Minas S/A

CCPR investe R$ 245 milhões em nova fábrica de ração em Curvelo

A temporada Minas S/A Inovação tem hoje o quinto episódio, com Marcelo Candiotto, presidente da CCPR – Cooperativa Central dos Produtores Rurais

Por Helenice Laguardia
Publicado em 13 de abril de 2024 | 03:00
 
 
 
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A temporada Minas S/A Inovação tem hoje o quinto episódio, com Marcelo Candiotto, presidente da CCPR – Cooperativa Central dos Produtores Rurais – e vai até maio nas plataformas de O TEMPO.

Há 75 anos no mercado, a CCPR é a maior cooperativa de leite do país atuando na captação de leite, nutrição animal e varejo agropecuário.

O Sistema CCPR é formado por 31 cooperativas, 25 mil cooperados, 4.000 fornecedores de leite, com mais de 90 milhões de litros de leite captados por mês e atuação em 280 municípios do Brasil.

Tem unidade em Contagem (MG) e vai inaugurar a maior fábrica de rações da América Latina em Curvelo (MG). O investimento total em Contagem e Curvelo é de R$ 280 milhões.

Veja a entrevista na íntegra: 

HL: Marcelo, a CCPR (Cooperativa Central dos Produtores Rurais) tem 75 anos. Você assumiu a presidência da cooperativa em 2017. É engenheiro civil e produtor rural também. Como você imaginava quando assumiu e você está satisfeito com o que você vê atualmente da CCPR? 

MC: Sim, estou muito satisfeito, porque nós assumimos num período de crise da empresa. Nós tínhamos a empresa Itambé, e tivemos que fazer a comercialização da Itambé num momento muito difícil, e graças a Deus fizemos uma comercialização muito exitosa, que foi destacada por todo mercado financeiro brasileiro como uma das maiores operações do ano, fechamos o negócio em 2019. E hoje a CCPR tem uma função muito importante dentro desse processo, ela fornece todo o leite captado pela Itambé, nós temos um contrato de exclusividade de 10 anos, podendo ser prorrogado por mais 10 anos, então seria um contrato de 20 anos, onde somos responsáveis por toda a captação, por toda a logística e pelo desenvolvimento do produtor. Aí entra o cooperativismo, com a preocupação com o social, com a preocupação com o produtor de leite, criando alternativas para esse produtor de leite, criando facilidades, estruturando a cadeia da porteira para dentro com ele. Então hoje eu diria para você “qual é o papel da CCPR em todo esse processo?”. Além de todas as expertises que nós adquirimos nesses 75 anos, é o desenvolvimento do nosso produtor e das nossas cooperativas associadas, que são as nossas donas, são 31 cooperativas.  A CCPR é uma central, como você disse, e essas cooperativas cada uma tem uma parte, um capital integralizado, dentro da CCPR. E tem cooperativas muito antigas nesse processo, que iniciaram há 75 anos atrás.  

HL: É um mercado longo que já passou por vários altos e baixos, né? E teremos vários outros daqui para frente. 

MC: A crise que nós estamos passando agora foi uma das crises mais graves.  

HL: O que ela impacta no trabalho da CCPR? Porque a CCPR compra o leite de produtores de leite aqui de Minas Gerais, 280 municípios são impactados em Minas e em Goiás, ou seja, ela depende da produção de leite de um Estado que é o maior do Brasil em produção de leite, 9,5 bilhões de litros por ano. 

MC: E o que a gente assiste no campo hoje? Só para você entender, hoje, 80% do nosso leite é produzido pelo grande produtor, e 20% do nosso leite é produzido pelo pequeno produtor. O que nós estamos assistindo? Que o pequeno produtor, em função dos custos, e em função do preço do leite, em função da importação que está acontecendo, ele não está tendo rentabilidade, ele não está conseguindo sobreviver, não está conseguindo pagar suas contas, está endividado. Isso para nós como cooperativa cria um ambiente muito ruim no campo, porque a gente quer ajudar o produtor, mas nós precisamos de um suporte governamental, de ações importantes que até agora não estão sendo muito efetivas. Então nós estamos assistindo desde meados de 2023, de abril de 2023, vai completar quase 1 ano que cada dia a gente está vendo esse produtor parando, cada dia a gente está vendo esse produtor desistindo. 

HL: Isso já está se traduzindo no volume de leite captado? Ou seja, o produtor de leite está saindo do campo? Ele está abandonando a produção de leite? 

MC: Está abandonando a sua atividade, está vendendo suas vacas, e isso o produtor não consegue recuperar. Um pequeno produtor depois que ele vendeu as vacas, que ele está descapitalizado, ele encerrou a atividade dele. E a gente vê alguns produtores encerrando atividade com muita tristeza, porque é o negócio dele.  

HL: É o que ele sabe fazer, né.  

MC: E a CCPR num esforço enorme tem ajudado muitos produtores para que isso não aconteça, mas não conseguimos fazer isso sozinhos. Nós precisamos do apoio do governo, e um dos apoios que precisamos…  Tivemos uma grande notícia, a publicação do decreto do governo de Minas, que através daquele movimento criado pela FAEMG no dia 18 de março, eu acho que é uma data histórica para o produtor de leite. 

HL: O “Minas Grita Pelo Leite”, que foi uma manifestação enorme lá no Expominas, aqui em Belo Horizonte/MG. 

MC: Quero parabenizar a FAEMG, através do Toninho, através de todos os seus dirigentes, que conseguiram fazer essa mobilização juntamente com as cooperativas. A CCPR também participou ativamente dessa mobilização, colocamos 8 mil produtores e o “Minas Grita Pelo Leite” teve uma repercussão no Brasil inteiro.  

HL: E teve o compromisso do governador de baixar esse decreto, né, acabando com a isenção para empresas que importarem leite. 

