Heraldo Marchezini, CEO da Biomm, é o quarto entrevistado da Temporada Minas S/A Governança em todas as plataformas de O TEMPO.
Fundada em 2001, a Biotecnologia Minas Gerais (Biomm) produz medicamentos biológicos, são 10 produtos aprovados pela Anvisa.
A Biomm abriu a indústria de biotecnologia em Nova Lima (MG) há 1 ano num investimento total de R$ 800 milhões e já tem planos de expansão.
A formação societária da Biomm, além do Grupo Walfrido, tem os seguintes investidores: BNDES, Grupo Cedro Participações, a gestora de recursos WNT, o BTG e os acionistas com pouco mais de 30% das ações.
A Biomm atua nos mercados de diabetes, oncologia, hospitalar e oftalmológico.
Marchezini contou que em 1 ano de operação, a Biomm já fabricou 2,7 milhões de unidades de insulina glargina.
Em 2025, a fábrica produzirá 10 milhões de unidades de Glargina e em 2026 vem a produção em capacidade máxima de 20 milhões de unidades.
A próxima rodada de investimentos é de R$ 12 milhões na automação.
A Biomm tem duas vias de crescimento: licenciamentos como a semaglutida que aguarda a queda da patente e a produção de novos produtos (insulina e outros injetáveis).
O primeiro trimestre de 2025 para a Biomm resultou numa receita líquida de R$ 39,6 milhões com 40% do mercado brasileiro da insulina Glargina, fatia maior do que grandes players mundiais que estão no Brasil.
Agora, a Biomm passa por um aumento de capital privado da ordem de R$ 57 milhões.
A seguir, a íntegra da entrevista com o CEO da Biomm, Heraldo Marchezini:
HL: Heraldo, muito obrigada por ter vindo aqui no Jornal O Tempo, a sua disposição de ter esse tempo para a gente, para explicar uma indústria fantástica que eu acho que vai ser um novo eldorado para o Brasil. Tudo bem?
HM: Tudo bem, obrigado pelo convite, Helenice, é um prazer estar aqui, e a gente, sim, terá em Minas Gerais um grande polo, potencialmente a partir da expansão e o crescimento da Biomm, numa indústria que é uma indústria, não do futuro, do presente, e que significa, nos dias atuais, uma questão estratégica, além de ser uma questão social no combate às doenças de uma população brasileira cada vez mais envelhecida, com doenças crônicas, então o acesso aos tratamentos dessas doenças que vem com a idade se torna muito importante do ponto de vista social, e no mundo atual, ter a produção localizada é um fator de estratégico.
HL: A gente viu bem na pandemia o que aconteceu. Mas, Heraldo, antes de a gente começar a falar sobre esse portfólio que é muito amplo da Biomm, para quem não sabe a Biomm já existe desde 2001, quando foi formada pelo grupo do ex-ministro Walfrido Mares Guia, família Walfrido, e ela foi uma cisão, um spin-off, como vocês gostam de dizer, da Biobrás. Como se deu isso de lá para cá, como é que foi chegar nesse ponto?
HM: Tem um momento da cisão, onde a patente desenvolvida pela Biobrás é mantida na Biomm, os profissionais principais que fizeram essa patente e produziram biotecnologia de uma maneira pioneira no Mundo também ficaram na Biomm. Houve um período de desenvolvimento tecnológico para outros países, e em 2013 para 2014 houve uma recapitalização e a empresa voltou a ser uma empresa ativa no mercado brasileiro, mas partindo praticamente como um greenfield, porque todas as questões regulatórias tinham evoluído, tinham passado um tempo de Anvisa, de regulamentações, por exemplo, uma RDC 55, que é a resolução da direção colegiada da Anvisa, que criou toda a regulamentação para a aprovação de produtos biotecnológicos no Brasil. Então, era necessário, naquela largada, nessa nova fase a partir de 2014, construir uma empresa praticamente do início, e foi isso que a gente fez. Então, já se passaram 11 anos, nós ficávamos num escritório na Praça da Assembleia (em Belo Horizonte), hoje estamos em Nova Lima (MG), no Alphaville, numa planta estado da arte mundial…
HL: De 100 mil metros quadrados, né.
HM: Uma área grande, 12 mil metros construídos de tecnologia, uma fábrica que todos os visitantes internacionais ficam muito bem impressionados, e sobretudo, nós temos hoje 10 produtos aprovados na Anvisa. Começamos a comercialização no fim de 2019 com um produto para biossimilar na oncologia, antes mesmo de irmos para as origens da diabetes, lançamos o Glargilin, que é a marca de insulina glargina, durante a pandemia, em situações muito restritivas.
HL: Não dava para visitar ninguém.
HM: Constituímos uma empresa, hoje, que já chega a uns 165 colaboradores. Então, o faturamento é crescente, a gente considera hoje uma empresa operacional, porque nós temos a fábrica operando, e muito em breve a plena, temos toda a estrutura comercial de distribuição para todo o sistema de saúde do Brasil, farmácias, Governos Estaduais, hospitais…
HL: Todas as autorizações da Anvisa, né, que é altamente regulada, uma das mais exigentes do Mundo.
