Braulio Braz, 76, presidente do Grupo Lider, é o quinto entrevistado da temporada Minas S/A Governança em todas as plataformas de O TEMPO até agosto.
Fundado em 1957 em Muriaé (MG) por José Braz – pai de Braulio, descendente de imigrantes e ex-carpinteiro –, o Grupo Lider tem mais de 100 concessionárias e cinco lojas físicas do Carlider em operação, 75 mil veículos vendidos em 2024, com uma fatia de 3,5% do mercado nacional.
Braulio, no comando da companhia familiar há 58 anos, registrou faturamento de mais de R$ 5 bilhões em 2024, tem 4.000 colaboradores diretos e presença nos Estados de: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná.
O grupo revende veículos das marcas: Volkswagen, Chevrolet, Fiat, GAC, Honda Motos, Hyundai, Jeep, Omoda & Jaecoo, GWM, Ram e Toyota.
Braulio fala sobre as outras empresas do grupo: Rodoviário Lider, Áquila Corretora de Seguros, Lider Drive, e Consórcio Nacional Lider. Além disso, ele fala sobre os desafios do setor, a lucratividade e a compra de novos ativos.
A seguir, a entrevista na íntegra com Braulio Braz:
HL: Braulio, sua empresa está enorme, está em vários Estados, mas eu queria que você contasse um pouco sobre o início, porque as pessoas acham, assim, “nossa, ele está nesse sucesso todo, parece que foi uma jornada fácil”, e não foi, não é? Sua família, seu pai, que é o fundador da empresa, era uma pessoa muito humilde, um ex-carpinteiro. Como vocês foram chegar em Muriaé? Ele era Imigrante, né, veio de onde? Conta um pouco sobre essa história.
BB: Começar falando do meu pai é muito bom. Meu pai foi um parceirão meu, sou o primogênito. Quando eu nasci, meu pai ainda era marceneiro, trabalhando junto com o pai dele. Um ano depois de eu nascer, ele comprou um caminhão e foi para a estrada. Imagina como era no ano de 1949 as estradas no Brasil, né.
HL: Se hoje tem problema, que dirá na década de 1940.
BB: Isso foi em 1949. E em 1957 ele criou a empresa, e depois de 1967 nós começamos com o negócio de concessionárias. Ele comprou uma concessionária da Chevrolet em Muriaé, era uma concessionária pequena ainda, para aquele tempo, e meu pai pediu que eu fosse tomar conta do negócio.
HL: Mas por que vocês foram se estabelecer em Muriaé? Tem alguma explicação, assim, da família de imigrantes?
BB: Tem e é uma coincidência enorme. A minha avó veio da Itália e meu avô veio do Líbano, isso foi do lado da minha mãe. Do lado do meu pai, a mãe dele, de origem Franco Suíça, e meu avô paterno é italiano, de família italiana. Agora você veja: do lado da minha mãe, a minha avó chegou da Itália, na cidade de Muriaé, no mesmo quarteirão que o meu avô libanês. Ele chegou no mesmo quarteirão com ela e aí eles se casaram (risos).
HL: Amor à primeira vista, né. (risos) Duas pessoas chegando num país totalmente diferente.
BB: E por incrível que pareça, muita gente tem até dificuldade de acreditar num negócio desse, meu pai comprou uma concessionária pequena e falou “você vai tomar conta, você vai cuidar desse negócio”, mas eu não mas eu não sei vender carro, e ele falou “você aprende, eu também não sei”.
HL: Nossa, mas assim do nada? Ele cismou de comprar a concessionária?
BB: Não, não é bem do nada. O papai tinha uma empresa de transporte…
HL: Já tinha uma transportadora de leite, né.
BB: Exatamente.
HL: Já mexia, então, nessa área.
BB: Com certeza. Igual eu te falei, ele criou a empresa dele em 1957, e esse negócio da concessionária é em 1967.
HL: E você queria mexer com transporte de leite? O que você queria fazer da vida, Braulio?
BB: Eu gostava de oficina mecânica, de caminhão, eu gostava disso. Aí ele falou “não, meu filho, você não pode ficar aqui comigo, não tem lugar para você aqui. Vamos fazer um negócio para você trabalhar”. Aí eu fui mexer com esse negócio de carro e estou aqui até hoje.
HL: (risos) E está aí desse tamanho.
BB: No dia 29 de maio de 1967 eu fui trabalhar. Só para você ter uma ideia de como meu pai era, na verdade essa empresa ele comprou para assumir no dia primeiro de junho, mas como era dia de semana, ele falou “você vai trabalhar dia 29 de uma vez”. Eu cheguei na empresa e o pessoal que estava lá falou assim “vocês compraram aqui para o dia primeiro”, eu falei “meu pai mandou que eu viesse hoje para já ir conhecendo na empresa”. E assim foi a vida da gente até hoje, de salto em salto a gente foi crescendo um pouco.
HL: E o seu pai é interessante, eu me lembro que ele foi prefeito de Muriaé, né, e quando ele morreu, ele estava com 97 anos e exercendo o cargo de prefeito, era o prefeito mais velho do Brasil.
BB: Nessa eleição que ele ganhou, no ano de 2020, estava em pleno Covid, a coisa estava feia, e ele assumiu assim mesmo. Para quem não sabe, ele foi prefeito pela primeira vez com 79 anos, ele só trabalhava, mas ele amava a cidade dele, ele queria fazer uma cidade melhor e conseguiu muita coisa. Ele ficou 8 anos lá, depois ficou 8 anos fora cuidando de outros negócios nossos, empreendimento imobiliário, loteamentos, e ele fazendo isso, não era o Braulio junto, o meu negócio é concessionária e aqui estamos até hoje.
HL: Ele tinha a vida dele de empresário e você a sua.
BB: O dono era ele, né, eu era sócio.
HL: Era ele que mandava, né. (risos) O dono do dinheiro era ele.
BB: Mas ele fez um trabalho muito bonito durante a vida dele. Um desses trabalhos que ele fez foi transferir o patrimônio dele, em grande parte, que ele esperava durar mais tempo, em grande parte ele destinou o patrimônio para os 9 netos que ele tem até hoje. Então, os 9 netos já estão bem colocados, todos têm onde trabalhar e está indo tudo muito bem. Sabemos que temos dificuldades, mas por sorte nossa, o nosso negócio é bem diversificado, também no negócio de concessionárias.
HL: A família toda trabalha no negócio de concessionárias?
BB: Não, nem todo mundo, porque temos empreendimentos imobiliários, tem empresa de transporte.
HL: O portfólio é bem extenso. O Grupo Líder não é só concessionárias, ele tem transportadora, tem empresa de seguros, né?
BB: Tem que ter.
HL: Tem área imobiliária também. Isso foi ideia sua? De fazer essa ramificação nesses vários setores?