MC: Essa fala do Governador no dia, você estava presente, você viu, foi muito importante,  porque ele despertou também nos outros estados a necessidade de se fazer isso. Então após essa decisão do Governador Zema, que ele consolida isso hoje com a publicação do decreto no Minas Gerais, quer dizer estar vigente. Não foi como o decreto do Governo Federal que demorou 90 dias para ser aplicado e isso deu prazo para que os importadores fizessem isso. O Zema com muita lucidez, com o apoio do secretário Thales, de toda a equipe dele, com o Albanez, a equipe da Fazenda também, os secretários, foram muito sensíveis a esse problema que o Estado de Minas passa e felizmente replicou para todo o Brasil. Poucos estados ainda não seguiram a linha que o Zema… com muita coragem que ele fez isso, muita coragem, porque é lógico que existe pressão. 

HL: Você acha que agora vai mudar, Marcelo?  Essa situação do leite aqui em Minas Gerais e no Brasil? Porque no passado mais de 2,8 bilhões de litros de leite, o equivalente a isso, foram importados em forma de leite em pó de países do Mercosul. Quer dizer, o Brasil produz leite, exporta leite, e está importando uma quantidade considerável, 27% da produção, basicamente, de Minas. 

MC: Helenice, a gente esperava que, com as providências que o Governo tomou, do decreto, teríamos uma diminuição na importação. Não tivemos. 

HL: Do decreto Federal. 

MC: Do decreto Federal. Fevereiro foram 215 milhões de litros leite e março foi uma estimativa de 190 milhões de litros, quer dizer, as medidas tomadas pelo Governo Federal, que se quisessem ser aplicadas mesmo seriam muito efetivas, que é da redução do PIS/Cofins, não houve fiscalização, a norma saiu no mês de fevereiro e não houve acompanhamento. E o mais grave, existe leite sendo importado de má qualidade ainda entrando aqui no estado de Minas Gerais. 

HL: Ou seja, pode até contaminar o nosso leite, fazer mal para nós consumidores? 

MC: É uma coisa a ser avaliada. Então, alguns caminhões foram travados, no início, nas fronteiras de Argentina e Uruguai. Poucos dias houve uma pressão dos dois países e acabou que essa fiscalização não se efetivou. Mas uma das coisas mais importantes seria a fiscalização da qualidade, da questão sanitária desse leite. A outra coisa, que agora a CNA entra providenciando, é a questão do antidumping e isso só pode ser feito pelas entidades. Então nós temos que fiscalizar como é que esse leite está entrando com esse volume todo se o Uruguai não tem esse volume todo para nos exportar, a Argentina vive uma crise enorme e ainda consegue entrar no país com o leite custando hoje R$1,80.  

HL: Quando o custo de produção aqui no Brasil é de mais de R$2,00. 

MC: Mais de R$2,00. 

HL: Então aí realmente, o produtor olha, qualquer um, né, olha lá na conta e a conta não fecha, vai abandonar a produção. 

MC: E será que esse leite que está entrando no país é o leite de melhor qualidade que eles têm lá? Ou eles estão exportando para nós o que não serve?  

HL: E a gente ainda ficar dependendo de um mercado lá fora que será que vai dar conta do nosso consumo todo?  

MC: Nós temos uma agravante hoje, que nós temos que ter muito cuidado, que é a crise de desabastecimento. Os produtores parando as atividades, porque tem quase um ano que essa crise está ocorrendo, eles diminuem a produção, mesmo os produtores grandes estão diminuindo, eles tiram um pouco da ração, deixam de intensificar a nutrição do gado. E para que isso volte no volume necessário para o abastecimento  

HL: Isso demora anos, né? 

MC: Não, não chega a demorar anos, mas nós temos que ter muito cuidado e o governo de Minas está muito cuidadoso, ele está fazendo um decreto que pode ser modificado com 90 dias para que não haja essa crise de desabastecimento. Se precisar entrar um pouco de leite importado,vamos entrar, mas controlado. Foi o que o Governo Federal não conseguiu fazer, porque se ele estabelecesse cotas de importação, nós não teríamos esses volumes tão exagerados. Nós sempre trabalhamos com importação de  2% a 3% do volume total de produção. Para você ter ideia, nós já tivemos nos meses de maior importação de leite quase 10%, 11% do nosso volume. É inaceitável que isso ocorra. 

HL: E aí, depois, somos todos nós que vamos pagar essa conta lá no gôndola, no supermercado, no preço do litro do leite. 

MC: Uma coisa que tem que ficar clara, ao produtor não interessa que esse leite chegue num preço de R$8,00, R$9,00 no supermercado. Ele não quer pagar essa conta.  

HL: O produtor não é o vilão. 

MC: Não é o vilão da história. Eu quero dizer claramente isso. O produtor quer ter a rentabilidade com um preço normal que as pessoas consigam adquirir esse valor, consigam consumir o leite e os outros produtos. Porque um outro produto também, Helenice, que é muito importado, é a mussarela. Hoje nós estamos comendo a mussarela aí com preços muito abaixo dos produzidos nos laticínios brasileiros, e será que ela tem uma mesma qualidade mussarela que nós conseguimos produzir aqui? 

HL: E principalmente, se a gente não protege aqui… quer dizer, nós estamos perdendo empregos, a geração de novos empregos que deixa de acontecer, cadeia de fornecedores… há uma descontinuidade aí. 

MC: E fixação do homem ao campo. 

HL: Vem tudo para a cidade para passar fome. 

MC: E não sabe fazer outra atividade.  

HL: Não sabe. Então realmente precisa ser feita alguma coisa, acho que tem que ter um trabalho conjunto, como teve FAEMG com as cooperativas, a CCPR, vocês até doaram leite, não é? Para não ter aquela imagem do produtor jogando leite em outras manifestações que antigamente aconteciam. Parou isso? 

MC: A gente não faz mais isso. O leite é um produto muito precioso. A gente brinca “se leite desse dinheiro ninguém mexia com outra coisa, porque é uma atividade tão prazerosa” , mas esse prazer tem limite, né?  