HM: Foi um bom tempo de trabalho para as autorizações, e hoje nós vendemos inclusive para o Ministério da Saúde em licitações e temos mais de 12 parceiros internacionais que permitem que a gente tenha um portfólio que transcreva a necessidade de que a gente falou no começo de medicamentos para doenças crônicas produzidos pela via biotecnológica.
HL: Heraldo, antes de a gente entrar propriamente nesse portfólio, às vezes muita gente me pergunta assim “quem são os donos da Biomm?” Além da família Walfrido, que tem aí 8%... outro dia eu mediei um debate com o Lucas Kallas, da Cedro Participações, que também tem esse volume mais ou menos. tem o BTG, tem a gestora de recursos WNT, tem o BNDES… como está composto, hoje? Ela tem capital aberto na Bolsa também, na B3, como é, hoje, essa formação dos acionistas? Não sei se eu esqueci alguém aqui, porque são a família Walfrido, mais os acionistas majoritários, e depois vem os acionistas da Bolsa, né.
HM: Eu acho que, historicamente, devemos considerar os fundadores da família Mares Guia. O Marcos, que era o irmão do Walfrido, que era o grande cientista e que infelizmente faleceu precocemente, mas ele era o fundador juntamente com Guilherme Emrich, que tinha visão estratégica de negócio junto com Marcos, alguém de conhecimento tão elevado em biotecnologia. Então, a Biobrás, e por consequência a Biomm, nasceu com um conceito de biotecnologia nos anos 1970, e o Brasil perdeu essa chance incrível, porque estava à frente do seu tempo, e a visão do Guilherme também foi de ter uma empresa aberta, então a Biobrás também já era aberta. Então, nós, hoje, temos um cap table bem diverso em função de aumentos de capital que surgiram e, sobretudo, pela entrada de empresários e investidores que miram no longo prazo, que veem a necessidade clara de uma empresa nacional atuante na área de biotecnologia e que veem, sem dúvida, um potencial econômico de retorno de investimento no longo prazo para uma demanda claríssima da população. Então, essa diversidade atrai aqueles que são interessados no negócio e que também carregam os nossos valores de endereçar a necessidade brasileira, ao mesmo tempo que traz retorno aos investidores. Então, eu acho que, como nós nascemos já como uma empresa aberta, nessa cultura, a governança que a gente tem hoje na B3… é o que eu falo, a gente tem uma governança de altíssimo nível, se a gente faturasse mil vezes mais seria exatamente o mesmo trabalho, mas isso também gerou uma cultura de governança, um conselho equilibrado, com participações que mudam em função do novo cap table e que trazem novas ideias, novas dinâmicas, e que eu também acho muito saudável para a empresa para a gente seguir, na atualidade, com investidores novos que entraram em janeiro, por exemplo, como o Lucas (da Cedro), que traz energia, que traz uma dinâmica para uma empresa crescente.
HL: É, não é só o dinheiro, tem que acreditar no projeto.
HM: Não é só o dinheiro, tem que entender e saber que isso tem um impacto muito grande. Eles entendem bem isso, nós temos, na verdade, investidores também em São Paulo, o BTG acaba sendo o administrador de alguns investidores que também acreditaram muito antes.
HL: Que é uma marca forte também, então o mercado vê como um projeto sólido.
HM: Agora, quem investiu em 2013 para 2014 foram, realmente, pioneiros corajosos no ambiente brasileiro, muito antes de… então, a TMG. juntamente com o Walfrido e o Guilherme. tiveram uma grande participação, no sentido ativo do negócio, num momento que era muito desafiador.
HL: Era só neblina, né, você não via a coisa totalmente como está hoje.
HM: Era um PowerPoint, era uma ideia. Então, hoje, passo a passo, ano a ano, claro que se tornou cada vez mais concreto. A minha piada interna na Biomm é assim “a gente saiu do estado gel e agora a gente solidificou”, porque no gel a gente teve que se adaptar a muitas coisas, nós passamos por pandemia, várias mudanças de Ministro da Saúde, dólar… enfim. Então, tem um ambiente macro, que a gente soube se adaptar, e estamos hoje podendo atrair novos investidores que têm uma visão, agora, mais clara do que é a situação e mais concreta, porque evidentemente nós estamos hoje líderes no mercado de insulina da glargina, então tem fatores bem mais claros.
HL: Tem mercado, tem uma demanda altíssima. Você estava me contando sobre o portfólio, as pesquisas que eu fiz tinham a questão da insulina, produtos de oftalmologia, para oncologia também, mas o que a gente vai vendo, por exemplo, a Biomm chegou a uma produção de 2 milhões e 700 mil unidades da insulina. Até o momento, nesse primeiro ano de fábrica, esse ano de 2025 vai chegar a 10 milhões e ano que vem 20 milhões. Quer dizer, agora já saiu da fase de ramp up mesmo, já está agora em plena produção, consolidada, mas é um mercado ainda que tem várias fronteiras pela frente só esperando a autorização da Anvisa e quebras de patentes. Mas eu queria que você começasse falando um pouco, primeiro, da insulina, Heraldo. É uma revolução para um mercado nosso aí com 16 milhões de diabéticos, só 3 milhões se cuidam. Meu pai era diabético, gente, eu convivi com essa doença a minha vida inteira, com os dramas da doença, que é gravíssima, mas tendo um tratamento, ela é altamente controlável. E a Biomm, pelo fato de ela não ser uma farmacêutica, ela é uma indústria de biotecnologia, tanto é que o nome é Biotecnologia Minas Gerais, que é a sigla Biomm, como que se dá todo esse desenvolvimento tecnológico agora? Vamos começar pela insulina, assim, do que que é esse portfólio tão amplo que vocês têm.