BB: Você não pode ficar com um sentimento só de prisão, né, vamos dizer assim, temos que abrir para a gente poder, como fizemos também com relação às marcas de carro.
HL: Ou seja, quando um negócio não está muito bom, o outro preenche, né? A estratégia é essa?
BB: O negócio de automóvel tem muito isso, altos e baixos. Tem novidades também, tem que estar junto as novidades também que aparecem no mercado.
HL: E aí o importante é ter essa diversificação, mas hoje o carro chefe do grupo líder é a área de concessionárias?
BB: Com certeza.
HL: Você considera isso? E aí, qual foi o maior ensinamento que seu pai te deu para você perenizar a empresa do jeito que ela está, há 68 anos no mercado?
BB: O meu pai, é muito interessante mesmo, a vida dele toda foi assim, ele gostava de falar o que era bom, o que era ruim ele nunca falava nada. Se ele não gostava de uma pessoa, ele nem falava o nome da pessoa durante a vida toda, mas eu acho que nem teve alguém que ele não gostasse. Mas ele sempre nos ensinou a trabalhar. Eu, não só eu, mas algumas pessoas da família, como eu, não estudaram muito, elas gostavam de trabalhar, por isso que eu, com 18 anos, virei administrador de concessionária de automóvel. E ele apoiava sempre, nunca falava não, se fosse comprar alguma coisa, ele falava “pode comprar, compra”, assim que ele fazia. Daí ele deu um sentimento muito forte de crescimento para as empresas, e em função dos funcionários também. Você pode ajudar seus funcionários, seus parceiros, têm que ter negócio, não é cortar na carne.
HL: O time tem que estar incentivado também no bolso, né.
BB: Nós, hoje, temos muitos executivos contratados, mas ao longo de muitíssimos anos nós decidimos colocar pessoas criadas no próprio grupo. Agora realmente não tem mais jeito, porque cresceu, está crescendo muito rápido.
HL: Vocês têm que chamar profissionais de outras áreas, mas tem gente lá no grupo já há mais de 30 anos, por exemplo?
BB: Eu tenho uma pessoa que ficou comigo 58 anos desde que eu trabalho e eu fui o primeiro a dar emprego para ele. Eu não sabia bem o que era a empresa, o negócio, como a gente ia fazer na empresa, e tinha um senhor lá em Muriaé que pediu para eu dar um emprego para o filho dele. Esse filho dele tinha um ano a menos que eu, e eu falei “coloca ele na oficina”, para tirar onda de que eu estava mandando. E esse cara ficou comigo até agora, você acredita?
HL: Olha só. Ou seja, a empresa é boa, né.
BB: E igual eu falei, 29 de maio foi o 58° ano da nossa empresa de concessionárias. Então essa pessoa estava junto com a gente e agora foi descansar, mas é descansar na terra, não é no alto não (risos)
HL: Aposentou, né. Você pensa em se aposentar, Braulio? Você está com 76 anos.
BB: Eu não tenho o direito de me aposentar, porque eu gosto tanto das empresas, gosto de conhecer pessoas na empresa, gosto de ver o que está acontecendo…
HL: Gosta de dar entrevista.
BB: Não, entrevista não gosto não.
HL: Uai, não gosta não? Mas você está tão à vontade aqui, gente?
BB: Porque você é bacana, Helenice.
HL: (risos) Mas você estudou até quando? Você fez o Ensino Fundamental, fez o Ensino Médio…
BB: Fiz até o Ensino Médio
HL: Você não quis fazer faculdade? Você queria trabalhar?
BB: Eu fiz um curso de Contabilidade na época em que eu estava estudando, era o que eu podia fazer a noite, porque eu não tinha paciência de ficar estudando muito, mas deu certo. Claro que se eu fosse um médico, talvez eu fosse o dono de um hospital, talvez se eu fosse advogado, eu tivesse um escritório grande de contabilidade, mas eu quis me enveredar no Comércio e eu gostei.
HL: O comércio tem que ter um lombo forte, não tem? Porque todo mundo que trabalha no comércio fala: “olha, as margens são pequenas, são curtas, então você tem que ganhar muito no volume”. Se for ganhar no ticket médio, nem sempre é o que dá certo, mas no seu caso é um é um ticket médio alto, né, se a gente for considerar a renda média do brasileiro. Hoje, um carro popular custa mais de R$100 mil, então é uma ginástica constante que você faz.
BB: O nosso negócio não é só o carro novo, é o carro novo, o carro usado exato… Então, a gente tem um trabalho forte em cima disso, são financiamentos, seguros, entendeu? Então, tem uma série de segmentos dentro do nosso negócio que faz com que a empresa consiga o resultado, mas o carro-chefe é o carro novo, começa a operação por aí.
HL: É por ele que a pessoa entra e se fideliza com todos os serviços do Grupo Líder.
BB: Exatamente.
HL: Braulio, você achava que você chegaria nesse tamanho todo com o Grupo Líder? São mais de 100 concessionárias, mais de 4 mil funcionários e mais de R$5 bilhões em faturamento.
BB: É gozado o seguinte, de vez em quando eu penso nisso, nas coisas que a gente tem. A gente nunca pensou em ter, não tinha necessidade de ter, a gente tinha um trabalho, tinha amigos, tinha a confiança das pessoas, para mim foi muito importante essa confiança das pessoas em mim.
HL: Acreditar no seu nome, que o Braulio vai entregar o produto.
BB: Aconteceu, inclusive, um fato desse. Meu pai me colocou para trabalhar e ele estava por trás procurando ver as coisas que eu estava fazendo, vendo se eu estava fazendo direito. Claro que ele confiava em mim, mas tinha a preocupação de dar certo ou não dar certo. E teve um caso que o Diretor Financeiro da General Motors, um dia em São Paulo, falou com ele: “o senhor está vindo aqui para poder saber como estão as coisas, e se for por causa do seu filho, o Braulio, o senhor não precisa vir mais não”. E ele não me contou de jeito nenhum, ele demorou não sei quantos anos, eu não guardei o tempo, se foi 10 anos, 15 anos para ele me contar.
HL: Então ele demorou a acreditar no potencial do Braulio?
BB: Não. Ele queria me apoiar, ele apoiava muito, ele tinha o hábito de apoiar as pessoas, então se querem fazer, querem trabalhar, ele estava junto, e deu certo, porque eu gostei mesmo, sempre gostei de caminhão e essas coisas.
HL: Então, assim, a empresa foi crescendo por conta do trabalho mesmo, muito trabalho para chegar a esse ponto, mas como que você fez para a empresa crescer? Você vendia e aí juntava o dinheiro, reinvestia no negócio? Conta para a gente o segredo dessa multiplicação de concessionários, Braulio?
BB: Helenice, me desculpa falar, mas tem muita empresa maior que a nossa.
