Ricardo Lima, CEO da CBMM, é o segundo entrevistado da temporada Minas S/A Governança em todas as plataformas de O TEMPO até agosto.
A CBMM produz e comercializa produtos de nióbio e vai completar 70 anos em outubro deste ano.
Com sede no Brasil, a mina fica em Araxá (MG) com investimentos previstos de R$ 1 bilhão ao longo de 2025.
O aço, de acordo com o CEO, sempre será o principal segmento da companhia, que trabalha para expandir a utilização do nióbio em diversas frentes, como a construção civil e o segmento automotivo.
Ricardo conta que a CBMM participa de um projeto para desenvolver um fungicida que está sendo testado por uma empresa que saiu de uma grande universidade brasileira.
“A gente ainda está numa fase inicial, então prefiro nem ficar revelando nomes aqui, mas ele mostra uma característica interessante de ser um fungicida sem danos à saúde humana”, diz o CEO.
A seguir, a entrevista na íntegra:
HL: A CBMM produz e comercializa produtos de nióbio e está no mercado há 70 anos. Os negócios continuam muito bem, não é, Ricardo? Tudo joia?
RL: Tudo joia. Obrigado por mais uma oportunidade de estar aqui com vocês, falando um pouco sobre a CBMM. Nós temos, hoje, o nosso principal desafio é continuar promovendo o crescimento da CBMM, crescimento em volume de vendas, crescimento em desenvolvimento de novas aplicações para os nossos produtos mundo afora. Então, isso exige realmente um grande esforço nosso em pesquisa, em desenvolvimento, e nós temos tido a cada ano um sucesso de amadurecimento, então, desses projetos que a gente começa, levamos alguns anos até que a gente possa sair de um capítulo de desenvolvimento de tecnologia até uma ação de ida ao Mercado, e a gente vai a cada ano colhendo os frutos de um outro projeto que vai amadurecendo. Então, realmente, no ano de 2024 nós conseguimos ter um resultado ainda maior do que nos anos anteriores, todo ano a gente procura crescer um pouquinho, fazer de cada ano o melhor ano através do crescimento do Mercado de produtos de nióbio.
HL: Por que o nióbio é tão importante para a sociedade? Para quem não conhece esse produto, o que você diz sobre ele?
RL: Deixa eu te contar, então, um pouquinho da história e depois vou concluindo com a sua pergunta. Então, como você adiantou, a CBMM, agora dia 25 de outubro, vai comemorar 70 anos desde a sua fundação, a companhia foi fundada em 1955. Dois anos antes, em 1953, um brasileiro chamado Djalma Guimarães, lá em Araxá, descobriu essa mina que hoje é operada por nós. Lá naquela época, 1953, depois em 1955, ninguém sabia para quê o metal nióbio poderia ser utilizado, então o grande desafio da CBMM foi, desde o início, encontrar aplicações para produtos de nióbio, desenvolver esse mercado. E o primeiro mercado que foi rapidamente, vamos dizer assim, beneficiado foi o mercado de produtos siderúrgicos, mais especificamente para tubulações para transporte de gás, transporte de óleo, os gasodutos e os oleodutos, que pelo tipo de aplicação exigia características de segurança extremas, você não pode ter o risco de ter ali uma trinca, uma propagação de um defeito que cause uma explosão, que vai explodir, que vai causar um desastre de grandes proporções. Então, essa foi a primeira grande aplicação e depois vieram outros tipos de aço. A CBMM começou a ver vantagens em aços inoxidáveis, aços utilizados nos sistemas de exaustão de motores de combustão interna, onde você precisa de resistência a altas temperaturas, migramos para os aços automotivos, onde você tem uma vantagem de, com a adição do nióbio, promover também resistências mais altas e com isso você trabalha com estruturas mais leves, então você pode ter chapas de espessuras menores conferindo as mesmas características, com mais segurança aos veículos e com menos peso, e, finalmente, aços estruturais para Construção Civil, também com vantagens de segurança e também de estruturas mais leves. Então, ao longo dessas décadas, eu diria que a CBMM foi desenvolvendo uma trajetória de sucesso de utilização da sua tecnologia e do seu principal produto na Indústria Siderúrgica. O principal produto é uma liga de ferro e nióbio, então nessa liga nós temos cerca de 65% de nióbio e 35% de ferro. Por que é assim? É assim, porque o nióbio puro tem um ponto de fusão extremamente alto e dificultaria a sua aplicação nas plantas siderúrgicas. Com a liga, a gente torna esse uso mais fácil. Desde o início, o uso de nióbio foi, de certa forma, atendendo exigências de performance, de segurança, de redução de emissão de CO2, à medida que você tem veículos mais leves, você tem menos emissão de CO2, à medida que você tem edifícios construídos com material que tem uma resistência mais alta, você pode ter menos material para a mesma função estrutural, então tudo isso foi trazendo benefícios e nós, mais recentemente, começamos a pensar o futuro de longo prazo da CBMM e fomos dar uma olhada em quais eram as grandes tendências mundiais e onde, dentro do nosso conhecimento, a tecnologia do nióbio poderia se aplicar.
HL: Ou seja, a empresa está se reinventando desde que ela nasceu, né? Ela não ficou parada na liderança dela, só na produção para o setor siderúrgico.
RL: Não. O principal ponto sempre foi, realmente, pesquisa, desenvolvimento, parcerias com Universidades, Institutos de Pesquisa, pois os nossos clientes foram se sofisticando. Você pega todas as grandes siderúrgicas mundiais, as brasileiras aqui, nós temos uma parceria muito próxima com todos os grandes fabricantes de aços no Brasil, que aliás produzem aços no estado da arte, com a melhor qualidade, não deixando nada a dever a outros, essas parcerias foram realmente sofisticando o conhecimento, trazendo produtos novos, mas sempre aliado a essas tendências mundiais. E hoje em dia, quando a gente faz o nosso ciclo que vai até 2030… vamos dizer, nós fizemos em 2018, a primeira reflexão: “o que seria a CBMM em 2030”, “o que que nós poderíamos trazer de crescimento?”, nós estamos olhando que eletrificação era uma grande tendência, sem dúvida nenhuma, toda essa questão de urbanização, digitalização, sustentabilidade, descarbonização, e aí reunindo o conhecimento interno mais o conhecimento desses nossos parceiros, seja na academia, seja nos nossos clientes, nós estamos traçando um plano que mostrou que essa história de sucesso na indústria siderúrgica poderia ser repetida em outras indústrias. Sempre, eu gosto de frisar aqui, a indústria siderúrgica vai ser sempre o nosso negócio principal, está certo?