HM: É o nosso legado. A Biobrás nasceu como uma pioneira da biotecnologia, ou seja, a insulina humana recombinante da Biobrás.
HL: Ela só fazia insulina humana, né.
HM: Só fazia insulina humana, porque naquela época, era o momento exato da descoberta, de pouquíssimas empresas no mundo, e a gente até vai poder falar disso mais adiante, de que já naquele momento ela competia com as grandes multinacionais do Hemisfério Norte, que são líderes em diabetes. E ao lançar essa recapitalização da Biomm, estava um projeto focado, inicialmente, na insulina, e nós fizemos a atualização do que é a realidade do mundo. Ou seja, o tipo de insulina que nós escolhemos para validar a planta, e que hoje é produzido na planta de Nova Lima, é a insulina glargina. A insulina glargina é insulina basal, que compete com a insulina humana. A insulina humana recombinante é a reprodução daquilo que o nosso corpo faz. A insulina análoga glargina é uma molécula desenhada e melhorada no seu tempo de permanência no corpo.
HL: Não tem aqueles picos, né.
HM: Que dá uma estabilidade para o paciente e é basal, porque tem que ser tomada todo dia, independente do que está comendo. Então, essa é a insulina de maior volume no mundo.
HL: É a mais demandada atualmente, pelo efeito dela.
HM: Todo paciente insulinizado precisa tomar um basal todo dia, então é um volume muito grande. Dito isso, a glargina, praticamente há 20 anos atrás foi lançada.
HL: Nossa, como esse mercado é longo, né.
HM: E já naquela época era dominante na Europa e em vários países em desenvolvimento, e hoje ainda mais, mas o Brasil demorou muitos anos para incorporar, de fato, a insulina glargina. Então, a insulina glargina que nós escolhemos lá atrás é melhor para o paciente do que a insulina humana. Dito isso, no mundo, há 15 anos atrás, já era 80% do volume insulina glargina, 20% insulina humana, só que no Brasil, até o ano passado, todos os anos era o inverso, sempre foi 80% insulina humana e só 20% glargina.
HL: Tem uma questão de cultura, preço…
HM: Questão de cultura, história, mas a entrada de biossimilares, ou seja, nós também com um parceiro que é o maior produtor de glargina da China, que é a Gan & Lee, que nós fizemos um acordo em 2014, nós trouxemos essa tecnologia atualizada e a fábrica de Nova Lima produz essa.
HL: Aí viabiliza a pulverização do medicamento.
HM: Então, demorou quase uma década para que, do começo desse ano, o comitê intergestão de tecnologia, dos Secretários de Saúde Estaduais e Municipais, que compõe juntamente com o Ministério da Saúde permitisse, autorizasse e indicasse que, a partir de agora, a insulina glargina seja disponibilizada na rede de Assistência Básica do SUS para pacientes do tipo 2.
HL: Ou seja, ela vai ser distribuída gratuitamente.
HM: E vai substituir ao longo do tempo a insulina humana. Então, é evidente que os nossos acionistas fizeram um investimento da ordem de R$ 800 milhões na última década sem saber que isso de fato ia acontecer. Nós fizemos a aprovação da planta, do produto e depois desse trabalho enorme realizado, a gente agora passa em 2025 a poder prover o Brasil com essa insulina, porque o Ministério da Saúde também mudou a visibilidade incorporando a glargina num preço compatível com a insulina humana, por causa dos biossimilares, e, porque há uma falta de insulina humana globalmente.
HL: Vocês já noticiaram várias vezes a falta de insulina nos postos de saúde. Então, a gente pode dizer que agora, com essa consolidação, a gente tem uma autossuficiência aí nessa produção ou ainda essa estrada tem que ser um pouco mais pavimentada na insulina, Heraldo?
HM: Helenice, eu acho que a gente está dando um grande passo, e em paralelo a essa incorporação pelo CIT, pelo Ministério da Saúde, nós também tivemos no primeiro trimestre a aprovação da PDP, do Programa de Desenvolvimento Produtivo do Ministério da Saúde, para que haja, de fato, a integral verticalização da produção de insulina no Brasil. Então, a combinação dos dois elementos e, sobretudo, porque a planta de Nova Lima já está operando e tem capacidade de produzir, em breve, no ano que vem, na máxima vinte milhões de carpules, nós juntamente com a Gan&Lee transferimos a tecnologia para Bio-Manguinhos que terá um papel de construção da fermentação das etapas anteriores a que a gente faz hoje em Nova Lima, e portanto o Brasil não só deterá a tecnologia como a gente já tinha com a Biobrás, como também terá toda a sua cadeia de produção dentro do território nacional.