HL: Tem, mas é um dos maiores conglomerados do setor automotivo do país, o Grupo Líder. O Grupo é responsável por 3,5% das vendas no país, do setor automotivo, é muita coisa, Braulio. Isso faz muita diferença no resultado do setor automotivo se não tiver o Grupo Líder, né. Então, assim, tem uma estratégia de negócio aí, não é? Conta um pouco para a gente sobre essa coisa, tinha uma concessionária, depois duas, três… como o negócio foi replicado?
BB: Você tem que ser fiel ao seu fornecedor, tem que ser fiel ao seu funcionário e ser fiel aos seus clientes. Aí está o triângulo que pode fazer a coisa funcionar. Agora, está dentro do contexto da empresa, do conjunto da empresa em si, tem muitos pormenores que nós temos que cuidar.
HL: Me conta alguns exemplos que são desafiadores para levar o negócio adiante. Por que o Grupo Líder cresceu desse jeito e está só crescendo, daqui a pouco a gente vai falar mais sobre isso, está só aumentando a expansão aí para outras marcas e o outro grupo não cresceu tanto? O que faz o Grupo Líder ter tido esse crescimento ao longo dos 68 anos?
BB: Trabalho forte e acreditar nas coisas. O grupo tem 68 anos, mas as concessionárias são 58.
HL: Mas esse trabalho depende do que? É preço melhor para o cliente, fidelizar o cliente em todos esses produtos que o grupo tem, negociar um preço melhor com a montadora, ou não? Me diz onde é o tendão de Aquiles do setor de concessionárias.
BB: Não tem, porque é o seguinte: em primeiro lugar, sobre o que você falou, as fábricas não podem vender um carro para a concessionária mais barato do que para outra, não é permitido. Na hora de você vender para o cliente também, você tem que saber que o cliente tem a opção de comprar vários produtos. Então, tem que ter um preço bom, tem que ter a qualidade boa do produto e condições boas de financiamento, de troca do veículo, isso são detalhes por detalhes do negócio, da operação. E financeiramente, como eu falei antes, reinvestir o dinheiro no próprio negócio, e sem lucro ninguém vive, né. Às vezes a gente passa por dificuldades, nós tivemos dificuldade já, nós como negócio de concessionárias, os anos de 2015, 16 e 17 foram horríveis.
HL: Foi aquela crise terrível depois do governo Dilma, aquela transição com Michel Temer, o país entrou numa crise profunda. Você considera que aquela foi a pior crise para as concessionárias de veículos do país?
BB: Não dá para avaliar. Já passaram várias situações no Brasil, nós passamos e sofremos muito.
HL: Você já passou pelo confisco do Collor, na década de 1990.
BB: Antes do Collor teve também o Sarney.
HL: Com o Sarney que a inflação era 1000% ao ano.
BB: Vendia-se no Brasil mais de 1 milhão de veículos e caiu para 570 mil no ano seguinte. Olha como fica o nosso negócio, quem tiver muita dívida não aguenta.
HL: Aí teve a abertura do mercado de repente, sem preparo algum.
BB: E outra coisa interessante é o seguinte: a fábrica nos encaminha negócio também. Por exemplo, tem muitos grupos aí, grupos bons, bem capitalizados, mas que não querem mais continuar no negócio, não tem sucessores, o negócio é muito difícil de tocar, não é fácil, tem que estar muito presente no negócio. Então, muitas vezes a gente consegue com as montadoras novos negócios, negócios esses que estão surgindo e negócios que já existem, e as pessoas querem sair do negócio, então isso ajuda muito a gente quando a gente é fiel a marca. Nós temos mais de 10 marcas que nós somos fiéis. Somos fiéis naquele momento que estamos trabalhando para eles, trabalhando com seriedade o produto que eles oferecem, o atendimento ao cliente.
HL: A capacitação, aquele relacionamento montadora com a concessionária, porque sem as concessionárias as montadoras não vivem. Teve uma época que foi muito falado assim: “ah, agora o cliente vai comprar diretamente na internet, ele vai montar o carro dele e comprar”, aí esqueceram que o cliente precisa ter aquela experiência de ir lá experimentar o carro.
BB: Começar só por um detalhe, o recall. Olha a quantidade de recall que tem nas empresas. Como faz para trabalhar sem concessionária? No momento que o cliente vai lá na marca x, que vai lá tratar o problema do carro dele ou do negócio que foi feito, não é a fábrica que está sendo atendida através de nós? E nós fazemos um esforço especial para isso.
HL: Não tem como né, precisa de uma jornada completa. A montadora não vive sem a concessionária, a concessionária não vive sem a montadora, e toda aquela área mecânica, o atendimento. Você acha que o trabalho da área mecânica de uma concessionária é caro? Porque eu vejo muitos consumidores reclamando do preço da concessionária.
BB: Olha, você não sabe como baixou o preço das peças, tem abaixado seguidamente o preço das peças. O fabricante precisa também colocar um carro no mercado e depois ter o atendimento, às peças originais que a gente fala. Então, as peças estão baixando de valor simultaneamente.
HL: E elas estão abaixando, por que a indústria nacional está conseguindo fazer mais aqui e importar menos tecnologia?
BB: Custos menores.
HL: Mais robôs, né. Eu tenho visto muito chão de fábrica de montadora, de auto peças com muitos robôs, e eles falam “se a gente não colocar o robô a concorrência coloca”.
BB: E além de ter rapidez tem qualidade, né. Robô não pode errar.
HL: Braulio, e a gente falando sobre as concessionárias, você falou que são mais de 10 marcas, então é muita marca para mais de 100 concessionárias. O que acontece de não ficar só com uma marca, não ser revendedora exclusiva de uma marca? Isso faz com que tenha mais clientes ou é perante a concorrência é muito melhor você ter mais marcas? Como que faz isso, assim, qual é a importância de ter essa quantidade de marca?
BB: Houve uma época em que as fábricas não queriam que tivesse mais nenhuma montadora diferenciada da deles, houve esse período e eu passei por ele. Nós tínhamos uma marca, aí não podia ter uma segunda marca. Aí começou a ter a mudança, porque naquele tempo tinham quatro marcas no Brasil, só quatro marcas, depois chegaram mais duas ao mercado e foram para seis, e hoje quantas tem? Então, não tem condição de uma pessoa crescer se está diminuindo a possibilidade de venda nossa. Mais marcas, mais modelos, e o cliente é o mesmo, então o cliente pode optar. Então, hoje as fábricas não se preocupam mais com isso, porque eles querem que a gente compre mais concessionárias ainda da marca deles, mesmo a gente já tendo de outras.
HL: E como você tem feito isso nas concessionárias? Porque, por exemplo, eu estou vendo concessionárias que tem mais de uma marca dentro dela, está virando multimarca.
BB: Isso é totalmente proibido, nem podia se falar nisso, mas agora algumas marcas diminuíram o volume de vendas, então é justo que surja outra marca para juntar com essa. Na verdade, não é para juntar, vai usar o espaço.
