Culpa sem fim
Na esteira do lançamento do livro "Mea Culpa", de Doca Street, que matou a socialite mineira Ângela Diniz, há 30 anos, em Búzios, a filha de Ângela, Cristiana, "pela primeira e última vez" falou à imprensa, mais especificamente à revista "RG Vogue".
Morte sem fim
Dizendo ter necessidade de uma homenagem pública à mãe, Cristiana revelou à jornalista Milly Lacombe que Doca, com esse livro, continua a assassinar a reputação daquela que era conhecida, em todo o Brasil, como a "Pantera de Minas".
Esperança sem fim
À coluna Navarro, "Gata" " como Cristiana foi apelidada pela mãe e adotada pelos chegados " revelou que a "Vogue" foi extremamente fiel ao que ela disse. Assim, com a entrevista ela espera que "dêem descanso à alma da mãe, pois não é nada bom ficar levantando essa lebre".
Caretice sem fim
Sobre os anos 70 e a discriminação da sociedade em relação às mulheres que fazem e acontecem, a gata Cristiana falou-nos que nada mudou na "Dog Ville" (Belo Horizonte, para os íntimos, bastardos e órfãos): "Os homens são os mesmos machões, vivem casamentos hipócritas e/ou relacionamentos paralelos".
Carma sem fim
Cris completa: "As mulheres continuam sem o direito à opção de permanecer ou não com o parceiro e, se assim não o fizerem, ficam à margem da sociedade ou morrem. Morrem como minha mãe, há 30 anos, e hoje, como Sandra Gomide (a jornalista morta a tiros pelo namorado e jornalista Pimenta Neves que, mesmo condenado, recorre em liberdade) cujo assassino não foi punido".
Lembrança sem fim
E Cris, colega do titular desta coluna na academia Loft Gym e de outros tempos, disse mais à "Vogue": "Minha mãe não mentia, não omitia, não enrolava. Nem para o mundo, nem para a gente. E esse trinômio, que é o contrário da hipocrisia que rege nossa sociedade até hoje, acabou custando-lhe a vida".
Liberdade sem fim
Continua Cris: "Ela sempre nos disse que precisava de liberdade e, por isso, aceitou o divórcio, mesmo perdendo os filhos. Ela explicou que estava na Justiça para recuperar nossa guarda, que ia lutar até o fim. E me ensinou que liberdade é um direito importante".
Liberdade com fim
Do texto de Milly Lacombe: "Cristiana, com três filhos, ressalta que no Brasil, sobretudo em Minas, nos anos 70, uma mãe de 25 anos, divorciada, dificilmente conseguia a guarda dos filhos, a menos que o pai abrisse mão. Uma mulher livre era estranha, perigosa. Quanto mais Ângela se permitia viver, mais distante ficava judicialmente dos filhos. "Minha mãe levava a vida (...) no ritmo do coração. Era apaixonada e apaixonava. Por onde passava, fazia cabeças virarem. Vivia rindo, vivia feliz"".
Sonho sem fim
Cristiana revela ainda que, com essa e outras tragédias que abalaram a família, sabe hoje muito bem o que é a alquimia de transformar limão em limonada, com açúcar ou adoçante.
Cris afirma que a mãe saiu de Belo Horizonte para o Rio porque a cidade ficou pequena para ela: "Ela queria ver o mundo, ver o que havia depois da esquina e para tal pagou um alto preço".
Tortura sem fim
Cristiana também pagou. Depois da morte de minha mãe ouvia sempre comentários do tipo: "Olha ali a filha daquela vagabunda". E completa Lacombe: "O crime bárbaro não foi suficiente. Para muitos, Ângela merecera morrer, pois afinal, como uma mulher ousa ser sexual e moralmente livre no Brasil de 1970"".
Tragédia sem fim
Continua Cristiana: "Diante de alguém assim, o homem tem o direito de perder a cabeça e depois alegar legítima defesa da honra". Assim lamenta a vizinha do Belvedere deste colunista, filha do saudoso empresário Milton Villas Boas, também morto tragicamente em um acidente de avião.
Sensacionalismo sem fim
Questionada pela coluna em relação à produção do filme sobre Ângela Diniz, com direção de Roberto Faria, a "Gata" Cristiana confessou-nos que não tem interesse algum que o mesmo seja rodado: "Aqui, ao contrário dos EUA, não existe legislação que proíba ou que dê normas para a reprodução de histórias como a da minha mãe".
Fim sem fim
Finaliza Cristiana: "Daí você tem que negociar antes (com os produtores e o diretor), pois, se processar depois, como perdas e danos, você está promovendo o filme". Por outro lado, Cristiana acredita que, como eles estão calados, talvez não tenham encontrado patrocínio.
Em tempo, como registramos nesta coluna, há algumas semanas, certas livrarias de Belo Horizonte, como a Status, na Savassi, recusam-se a vender o livro de Doca Street.
Fim do fim
A Status, que até pendurou cartazes dizendo não vender livros de assassinos, assim como boa parte da mídia, criticou a "obra", alegando que um assassino como Doca Street não merece ganhar dinheiro com seus crimes.
Isso, depois do próprio Doca ter declarado à imprensa que, em caso de lucro, o dinheiro irá para "os velhinhos que saem da prisão, sem nada, ou para seus filhos".
Com Walter Navarro
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