Pesquisa do IBGE

Crise faz famílias trocarem gás por lenha para cozinhar

Minas tem maior percentual de lares (23%) que usam o combustível para preparar seus alimentos

Por Thuany Motta
Publicado em 22 de maio de 2019 | 21:02
 
 
No país, 14 milhões (19,8%) dos 71 milhões de lares utilizam fogão à lenha ou carvão para para cozinhar, mostra o IBGE ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM

Dos 7,3 milhões de domicílios de Minas Gerais, em quase 1,7 milhão deles as famílias usam lenha ou carvão para preparar seus alimentos, o que corresponde a 23,2% do total – em 2017 eram 19,6%. É o maior percentual do país, onde 14 milhões (19,8%) dos 71 milhões de lares utilizam esses recursos para cozinhar. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD- Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quarta-feira (22).

Outro indicador do estudo que chama atenção é o aumento na quantidade de famílias que moram de aluguel. Em Minas Gerais, elas correspondem a 17,9% do total, enquanto a média nacional está um pouco acima, com 18,1%. Em relação a 2017, houve uma expansão de 5,3% dos aluguéis no país, mostra o IBGE.

Adriana Araújo Beringuy, analista do instituto, diz que não tem como afirmar se a raiz do problema está diretamente ligada à queda na renda das famílias brasileiras e aos sucessivos aumentos no preço do gás de cozinha – que praticamente dobrou de valor (98%) nos últimos dez anos, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

“Além de não termos dados sobre a renda média nacional para cruzar com as informações do Pnad, devemos lembrar que, em uma casa onde se cozinha com carvão, o gás de botijão também pode ser usado”, afirma a pesquisadora.

Fatores decisivos

No entanto, para o coordenador de economia do Ibmec, Márcio Salvato, os resultados da pesquisa refletem os problemas estruturais econômicos existentes no país há alguns anos. “A conta é simples: rendimento médio menor, somado a uma quantidade cada vez maior de pessoas fora do mercado de trabalho, resulta numa mudança dos hábitos de padrão de consumo e moradia da população brasileira”, afirma.

Segundo o especialista, em ambos os casos, a substituição acontece levando em consideração as possibilidades de cada lar. “Essas pessoas adotam combustíveis mais baratos em detrimento do gás porque assim podem utilizar o dinheiro para outras coisas. Em relação aos aluguéis, as famílias vão optar por um domicílio que atenda suas necessidades básicas e que caiba na realidade de vida”, explica o economista.

A pesquisa mostrou também que, na grande maioria dos domicílios, 88,2% ou 62,6 milhões, as paredes são de alvenaria com revestimento. A maioria, 77,6% , tem piso de cerâmica, lajota ou pedra.

Saneamento parado

A falta de saneamento e de destinação adequada do lixo seguem como o maior problema das moradias brasileiras, com forte impacto na saúde da população. Mais de 90% das casas têm banheiro, mas 33,7% não têm escoamento por rede geral ou mesmo fossa – percentual estável desde 2016.

98% têm geladeira

A Pnad também apurou que quase todos os domicílios têm geladeira: 98%, sendo que, em todas as regiões o porcentual é superior a 90%. A máquina de lavar está presente em 65,1% dos lares. No Brasil, 48,8% das casas possuem carro, 22,2% têm motocicleta e 11,1% ambos.

População envelhece

Segue a tendência de queda da proporção de pessoas com menos de 30 anos: em 2012, elas eram 47,6% da população e, agora, 42,9%. A população acima dos 30 anos registrou crescimento, atingindo 57,1% no ano passado. A parcela de pessoas com mais de 65 anos representa 10,5% da população.