HL: Ela precisa otimizar o espaço da concessionária.
BB: Tem muita concessionária antiga que é muito grande, é maior que o necessário. No nosso caso, do Grupo Líder, está tendo um investimento muito forte em concessionárias, em instalações, aqui perto de você tem uma concessionária nossa nova, a Valore Fiat.
HL: Braulio, agora falando de concessionárias ainda, vocês fizeram, agora, está na moda falar retrofit, não é, do espaço, modernizaram a Valore, que fica perto da fábrica da Stellantis, em Betim, é uma das mais modernas do país.
BB: Fizemos jus a marca. A marca merece, nós temos outras concessionárias Fiat e Jeep também, e eu acho importante falar, Helenice, que nós da família Braz sempre quisemos ter o próprio negócio nosso, e por quê? O pensamento era, se nós tivermos um negócio de outra pessoa e nós vamos montar uma concessionária ali dentro, repito, nós pensávamos assim, daqui a pouco essa pessoa fala “o aluguel agora vai ser tanto!”, e não vai valer a pena mais, estamos com ponto ali e estamos perdendo o local. Aí tudo o que a gente fazia era nosso, mas chegou um certo ponto que não tinha mais jeito. A gente, hoje, constrói imóvel de terceiros, menores, seu risco é menor, eu falo risco, porque se um dia se eu, com uma concessionária daquele tamanho da Recreio BH, que você conhece, da Mila, aqui em BH, da Recreio do Rio de janeiro, do Espírito Santo, Vitória…
HL: É, a Recreio em BH tem 36 mil metros quadrados, é uma das maiores da marca Volkswagen no país.
BB: 36 mil metros quadrados de área construída.
HL: De área construída, é um volume enorme, haja carro para ocupar e para vender. (risos) Você tem o controle de tudo, assim, você tem uma tecla lá no computador que você aperta e vê toda a venda por metro quadrado da concessionária?
BB: Tenho não. Eu costumo ficar em torno de 1 hora e meia em cada expediente, ou de manhã ou de tarde, umas 2 horas. O meu negócio, eu não fico no escritório fechado, eu sento, analiso as coisas, tem o celular, a gente está viajando por aí e está olhando, mas nós hoje eu ando muito nas empresas.
HL: Como você faz? Porque são vários Estado.
BB: Eu viajava muito, era demais. Agora, de um tempo pra cá, eu estou me doutrinando. Por exemplo, aqui em Belo Horizonte, que é o centro aqui dessa região de Minas Gerais, eu venho aqui três dias por semana no mês. Na semana seguinte, eu vou no Rio de Janeiro, fico três dias também, porque lá no Estado do Rio eu tenho muita revenda, né, e depois tem o Espírito Santo, e Curitiba eu não estou indo lá nem mensalmente, porque só tem 4 concessionárias lá, o meu filho, que é Diretor do Rio de Janeiro, tem essa obrigação de ir lá ao menos uma vez por mês e está fazendo isso bem feito. Então, eu estou ficando mais folgado em tempo para olhar mais outras revendas, porque pensa bem, para você andar nesse negócio todo, é muita coisa. Eu passo em Campos, são 4 concessionárias, eu passo em Macaé, são 4 concessionárias.
HL: Em cada cidade você tem mais de uma concessionária, então você precisa ir de carro também, né?
BB: De avião é só de Muriaé para Vitória, de Muriaé para Belo Horizonte, de Muriaé para o Rio.
HL: E nessa sua experiência toda de concessionárias, qual é o jeito de comprar de cada consumidor no país? Porque todo empresário que eu converso, que tem um grande negócio, um conglomerado, as pessoas falam que o Brasil é muito diferente em cada região, o consumidor tem um tipo de estilo para consumir. Você vê isso no carro também? Um que gosta mais da marca A, o outro da marca B, ou aquela região ali mais rica gosta de um carro mais elaborado, mais cheio de itens?
BB: Isso aí tem mais a ver com bairros. Por exemplo, em Belo Horizonte nós temos lugares que nós temos concessionárias que têm um cliente e um público mais elevado, e tem outra região que já é um comprador normal. As pessoas, no meu modo de entender, procuram, quem sai de casa para comprar um carro quer, às vezes, um carro de R$50 mil, que é um carro usado, mas aí também eu tenho outro que vai querer um carro de R$70 mil, vai ter outro que vai querer um carro novo de R$100 mil, como você falou, e tem outro que quer um carro de R$150 mil. A pessoa compra o carro em primeira mão pelo valor que ele quer gastar, depois ele vai procurar onde está aquele carro que ele quer comprar. Por R$300 mil, por exemplo, R$250 mil, ele já sabe mais ou menos quanto custa o carro, ele não vai lá para chegar e falar assim “quanto custa esse carro? É 300 mil, mas eu só tenho 100 mil”. Então, o cliente já sabe muito bem, e aí fazendo parênteses nesse assunto aí, é muito importante lembrar que hoje o cliente já está começando a olhar muito menos o preço e mais a qualidade. A tecnologia embarcada, hoje, é muito grande, é comum uma pessoa ficar duas horas dentro do carro conversando com o vendedor para aprender, e quando a pessoa não está totalmente já com o conhecimento da coisa, quando vai ser entregue o carro também, é uma hora, uma hora e meia mostrando o carro, senão a pessoa não usa o carro na plenitude
HL: É muito dado, hoje o carro está totalmente tecnológico em tudo, está bem melhor para o cliente. Está mais fácil vender carro, ou não?
BB: Não está tão fácil, porque nós já chegamos a 3 milhões e meio de carros vendidos no ano e agora temos 2 milhões e meio, quer dizer, passados já 12 anos disso. Quer dizer, nós ficamos meio perdidos no quantitativo, mas veio a qualidade, o produto brasileiro, hoje, é muito melhor do que era antes, não é isso?
HL: Isso é verdade.
BB: Todo mundo sabe. Você vai entrar num carro hoje é muito diferente.
HL: Antes vinha aquele carro pelado, sem nada, hoje não. Hoje já vem completo, com ar-condicionado, todo aquele painel multimídia. Você dirige ainda ou não, Braulio?
BB: (risos) Agora eu gostei. Eu cheguei no meu carro aqui, Helenice. Veio um companheiro meu, que está me acompanhando aqui, só para eu não vir sozinho.
HL: Você gosta de carro tecnológico ou você gosta daqueles mais manuais?
BB: Eu adoro carro, adoro dirigir, isso eu falo aos 4 ventos, sou apaixonado com carro.
HL: Você tem um museu de carros lá em Muriaé, né?
BB: Tenho, mas aí são os carros antigos.
HL: Você tem quantos carros?