HL: Tem. A gente tem que pagar as contas, o produtor tem que ter…  

MC: Tem que fixar a família. Nós temos um exemplo de um produtor, que esse a gente conseguiu acompanhar, a gente tem um antes e depois. A foto dele antes era uma casinha mais pobre, com ele só e a mulher, com muita dificuldade. A partir do ponto que nós começamos os nossos programas de assistência técnica, trazendo genética adequada para ele, trazendo assistência técnica em termos de qualidade de leite, ele produzia 200 litros de leite, hoje eu acompanho a produção dele, e ele está com 876 litros de leite e já tem uma foto do depois. Os dois filhos do lado da esposa e do dono, a esposa ajuda o marido a tirar o leite, os dois filhos já em outra atividade dentro da fazenda, quer dizer, você resgatou a família, a união, a fixação dele no campo, a dignidade daquela família, o poder de compra. Um produtor, hoje, com 876 litros já consegue sobreviver, apesar do preço baixo e do custo alto.  

HL: Mas ele vai lá e compra no comércio da cidade, já está gerando emprego no comércio, bens e serviços, aí tem mais pedido na indústria, é uma roda, né? 

MC: É uma coisa impressionante. E Minas Gerais… não tem um município de Minas Gerais que não tenha uma produção de leite, que não seja mínima. Outro dia a gente conversando com o Governador e com o Secretário, Minas Gerais é um exemplo, e Minas são muitas, né? Nós temos regiões diferentes aqui em Minas Gerais, tem um pouco do Nordeste, tem um pouco de São Paulo, tem um pouco do Sul, e essa diversidade aparece na nossa bacia leiteira, com fazendas extremamente eficientes, como você citou a pouco, a Sekita, e temos produtores aí de 50 litros de leite, 100 litros de leite. E a CCPR convive com essa diversidade e apoia esses produtores. O maior produtor de leite hoje, que é o Sekita, é nosso fornecedor. Então entende dentro do cooperativismo as vantagens que o cooperativismo oferece. Por que com o que nós preocupamos no cooperativismo?.  

HL: As pessoas às vezes perguntam “mas qual é a diferença de fazer parte de uma cooperativa, do produtor vender o leite para a cooperativa e chegar lá no supermercado, para empresas do setor privado? A gente vê outros países que incentivam tanto o cooperativismo, né, Marcelo?  

MC: Principalmente os países mais evoluídos. Nós temos na própria região Sul do Brasil o cooperativismo num estágio muito avançado. Nós temos aqui em Minas Gerais a Ocemg, que é a nossa organização estadual estimulando muito o agronegócio. O Dr. Ronaldo Sucato tem falado sistematicamente que temos que nos preocupar com o agro. Por que o cooperativismo se preocupa com os produtores? Porque ele se preocupa com pessoas, com a questão do ESG, ele se preocupa com o meio ambiente, com a governabilidade, e se preocupa com a sustentabilidade do negócio. Então a gente procura levar isso para as fazendas.  

HL: Leva como, Marcelo? Como é essa questão? 

MC: Através de programas. Nós temos os programas que nós chamamos de “Fazenda nota 10”, em que a gente certifica aquela fazenda através de todo um processo que a gente estabelece dentro da fazenda, visando a qualidade, assistência técnica, a criação de bezerros. 

HL: Melhoramento genético. Para dar mais leite, para ser um gado mais forte, não quebrar a perna. 

MC: Melhoramento genético que hoje é uma preocupação. Nós temos um projeto que sempre é aprovado pelo Ministério da Agricultura, que nos beneficia com recursos do PIS/Cofins, um programa chamado “Mais leite saudável”, em que hoje nós devemos ter mais de 20 mil prenhezes confirmadas de genética e de embrião, genética top, com os melhores touros, as melhores vacas.  

HL: E traduzindo isso em um leite mais saudável, muito melhor na mesa dos nossos consumidores, não é?  

MC: O programa chama-se “Mais leite saudável”, né. Então a gente tem muito orgulho de dizer que a CCPR tem expertise na captação de leite, porque para captar esse volume de 90 milhões de litros de leite nós damos, por dia, uma volta e meia na terra por dia, é difícil imaginar, né? (risos) 

HL: Nossa! Não dá nem para imaginar (risos) 

MC: Mas é verdade! 

HL: Para recolher esse leite das fazendas, né. 

MC: Uma volta e meia na terra. Então é muito bacana. E nós temos um controle absoluto. Se você tem um painel lá, se você quer saber de um caminhão, onde ele está agora, em quantos minutos ele demorou para captar aquele leite, como está sendo a roteirização desse caminhão. 

HL: A refrigeração, né? 

MC: A refrigeração. Nós temos um programa de leite com a temperatura adequada. Nós participamos da COP 27 e um dos pontos que nós abordamos foi a questão da nossa captação, da nossa logística, que ela gera crédito de carbono em função dos caminhões,  em função da roteirização perfeita que a gente consegue, e isso reverte em menos custo de captação. Quando a gente mostrou para diversas empresas do mundo, quando fizemos a negociação, todas as empresas se interessaram em ver como a CCPR captava esse leite, a forma eficaz que a gente consegue fazer. 

HL: E com menos emissão de gás carbônico, que é o grande mote da COP, né?  

MC: E além disso, Helenice, nós temos trabalhado junto com a Embrapa na medição dessa emissão de metano e ensinando ao produtor a gerar crédito de carbono. Nos nossos programas “Nota 10”, nós já percebemos, já temos mensuração disso, medindo isso, que essas fazendas quanto mais eficientes, mais créditos de carbono elas geram, mas nós precisamos medir. Hoje nós temos uma régua que é francesa, mas a Embrapa está desenvolvendo uma régua nacional. 

HL: Brasileira, na realidade nossa. 

MC: Na nossa realidade. E estamos medindo e estamos vendo assim, que o Brasil é um país extraordinário. Nós não precisamos desmatar, nós não precisamos infringir legislações, pelo contrário, quem melhor cuida da terra dele é o produtor. Ele preserva a nascente… 

HL: É, tem que preservar também, porque se ele ficar sem água como é que faz, né? 