HL: Ah sim, porque atualmente a Biomm não é só uma montadora do medicamento aqui, ela já faz essas outras fases, mas para internalizar e nacionalizar completamente vai precisar dessa obra em Bio-Manguinho, de 8 anos, para ter essa cadeia 100% aqui dentro do Brasil? A Biomm não vai fazer esse investimento para ter todas as etapas?
HM: Então, esse arranjo produtivo que está dentro do PDP é o arranjo que Bio-Manguinhos propôs e que nós achamos muito coerente, porque permite a detenção, não só da tecnologia, mas do processo produtivo em território. Então, o projeto de Bio-Manguinhos, eles estiveram recentemente em Pequim visitando a planta da Gan&Lee, que diga-se de passagem tem capacidade equivalente à metade da demanda mundial de insulina basal, então eles puderam ver a planta que eles vão projetar e construir no Ceará.
HL: E com toda a assistência deles, né.
HM: Agora, nós temos na Biomm pessoas com grande capacidade e grande know-how sobre a produção, então a produção na biotecnologia tem um grande valor.
HL: É totalmente científica é uma coisa que você faz a partir da matéria viva.
HM: E sobretudo que tem detalhes da produção que podem fazer diferença sobre o custo de produção. Então, é muito importante essa questão de tecnologia e eu acho que a gente já está muito interessado nisso.
HL: E como vai ser, assim, você estava me falando: ela começou com 100 funcionários, passou para 260 esse ano, vai chegar a 300 até o final do ano… nessa questão dos cientistas, como está a formação da Biomm e que tipo de profissional que ela está procurando no mercado agora?
HM: A gente tem vários mestrandos, várias pessoas com PhD, então a gente tem uma equipe com um corpo técnico de altíssimo nível. Agora, a gente também treina muita gente que entra no processo produtivo, mas que também tem que ter… o maquinário, basicamente, é alemão, então a gente vê máquinas de altíssima tecnologia e que, portanto, tem que ter um treinamento, e isso está sendo feito pela gente.
HL: Nesse patamar atual também está tendo um investimento de R$ 12 milhões em equipamentos, nessa automação. Eu me lembro que eu fiz uma entrevista com o Walfrido em 2015, e ele falou que estava tudo pronto já, mas que o equipamento era basicamente importado. Continua essa realidade, Heraldo? A gente consegue fazer alguma coisa por aqui, vocês conseguem comprar alguma coisa aqui ou ele é basicamente alemão mesmo? Que é referência mundial em vários equipamentos, em várias indústrias.
HM: Em especial no setor. A planta está pronta e operando, então a gente tem, com exceção da linha de embalagem, todas as outras máquinas são importadas, porque não há produção no Brasil desse maquinário, nesse nível de tecnologia.
HL: O portfólio tem então a insulina, a glargina, e vocês vão ter também nessa insulina… ela vai chegar a esse volume de frascos, de unidades, de 20 milhões, e chegando nesse patamar ela tem que fazer novas expansões em espaço ou é verticalizar mesmo? Ou tem essa garantia da empresa chinesa que mantém o produto básico aqui?
HM: Nós não podemos esquecer da PDP de insulina humana com a Fundação Local de Minas, a FUNED, porque a gente tem uma linha de carpules, a gente falou bastante de carpules (corpo da caneta no qual está armazenada a insulina), mas a gente também tem uma linha de frascos, que essa linha será utilizada pela PDP da insulina humana com a FUNED.
HL: E que vai continuar também essa produção? Tem mercado para tudo?
HM: Continua, tem mercado, e é uma transição, a gente imagina diante dos dados passados pelo CIT, o Comitê Intergestor de Tecnologia, o primeiro momento é um terço de insulina humana glargina, portanto a substituição da humana da ordem de 20 milhões, depois passa para 40 e deve chegar a 60 milhões em 3 anos ou mais, mas o consumo do Brasil, hoje, já é da ordem de 80 milhões. A diabetes em expansão, o envelhecimento da população, então mesmo que diminua relativamente a posição da insulina humana por causa da inclusão da glargina, haverá um crescimento em função do tamanho do mercado que expande. Então, tem pacientes que têm a necessidade de continuar com insulina humana, tem uma parte do mercado que vai estar lá. Nós estamos trabalhando com duas linhas, uma para glargina e outra humana. Então, qualquer que seja a distribuição da necessidade de insulina basal, porque essas duas são insulinas basais, a Biomm e o Estado de Minas será o grande produtor.
HL: Quer dizer, vai ter condição de fazer essa expansão, de manter esse mercado abastecido.
HM: E aí a tua pergunta de expansão é algo mais adiante, porque a gente precisa, primeiro, executar o que a gente está fazendo agora. Tem que executar, tem que realizar todo o investimento feito, então seria prematuro no momento, e a gente tem que estar focado, como estamos, em realizar todas essas etapas que são complexas, que envolvem várias partes. Então, uma vez rodando tudo isso, a gente vai poder com um cenário mais claro dizer o que será necessário ou não, aí tem várias soluções possíveis.
HL: Porque demanda tem, fora as pessoas que nem sabem que vão precisar e que vão nessa jornada aí da vida, dependendo dos hábitos e tudo, vão precisar do medicamento. E, uma coisa que a gente estava conversando antes, quer dizer, o caixa da empresa tem que estar saudável, porque é uma Indústria, ela depende dessa relação dívida líquida versus ebitda para se manter sólida ao longo, agora, dessa nova cruzada, desses próximos anos que eles são, me parece, pelo que você me falou, cruciais.