BB: Uns 51, 52 carros, mas são carros que nós tivemos no Brasil, vivemos junto com eles. Aqueles carros que nossos pais usaram eu não tenho muito não, tenho um carro de 39, mas eu tenho alguns carros. O que eu fiz? Quando eu pude, eu tinha um Opala diplomata e em 1992 eu usei o carro, e quando chegou na hora de eu trocar de carro eu falei “não vou vender esse carro não”. Aí guardei o carro e aí comecei a procurar carros próximos daquilo que eu já tinha trabalhado. Depois, chegou um certo ponto que eu já comecei a guardar os carros novos. Vou dar um exemplo, o Vectra, teve três tipos de Vectra no Brasil. Os dois vectras mais novos são zero quilômetro, o primeiro deles eu comprei usado para poder formar o trio. Daí para frente só carro zero quilômetro. Volkswagen tem todos os Gol.
HL: Você tem aqueles mais antigos também, tipo Fusca, Fiat 147, Rural? Você gosta de guardar esses tipos a Kombi?
BB: Nessa época do 147, eu não tinha concessionária da Fiat ainda. No caso da Volkswagen sim, eu não tinha o Volkswagen ainda, mas nós tínhamos, nós brasileiros, aquela fobia com o Fusca, né. O Fusca eu comprei um Fusca 1986, zero quilômetro, foi o último carro, aí depois o Itamar veio refazer o Fusca, de 1994 a 1996, temos três Kombi também, que são também diferenciadas…
HL: A Kombi é linda também, né, aquele volante dela.
BB: Tudo Kombi zero quilômetro, mas alguns carros não tiveram jeito, eu tive que comprar carros que eu convivi com eles, mas eu convivi quando eu não tinha dinheiro para ficar guardando carro.
HL: É diferente ter agora esses carros e poder ter o carro que você quer, né, mas você é daqueles que gosta daqueles de carros super tecnológicos, caríssimos, cheios de...
BB: Mas que pergunta, Helenice. (risos)
HL: Você trabalha com carro, né, Braulio, é para a gente saber como funciona.
BB: Eu gosto do bom, não precisa ser ótimo. Eu ando de carro o dia inteiro, vou andar num carro que seja sofisticado demais.
HL: Chama muita atenção também, né, não dá.
BB: Às vezes chama atenção mesmo. (risos)
HL: Você gosta de carro colorido?
BB: Não.
HL: Sabe o que é interessante, eu fiz uma entrevista com o Emanuele Cappellano, o novo CEO da Stellantis, e ele falou que, como todo bom italiano, ele adora carros coloridos, e que ele tem verdadeiras discussões lá com os engenheiros, no bom sentido, que ele quer carros coloridos. Só que aí eles lá têm aquela visão de que é um carro que vende menos, então os carros que vendem mais são o branco, o preto, o cinza. Carro no Brasil ainda continua com essa questão da revenda? Ou um dia a gente vai ter essa coisa de ter mais carro colorido, porque na rua eu vejo pouquíssimo carro colorido.
BB: Você bota um carro vermelho no salão, por exemplo, todo mundo acha ele bonito, mas não compra, compra de outra cor, a gente vende pouco carro vermelho, por exemplo.
HL: Mas ele compra a cor neutra para vender melhor, quando ele for passar para frente?
BB: Não sei… ele não quer aparecer muito com a cor, né, o carro quando ele é sofisticado, quando ele é muito bom, pode ser cinza, pode ser preto, todo mundo vê… uma Ferrari tem que ser vermelha, né. (risos)
HL: Mas tem uma amarela também que é bonitona, que fica legal. A gente vê em São Paulo, aqui a gente não vê não, mas em São Paulo a gente vê naquela Oscar Freire lá, a gente vê de tudo lá, aquelas cores todas. Esses carros ultra esportivos, você pretende entrar algum dia na revenda deles ou é um mercado muito específico? O core business de vocês, como o pessoal gosta de dizer, o que você acha? Você já está num mercado muito consolidado, que não precisa de olhar para outros mercados?
BB: O que acontece: mercado tem altos e baixos, de repente um mercado está altamente vendedor e às vezes está totalmente comprador, então é difícil você pegar, por exemplo, uma marca x, uma marca premium, é difícil você achar uma concessionária que vai vender, e quem está lá dentro entende do negócio, colocou um capital muito grande, para sair fora daquele negócio vai custar muito mais caro ainda, é melhor manter aquele negócio, porque às vezes tem um negócio de carro premium, não tão grande assim, tão sofisticado assim, que vai ganhar mais dinheiro do que quem tem que concessionária de carros comuns, que a gente usa por aí. Então, nós optamos mesmo e não temos esse tipo de marca, também se apareceu algum dia, foi uma opção boa, já apareceu, mas apareceu nós num momento que não era interessante para nós.
HL: Sim, então vocês já foram sondados?
BB: Nós somos mineiros.
HL: O mineiro é desconfiado, ele fica com um pé atrás, “mas se a gente já sabe mexer com um negócio, aí vai entrar no outro vai ter que ter todo um funcionário já preparado para aquele tipo de ticket”, são carros aí de mais de R$2 milhões.
BB: O maior problema é o endividamento que você pode entrar nele, então não temos interesse.
HL: Como é o endividamento do Grupo Líder? Vocês têm dívida, aquela coisa que todo mundo olha, né, relação de dívida líquida versus ebitda, o que tem no caixa é saudável?
BB: Muito saudável. Nós somos S.A., nós somos obrigados a abrir a contabilidade. Nosso ano de 2024, que terminou, aumentamos em 30% a lucratividade e com isso nós também diminuímos muito o endividamento. O endividamento nosso é muito pequeno, está lá escrito pra quem quiser ver, nós temos um caixa do tamanho da nossa dívida, se quiser pagar tudo hoje, paga. Nosso jeito de ser é assim, tem companheiro nosso, colega nosso, que são mais agressivos, nós estamos esperando, vamos devagar, porque não somos só nós, tem outra geração ainda, meu pai, meu cunhado, tem os meus filhos trabalhando, não são crianças, são pessoas na faixa de 50 anos, 45 anos, então nós queremos que eles tenham uma segurança no negócio, não estamos aqui para fazer aventura.
HL: É a perenidade do negócio, né, para a quarta geração, para a quinta geração, para a empresa passar dos 100 anos. Essa é, pelo menos, a vontade de toda marca.
BB: Se nós olharmos aqui no Brasil quanta empresa grande, não estou falando de concessionária não, quanta empresa grande aí vai bem anos e anos e de repente está vendendo imóvel para Banco para pagar aluguel… tem que fazer um jogo de pode e não pode. Não pode ter uma posição só, como ter concessionária só alugada.
HL: Porque você também fica na mão do dono do imovél, ele pede o imóvel acabou, né, você perde aquela localização, e a concessionária também é muito localização, não é, Braulio?