MC: Ele cuida bem do que é dele.  

HL: Tem as matas… ou seja, ele está aumentando a produtividade sem precisar aumentar o espaço, a terra. 

MC: E a eficiência da terra. Nós temos cerrados que estão sendo recuperados com a tecnologia. O Brasil, hoje, tem tecnologia para produzir grão, para produzir carne, para produzir leite. Esse país é maravilhoso. Nós não podemos deixar falar que esse país está desmatando, que está prejudicando o mundo. É o contrário, nós temos reservas ambientais por código florestal, e o produtor sabe cuidar muito bem do que é dele. Agora, se existe alguém fazendo coisas clandestinas na Amazônia, coisas erradas, não é o produtor de leite, não é o produtor de grãos. 

HL: Vocês têm esse monitoramento, né? Consegue ver direitinho? 

MC: Nós temos isso. Então a gente tem que acabar com esse discurso que o mundo quer trazer para o Brasil. Mas agora vamos fazer uma visita aos Estados Unidos, eles estão com um problema de gripe aviária com os animais lá nos Estados Unidos. Quer dizer, nós estamos aqui isentos de aftosa, com um trabalho magnífico do Governo do Estado. Aí cria um casinho lá em Mato Grosso e eles dão uma divulgação mundial. É, para quê? Eles não querem que o Brasil seja o maior fornecedor, o Brasil vai alimentar o mundo todo, já está alimentando o  mundo todo. 

HL: É onde tem terra e sol o ano inteiro, produz o ano inteiro. 

MC: E pessoas inteligentes, com tecnologia. Hoje nós temos um nível de produção de milho e de soja superior à média mundial. Temos de evoluir um pouco na exportação do leite. O leite não acompanhou, até por esses problemas que nós estamos citando aqui, o leite ainda não acompanhou, mas nós temos que fazer um trabalho, principalmente, que é o que a gente investe há 25 anos na CCPR, tratando da qualidade desse leite para ele ser exportado e para ser um leite aceito no mercado internacional. Então nós temos muita coisa para trabalhar e precisamos ter a compreensão do Governo, porque senão esses produtos não vão conseguir. Eles não vão conseguir, apesar de todas essas facilidades que clima, solo… o Brasil é um país magnífico.  

HL: A CCPR está aí para inaugurar agora em 2024 uma nova fábrica de ração em Curvelo/MG, na região central do Estado. Conta um pouco desse projeto grandioso. 

MC: Esse projeto foi muito bem estudado, vai ser a maior unidade de nutrição animal da América Latina. Foi feito todo um trabalho junto à Fundação Dom Cabral para fazer o planejamento estratégico, e eu sempre gosto de dizer uma coisa: nós tivemos, para aprovação desse projeto, a chancela do nosso eterno ministro Dr. Alysson Paolinelli, que quando dissemos para ele que tínhamos escolhido a região central de Minas Gerais, e quais os motivos pelos quais nós escolhemos, ele falou assim “olha, vai ser o futuro pólo agrícola do Estado de Minas Gerais”. É uma região que tem água subterrânea, tem rios, tem terras férteis, e precisamos criar ali a região geoeconômica. A Embrapa abraçou essa causa junto com a própria CCPR e com os empresários da região. Nós já estamos enxergando lá um movimento de compra de terras, já fizemos uma reunião com os produtores dizendo “olha, o que vocês produzirem aqui a CCPR vai comprar”. 

HL: Isso que eu queria saber de você. Como é que está esse trabalho, porque a CCPR vai industrializar, vai fazer a ração, mas para isso ela precisa de milho, soja, ela precisa dos produtores da região e de outras regiões também. Como tem sido feito esse trabalho para incentivar os produtores?  

MC: Nós temos feito, não só com os produtores, mas com toda a cadeia que participa do processo, com o fornecimento de insumos, com as empresas que fornecem máquinas, equipamentos, tratores, os próprios defensivos, as sementes de milho, adubos, nós temos feito reuniões na região de Curvelo/MG chamando os produtores a participarem trazendo a contribuição deles, as dores e os desafios que eles estão tendo, e sempre dizendo o seguinte: olha, o volume que a CCPR precisa… porque essa fábrica, Helenice, que você me pergunta, ela vai começar a produzir em 35 mil toneladas por mês, que é quase a mesma coisa que a nossa fábrica de Contagem/MG, que está na faixa de 25, mas nós vamos passar para 70 mil toneladas por mês.  

HL: Isso acontece esse ano ainda, essas 70 mil toneladas por mês? 

MC: Aí nós temos um prazo que ele vai em torno de 3 anos, nós vamos estar com 70. Vamos começar, inicialmente, você me perguntou quando a fábrica vai ser inaugurada, nós estamos pretendendo em janeiro, porque a Cemig precisa nos dar a energia que foi combinada, e estamos tendo um pouco de dificuldade, mas durante três anos a gente quer chegar com 70 mil toneladas. 

HL: Aí é a capacidade instalada dela total? 100%. Aí já vai ter que ter outra fábrica, né? (risos) 

MC: Aí vamos ver, né, porque a gente tem dados, do Sindirações, do aumento, no Brasil inteiro, da produção de ração, e a CCPR acompanha isso. A CCPR fica muito vinculada à questão do leite, porque a CCPR focou no leite, mas com essa fábrica nós vamos ter que abrir outros mercados para o gado de corte. Inclusive nós temos um projeto que se chama “Recorte”, que é um projeto de criar renda para o produtor onde a gente compra todo o macho leiteiro dele. E estamos criando um Centro de Terminações para poder vender esse animal, que é uma carne de qualidade, que a gente chama hoje de “boi China”. Então existe a possibilidade da CCPR estar fornecendo ao mercado 54 mil bezerros que hoje não são tão bem aproveitados pelo produtor, gerando renda para ele e criando uma outra oportunidade. No Sul, por exemplo, a gente vê o produtor produzindo porco, frango, tem milho e um pouco de leite, e até peixe.  