HL: A siderurgia, como cliente, representa qual percentual na operação da CBMM?
RL: Em vendas, no ano passado foi cerca de 77% do nosso volume de vendas e 23% foram em outras aplicações. Esse número já foi 90%.
HL: E vai chegar em um equilíbrio de 50/50?
RL: Não, um equilíbrio não, sempre vai ser a indústria siderúrgica maior, porque, eu digo para você, ainda tem, na indústria siderúrgica, muito espaço para criação de aços de maior performance, para ajudar as plantas siderúrgicas a reduzir seus custos, a ter uma eficiência em energia melhor, redução de emissão de CO2, ganhos de produtividade, eu diria que a gente vai vivendo ciclos, né. Nós tivemos ciclos fortes para melhoria de qualidade, melhoria de propriedades mecânicas, hoje nós já temos um conhecimento bastante elevado nisso e uma aplicação já bastante desenvolvida na indústria siderúrgica ao redor do mundo, e nós temos, hoje, novas tecnologias que nos ajudam justamente a buscar eficiência, redução de custos, produtividade, então são coisas a mais que tem sido cada vez mais divulgadas aos nossos clientes para que a gente possa fazer com que a siderurgia siga rentável e crescendo. A indústria siderúrgica, no mundo, não tem experimentado nos últimos anos um crescimento orgânico. Em grandes números, a produção de aço bruto no mundo é da ordem de 2 bilhões de toneladas p/ano e está bastante estável, mas, para nós, a aplicação dos nossos produtos do ferro nióbio tem muita oportunidade de crescimento ainda, porque o mundo busca especificações de uma performance melhor que acabam utilizando mais de elementos de liga como o nióbio.
HL: E tem que ter aços cada vez mais tecnológicos, né?
RL: Exatamente.
HL: Eu estava conversando com o CEO da Gerdau, o Gustavo Werneck, e ele me disse que está tendo uma demanda enorme para um aço que é utilizado em carro elétrico. Então, as expansões, tudo está sendo muito pensado também para isso.
RL: Esse é um excelente exemplo. À medida que você migra de um carro de combustão interna para um carro elétrico, você tem necessidades de propriedades diferentes, e acertar essas coisas todas exigem uma evolução, e parcerias com essas empresas permitem que a gente faça esse avanço tecnológico para atender o que é necessário.
HL: Sim. Ricardo, olhando os números, os resultados da CBMM em 2024, é receita líquida R$ 13 bilhões, lucro líquido R$ 5 bilhões, CAPEX, que é o investimento que a empresa prevê, R$ 630 milhões. Esses números, principalmente no CAPEX, vocês vão aumentar? Vai ter um aumento para R$ 1 bilhão, como está essa previsão?
RL: Eu diria que a nossa ideia é crescer em todos eles. Se você comparar a nossa receita de 2024 versus a receita de 2023, nós tivemos um crescimento de 17%. Tivemos esse crescimento de 17%, que passa também por algumas alterações em mixes, também, para a gente ter produtos desse novo portfólio, dessas novas aplicações, crescendo, então isso tudo vai trazendo, realmente, uma crescente de receita lendo o crescimento de volume, que é o nosso principal indicador, nosso principal objetivo. Com relação ao CAPEX, esse ano nosso orçamento prevê chegar muito próximo de R$ 1 bilhão, então estamos saindo de R$ 630 milhões para R$ 1 bilhão. Todos os anos, a gente tem uma parcela significativa de investimentos, que é o que a gente chama aqui de sustem, ou seja, a manutenção de todo o nosso complexo mineral, de todo o nosso complexo metalúrgico, químico.
HL: Que vai ficando obsoleto, vai ficando velho, né, tem que trocar as máquinas.
RL: Tem que trocar e a gente não pode, de maneira nenhuma, permitir qualquer deterioração no Parque Industrial, então sempre manter o Parque no estado da arte. Então, nós temos aí isso que é recorrente em todos os anos, nós temos, sim, aumento de capacidade na linha desses novos produtos. Se você for pegar o ferro nióbio, que é o nosso carro-chefe…
HL: Que cresceu 4%, o volume.
RL: Hoje, nós temos uma capacidade de produção de 150 mil toneladas, que é maior do que a demanda global por esse produto.
HL: É, vocês produziram pouco mais de 95 mil toneladas, então tem muita coisa ainda aí para ocupar a capacidade.
RL: Tem. Esse investimento foi feito, nós terminamos esse ciclo de investimentos aí durante a pandemia, foram cerca de 1 bilhão de dólares de investimento para elevar nossa capacidade de 100 mil para 150 mil toneladas, e aí você pode estar pensando: “puxa, mas por que vocês já investiram antes, se é agora que você está chegando nos 100 mil?”. Como grande líder global, nós temos a responsabilidade de garantir aos nossos clientes que nós sempre teremos uma capacidade à frente da demanda.
HL: É, não dá para esperar o mercado aquecer.
RL: Alguns anos antes a gente já investe em capacidade, porque eu não posso deixar nenhum cliente meu sem produto.
HL: É um mercado, o do nióbio, igual ao automobilístico? Que você olha 10 anos à frente, é mais ou menos por aí ou não?
RL: Assim temos feito. A gente tem feito exercícios de estar sempre olhando 10 anos à frente. Então, a gente vai movendo, a cada ano fazendo uma revisão desse planejamento. E como é que funciona? A gente tem o orçamento, que é a visão de curto prazo, que é firme, depois a gente tem uma visão de 3 anos, uma visão de 5 anos, uma visão de 10 anos. Obviamente que à medida que você vai estendendo esse prazo as incertezas são maiores, e a cada ano a gente vai fazendo uma revisão disso para ver se algo aconteceu que nos faça acreditar que pode ser melhor ou pior, condições geopolíticas, condições macroeconômicas, também o amadurecimento das tecnologias que a gente está desenvolvendo, muitas vezes você tem projetos que dão certo, tem uns projetos que não dão.
HL: E aí descontinua?
RL: Descontinua, e quanto mais rápido a gente puder ver que não dá certo, para…
HL: Menos estanca dinheiro naquele projeto, né?