BB: Existe uma pesquisa que mostra que onde passa muito carro, ou onde as pessoas compram muito carro, eles não estão olhando o carro, eles estão passando e estão olhando, porque ele não vai trocar de carro toda semana, não é isso? Então, quando a pessoa for comprar ela vai lembrar daquela que ele passa perto dela todo dia, muitas vezes, e também a grande parte do nosso negócio é fidelidade do cliente. O cliente gosta da gente, eu participo, vou nas empresas, hoje mesmo já fui, já vi, o cliente veio conversar comigo.
HL: Mas eu acho que é isso, você é o dono. O cliente sabe quem é o dono, ele conversa com o dono.
BB: Às vezes o vendedor está atendendo o cliente, eu passo e cumprimento o vendedor, aí o cliente pergunta “quem é esse aí?”. Aí eu converso com a pessoa, mas é pouquinho, para não atrapalhar o vendedor a fazer a venda.
HL: Mas isso é uma empresa familiar, não é? A governança dela é 100% familiar.
BB: Estou deixando de olhar a burocracia do negócio e eu estou dividindo isso com os sucessores. Eu não posso ficar só com a burocracia e nem obrigar aqueles também a serem burocratas, ser aquele cara que chega na concessionária, joga a chave do carro, manda encher o tanque, manda limpar e sobe para o escritório. Isso não funciona, o nosso negócio é muito tete a tete. O consumidor, por mais simples que seja, ele quer ser confiante em comprar ali.
HL: É isso, ele quer ser bem tratado, quer chegar e conversar com as pessoas.
BB: Nos grandes centros tem gente cliente que nem vai comprar carro, é o motorista dele que compra o carro para ele, mas são poucas pessoas que tem essa facilidade. Carros blindados, por exemplo, as pessoas compram e esperam. No Rio de Janeiro nós trabalhamos com bastante carro blindado.
HL: Lá é natural ter o carro blindado, muita gente já gosta de sair da concessionária com o carro blindado.
BB: A gente vendia blindado ou a gente blinda o carro para vender.
HL: Vocês mesmo já estão fazendo esse negócio, quer dizer, o Grupo Líder está verticalizando o negócio todo para não depender de terceiros?
BB: A gente tem os parceiros também.
HL: Sim, né, por exemplo, o transporte dos carros não dá para ser feito pela própria concessionária, você estava me falando isso antes de começar o programa, que a montadora não deixa, não pode. Então isso aí vocês nunca vão verticalizar o negócio a esse ponto, mas, por exemplo, tudo é uma forma de negócio. A blindagem é mais no Rio de Janeiro mesmo ou aqui em Minas você acha que já está também caminhando?
BB: Aqui tem um pouco também, algumas pessoas que usam.
HL: Mas não é aquela coisa assim, então, não é igual São Paulo, Rio de Janeiro?
BB: São Paulo tem cidades enormes, a gente fala São Paulo as pessoas acham que é a capital, mas não é, as grandes cidades de São Paulo usam também carro blindado.
HL: Campinas, você vai para o interior tem São José dos Campos, Ribeirão Preto, são cidades que têm um PIB enorme. Braulio, como é que está agora a expansão do grupo? Você está sempre comprando concessionária? Agora você vai me contar as novidades do Grupo Líder.
BB: Hoje eu fui visitar uma concessionária nova nossa, lá em Sete Lagoas, da Volkswagen, vim de lá hoje e está tudo prontinho, funcionando. É bom
HL: É bom isso, né. Você olha a cidade, vocês fazem um estudo da cidade para ver se vale a pena comprar?
BB: A gente tem que ter conhecimento do negócio, não pode só alguém achar que vai lá.
HL: A cidade é boa, o povo é rico e vai ter muita venda.
BB: É, e nós não estamos centralizados, nós estamos na posição da região Sudeste, fora o negócio do Paraná. Então, nessa região nós estamos bastante consolidados nela, com relação a parcerias, aos funcionários, aos clientes…
HL: Agora vocês compraram mais duas concessionárias Volkswagen.
BB: Aqui em Belo Horizonte, né. Aqui em Belo Horizonte tinham quatro grupos de concessionárias Volkswagen, cada uma tinha 2 lojas. Agora, então, nós conseguimos comprar a Realto, que é uma empresa muito tradicional, uma empresa que tem um corpo de funcionários muito completo e nós sempre tivemos uma atração grande por ela, como parceiros, mas nunca pensamos que eles fossem vender para nós, mas aí quando chegou a hora nós estávamos preparados para aquilo também.
HL: É uma empresa familiar também. E aí, você tem, assim, mais ou menos, o investimento que precisa ser feito por ano para comprar essas concessionárias, ou vocês não divulgam isso? Mesmo a empresa sendo uma SA tem uns números que são estratégicos.
BB: É o seguinte, nós passamos por um momento muito interessante em que as redes de concessionárias ganharam muito dinheiro, ganharam bastante dinheiro de uns anos para cá, depois da pandemia, mas não foi só carro, teve supermercado também, apartamento e casa. Então, nós tivemos que investir esse dinheiro, já que ganhamos, tivemos que investir, e não foi investir só em comprar novas empresas, melhorar também as nossas empresas, o investimento nosso foi altíssimo nesses dois anos e meio.
HL: Nesse enxoval das concessionárias, né. Hoje elas têm que ter tudo para você experimentar o carro, os móveis têm que ser diferentes e isso tudo custa.
BB: A qualidade de atendimento também é muito medida pelas fábricas.
HL: Vocês ganham vários prêmios com isso, né?
BB: Ganha prêmio, ganha bônus também. Antigamente era mais prêmio mesmo, você ganhava um prêmio, hoje é mais é resultado, porque se a fábrica estiver dando resultado para nós, concessionária, nós podemos ajudá-la mais ainda a melhorar o seu negócio.
HL: O Grupo Líder vendeu no ano passado 75 mil unidades. Isso entre novos e usados?
BB: Novos e usados, e, também, só para completar, em 2012, nós falamos naquela hora a respeito do quantitativo de lojas que tem hoje, nós vendemos 111 mil unidades, isso há 12 anos atrás, agora nós vendemos 75 já crescendo o número de concessionárias. Então, quem estiver no negócio tem que saber administrar os custos daquilo, porque aumenta o custo e você vende menos, como faz?
HL: A conta não fecha.
BB: Alguém vai sair do mercado.
HL: Por isso você acredita que está acontecendo, de certa forma, uma concentração no mercado? Por exemplo, vocês estão comprando um grupo tradicional no mercado, o grupo Realto, isso vai acontecer cada vez mais?
BB: As fábricas estão reclamando, às vezes, dessa palavra concentração. No nosso caso, uma marca que nós trabalhamos, forte, que é a Volkswagen, nós já estamos falando em concentração no sentido de que nós já estamos com muita concentração.
HL: Mas foi aprovado pelo CADE.