HL: E aí não fica tão dependente só do preço daquela atividade. Se o preço está bom de um lado, mas não está bom de outro, ele vai para a outra produção.  

MC: Se o leite estiver ruim, ele tem outras alternativas. Hoje o frango está um bom negócio, a China compra. Outro dia eu brincava com a turma da Vibra, aqui de Sete Lagoas/MG, o que eles mais vendem lá (na China) é o pé de frango, né (risos).   

HL: Incrível isso né! (risos) 

MC: Custa mais caro que o peito de frango. Então, assim, cria renda para o produtor. 

HL: Então isso também é uma outra atuação. Agora, a fábrica foi um investimento em Curvelo/MG de mais de R$200 milhões, não é? Numa fábrica nova. 

MC: Foi mais de 200, porque nós investimos também na unidade de secagem, que foi mais R$45 milhões.  

HL: Qual foi o valor total?  

MC: Com Contagem/MG em torno de R$280 milhões o investimento total feito nas fábricas. 

HL: Nesses últimos dois anos? 

MC: Nesses últimos dois anos, e pretendemos investir em outras áreas, mas com muito cuidado. Na verdade nós temos 31 donos, que são as cooperativas, com a discussão muito transparente, nós estamos discutindo alguns avanços nas atividades para gerar renda para o nosso produtor. 

HL: Ou seja, tem um master plan aí da CCPR para ou comprar outras fábricas de ração, ou começar projetos do zero, greenfield mesmo? 

MC: Hoje nós temos algumas fábricas de ração arrendadas. 

HL: São quantas? 

MC: São 4 fábricas. Nós temos uma fábrica em Divinópolis/MG, Piteiras, outra fábrica em Coromandel/MG, outra fábrica em Passos/MG e em Janaúba/MG. Exatamente esperando Curvelo/MG (fábrica) ficar pronta para que a gente possa unificar tudo. Então nós temos ideias assim de em outros estados abrir… porque uma coisa muito interessante, Helenice, que nós comprovamos, a Itambé e a CCPR sempre preservaram a melhor qualidade, então a nossa ração tem a qualidade superior, como o leite que nós fornecemos para Itambé também tem uma qualidade muito boa. 

HL: Esses 90 milhões de litros de leite captados por mês são todos vendidos para Itambé? Que é agora da Lactalis. 

MC: Todos vendidos para Itambé, que é agora da Lactalis. Mas assim, nós entregamos o leite na porta da fábrica com a qualidade comparada, por exemplo, à qualidade internacional da França. O nosso sócio… sócio que eu digo, assim, o nosso parceiro. 

HL: Comprador de todo o produto da CCPR. 

MC: Que é o comprador, o parceiro, que é a Lactalis. Ele vai até nos fazer uma visita agora, o Senhor Besnier, que é o dono da Lactalis, mas faz questão de dar uma importância para a parceria com o cooperativismo, ele ficou muito entusiasmado quando a gente fez a apresentação dos dados. É uma empresa que tem laticínio no mundo inteiro, é o maior laticínio do mundo, com faturamento de 36,5 bilhões de euros, é uma fortuna que eles faturam, mas importam muito com essa parceria com a CCPR, com o cooperativismo. 

HL: A CCPR é um parceiro estratégico para eles 

MC: É um parceiro estratégico, principalmente por ser cooperativa. É uma coisa que pouca gente sabe fazer, a nossa intimidade com o produtor… o produtor é dono da cooperativa. 

HL: Ele tem resultados, né? 

MC: Tem resultados. Distribuição de sobras. 

HL: A ração para ele tem um preço mais vantajoso, ele tem todo esse trabalho genético, atendimento da porta da fazenda para dentro. 

MC: Assistência técnica, um acompanhamento da fazenda para dentro, um acompanhamento da qualidade extremamente rigoroso, e ele é remunerado pela qualidade também. 

HL: E também pelo o que ele compra da CCPR, pela parceria com a CCPR, ele tem essa meritocracia também, não é? No final do ano. 

MC: Sim, no final do ano ele recebe das cooperativas a distribuição de sobras. Então, isso para ele é tudo que ele quer e merece, só que nós temos que fazer um trabalho para que ele receba mais, para que seja mais estimulado. O trabalho da cooperativa é distribuir sobras. Às vezes as empresas trabalham para capitalizar, a gente…  

HL: Essas sobras, Marcelo, explica um pouquinho para a gente como ela funciona num sistema de cooperativa.  

MC: Ela funciona da seguinte forma: a cooperativa tem o lucro, e ela de forma estatutária, esse lucro é distribuído para alguns fundos, que são fundos de desenvolvimento, fundos de assistência técnica, e tem a divisão para o produtor que a gente chama de fundo de incentivo à produção. Então parte desse lucro, vamos dizer 30, 40% deste lucro, é dividido para os produtores e para as cooperativas. Então quanto maior o lucro, maior a distribuição para as cooperativas e produtores. A gente distribui para os produtores através de uma bonificação no final do ano, em litros de leite, tem cooperativas que chegam a dar até uma folha a mais, tem cooperativas que conseguem dar menos, mas sempre com a preocupação de fazer um trabalho de distribuição baseado na relação que ele tem com a cooperativa de compra de ração e da produção de leite, equilibrando esses dois aspectos e fazendo essa distribuição. Então a gente tem assistido o seguinte, que isso ainda consegue segurar muito o produtor. 

HL: Fidelizar, né? 

MC: Fidelizar, mas ainda precisamos fazer mais, porque nós temos assistido o pequeno produtor ainda sofrendo com as importações, e elas realmente desequilibraram totalmente o ano de 2023, que nós estamos considerando que foi um dos piores anos na história da cadeia leiteira brasileira. 

HL: E isso pode se refletir no cooperativismo também, né?  

MC: Diretamente no cooperativismo. 

HL: No futuro, né. 

MC: O Dr. Ronaldo Sucato, da Ocemg, tem sempre dito o seguinte, não só no leite, mas no agro. “O agro tem que ser valorizado no Brasil. Nós não somos os maiores desmatadores, nós temos que acabar com esse estigma que o mundo quer trazer para cá”. Nós somos eficientes na nossa produção. 