RL: E vamos para outro. Então, essas revisões são feitas anualmente, do curto, do médio e do longo prazo, a gente tem uma curvinha e a gente vai colocando lá a nossa melhor visão, todos os anos, do que pode ser a companhia no futuro.
HL: Agora, esse dinheiro desse ano, de R$1 bilhão de investimentos, ele é principalmente no quê? Porque, no ano passado vocês abriram a fábrica que produz produto para bateria de recarga ultrarrápida, quer dizer, entregaram o protótipo do ônibus elétrico com bateria de lítio com nióbio, então, assim, vocês já fizeram um grande investimento. Tem também um projeto de nióbio fungicida, não é? Esses projetos precisam ter investimentos contínuos, mesmo que a capacidade dessa fábrica seja para os próximos 3 anos?
RL: Então, dessa fábrica em particular, sim. Essa fábrica que você está comentando, ela pode produzir não só o óxido de nióbio, mas um óxido misto de nióbio com outros elementos para ser utilizado no polo negativo de baterias. Um exemplo aí é a tecnologia que a gente apresentou junto com o ônibus, que é uma parceria com a Toshiba e com a Volkswagen Caminhões e Ônibus, aqui no Brasil, que tem a grande vantagem do carregamento rápido em total condição de segurança. Então, nós apresentamos isso para um público de cerca de 300 pessoas que estavam lá, convidados…
HL: Em menos de 10 minutos, né, não explode.
RL: Deu precisamente 8 minutos e 40 segundos. A gente saiu de 0 a 100% de carga sem nenhum aquecimento, sem nenhum risco, né, pelas características que o óxido misto de nióbio no anodo trás, que é diferente da tecnologia atualmente empregada, que é uma tecnologia a base de carbono, que aí você quando submete a uma condição de um carregamento rápido existem mais riscos do que nessa tecnologia que a gente está colocando. Então, seguindo essa mesma filosofia, essa mesma estratégia de a gente ter capacidade à frente do mercado, nós já investimos numa planta que tem, segundo as nossas projeções, capacidade para os próximos 3 anos. Essa tecnologia, sendo testada e aceita, criando uma demanda de um produto novo no mercado, a gente já parte para um novo ciclo, que aí a gente vai expandir ainda mais essa capacidade.
HL: Que aí é a escala, né? A partir do momento que começa a ser produzidos esses ônibus, já tem que ter uma uma produção, também, em escala do produto.
RL: Exato, e o ônibus é uma das aplicações. A gente tem, hoje, estudado várias outras aplicações. Eu diria para você que para qualquer tipo de veículo comercial essa solução parece boa, porque um veículo comercial, você não quer que ele fique parado na garagem por várias horas, 7, 8 horas, é perder dinheiro. Se você tem um veículo urbano, que você usa para ir do escritório para sua casa, roda 5 quilômetros e à noite você pode deixar na garagem, ok. Então, por isso que o nosso nicho de mercado é veículo comercial. Começamos com ônibus, e a gente agora já está fazendo, também, protótipos, estudos com veículos de mineração, que seria um outro nicho de mercado bastante interessante, já que o Brasil tem uma vocação, o Estado de Minas Gerais tem uma vocação tremenda para isso, mas até temos uma outra iniciativa que tem mostrado, hoje, já também uma grande aplicação e que eu acho que tem uma oportunidade de crescimento, que é o uso de baterias para Data Centers. Com tudo que está acontecendo no mundo de inteligência artificial, toda vez que você faz uma pergunta numa plataforma ali de inteligência artificial, você tem um pico de demanda de energia, e esses dados sempre são supridos por baterias que tem que ser submetidas a um pico rápido e que tem que manter essa energia. Então, essa tecnologia utilizando óxido de nióbio também está sendo testada nesse tipo de coisa e eu acredito que vai ser mais uma alavanca de crescimento para os próximos anos. Então, veja que são várias frentes e o ônibus é uma delas.
HL: E demandas gigantescas, né, porque a inteligência artificial vai ser cada vez mais usada.
RL: Cada vez mais, é outra coisa que é uma tendência mundial que não tem volta.
HL: E é em tudo, né, em todas as profissões.
RL: Em todas as profissões. Nós, aqui mesmo no nosso Parque Industrial, temos incentivado as pessoas a terem treinamento, a trazerem conhecimento.
HL: No agronegócio, esse fungicida, onde que entra o nióbio, Ricardo? Para quê serve o nióbio no fungicida?
RL: Esse fungicida está sendo testado por uma empresa, que também é uma empresa que saiu de uma grande universidade brasileira, a gente ainda está numa fase inicial, então prefiro nem ficar revelando nomes aqui, mas ele mostra uma característica interessante de ser um fungicida sem danos à saúde humana. Os primeiros resultados, isso ainda está numa fase de desenvolvimento tecnológico, sendo testado, mostram que pode ser mais uma aplicação totalmente nova, Então, veja o grande desafio que a gente vive nesse momento da companhia, nós somos uma companhia que tem 70 anos de tradição, mas que se especializou em siderurgia, nós temos vários profissionais com formação em metalurgia, eu sou engenheiro metalurgista, e eu diria que essa é uma zona que a gente transita com muito conhecimento técnico. Se perguntarem para mim qual é o conhecimento que a gente tem em fungicida…
HL: Qual é a relação, né?
RL: Nós estamos, nos últimos anos, agregando ao nosso corpo técnico pessoas com conhecimentos em áreas diferentes das nossas. Mesmo com baterias, em 2018, quando nós assinamos o contrato com a Toshiba, foi lá em meados de 2018, nós tínhamos aqui um engenheiro, que acabou sendo a pessoa, o Head atual da área de tecnologia, nesses novos produtos, e ele era um engenheiro químico que já tinha feito seus estudos, fez alguns testes de bancada, nós víamos que tinha um potencial, mas nós tínhamos muito pouca gente. Hoje, nós temos cerca de 30 profissionais que nós fomos buscar no mercado, PHD’s em eletroquímica que entendem de baterias, então a gente trouxe para dentro da CBMM esse conhecimento. A mesma coisa nós temos que fazer nas outras áreas.
HL: Vai ter que ter gente também do agronegócio, engenheiro agrônomo para poder aliar essas tecnologias todas.
RL: E à medida que esses projetos vão avançando, a gente vai trazendo pessoas com novos conhecimentos aqui. Nós estruturamos agora uma área que a gente chama de Inovação. Você pode até perguntar “puxa, mas a CBMM sempre fez inovação e tal”. A gente está procurando diferenciar um pouquinho o que é pesquisa e desenvolvimento, que a gente sempre fez, com a inovação. A inovação é aquilo que é completamente disruptivo, como o caso do fungicida, é alguma coisa que nunca foi pensada.