BB: Nossa região, olhando a Volkswagen, é Rio, Espírito Santo e Minas. Então, nós temos uma participação muito grande dela aqui, mas o nosso negócio vai indo muito bem com relação ao atendimento da fábrica. Não é que a fábrica vai querer que eu compre mais carro ou que eu compre mais peças, não, o importante é que ela está sabendo que nós estamos atendendo bem, e eles conhecem o nosso patrimônio, eles conhecem o nosso caixa, conhecem a segurança financeira que nós temos, eles vigiam a gente e a gente tem que achar que é correto.
HL: E o Brasil é tão grande, né, quer dizer, vocês estão numa região, tem muito mercado no Brasil inteiro, tem outros grupos aí também no país, né, mas a tendência, de certa forma, porque para você ter uma concessionária, o investimento é alto. Então, assim, eu falei aqui “faturou mais de R$5 bilhões no ano passado”, neste ano vai ter um faturamento maior, porque tem mais concessionárias, então aumenta, é mas desse volume você tira um monte de coisa, tira imposto, tira custos, o lucro líquido mesmo, a receita líquida é muito menor do que isso, né, Bráulio?
BB: Quando a gente compara com algumas empresas, a gente não estava aqui falando o nome de ninguém, porque tem muita gente melhor do que nós, não é só pior, mas a nossa média é muito grande em relação ao resultado. Isso que eu estou falando é uma coisa pequena, uma coisa é pequena a mais, aí consolidamos cada vez mais o nosso caixa para fazer mais negócio.
HL: O que acontece com o carro no Brasil? Eu entrevistei, na temporada passada, vários CEOS executivos de montadoras e todos foram unânimes em falar que o carro é caro no Brasil. Primeiro, por conta dos impostos, mais de 40% de um valor de um carro é imposto, e olhando do lado da concessionária, você acredita que é basicamente imposto que deixa o carro caro? Quando a gente vai para fora do Brasil ver aqueles carros bem mais baratos… essa eletrificação vai mudar esse cenário?
BB: Bom, falando de o carro ser caro. Muita coisa é cara no Brasil. Por exemplo, os custos trabalhistas fazem com que o funcionário ganhe menos dinheiro do que ele mereceria ganhar. Então, o Brasil, nesse ponto, é difícil de ser consertado, não sei se algum dia vai consertar, mas não tem necessidade de ter tanto imposto. A imprensa mostrou, você deve ter visto, que o brasileiro paga, por ano,149 dias de impostos, e o resto ele come. Para você ver que loucura que é isso. A energia elétrica, combustível, isso são energia para o país, foram usados para aumentar a receita do Estado, da União. Então, o que acontece, chegou num ponto que ficou caro demais, só que é o seguinte, como funciona a política, o dinheiro que eles recebem, eles vão gastar ele todo, não vão guardar. Raramente Prefeitos, alguns Governadores têm dinheiro em caixa. Espírito Santo, por exemplo, está bem, Espírito Santo tem dinheiro para pagar tudo que tem, a dívida todinha deles, o caixa deles paga toda a dívida que eles têm, e demorou, assim, 10 anos, 15 anos, fizeram o dever de casa.
HL: Igual você faz o dever de casa como empresário, com as suas concessionárias, com todo seu negócio.
BB: Eu acho que se o empregado ganhasse mais, o nosso carro não seria caro
HL: A produtividade seria maior, ele renderia mais e compraria mais carros.
BB: E nós vamos continuar estudando esse negócio, mas nós queremos nosso cliente fiel, o cliente tem que ganhar mais.
HL: E você quer vender cada vez mais.
BB: O nosso cliente quer um bom preço e nós também temos que ter um salário bom do funcionário, porque hoje as pessoas estão saindo de emprego para poder ficar trabalhando em emprego sem segurança nenhuma, eles abrem mão de tudo naquela empresa que trabalha para ir para uma lojinha mexer com automóvel, com moto, essas coisas. Eles estão trabalhando, mas não estão trabalhando dentro da lei, e o custo da nossa lei é muito alto.
HL: A pessoa quer ganhar por hora, ela vai embora para os Estados Unidos para ganhar por hora, é complicado. Agora, uma forma, também, de melhorar as vendas, que eu tenho visto, por exemplo, o Grupo Líder, você agora representa marcas que já estão no mercado da eletrificação há um bom tempo, né, já tem chinesas que já estão aí. O que você acha que vai acontecer com o nosso mercado, Braulio? Eu quero saber isso de você, porque você acompanha o mercado automotivo, você acompanhou todas as fases do mercado automotivo brasileiro, digamos assim, são mais de 5 décadas aí, você tem toda a história do nosso mercado desde aquele carro mais simples, depois o pró álcool e agora a gente vive um novo momento, um novo pilar no setor automotivo que é completamente disruptivo, como eles gostam de falar agora, né, é a palavra do momento. É por aí que o consumidor está querendo ir ou não, ele vai querer um carro híbrido, já que o elétrico aqui está demonstrando que ainda não tem toda essa infraestrutura para aguentar um 100% elétrico, para onde que você acredita que o que o mercado caminha, já que você entrou nesse mercado também, está representando essas marcas?
BB: O carro elétrico ou o carro híbrido, a mesma coisa, é uma novidade que tem no Brasil, mas isso não vai ficar tão complicado, porque as fábricas que não tinham carro eletrificado vão trazer para o Brasil também os carros, então o portfólio daquela fábrica vai ter os carros a combustão e vai ter também os carros, devagarzinho, vai chegando, vai entrando dentro do portfólio deles. E eu vou continuar vendendo esses carros de outras marcas, não são só as montadoras que estão chegando que vão tomar conta do negócio, e outra, os nossos carros eletrificados, as nossas marcas, também são consolidadas, as marcas são boas, os carros são bons.
HL: Você acredita, então, que as chinesas não são uma ameaça para o mercado, que tem mercado para todo mundo?
BB: Claro que uma fábrica, por exemplo, só de combustão, que não tem carro elétrico ainda, pode ficar temerosa, preocupada com o chinês, mas por outro lado, também, aqui tem um custo Brasil quando produzir um carro, lá de fora, se for um custo muito menor, ou então tiver subsídio do Governo, aí tem que se fazer uma análise, porque não pode acontecer isso também.
HL: É concorrência desleal, dumping.
BB: E também, esse número de concessionárias que estão aí, à medida que for vendendo o carro eletrificado, eles vão ter que ter assistência técnica, porque tem que ter. Então, não pode correr muito também, dá tempo dos nossos fabricantes aqui evoluírem com os carros híbridos, é o que eu acho que é mais fácil agora, mais correto.
HL: Fazer essa migração.
BB: E por outro lado, o carro elétrico deve ser usado mesmo só por quem anda dentro da cidade, mesmo tendo 400 quilômetros de autonomia, mas não adianta, porque ele vai andar, você fica com medo de voltar, de faltar energia para ele.
HL: Você já imaginou? Vai lá para Montes Claros, para o norte de Minas…
BB: Não chega lá.