HM: Exato. É uma questão a executar, nós vamos gerar não só faturamento, não só lucratividade, mas gerar, sobretudo, caixa, e aí diante de um novo horizonte, a gente vai, com calma, os acionistas, o conselho, vai poder ter uma visibilidade de onde devemos investir. Então, lembrando que o macroeconômico, com juros no nível que está hoje, tem uma série de questões que também estão além das questões do produto em si, a questão macroeconômica tem que ser colocada, e uma empresa com lucro tem acesso a outros tipos de crédito que hoje a gente não tem.
HL: Outros financiamentos, outras contrapartidas.
HM: Então, vamos executar o que tem que ser executado e aí chegará o momento que a gente vai poder pensar.
HL: Heraldo, aqui em Minas a gente fala assim “olha, não vamos passar o carro na frente dos bois” (risos). Porque não adianta, agora a gente tem que colher o que plantou esses anos todos. Além disso, tem outras frentes também de trabalho que vocês estão aguardando a autorização da Anvisa, tem aí também, além da insulina, tem a questão dos medicamentos oncológicos, da oftalmologia, conta para a gente essa estratégia de diversificar o portfólio. Porque, assim, a insulina é um mercado garantido, as pessoas vão precisar, quem começa a usar não pode parar nunca mais, mas a Biomm não quer ficar só dependendo do mercado da insulina, não é? Isso também é uma estratégia de mercado para também quando temos esses picos de problemas na economia, você não estar só baseado num tipo de portfólio, né, Heraldo? Conta para a gente como é essa estratégia.
HM: Eu acho que o ponto é que a Biomm é uma empresa de biofarmacêutica que vai além das insulinas, porque, neste contexto, eu falei, nosso primeiro produto comercializado foi um biossimilar na oncologia. Então, recentemente foi aprovado o bevacizumab, que é um biossimilar para câncer de colo retal, temos outros produtos em processo de aprovação e, portanto, tem uma constituição de um portfólio que vai para oncologia, mas também vai para oftalmologia. A gente, é bom lembrar, o nosso presidente de conselho é o doutor Cláudio Lottenberg, que é oftalmologista, mas isso foi uma coincidência que surgiu no mercado.
HL: Não puxou sardinha para ele não, né? (risos)
HM: Porque ele está sempre olhando lá o ‘oftalmo’, e a gente achou um ranibizumabe, que é um biossimilar que tem uma relação com a diabetes, que é uma doença macular, na retina, e hoje só existe um produto original, então nós seremos, já foi aprovada, estamos aguardando agora, foi aprovado e a gente está aguardando agora a aprovação de preço, tem uma etapa adicional.
HL: Também tem que passar pela precificação.
HM: Então, o ranibizumabe é um exemplo de que a gente pode estar em várias áreas.
HL: A plataforma de produção é a mesma? As máquinas têm condição de se adaptar?
HM: Então, a produção local só faz sentido econômico se você tiver a combinação de grande volume…
HL: Escala…
HM: Você imagina 20 milhões de carpules em navios ou aviões vindo do Hemisfério Norte versus uma produção local. Tem uma questão logística, de custo, de refrigeração, mas também tem uma questão de preço de mercado. Então, são produtos de grande valor, com preço relativamente baixo perante a esses outros que a gente está falando da oncologia, outros que a gente está falando do mercado. Então, nem tudo será produzido localmente.
HL: Porque tem que ser viável.
HM: Porque tem que ser viável. É evidente que a gente tem um fundamento grande nessa linha de produção de insulinas, e ao fazer a glargina, vai caber fazer insulina humana no frasco? Então a gente já começa por aí nos grandes volumes, mas também é possível fazer as outras insulinas de ação rápida, que tem um volume muito menor, mas que tem o mesmo processo, grosso modo, a mesma cadeia de produção e que também pode ser pensado no futuro para GLP-1, né, a semaglutida, que é outra grande molécula que nós temos, e a degludeca, que é outra insulina. Então, sem querer dar tantos nomes que vão confundir a tua audiência, o importante é pensar que tem um grande grupo aqui que são biomedicamentos que vão para diabetes e que podem ser produzidos na mesma plataforma, no mesmo guarda-chuva. E não é por acaso que as grandes globais, que tem a GLP-1, também eram empresas que começaram com insulina. Então, a Biomm é a única brasileira capaz de fazer e que tem o portfólio completo de insulinas. Isso é uma questão nos anticorpos monoclonais, é uma questão distinta, os volumes são muito menores, tamanho, e o ticket é lá em cima. Então, aí tem uma questão que é distinta e você tem uma complexidade de produção que nós acreditamos, que agora, é melhor trazer o produto finalizado de um parceiro qualificado que tem aprovações no EMA ou no FDA, que são os órgãos reguladores da Europa e dos Estados Unidos, e que tem um dossiê, portanto, da altura e da dimensão que a Anvisa requer. Então, com isso nós complementamos o portfólio, como você bem disse, tem que ter a diversidade do portfólio, existe um equilíbrio entre não ser tão grande, mas também não pode ser monotema, então tem que ter sinergias. Nós temos uma sinergia industrial aqui na diabetes, temos uma sinergia de distribuição, porque tudo aqui é da cadeia do frio, tudo refrigerado.