HL: Que eu saiba não tem nenhum fungicida que tenha nióbio. (risos)
RL: A gente tem, hoje, algumas pessoas que ficam em dedicação integral, tempo integral, pensando e pesquisando.
HL: Vocês estão com uma diretoria só para isso? Uma área só para novos materiais?
RL: A gente tem uma nova área, uma nova diretoria que foi criada no segundo semestre do ano passado, para que a gente realmente possa dar a atenção que novas áreas merecem. Talvez a gente já tenha falado nas nossas entrevistas anteriores, lá em 2018 estruturamos uma área de estratégia, então começamos a pensar realmente a companhia no longo prazo, trouxemos novas metodologias, trouxemos mais informações, a CBMM sempre foi uma empresa muito bem-sucedida, sempre fez isso, está certo? Então, a gente simplesmente procurou trazer uma estrutura um pouco mais formal de gente dedicada para não correr o risco das pessoas serem absorvidas pelo dia a dia e criamos uma área de estratégia, de novos negócios, de inteligência de mercado, fomos evoluindo com relação a isso, estruturamos o programa de baterias e chegou uma hora que a gente viu que essas coisas já estavam atingindo um tamanho crítico, que valia a pena ter gente completamente dedicada a isso e que pudesse criar conexões no mundo. Hoje, nós temos em Singapura, em Amsterdã, na China…
HL: Na China, nos Estados Unidos, na Suíça, vocês têm escritórios nesses países todos..
RL: E aí, agora, nós temos pessoas que são especialistas nessas novas áreas. Nos primeiros instantes, as pessoas de aço foram aprendendo e foram ajudando a gente, porque ainda eram coisas muito pequenas. À medida que foi tomando corpo, foi tomando uma relevância maior, a gente trouxe especialistas nessas áreas, que também tem um networking numa área que nós não tínhamos.
HL: É, porque tem que procurar clientes novos, sempre.
RL: Em função disso, nessas áreas que a gente chama de frentes de negócio, seja comercial, seja técnico, a nossa venda sempre é muito técnica, então a gente vai em dupla no cliente, sempre tem um comercial e um técnico juntos, nós estamos buscando no mercado novos profissionais com essas formações, então fomos contratando gente, aumentando nosso quadro de especialistas para que a gente possa ter um leque de atuação um pouco mais amplo.
HL: Você falou dos escritórios dos países em atuação, China, Holanda, Suíça, Singapura, Estados Unidos, são mais de 500 clientes e mais de 50 países. Tem novos entrantes aí? Os escritórios estão localizados estrategicamente? Tem alguma alguma modificação nesses escopo ou não, do jeito que está atende bem o mundo?
RL: Eu diria que a configuração dos nossos escritórios atende bem. Nós temos, hoje, uma presença nos mercados relevantes, além dos escritórios, nós temos centros de distribuição em todos os principais mercados. Nesses centros de distribuição, nós mantemos inventários dos produtos, então a gente tem, hoje, uma área de planejamento que tem essa inteligência, a gente viu o giro de cada um dos produtos para que a gente possa garantir que qualquer cliente em qualquer parte do mundo, em menos de 72 horas, receba um produto da CBMM dentro das suas especificações. Então, a gente tem os escritórios, com esses times, temos os centros de distribuição e uma equipe sempre a disposição dos clientes para fazer assistência técnica e tudo mais.
HL: A China continua como o maior cliente?
RL: A Ásia continua, a China tem uma relevância importante…
HL: É o que, 40%, a China?
RL: É cerca de 40%. Se você for pegar a produção de aço no mundo, em grandes números, o mundo produz 2 bilhões de toneladas, e metade disso vem da China, 1 bilhão de toneladas. Se você pegar o consumo de nióbio por tonelada de aço produzido, na China ainda é bem mais baixo do que a gente tem na Europa, nos Estados Unidos, mesmo no Brasil, o Brasil está dentro dos pontos de excelência. Então, eu diria para você que a China tem um grande volume de produção de aço bruto, mas ela vem numa crescente de aprendizado, também de melhoria de qualidade dos seus aços. Mas por que é o principal mercado? Porque faz metade do aço do mundo.
HL: Então, acaba que, mesmo que ela não use tanto nióbio por tonelada… qual é, geralmente, a quantidade de nióbio?
RL: A gente mede em gramas por tonelada, porque a quantidade de nióbio que vai dentro de um aço é 0,015%, 0,020%. O que a gente diz é que é uma pitadinha, e a gente instrui os nossos clientes a realmente usar a quantidade certa, aquilo que é necessário.
HL: É uma receita, mesmo.
RL: É uma receita. Nós temos uma equipe de assistência técnica que vai lá para dentro das plantas dos clientes, acompanha desde a fase de metal líquido até a expedição, então como é que a gente funde o material, como é que a gente acompanha o levantamento contínuo, como é que a gente faz uma laminação, tratamento térmico, para que a gente possa ter no final o melhor benefício dessa tecnologia. Nós temos, dentro do nosso quadro, pessoas que são especialistas na operação de siderurgia. Veja que são perfis diferentes: um é um perfil do pesquisador, né, que é aquela pessoa que está desenvolvendo uma nova tecnologia, o outro é o perfil de quem está operando uma planta siderúrgica, está em contato com o pessoal de operação lá, isso é outra coisa que a gente tem dado uma atenção maior. Nós temos um projeto aqui, que a gente chama de evolução, que é o quanto a gente consegue aumentar de contato com o nosso cliente. Além de falar com a pessoa de compras, a gente tem que falar com a pessoa de pesquisa e desenvolvimento, mas da pesquisa e desenvolvimento eu posso ter um projeto que teve um sucesso técnico, mas que acabou não virando um produto que foi implementado, então eu preciso falar também com a pessoa da operação.
HL: Que está ali no dia a dia da planta.
RL: Então, dentro desse projeto, o que a gente faz é uma expansão dos nossos pontos de contato para que a gente tenha uma intimidade maior com os clientes, para que a gente possa realmente verificar quais são as necessidades dele e como a gente pode ajudar.
HL: É uma coisa bem artesanal mesmo, é um atendimento muito pessoal, é customizado, segmentado.