HL: Parece lobby, né? É uma narrativa que as pessoas ficam…  

MC: Horrível e que não é verdadeira.  

HL: Agora, assim, as entidades estão falando muito mais. Eu vejo a FAMEG falando muito e é isso aí, tem que falar. Tem que fazer manifestos, como vocês fizeram.  

MC: Nós temos que dizer que nós produtores rurais somos responsáveis pela manutenção do nosso meio ambiente saudável, que o Brasil ainda, se você comparar com outros países, com a União Europeia, por exemplo, nós temos muito mais vegetação, muito mais nascentes muito mais preservadas do que o mundo em geral.  

HL: Marcelo, geração de empregos. Vocês, lá em Curvelo/MG, nessa nova fábrica de ração, vão gerar 200 empregos, mas tem uma cadeia toda de empregos indiretos pelos fornecedores que ultrapassa os 1000 empregos, né? 

MC: Então, Helenice, a gente pensa muito, e se preocupa, né, porque quando você vai fazer um investimento numa cidade, a primeira coisa que eles te perguntam é “quantos empregos vocês vão gerar?”. A nossa fábrica é 4.0, e isso significa que é uma fábrica muito automatizada, e inclusive com a possibilidade da rastreabilidade do produto, que é um processo de evolução que a gente vai ter através dessa automação. 

HL: Você consegue ver o grão, a qualidade dele que saiu lá da terra… 

MC: Desde a origem até o que está sendo produzido. Recebemos o Selo Verde do Banco do Brasil, que é uma das instituições que financiam a nossa fábrica, exatamente por esse cuidado. E o que a gente imagina em função desse novo polo agrícola, das pessoas que estão se mobilizando para ir para lá, já temos cooperativas vindo do Paraná, atuando lá, comprando terra, produzindo grão, a geração de mais de 2 mil empregos indiretos. Aí você tem as revendas de insumos, de tratores, de implementos, e a gente está vendo isso surgir em Curvelo/MG, é muito bonito a gente ver isso surgir.  

HL: Forma um novo polo, né. De indústria, comércio. 

Aí eu me lembro do Dr. Alysson dizendo que quando o Brasil não produzia milho, ninguém achou que o Brasil seria o maior produtor de milho do mundo e ele se destaca aí.  

HL: Ele foi lá e criou a Embrapa. 

MC: Eu imagino que nós vamos ter essa visão daqui alguns anos, né (risos) 

HL: Também essa virada de chave aí (risos) 

MC: E a gente está tendo a felicidade de poder participar desse momento. 

HL: Vocês vão exportar a ração, ou um concentrado, o que vocês pensam em fazer aí para ganhar cada vez mais mercado? Já que tem, né? 

MC: Existe um mercado. Então a gente já tem algumas conversas, agora a viabilidade da exportação, no commodity da ração, ela não funciona muito em função do custo. Aí nós vamos exportar principalmente concentrados, e como eu te disse a CCPR preza pela qualidade, a nossa ração tem uma qualidade muito boa. Nós vamos começar a trabalhar, inicialmente, nos nossos mercados internos, em Estados vizinhos, nós temos cooperativas em Goiás.   

HL: Já tem comprador? 

MC: Já temos compradores.  

HL: Senão não ia investir em uma nova fábrica. 

MC: Já identificamos, e a gente trabalha no que a gente chama de “área branca”, que são áreas ainda próximas do Estado de Minas que a gente ainda não tem atuação, são áreas mais voltadas para pecuária de corte, que nós estamos também começando a investir nisso. Vamos agora fazer uma visita, nos Estados Unidos, a Cargill, exatamente para poder desenvolver tanto a pecuária de leite quanto a pecuária de corte. 

HL: São rações diferentes. A expertise é outra. 

MC: São rações diferentes e um foco na área comercial um pouco diferente, porque você, no gado de corte, nós temos clientes que tem 150 mil bois, é um volume muito maior. 

HL: É um volume muito maior e mais concentrado também, né? 

MC: E mais concentrado em fazendas. Então é um perfil de venda diferente, mas infelizmente também o corte hoje vive uma crise. Ela não vai ser eterna, com certeza.  

HL: Tem as ondas, né? 

MC: Tem as ondas, e o Brasil já provou que sabe superar isso, né. Hoje o Brasil consegue produzir carne extremamente adequada.  

HL: Ela não deixa nada a dever, porque antigamente não tinha uma conversa assim “a carne da Argentina é melhor do que a nossa.”? 

MC: Isso acabou! (risos) 

HL: Acabou. A quantidade de tecnologia embarcada que a gente vê nas fazendas, nos frigoríficos, em tudo, não é? 

MC: E coisas simples, Helenice. Nós temos processos de engorda, hoje, de bois, que eles falam 777, que é processo de cria, recria e engorda, com tempos assim, coisa muita curta, sabe? 

HL: Sem perder a qualidade.  

MC: Então isso que nos dá orgulho. O produtor brasileiro mostrou a cara e mostrou que tem capacidade, que o país ajuda e que temos tecnologia. 

HL: Marcelo, é um dos pilares da CCPR a captação de leite. Vocês vendem tudo para a Itambé, num contrato longo, de 10 anos, prorrogáveis por mais 10, vocês podem aumentar também essa captação ou isso não está no radar atual da CCPR?  

MC: Está no radar. Nós temos conversado muito. Nós vamos receber a visita do Sr. Besnier, que é o presidente da Lactalis, e a gente sempre tem uma conversa com ele “olha, nós estamos com 3 milhões de litros e queremos chegar em 4 milhões de litros”... E também outras alternativas que a gente pode criar com as cooperativas, então a gente sente que nós temos credibilidade no mercado, porque a CCPR é a primeira a pagar o preço do leite. Os laticínios pagam no dia 25, e a gente sempre paga a partir do dia 10, dia 12, até o dia 15, a nossa regra é o dia 15, mas sempre que a gente pode, a gente antecipa esse pagamento. Então, assim, existe a nossa intenção de aumentar a captação, e lógico, dentro de um preço de mercado sem essa interferência… 

HL: Sem essa concorrência desleal. 