HL: A logística é outra. Ela tem que sair gelada lá da China, da Índia, e chegar aqui gelada.
HM: Nosso armazém é enorme, está de 2 a 8 graus sempre.
HL: Não pode ter erro, porque senão perde tudo.
HM: Estraga tudo. Você não sabe como é o processo de validação.
HL: Está tudo lá também em Nova Lima?
HM: Está em Nova Lima. Então, tudo é armazenado em Nova Lima e aí vai fazendo a distribuição, então tem uma sinergia importante na entrega para os clientes.
HL: Tem que ter uma garantia, né?
HM: E na força comercial nossa, que pode lidar com esses produtos.
HL: É, para explicar um medicamento desse que tem tantas especificidades, ele é tão diferenciado, por que comprar do player Biomm e não da multinacional? Aí entra uma série de fatores, de preço, a distribuição, a garantia, não é só preço, quem vai comprar, seja o Governo, seja o hospital, a farmácia, eles olham várias questões, mas é um mercado que está ficando muito concentrado na Biomm, pelo menos eu estava vendo a divulgação de resultados e 40% desse mercado da insulina está com a Biomm, e vai se manter assim e vai só crescer, as outras que a gente vê são outros dois players lá e pronto, acabou.
HM: Toda a nossa visão de mercado indica que somos líderes no mercado de glargina, estabelecido, antes mesmo que haja a incorporação, de fato, na assistência básica, e antes mesmo da PDP. Então, a gente também parte de um conhecimento muito estabelecido de um medicamento seguro, lançado em 2021, e passados 4 anos nunca tivemos nenhum evento. Então, a qualidade está comprovada e a gente tem, hoje, a liderança desse mercado
HL: Agora, me fala uma coisa, tem essa outra aba aí, digamos assim, da semaglutida. Muita gente já conhece, ela está no ozempic, no wegov, agora veio mounjaro aí, que é outro tipo de hormônio também, e vocês estão esperando a quebra da patente da semaglutida agora no final de 2026. A gente já vê outros players também se movimentando… nós vamos ter o Ozempic genérico feito aqui em Nova Lima?
HM: Então, o feito em Nova Lima é uma etapa ainda a ser discutida. Nós teremos o similar da semaglutida da Biomm, em parceria com a empresa indiana Biocom, e isso será distribuído no Brasil uma vez que a gente aprove. Então, nós estamos em vias de submeter o documento à Anvisa e vamos chegar num mercado que vai ser um mercado completamente diferente do que existe hoje. Então, precisamos entender como é que será a composição dos players neste mercado, qual será a reação dos atuais produtores, tem vários elementos aqui.
HL: O consumidor. Mas com certeza o preço vai ser outro, né, não vai ser essa coisa que a gente vê aí de quase R$ 2 mil por mês.
HM: Mas, Helenice, eu acho que tem um tema aqui que é a semaglutida, e anteriormente a liraglutida, foram estudadas para diabetes, esse é o fundamento.
HL: O que o pessoal usa é o chamado off label, né.
HM: Tem indicações de estudos posteriores, mas essas moléculas foram desenvolvidas objetivando diabetes. Então, a Biomm tem em sua predominância de existência e conhece os endocrinologistas, as sociedades médicas, e todos eles…
HL: É baseado na comprovação científica da doença.
HM: Tem uma indicação para obesidade? Tem, mas com índices de massa corpórea acima de 30. Não vamos esquecer que a diabetes é uma doença muito importante, muito impactante no sistema de saúde do Brasil. Não sei se você sabe, a causa número 1 de amputações no Brasil é a diabetes. Então, você imagina o que se evita aí de hemodiálise, AVCs, é uma questão de saúde pública. Claro que existe indicação de obesidade, obesidade também é uma questão de saúde, mas desde que seja acima de índice massa corpórea de 30. Nós temos que lembrar que a Biomm é uma empresa muito estabelecida e conhecida para os prescritores de diabetes, e, portanto, a gente vai estar atuando com a semaglutida nessa indicação, com essa focalização no tema de sistema de saúde. A gente estava conversando, eu falei “olha, o nosso portfólio é sobre acesso”. Claro que nós temos que realizar a nossa lucratividade, dar o retorno aos noss..os acionistas, mas ao mesmo tempo, a gente está dando um acesso e gerando uma competição para que haja acesso em doenças como a diabetes, que geram um custo altíssimo no sistema de saúde, não só o público, mas o privado.
HL: Sim. Às vezes muita gente não se trata “ah, não vou gastar dinheiro com isso não”, mas ela é silenciosa, quando você vê já tomou tudo. Só que eu estou levando em consideração, a gente vê aí o que aconteceu com o laboratório, que ele atingiu um grau de valor de mercado até maior que o PIB da Noruega, onde ele nasceu, e que teve essa corrida mesmo das pessoas que não tem diabetes. A questão é: a Biomm está preparada para essa demanda? Ela vai se preparar ao longo da quebra de patente no final do ano que vem de dois mil e vinte e seis? Como ela já está se delineando, porque indústria é para os 10 anos, 20 anos para frente, né, Heraldo? Isso eu vejo em todo tipo de indústria, eles falam “não, o agora já é passado. Agora esse número a gente já fez, já performou, o que a gente precisa é estar preparado para frente”. Vocês têm essa segurança do laboratório que fornece?