RL: É bem customizado. Cada cliente tem sua tecnologia, equipamentos diferentes, então é muito importante que a gente conheça, esteja perto e tenha uma relação de confiança para que a gente possa prestar o melhor serviço.
HL: Você falou aí desse plano plurianual de até 10 anos, que aí já tem que olhar todo o cenário geopolítico, geoeconômico, e a gente passa por um momento, de certa maneira, de tensão nos mercados por conta do presidente Donald Trump, e a CBMM tem até um escritório nos Estados Unidos, então é um país estratégico para operação. Até que ponto você acha que, nesse ano, o resultado da CBMM pode ter interferências, seja na produção, em relação a essa política econômica que Trump colocou?
RL: Essa pergunta é uma pergunta até difícil de responder, porque as coisas ainda não estão claramente definidas.
HL: Sim, mudam a todo momento, inclusive.
RL: Mudam a todo momento. Até onde a gente tem visto aqui, por enquanto nós não sofremos impacto. Para não dizer que não sofremos nenhum, talvez algumas regiões que foram, inicialmente, mais expostas na possível taxação, alguns pedidos foram mais atrasados, então preferiram, de maneira mais conservadora, os clientes “deixa eu consumir algum estoque que eu tenho antes de colocar novos pedidos para ver o que vai acontecer”. Eu diria que isso já está sendo vencido, então já está voltando a um ritmo de compras normal, mesmo nessas primeiras regiões. O que eu imagino que vai acontecer, vamos falar de aço, né, que é o principal mercado, é que você pode ter alguma região que vai produzir mais, alguma outra região vai produzir menos, não acho que a demanda global por aço vai mudar. Então, pode ser que a gente tenha que vender um pouco mais numa região, um pouco menos na outra, e algum ajuste aí pode ser que essa questão toda das tarifas acabe causando no mercado. Pode sim ter algum impacto mais no curto prazo, mas eu acho que isso tudo depois se acomoda.
HL: Se equilibra, né, precifica bem. Pode interferir também na cotação do preço do nióbio? O nióbio, atualmente, é comercializado como? Em quilo, em tonelada, como está essa situação?
RL: O preço do nióbio é ditado pelas condições de mercado. O ponto que é muito importante de falar aqui é que a gente não compete só com os outros fabricantes de produtos de nióbio, a gente compete contra as tecnologias. Se você for pegar o nióbio na tabela periódica, os elementos vizinhos ali podem substituir o nióbio, dependendo do tipo de aplicação, então, muitas vezes, a gente vê que existe uma interpretação errada disso. A gente põe um preço que, para o cliente, o nióbio seja a melhor solução.
HL: Que justifique, né.
RL: Então, “mas por que você não sobe mais ainda o preço?”. Não, porque senão você pode ser substituído por uma outra tecnologia. Então, essa inteligência é extremamente importante.
HL: É um ajuste bem fino, Ricardo.
RL: É você saber até onde você pode ir para que seja uma vantagem para o seu cliente utilizar sua tecnologia e não a de outro.
HL: Porque senão ele começa a usar o do outro.
RL: É isso que define o preço do nióbio.
HL: Então ele oscila também dependendo das épocas?
RL: Ele não é uma commodity, então o que a gente fala para os nossos clientes, que eu acho que é uma grande vantagem, é o seguinte: nós temos uma política de preço bastante estável. Não é preço fixo, não estou dizendo que ele não vai variar, mas não é como uma commodity que tem uma volatilidade tremenda.
HL: Não é café, não é como o minério de ferro…
RL: Então, o que a gente diz para os nossos clientes é que eles não vão ter surpresas, eles sabem em que nível nós estamos transitando, eles podem fazer o seu planejamento para o seu ano, para o seu orçamento que não vai ter surpresas.
HL: A questão da mina, da parte que a que a CBMM tem em Araxá/MG, como está a reserva dela? É uma reserva para os próximos 100 anos, para mais de 100 anos, vocês já olharam novamente esses volumes?
RL: A gente tem investido, nos últimos anos, bastante em perfuração para que a gente possa ter um conhecimento ainda maior da mina, e eu diria para você o seguinte: nós temos, além do material que a gente chama de intemperizado, aquele material que já sofreu ação do meio ambiente, né, nós temos embaixo o que a gente chama de rocha sã, aquele material que ainda está protegido na rocha, e nós estamos agora pesquisando a rocha e, sem contar com a rocha, nós temos alguma coisa aí é em ritmos, contando um crescimento nosso de produção, certamente superior a 50 anos, contando que a gente vai ter sucesso no nosso plano de crescimento. Se fosse a ritmos atuais, seria ainda bem maior do que os 50 anos. Agora, eu não tenho dúvida que a medida que a gente avança nessa perfuração, no conhecimento da mina, as informações que a gente vai obter vão ajudar a elevar ainda mais, isso, então, eu diria para você que nós temos material, acho que não é esse o problema, nós temos material por um longo prazo.
HL: Essa questão de mercado aí que você falou, como vocês estão fazendo? Tem esses produtos novos, tem o mercado já tradicional da CBMM, mas tem tido a entrada de novos players? Isso preocupa, essa concorrência vai aumentando? Porque tem nióbio em qualquer lugar do mundo, não é só Minas Gerais que tem. Às vezes muita gente fala “ah, é só em Minas que tem”, e não é, né, gente.
RL: Então, você traz um conhecimento que, muitas vezes, as pessoas confundem. Se você for pegar o que o Brasil produz de nióbio, entre a CBMM e outros players que tem estabelecidos aqui também no Brasil, né, outros players, não é só um, o Brasil chega, assim, a cerca de 90% do que é produzido, mas minas de nióbio nós temos conhecimento de mais de 90 no mundo. Existe nióbio na Austrália, existe nióbio em vários países da África, existe na Rússia, existe no Canadá, existe nos Estados Unidos, então o nióbio não é raro, o nióbio é abundante. Por que que não tem mais empresas, então, nesse setor? Para mim a explicação é clara, é porque o mercado é muito pequeno. Então, o que está acontecendo é que o nióbio, com todos os esforços que a CBMM tem feito aqui de desenvolvimento de aplicações, ele está se tornando mais conhecido, e a gente espera sim que o mercado cresça. É natural que apareça algum novo concorrente? Eu diria que sim, né, e acho até que é saudável, não é esse o problema. A CBMM tem que estar preparada para ser sempre a melhor opção para que a gente possa manter os nossos clientes, hoje, e eles optem pela CBMM independente de quantos concorrentes serão, por ele achar que a CBMM é quem traz mais valor para ele, e aí que eu acho que a nossa estratégia baseada em tecnologia, em parcerias, em conhecer as operações do cliente, entender quais são as necessidades dele, ter um time técnico presente, seja de pesquisa, seja de essência técnica, é o nosso grande diferencial.