MC: Sem essa concorrência desleal nós temos condição de aumentar. 

HL: Dá para ter mais mercado aqui, não é? Dá para pensar para frente, avançar nesse debate. 

MC: Porque isso é notório, o volume de leite diminuiu, e o número de produtores, principalmente pequenos, diminuiu. Nós não queremos que isso atinja o grande também, porque senão nós vamos ficar sem leite. Então eu acho que o Governo Federal tem que ser mai ágil nessas ações, e o Governo de Minas já, hoje, sinaliza que está compromissado com o produtor, e vamos ter que trabalhar com o Governo Federal para que realmente essas medidas, apesar de terem sido tomadas, não podemos dizer que não foram tomadas, mas que elas sejam mais efetivas, elas ainda não mostraram isso.  

HL: Marcelo, a CCPR tem também pontos de vendas diretas, de vendas para o produtor, armazéns, como está esse investimento também? Vocês querem aumentar essas lojas, tem um projeto também dessa capilaridade maior?  

MC: Sim. Hoje a CCPR tem 19 unidades. Cada lugar de captação, cada cooperativa também tem o seu ponto de venda, e nós percebemos que é um negócio bom, porque ele atende o produtor, ele tem uma rentabilidade boa para cooperativa também, porque nas nossas lojas tem todos os produtos necessários que o produtor precisa para o campo. Além da ração, ele precisa de medicamento, ele precisa de adubo, ele precisa de defensivo, ele precisa de um apoio de um agrônomo 

HL: Assistência técnica, né. 

MC: De assistência técnica, de um veterinário. Então essas lojas nossas funcionam como um ponto de referência. É até um ponto de negócios. Tem loja que tem uma mesinha, com um café, você chega o produtor está lá fazendo um negócio, comprando vaca, conversando, se atualizando no momento. É um espaço assim muito agradável e vira uma referência de encontro do produtor, onde ele tem as informações, é um espaço bem dele, né. Esse espaço é o cantinho do produtor, que a gente chama. E queremos crescer sim nas lojas, aumentando a nossa capilaridade, exatamente para aumentar essa nossa intimidade com o produtor, que é uma coisa que a gente, dentro do cooperativismo, valoriza.  

HL: Como estão os resultados da CCPR em 2023 e qual a expectativa para 2024? 

MC: Olha, os resultados de 2023, quando você tem uma retração no leite, no valor do leite, o produtor compra menos ração, então não foi um resultado dos melhores.  

HL: Que vocês esperavam, né. 

MC: Não foi. O de 2022 foi um resultado excelente, foi um dos melhores resultados que já tivemos na CCPR, mas com essa crise do leite em 2023, isso se reflete no resultado, porque a gente sempre procura o melhor preço para o produtor, e claro se você tem um menor preço, você não consegue ter aquele resultado tão exitoso. E nós não queremos também ter um resultado exitoso em detrimento do prejuízo do produtor. 

HL: Tem que ser bilateral, a relação. 

MC: Tem que ser uma relação de ganha/ganha. Então num momento desse em que o produtor está perdendo, a CCPR não está evoluindo o que a gente gostaria. Agora no ano de 2024, eu imagino que com todo o trabalho que está sendo feito pela FAEMG, pela CNA, pela Ocemg, pela própria CCPR, eu acho que o ano já começa um pouco melhor. Eu vislumbro uma luzinha lá no final do túnel, já temos uma pequena melhora no preço do leite, o consumo no supermercado também está aumentando, porque nós temos esse problema… 

HL: A inflação, né? A pessoa corta ali e consome menos. 

MC: As pessoas não estão dando conta de comprar. Então isso a gente começou a perceber. O consumo não evolui na medida do necessário. “Ah, o nível de emprego subiu”. Subiu, mas em função dessa classe que está recebendo Bolsa Família que se considera empregada, mas com uma faixa de renda muito baixa. Eles não contam isso como desempregados, eles não têm poder de compra. A gente lembra que na época da pandemia, que as pessoas ficavam em casa, nós aumentamos a venda de iogurte em 25%, em volume, então as pessoas não tinham mais o que fazer, ficavam ali em casa consumindo manteiga, pão, e isso era ótimo (risos).   

HL: Agora, de ração também vocês produzem várias famílias de ração, até pet, né? 

MC: Várias. Nós estamos desenvolvendo pet, estamos desenvolvendo peixe, e temos quase 80, 90 SKU de ração. Nós fazemos uma ração que poucas indústrias de nutrição animal fazem, que se chama ração customizada. O técnico vai na sua fazenda, vê a necessidade em função do animal que você tem, da terra que você tem, dos nutrientes que essa terra produz, e você adequa uma ração que a gente chama de customizada. Ela é uma ração que atende o produtor especificamente, mas na linha de produção ela acaba quebrando o volume um pouquinho. Mas a gente respeita e quer produzir para o produtor. Eu já fui em fábrica de ração em que eu perguntei para o dirigente se ele fazia customizado, ele virou para mim e falou “Deus que me livre!”. E a CCPR faz isso com muito prazer. 

HL: É a função dela, inclusive, como cooperativa, senão vai virar empresa, né? 

MC: E isso nós não vamos virar. Nós somos cooperativa, queremos ter rentabilidade, mas queremos construir dentro de uma função social do cooperativismo.  

HL: Senão perde esse foco social. 

MC: É pôr em risco todo o nosso investimento. Esse investimento é para dar uma condição  para o produtor. 

HL: É melhorar cada vez mais. 

MC: Melhorar cada vez mais. 

HL: Além disso, na pegada da energia limpa, Marcelo, tem também a Usina Fotovoltaica, que a CCPR fez, desenvolveu. 