HM: Sim, a Biocon é uma empresa muito grande, que tem uma atuação histórica na biotecnologia, ela também produz insulina, então é a mesma história de sempre.
HL: Não vai ter esse problema.
HM: Então, eu acho que essa demanda e a prioridade que a Biocon está dando para o Brasil nesse projeto é muito grande. Então, nós temos um time da Biocon dedicado, liderado pelo Francisco Freitas, que está semanalmente, ou quase que diariamente com a Biocon, nós tivemos… acho que tem aí ainda 2 indianos que estão morando em Nova Lima, é um nível de interação muito grande para uma empresa que está muito interessada num mercado como o Brasil.
HL: Que é um dos maiores consumidores, né?
HM: Sem dúvida. Assim como a Gan&Lee, a gente vai reproduzir um pouco o modelo que a gente fez com a Gan&Lee. Começamos sempre importando, sempre tendo a capacidade de um parceiro, e aí vamos ver o mercado. Esse mercado a gente vai, de novo, eu considero que temos que ver como vai ser a dinâmica dos players.
HL: Precificação: já dá para você, também, dizer “vai baixar 10%, 20%, 30%”, depende dessa dinâmica também da concorrência, mas vocês já devem ter estudos também, não tem, Heraldo?
HM: Eu acho, você deve ter visto essa semana o lançamento da liraglutida para uma empresa nacional…
HL: Bom que já movimentou as outras, né.
HM: Então, assim, biossimilares e similares vão ter necessariamente uma redução de preço, o que é óbvio, necessário para competir, mas não é só preço, como você bem disse, mas a gente pode falar de 30% a 50% de redução de preço em similares.
HL: Nossa, isso é muito bom, isso é um reflexo direto no bolso do consumidor que tem que comprar, para o Governo também, para os pagadores todos.
HM: Que no Brasil ou é o bolso da pessoa física ou o Governo, e em alguns casos a saúde complementar privada.
HL: Qual é ainda o desafio que você enxerga… você está na Biomm há quanto tempo, que você está acompanhando essa jornada da biotecnologia?
HM: Eu entrei há mais de 11 anos.
HL: Mais de 11 anos. Então, você acompanhou toda a guinada da Biomm nessa última década. O que você enxerga, assim, como profissional da área que ainda tem um desafio nessa cadeia, seja cadeia de fornecedores, seja a logística do país, né, a gente fala muito isso, que Brasil não é para amadores, levar um negócio aqui, a gente vê poucos players, um ambiente muito concentrado em poucos negócios, poucas empresas. Qual é a nova fronteira que você ainda enxerga que a Biomm tem que transpor nesse mercado tão complexo?
HM: Olha, Helenice, o que a gente gostaria de fazer é inovação, mas aí a gente está falando de um nível bem mais adiante, porque, sem dúvida, a gente gostaria de estar fazendo inovações no Brasil.
HL: O Brasil tem condições para isso, né, tem corpo técnico.
HM: Tem corpo técnico, mas as condições ainda estão aquém do que existe em outros locais.
HL: O que, por exemplo, que você acha que ainda precisa melhorar muito aqui?
HM: Eu acho que se você for para a Coreia ou para China, um investimento de educação, um investimento governamental em criar condições para isso foi muito grande. Então, não é só sobre dinheiro, é sobre regulamentações. Tem uma discussão aí de pesquisa clínica em curso no Congresso, então se você limita essas possibilidades, a gente cria um ambiente que não incentiva a produção científica nem a educação necessária para isso
HL: A mão de obra vai para fora do país.
HM: Tem a Finep, tem vários programas, o BNDES, não é só sobre investimento, mas a gente precisa ter uma coordenação melhor, e todos esses parceiros nossos chineses nós vemos que tem um apoio do Governo para ter cientistas dentro.
HL: Formação de talentos, né e retenção.
HM: Então, eu acho que esse é um desafio do país e que, claro, as empresas privadas… numa pauta econômica, né, se a gente olhasse também os Estados Unidos…
HL: (risos) Eu falei com você, né, “ó, eu vou perguntar os números aí”.
HM: Mas, assim, vamos olhar os Estados Unidos, não é só olhar a China. Por que a inovação é tão grande nos Estados Unidos? Porque tem Venture Capital, tem coisas que a Biominas do Eduardo Emrich tenta fazer num ambiente extremamente complexo, que seria uma forma de ampliar a possibilidade de inovação no país. Então, tem uma questão de educação que a gente vê muito na Ásia e de apoio governamental, mas também tem uma coisa aqui nos Estados Unidos que é a capacidade de gerar e investir num risco muito grande. Claro que com juro muito alto ninguém fica muito, mas, enfim, a dinâmica nos Estados Unidos é fantástica de inovação, porque tem um grande investimento em pequenas startups, em empresas pequenas que vão ser compradas por outras, mas que estão desenvolvendo medicamentos inovadores. A grande disputa de inovação vai ser Estados Unidos e China, cada um buscando o seu caminho, mas os Estados Unidos é um modelo de financiamento que é invejável de capital de risco. Então, o ambiente do Brasil não tem essas combinações. Uma coisa é regulamentação, outra coisa é educação, outra coisa é financiamento.