HL: E investimento robusto também, não é, Ricardo? Porque tem que ter um volume grande.
RL: É tudo investimento intensivo, sempre.
HL: Intensivos todo ano, né, nunca é pouca coisa.
RL: A gente tem uma preocupação tremenda em manter o nosso parque industrial, todo o complexo industrial, no que há de melhor no estado da arte, e até a nossa parceria com universidades, né, eu falei muito aqui de desenvolvimento de aplicações, mas o mesmo serve para o desenvolvimento dos nossos processos em Araxá. Então, também ao longo de 70 anos, todo o processo de fabricação, que esse é um conhecimento proprietário da companhia, ele foi sendo feito sempre com muito cuidado, tanto na práticas ambientais, então quem já visitou a nossa planta pode ver que é um jardim, a gente tem realmente uma preocupação ambiental que vem desde a fundação, isso é um valor.
HL: É uma questão de cultura da empresa, né?
RL: Eu digo para você, Helenice, quando a gente traz clientes do Japão, da China, da Europa, dos Estados Unidos…
HL: O que eles falam quando chegam lá?
RL: Eles chegam aqui e ficam surpresos com a qualidade dos nossos ativos, com a preocupação que a gente tem com o meio ambiente, com o que a gente faz pelas comunidades, também, através de projetos de responsabilidade social, então é um conjunto. Eu realmente adoro convidar os nossos clientes, ou seja quem for, também no lado institucional, a visitarem a planta, porque é muito difícil descrever em palavras, indo lá e vendo é outra coisa, a gente sente muito orgulho daquele parque que foi construído durante esses 70 anos.
HL: E está sempre se renovando.
RL: Eu digo que na CBMM os nossos antecessores, tivemos antecessores visionários, que construíram esse negócio sempre com uma responsabilidade social, ética, ambiental que foi exemplo, então é nossa grande responsabilidade manter a companhia nesse mesmo padrão de excelência em todos os quesitos. todos os quesitos.
HL: Você falou da sustentabilidade, na última conversa que a gente teve, você falou que um cliente da Índia surpreendeu pela primeira pergunta, que era em relação às emissões de gases de efeito estufa, quais eram as metas. Vocês continuam com aquela meta de zerar até 2040? Está perto, são 15 anos, vocês dão conta? (risos)
RL: Damos conta e a gente tem feito avanços, todo ano a gente vai acompanhando.
HL: Pode, então, até reduzir essa data?
RL: Eu não assumiria esse compromisso, acho que é até 2040. Por que eu te digo até 2040? Porque tem uma parte disso que exige adequações de processo de desenvolvimento, que é um conhecimento que a gente ainda está desenvolvendo. Então, se isso vier mais rápido, pode ser mais rápido, mas eu diria para você que o compromisso é 2040. Eu não poderia, hoje, afirmar, porque eu não tenho ainda todo conhecimento necessário para que isso seja executado, mas aquilo que a gente já tem conhecimento a gente está colocando em prática o quanto antes. No escopo 2, já é zero, porque nós temos toda energia elétrica oriunda de fonte sustentável, no caso energias renováveis que vem de um contrato com a Cemig, certificado pela Cemig, é tudo de fonte hidráulica. Então, isso, novamente, é um benefício que o nosso país, o estado de Minas Gerais, em particular, nos dá essa vantagem, somos muito gratos por a gente ter, realmente, essa oportunidade. E dentro do escopo 1, temos trabalhado fortemente para avançar a substituição de combustíveis de origem fóssil por combustíveis que sejam renováveis, temos parcerias com empresas que são fabricantes, estamos testando esses produtos, vendo que alteração de processo a gente precisa ter, Temos, hoje, uma equipe de processo também muito competente, com vários profissionais dedicados a esse tema. E como eu dizia para você, né, desde o início, desde a fundação da companhia houve esse conceito, houve essa mentalidade. Então, hoje a gente continua com a mesma mentalidade, com o mesmo conceito, adequando às necessidades de hoje e fazendo o melhor uso do que a tecnologia atual nos permite.
HL: Falando de Araxá, vocês têm feito uma cadeia de fornecedores cada vez mais regional, o que também elimina custos maiores de logística estando mais perto, e isso também é uma uma forma sustentável para a empresa. Como está esse olhar para o fornecedor local, para a economia local, para Minas Gerais? Vocês compram, digamos, mais de 50% dos suprimentos que vocês precisam dentro do próprio Estado, ali naquele raio da fábrica?
RL: Certamente, dentro de Minas Gerais certamente. Então, obviamente que a gente procura desenvolver fornecedores locais, fornecedores ali na região de atuação, na nossa planta em Araxá, cidades vizinhas, Minas Gerais, e cada vez mais buscar o desenvolvimento desses fornecedores, porque a CBMM, como uma empresa de atuação global que tem que primar pela qualidade, ela precisa que seus fornecedores também estejam a altura, é muito importante que os nossos fornecedores tenham condições de qualidade e de competitividade para serem inseridos na cadeia. Então, esse trabalho de parceria para ter um crescimento conjunto também, eu diria pra você, é prática de décadas já da CBMM
HL: O índice de nacionalização, então, é grande, dos fornecedores? Ou não, ainda precisa importar muita coisa?
RL: É grande sim, é grande. Nós temos aí, dentro dos nossos insumos, a maior parte disso é dentro do Brasil. O que a gente tem de materiais importados, muitas vezes, é na linha de equipamentos, quando a gente não encontra um fornecedor nacional
HL: E vocês estão também criando, ensinando os empreendedores locais a fazerem um negócio, a lidarem com o negócio, o que é um desafio, né? A empresa é assim, ela pode ser gigante, como a CBMM, mas a pequena também tem vários desafios. Como é esse trabalho? É um ganha/ganha, não é?