MC: Essa usina também está enquadrada dentro dos princípios do ESG, de sustentabilidade. Hoje, para você ter uma ideia, nós temos 7 postos de refrigeração no leite. São postos que são intermediários entre o produtor e a fábrica, esses leites ficam aí nesses postos de captação. Então nós pagamos hoje toda a nossa energia dos postos de captação, dos nossos armazéns, apenas a fábrica de Contagem/MG ficou fora, mas isso gera uma energia limpa. 

HL: Energia própria. Barateia os custos também, né? 

MC: Barateia, ele tem uma rentabilidade, porque a gente consegue ter essa rentabilidade de vender até um pouco de energia que sobra. Fizemos uma usina de 1 megawatts, que é uma usina bem razoável, e participamos do programa MinasCoop, onde fomos um dos protagonistas desse programa, em que a CCPR produz essa energia e parte dessa energia é doada a uma instituição filantrópica. A Ocemg fez uma doação aqui para a Santa Casa de Misericórdia, e nós estamos agora incrementando uma ação com o Hospital Oncológico de Curvelo/MG. Então esse programa MinasCoop, da Ocemg, e que teve uma dimensão enorme, todas as grandes cooperativas aderiram, a Credicom, a Unimed, todas dentro do cooperativismo, dentro do Sicoob, e parte dessa energia é doada para instituições de caridade, como a Santa Casa, institutos oncológicos, mais uma vez reforçando o papel de sustentabilidade e de cuidar das pessoas que o cooperativismo tem. Esse programa MinasCoop foi assim uma grande ideia, inclusive nós fomos receber do Papa Francisco, estivemos em Roma, na Itália, eu fui com o Ronaldo Sucato, e foi muito gratificante mostrar para ele o MinasCoop, o dia D, que é o dia do cooperativismo. Então o cooperativismo chega a ser uma paixão, a gente tem que considerar isso. 

HL: E tem que fazer crescer mais, né, Marcelo. 

MC: A Ocemg tem feito um belo trabalho. Agora Minas Gerais, em termo de tradição, eu não sei se foi a questão da colonização, o Sul por ter sido colonizado por alemães e italianos que já traziam esse costume europeu, mas Minas tem evoluído. Nos programas hoje da OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras, se você tem 57 cooperativas premiadas, 41 são mineiras, nos programas PDGC, que é um programa de gestão. E a CCPR mais uma vez se destacando, recebendo medalha de ouro, são vários níveis, e nesse ano recebendo medalha de prata, e estamos caminhando para excelência em gestão, tudo baseado nos princípios cooperativistas. Nós temos o apoio do Ronaldo Sucato, da Ocemg, do Márcio Freitas lá da OCB, que é a nossa organização central, isso tudo em prol do produtor, porque o que essas organizações fazem? Elas preparam as lideranças para que elas possam exercer dentro das cooperativas as funções, e que possam conduzir essa cooperativa da melhor forma possível. 

HL: É, acompanhar o avanço tecnológico, porque hoje não tem como dissociar isso.  

MC: Inclusive com cursos no exterior, formando lideranças em vários programas, Lidercoop, Formacoop. Então o cooperativismo hoje é uma coisa muito importante dentro de Minas Gerais. Nós temos a Federação, eu sou vice-presidente da Fecoagro, que é uma Federação de cooperativas, nós temos estimulado muito isso dentro das cooperativas. O cooperativismo é importante e nós precisamos seguir os 7 princípios do cooperativismo, e um desses princípios é a intercooperação. Hoje, por exemplo, quem faz a nossa captação de leite é uma cooperativa, uma delas, o nosso sistema, onde operamos, são cooperativas de crédito. É lógico que operamos também com bancos, como o Banco do Brasil, mas as cooperativas de crédito têm prioridade no nosso relacionamento. Cooperativas médicas, Unimed. Então o sistema cooperativista é muito forte. 

HL: É tudo para fortalecer cada vez mais, né? 

MC: As pessoas e os cooperados. 

HL: E esse resultado também que volta para as pessoas da comunidade. 

MC: Hoje o crédito avançou muito né, Helenice, você tem falado um pouco sobre isso. O crédito avançou muito e as cooperativas de produção ainda precisam avançar mais. Nós temos hoje em Minas Gerais a cooperativa Cooxupé, (Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé) de café, que é uma cooperativa referente a maior cooperativa do mundo. Uma grande referência, muito bem administrada, com pequenos produtores, são produtores “pronafianos” e isso é uma coisa magnífica. 

HL: É, porque o produtor sozinho não tem o resultado que ele tem quando está associado dentro de uma cooperativa, porque aí é o volume, né? 

MC: E é o que a cooperativa CCPR está trabalhando para ser, quando eu digo que é a maior cooperativa em captação de leite, e cito, como cooperativa, porque é um diferencial. É o diferencial do cooperativismo. Então nós queremos pegar esse produtor, acompanhá-lo e ele ter o orgulho de dizer “somos cooperativistas e participamos da maior cooperativa de captação de leite do Brasil”. E vamos chegar nesse ideal aí. 

HL: É, e estar sempre ali, essa relação comercial… 

MC: Próximo ao cooperado e às cooperativas. 

HL: Protegendo e dando a mão, e fazendo o que é melhor para também a CCPR ter resultados cada vez melhores. Ano passado foi o que, R$3 bilhões? Pouco mais de… 

MC: Quase R$ 3,5 bilhões de faturamento. 

HL: R$3,5 bilhões. E neste ano deve ficar nisso também? 

MC: Não, eu acho que neste ano nós vamos crescer um pouco mais, porque tem muito da questão da referência do valor do leite. Quando o leite está mais valorizado a gente consegue vender mais ração, entregar mais produtos, e estamos pensando também no crescimento na nossa área de abrangência em relação ao gado de corte e a outras atividades que estamos pensando, criando mais mercados. 

HL: É, e concorrendo com esses outros grandes players aí também, né? Que não é fácil a concorrência nesse grande mercado, mas é acreditar, né? Acreditar no potencial. 

MC: Acreditar e valorizar o nosso produtor de leite que tem muito potencial, está precisando de apoio. 

 

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