda também? Esse momento de crescer pelo consumo? Ajuda muito, né, para o varejo, para o atacarejo?
FM: Ajuda muito, talvez só não seja sustentável no médio, no longo prazo, quando você só olha para o consumo assim. Então, sim para o varejo, quando você olha para uma economia, tem 4 pilares aí que eu acho que são muito importantes: emprego, renda, crédito e confiança. Emprego e renda são as alavancas mais importantes para o varejo alimentar, então para a gente entender, a gente não pode falar de varejo e colocar todo mundo dentro do mesmo saco, então quando você fala de varejo alimentar, emprego e rendas são as principais alavancas para o varejo alimentar ter pujância, ter crescimento e tudo. Mas quando você fala de outros varejos, varejo de eletro, varejo de moda, tem a alavanca crédito que é muito importante, porque quase ninguém compra uma geladeira à vista,vai precisar de crédito, vai precisar de prazo e esse ainda é um problema que não está resolvido no Brasil. Quando você pega a Selic de 10,5% ainda é desafiador para quem vai falar de juros, de financiamento para uma casa, para um carro ou até mesmo para uma geladeira, não é uma conta barata. Mas está num momento bom o varejo alimentar, ele está num momento bom.
HL: O Mart Minas está completando 23 anos e tem toda uma campanha do varejo, da rede, para essa data também, né? Não é fácil fazer 23 anos no Brasil, né, Felipe? (risos)
FM: Verdade. Então, agora em setembro a gente começou nossa campanha de aniversário e está sendo um sucesso, sabe, e esse ano, diferente dos outros, nós trouxemos aí Fernando e Sorocaba para nos ajudar a contribuir, somar nessa campanha de aniversário, que para a gente é um momento muito importante, né, é o nosso segundo Natal, tem um investimento muito grande em mídia, em preço, em volume de compra com as indústrias. Então, ela começou agora no dia 1º de setembro e vai até o dia 16 de outubro, são aí cerca de 45 dias de campanha que a gente espera vender muito, atender melhor o cliente, levar bons negócios aí para todo mundo.
HL: Tem que fazer essas campanhas na rede, no atacarejo também, é importante ter isso, né.
FM: Sim, é importante. É o nosso aniversário, tem que comemorar. E outra que já também virou um calendário, uma ação, uma campanha do varejo também, né, todas as redes, todo ano, estão comemorando o seu aniversário. Eu acho que isso é bom para o mercado, isso é bom para o consumidor final, porque sempre tem mais promoção, sempre tem mais oferta, movimenta, então todo mundo ganha com isso.