HL: São pilares aí bem diferentes.
HM: Se você consegue criar um ecossistema com esses 3 pilares, você pode avançar para inovação.
HL: Mesmo assim, em meio a esse ambiente, digamos, tão desafiador, para não usar outra palavra, a Biomm vai trilhando o caminho dela e com uma perspectiva de um faturamento que só vai crescendo agora para os próximos anos, de acordo com essa demanda do mercado.
HM: Sem dúvida é a história da biotecnologia, das empresas. Demora, demora, demora, demora. Então, não é uma curva, assim, uma curva logarítmica. Então, a gente está prevendo importantes saltos de faturamento a partir de todos os elementos que eu acabei de falar.
HL: E isso deve acontecer mais para 2027?
HM: Eu acho que a partir de 2026 e ao final de 2025 essa combinação de PDP e incorporação da glargina no sistema base de saúde, é uma questão que também tem um tempo de implementação, mas ela é inexorável, isso tenho certeza de que fará uma diferença enorme para o paciente e para o sistema de saúde. Também tem uma garantia de fornecimento, então no final de 2025 a gente já vai ver, no meu modo de ver, 2026 certamente, 2027 e 2028 ainda mais.
HL: E a presença da Biomm também em mais Estados, né, você falou que atualmente são 5 Estados, basicamente. Como está essa expansão, essa pulverização?
HM: Então, historicamente 5 Estados tinham programas estaduais, protocolos para o uso de glargina. Então, a venda pública de glargina, hoje, ela se dá basicamente por 5 Estados. Esses 5 Estados, a hora que passa a ter a assistência básica, esses programas vão continuar existindo, mas também tem o papel do país, então pode ter uma migração e aí você vai ter todos os Estados da Federação com acesso, porque nem todos os Estados fizeram alocações orçamentárias para compra de glargina, e agora o Governo Federal provê isso gratuitamente para os pacientes. Então, é uma outra dimensão, por si só, dentro do universo do que era tratada a glargina pública mais para o diabetes tipo 1. O que a gente está entrando, na nova, era tudo que se vendia, que é 80% da venda de insulina, era insulina humana para diabetes tipo 2, do SUS, isso não era um mercado, vamos dizer assim, que podia ter glargina antes. Então, a partir da implementação do CIT, do Ministério da Saúde, vai estar disponível para todo esse contingente de pacientes do tipo 2, que vão receber gratuitamente com uma prescrição a glargina.
HL: E é um mercado já totalmente previsível para vocês, não é? Vocês já ganharam as licitações, já teve licitação, já está tudo encomendado, agora é internalizar.
HM: É porque não é uma licitação mais, como é PDP, não tem a licitação. A PDP, como é a transferência de tecnologia, toda a compra governamental já passa pela PDP. Então, existe uma programação do Ministério de ter no primeiro ano 30% desses pacientes, com o que estão com a insulina humana vão migrar para insulina glargina, isso nós estamos falando de 23 milhões de carpules em 12 meses, aí isso deve mais do que dobrar para o segundo ano e assim por diante. A gente está falando de uma escala 20, 40, 50, 60, 70, então é por isso que eu falei que tem uma curva de fato bem acelerada, agora não é uma hipótese é uma realidade. Então, por isso que eu volto a falar, agora é uma questão de execução.
HL: Agora é o business ali, de funcionar.
HM: Não é que vai mudar, já mudou.
HL: “Ah, a gente está esperando a aprovação”. Não, está aprovado.
HM: Tem passos que a gente está cumprindo que são contratos, têm uma série de detalhes operacionais, mas está decidido. Então, a gente tem uma previsibilidade, e lembrando sempre, o que a gente tem, além da produção local, o que for necessário para o país, a gente importa da Gan&Lee.
HL: Para a gente terminar: você vai precisar de mais dinheiro agora? Ou, assim, esses R$800 milhões resolveram, mas com certeza devemos ter aí novos aportes, né, novas parcerias, mais investidores. No momento, a Biomm precisa de um novo capital?
HM: No momento existe um aumento de capital privado, já anunciado, que está em curso, que termina no final de agosto, onde os acionistas atuais têm prioridade de exercer o seu percentual atual, de fazer esse aumento, mas que também podem gerar sobras que outros investidores possam eventualmente entrar. Então, esse é o aumento de capital privado da ordem de R$ 57 milhões e ele foi necessário em função desse crescimento exponencial que demanda um capital de giro, que era necessário nessa largada de um salto tão grande. Então, é isso que a gente está fazendo. O que virá para o futuro cabe aos acionistas e ao conselho analisarem diante de tudo que está por vir, diante dessa grande mudança.
HL: É, não dá para falar nada agora “ah, vai fazer follow on na Bolsa. Vai fazer um novo IPO”. Agora, depende muito dessa maturação dos próximos anos.
HM: Exato.