RL: A CBMM é muito consciente da sua responsabilidade social, mas o que a gente não quer é ter uma comunidade dependente da companhia. A gente quer incentivar Araxá e as regiões vizinhas para que tenham a sua independência. Como é que a gente pode, então, incentivar o empreendedorismo, capacitar as pessoas e desenvolver seus negócios? Dentro dessa linha, nós criamos, agora, mais recentemente, um projeto que a gente se inspirou numa outra grande mineração que já tinha, e a gente aprendeu com eles, acho que é muito importante isso, né, não inventamos, a gente aprendeu com uma outra empresa aí de referência, que é o projeto que a gente chamou lá de ‘Vai que dá, Araxá!’. O que é o ‘Vai que dá, Araxá!’? A gente observa que nós temos dentro da comunidade várias pessoas com perfil empreendedor, que tem boas ideias, mas são pessoas que nunca tiveram negócio, que tem uma dificuldade de transformar uma ideia realmente em alguma coisa que gere resultados, que gere renda. Então, nós pensamos o seguinte: essas pessoas muitas vezes precisam de um primeiro incentivo financeiro, então tem que dar algum recurso, obviamente.
HL: Tem que ter um capital de giro ali, né.
RL: Mas não só isso, porque esse dinheiro pode ser consumido rapidamente e depois, se não conseguiu, não foi para frente, isso acaba sendo perdido. O que nós vimos, que é mais importante do que o aporte financeiro, é dar um treinamento. Então, nós temos consultores nossos que vão lá e ajudam essas pessoas a transformarem as suas ideias em realmente um negócio, e ficam durante um ano, a princípio o programa previa 6 meses, a gente viu que dava resultado, as pessoas valorizavam isso, e 6 meses pareceu pouco, aí estendemos para um ano. A gente dá um valor de R$ 50 mil, ano passado tivemos 10 projetos, a gente seleciona projetos em qualquer área, não tem nenhuma relação com a CBMM, nenhuma relação com o nióbio, nós temos lá diferentes coisas que são vocações da região. Então, tem pessoas da área de perfumaria, tem pessoas que fazem alimentos, queijos da região, e a gente fica muito satisfeito de ver como um caso desse vira sucesso, a pessoa criou uma empresa, está gerando sua renda, começa a contratar pessoas, gera emprego, então essa que seria, eu acho, a filosofia a ser empregada: ajudar a ter uma comunidade autossustentável. Eu não estou dizendo que a gente não vá fazer doação, ajudar, mas a gente quer que as coisas vão além disso.
HL: A CBMM cresce, e também os empreendedores ao seu redor crescem, está devolvendo valor para a cidade, para a vida das pessoas, o que é o valor de uma empresa também, não é só performar números, eu tenho visto muito isso, essa mudança de de visão nos CEO’s.
RL: E esse conceito de responsabilidade social, eu acho que vem evoluindo também, sabe? Para que você possa realmente desenvolver esse conceito das comunidades autossustentáveis isso é fundamental.
HL: E eu acho legal, também, até te perguntei antes de começar, vocês continuavam lá no no museu, lá em Belo Horizonte, na Praça da Liberdade, no MM Gerdau, mostrando o nióbio, e continuam democratizando esse acesso para quem não vai a Araxá, mas vê lá na Praça da Liberdade. Isso é legal, não é, ter essa mostra de produto?
RL: Excelente iniciativa da Gerdau, e nós temos lá dentro uma sala em que a gente conta a história do nióbio, como é que veio, essa história toda do Djalma Guimarães, que eu te contei rapidamente, os principais usos, e por ali passam várias escolas, crianças, então acaba sendo um processo educativo bem interessante.
HL: São mais de 500 clientes. Essa busca por clientes vai continuar? Porque tem clientes que são longevos, estão com vocês já há muitos anos, mas têm esses produtos novos, mas também tem que estar buscando sempre novos entrantes, novos clientes para poder continuar segurando cada vez mais essa pirâmide de crescimento?
RL: Novos clientes e cada vez mais, também, nesses novos segmentos que a gente está atuando. Então, nós temos que desenvolver toda uma capilaridade que está numa fase inicial, tem muita oportunidade pela frente que é o que sustenta esse nosso plano de crescimento.
HL: Essa nova fábrica de Araxá ainda está numa fase de ramp up ou ela já está atendendo bem?
RL: Rump up.
HL: Rump up ainda, né, são poucos meses também, não é, Ricardo?
RL: O que nós temos, Helenice, são algumas linhas de produtos que não são novas. Ligas de nióbio que são aplicadas na Indústria Aeronáutica Aeroespacial, o próprio nióbio metálico que é utilizado em equipamentos de ressonância magnética, a CBMM já faz isso há décadas, detém conhecimento. O que a gente tem feito, essas áreas estão dentro dessa nova diretoria que a gente criou, foi justamente colocar mais pessoas dedicadas para a gente ter uma disseminação desse conhecimento por mais profissionais para que a gente tenha uma maior capilaridade no mercado e possa crescer ainda mais. Nós temos duas formas de fazer o crescimento: uma é acompanhar o crescimento orgânico dessas indústrias, e a outra é o que a gente chama de inserção, que é desenvolver, também, novas aplicações para esses produtos. Então, o que a gente tem feito é dar uma atenção maior a coisas que não são novas, mas que tem sem dúvida muitas oportunidades ainda para serem exploradas e que possam trazer um crescimento adicional, e aí alocação de recursos, mais dedicação, dá uma maior importância a esses produtos.
HL: Vocês estão com quantos engenheiros, atualmente? Tem crescido esse volume?
RL: Tem crescido. Se a gente pegar nossa área técnica, nós temos cerca de mais de 120 profissionais dedicados ao desenvolvimento, e a gente vem aumentando nos últimos anos até de maneira significativa, também por uma preocupação de formar uma nova geração. Nós temos contratado vários funcionários novos, temos um programa de trainee que é bem concorrido.
HL: As pessoas querem trabalhar na CBMM, querem usar essa camisa aí sua, né? (risos)
RL: Querem trabalhar, passam por um processo de seleção. Depois, a gente tem um índice de aproveitamento extremamente interessante desses trainne’s, que são os profissionais do futuro, vários deles já estão aí com 3, 4 anos de casa assumindo posições de liderança bem relevantes, e muitas meninas.
HL: Ahh, eu adoro isso, porque eu quero ver cada vez mais mulheres, Ricardo, quero entrevistar mulheres também, viu?
RL: Se você for lá em Araxá eu vou te mostrar várias que nós temos.