HL: Braulio, agora, ainda falando sobre essas novas tecnologias e novas marcas, vocês fazem um trabalho bem apurado para colocar aquela marca, para ser o representante daquela marca no Brasil? Porque a gente já teve aí, num passado recente, várias marcas que vieram para o Brasil e depois simplesmente foram embora, e o pós-venda, quem comprou, vendeu o carro simplesmente para o ferro velho, porque não tinha peça, não tinha nada. O que vocês estão tomando cuidado, agora, desse passado recente para que isso não aconteça de novo aqui no Brasil?
BB: Bom, tem X marcas hoje chegando de fora, porém o nosso grupo tem três marcas dessas que chegaram agora, e vão ficar por aí, tentar crescer aquelas lojas e cuidar daquele negócio, porque não tem jeito de você representar todas as marcas, e nem ficar com uma marca só também, porque aí é temerário também se não der resultado. Então, o Conselho Executivo, temos um Conselho Executivo, que não sou eu, sou do Deliberativo, eles estão cuidando, em como fazer um projeto que seria mais seguro para nós.
HL: (risos) Gente, o Braulio é muito legal, ele não entrega o ouro, mas não pode, né. Mas, assim, é claro que quando a marca tem fábrica no Brasil, né, tem um pós-venda consolidado, é muito melhor de lidar, porque é claro que todo mercado, e aí a gente não está falando só do automotivo, tem os forasteiros mesmo, todo mercado tem, toda profissão tem, não é Braulio? Então, esse cuidado tem que tomar mesmo para não cair na história da carochinha, porque o consumidor, se ele tiver uma uma experiência não tão boa com uma concessionária, ele não volta nunca mais, não é? Eu sou assim.
BB: Sabe o que está me chamando a atenção? Nós temos um negócio de carro usado muito grande, a gente recebe muito carro usado de outras marcas, ou das marcas nossas mesmas, só que é o seguinte, está sendo muito interessante que esse pessoal que está comprando esses carros, os carros mais caros, de 200 mil para cima, eles estão trocando o carro muito depressa. Então, são pessoas curiosas, mas não estão trocando em outro modelo, é na mesma marca ou outra marca similar àquela marca que tinha antes, isso eu estou achando interessante. É impressionante o número de carros com menos de um ano de uso que estão sendo trocados, nós temos uma boa quantidade desses carros no estoque usados.
HL: E isso, você acha que está acontecendo por quê? O consumidor quer novidade, ele teme uma desvalorização, fica com medo?
BB: Porque tem uma faixa que tem uma condição de vida melhor, uma condição econômica melhor, então ele compra os carros, ficam lá um ano e troca outra vez. Aí o que acontece, isso é ruim ou é bom? Isso é bom, porque antigamente a pessoa não tinha novidade nenhuma, vou trocar esse carro? Então, hoje tem muita novidade para ele trocar de carro e nós estamos aí à disposição para vender.
HL: Que bom, né. (risos) Braulio, com tudo isso, a gente já está terminando, mas eu queria saber o seguinte: você tem uma história como parlamentar, como deputado, grande, foram quase duas décadas, e vai voltar? Ano que vem tem eleição.
BB: Em fevereiro do ano que vem eu vou decidir. Eu tenho ficado esse tempo parado, né, dois anos e meio, eu trabalhei muito no Conselho Deliberativo, trabalhei forte mesmo, não era ficar sentado na cadeira no computador, e nós andamos nas concessionárias, andamos nas empresas para saber da realidade, do que estão fazendo e o que é necessário fazer. Então, apoiando as pessoas, nós não estamos aqui comandando, nós não estamos comandando mais, nós temos que ajudar e apoiar as pessoas que estão trabalhando. E você sabe que melhorou muito o negócio? Ficou muito mais tranquilo, se você olhar o balanço de 2023 e 2024 é diferente
HL: Pelo fato de você estar lá olhando.
BB: Não, é o pessoal estar motivado. Todo mundo quer ter alguém que ajuda aí, entendeu?
HL: E com a experiência, né, a experiência toda que você acumulou ao longo desses anos.
BB: Mas você perguntou lá atrás e a resposta ficou meio complicada, você falou assim “ao longo do tempo você deve ter visto muitas crises, muitas mudanças”, não foi? Aí no negócio as pessoas falam “não, mas como é que está mudando rápido”, só que o negócio mudou a vida inteira. Quando vem algum funcionário meu falar “Braulio, como está mudando rápido as coisas” , eu falo “então seja rápido, porque sempre mudou. Aquele que não mudou, ficou para trás”. Quantas pessoas que saíram do ramo, saíram com dinheiro até, às vezes, mas não querem investir aquele dinheiro no negócio dele, tem medo.
HL: Quer deixar o dinheiro no Banco, rendendo.
BB: Você tem que acreditar que você pode, que o seu negócio é um bom negócio,
HL: Você não pode desistir do seu negócio, tem que perseverar, porque crises vão e voltam, vem e depois vai embora, vem outra.
BB: Não podemos passar vergonha, tem que saber atender o nosso cliente, o nosso fornecedor, o financeiro nosso tem que ser muito bem controlado.
HL: Porque senão aí enrola o meio de campo. Braulio, a gente tem que terminar, meu Deus, tem tanta coisa ainda para perguntar, mas depois você volta numa outra vez para contar sobre mais empresas aí que você está comprando, tenho certeza que isso vai acontecer. Olha, muito obrigada pela sua presença aqui, foi uma aula que eu tinha certeza que ia acontecer, você é um exemplo de que não existe etarismo no mercado, você está aí com 76 anos…
BB: Vamos colocar sete sete?
HL: Já vai fazer sete sete?
BB: Em setembro vou fazer sete sete.
HL: Parabéns! Mas sabe por que eu fiquei falando e pontuando isso tudo durante a entrevista? Porque o mercado tem essa coisa de “não, a pessoa já está mais velha, já tem que sair fora mesmo, já deu o que tinha que dar”, e não é isso, você acabou de falar aí que você está ali olhando, o funcionário está motivado que está sendo acompanhado. Então, assim, não existe idade, queria que você deixasse essa mensagem final para as pessoas que acham que já estão velhas, que não podem mais voltar para o mercado e trabalhar.
BB: A hora que eu sentir que as pessoas não querem a gente mais, que nós estamos atrapalhando, aí nós temos que mudar. É mudar o hábito que a gente tem de fazer isso ou aquilo, mas eu acho que vai ser difícil, porque nós temos essa sinergia muito grande com nossos executivos, uma sinergia muito grande. Eles conversam o tempo todo com a gente, não precisa ficar incomodando a gente não, mas eles conversam o tempo todo sobre os negócios que estão acontecendo, o que eu não estava entendendo ontem, hoje é diferente.
HL: E você faz essa mudança rápida.
BB: Não tem competição, eu estou apoiando, eles que estão resolvendo, o Conselho Executivo que está resolvendo, está dando certíssimo.