HL: E como é que já está, assim, uns 25%, mais ou menos, tanto na planta quanto na…
RL: Não chega ainda a 25%. A gente está formando essas pessoas, investindo nelas, nós temos um programa com Senai que forma mulheres para trabalharem na nossa operação, e hoje elas encontram um ambiente absolutamente acolhedor para elas, um ambiente de respeito, um ambiente de desenvolvimento, e a gente fica muito satisfeito de ver como que elas estão, realmente, agregando, estão fazendo com que a nossa cultura vá evoluindo.
HL: É diferente o olhar da mulher num negócio como esse? Elas olham mais detalhes?
RL: Muitas vezes sim. Acho que precisa ter um olhar, uma atenção… essas plantas químicas são plantas que você precisa ter uma preocupação ainda maior com temas de limpeza, e aí elas tem um olhar…
HL: Para não ter acidente?
RL: E você tem graus de exigência de pureza dos materiais e elas tem um olhar bastante clínico para isso.
HL: Ai, que bom, Ricardo, eu fico muito feliz de escutar isso, porque são áreas que elas, tradicionalmente, são muito masculinas, então eu acho que quanto mais a sociedade puder ser democrática, abrigar todos os sexos, gêneros, acho que fica uma sociedade mais pluralista.
RL: Tem sido uma experiência muito compensadora, viu, a gente vê que muitas têm crescido, obviamente por seus próprios méritos, são pessoas que estudaram, que se dedicam e que vão conquistando o respeito, vão entregando resultados e estão crescendo na companhia.
HL: Agora para terminar, me conta uma coisa aqui: como CEO, performar também na saúde é importante? Queria saber como é que você participa de outra maratona, Ricardo, como assim?
RL: Eu acho que cuidar da saúde é fundamental, porque à medida que você cuida da sua saúde, do seu estado físico, eu acho que o mental também vai junto. Eu corro há mais de 15 anos e esse ano eu resolvi assumir um desafio diferente, de maratonas. Eu já corri algumas, mas esse ano, por influência aí de alguns colegas, eu acabei aceitando um desafio de correr uma ultramaratona, vamos ver ainda se eu consigo, ainda não corri, né, é no dia 08 de junho, na África do Sul, uma ultramaratona chamada Comrades, são 90 quilômetros, vai ser a primeira vez que eu faço essa distância.
HL: Qual é a distância maior que você já fez até hoje?
RL: 42 quilômetros.
HL: Acima disso já é ultramaratona.
RL: Eu já fiz agora, nos treinos, né, junto com a assessoria esportiva que eu frequento aí há 15 anos, a gente já fez treinos de 55, aos fins de semana, temos feito, mas prova, a maior que eu fiz foi a maratona de 42.
HL: Você acha que dá diferença, assim, um CEO que está centrado também no esporte, no desempenho dele, no dia a dia? As ideias são mais claras, a objetividade, a disciplina com com tudo, você acha que ajuda?
RL: Eu vou falar por mim, o paralelo que eu traço entre a vida pessoal e a vida profissional. A gente tem aqui as nossas ambições de crescimento, então a primeira coisa é que eu preciso acreditar no crescimento para que as pessoas do nosso time possam acreditar, então eu preciso acreditar. A gente precisa de disciplina, certo, a gente precisa de resiliência, a gente precisa contornar adversidades que aconteçam no meio do caminho. Quando você pega uma prova como essa, eu fico pensando “puxa, as pessoas chegam para mim ‘mas você não vai conseguir’”, e eu sou o primeiro que tem que acreditar, eu tenho que acordar cedo para treinar, eu tenho que ter disciplina, tenho que ter resiliência. De vez em quando você tem uma lesão, e aí como é que cê faz?
HL: O que dá mesmo, muita lesão.
RL: Tem que fazer fisioterapia, musculação, fazer tudo isso.
HL: Você tem que ter uma alimentação voltada para um atleta.
RL: Então, eu acho que tem um paralelo forte que é modelo mental, sabe? Aquela questão de você buscar realmente um desafio e você fazer a sua organização, os seus sacrifícios, até, em prol do atingimento desses desafios. Eu acho que também acaba sendo um exemplo até dentro da família para os filhos, para os amigos, um exemplo dentro da companhia para que as pessoas também tenham um olhar para cuidar da sua saúde. Aqui na CBMM a gente tem programas de incentivo a prática de esportes, a uma alimentação saudável, a uma integração entre as pessoas, à medida que você está praticando um esporte junto, isso cria vínculos, aumenta a relação de confiança entre as pessoas, então respondendo a sua pergunta, eu acho que é muito benéfico, sabe? Eu tenho vários amigos executivos, de grandes empresas, que se dedicam a práticas esportivas, e quem entra nessa não volta atrás.
HL: É um antídoto para o dia a dia, porque em uma empresa… a sua agenda deve ser um desafio diário, né, e ela muda, ela tem várias vários percalços, altos e baixos, então isso aí também, em uma corrida, você vai vendo o caminho direitinho.
RL: E tem que ir buscando alternativas.
HL: É isso. Muito legal, Ricardo. Tem alguma coisa que eu não tenha perguntado que você ainda queira falar dessa fase tão boa aí da CBMM?
RL: Eu acho que nós passamos por todos os pontos importantes. Se eu puder resumir, hoje o nosso desafio é realmente essa agenda de crescimento. Nós temos aqui uma companhia que realmente é uma companhia que nos dá bastante orgulho, a gente tem orgulho do nosso passado e a gente tem um compromisso em continuar fazendo com que essa companhia seja uma companhia de sucesso. A gente não passa por uma transformação, uma companhia com esse sucesso não precisa de transformação, a gente passa por uma evolução. Então, evolução de adequação aos desafios que o mundo nos coloca hoje, isso tudo passa por a gente ter uma equipe que seja muito integrada, uma equipe que trabalhe junto, mas ninguém tem aqui uma bola de cristal, nenhum conhecimento sozinho, então a gente precisa de sinergia, de complementaridade de conhecimentos, humildade das pessoas para que possam um aprender com o outro.
HL: Aceitar ideias, né.
RL: É isso, e no final, nós até lançamos aí, recentemente, o que a gente chama de nossos valores, e é muito isso, sabe? Ser movido por desafio, é acreditar, ter a inovação como estratégia da companhia, ter aquela cabeça empreendedora, excelência naquilo que a gente faz, é nisso que a gente acredita e a nossa companhia, eu acho, está com uma cultura bastante madura apoiada nesses valores.