Verdade ou mito?

Quem pratica esporte morre mais cedo por causa do coração acelerado? Entenda

Declaração dada anos atrás pelo ex-ministro Antônio Delfim Netto voltou a viralizar nas redes sociais e é rebatida por cardiologista do Hospital Biocor

Por Alexandre Nascimento
Publicado em 13 de março de 2024 | 06:00
 
 
Apesar da pessoa que pratica exercícios físicos ter uma frequência cardíaca mais alta durante a atividade, o coração dela costuma bater mais devagar do que o de um sedentário no restante do dia Foto: Pixabay

As redes sociais voltaram a divulgar um vídeo antigo do economista Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, criticando a prática de exercícios físicos e defendendo o sedentarismo como forma de prolongar a vida. Segundo ele, o coração bate um determinado número de vezes e depois para. E como a frequência cardíaca aumenta durante os exercícios físicos, Delfim Netto acredita que as pessoas que se exercitam morrem mais cedo. 

“O coração é um músculo que quando você nasce, ele vai bater 1.432.729.226 de vezes. Quando chegar nisso, o músculo para. Cada vez que eu dou uma corrida, eu consumo muito mais. Quer dizer, eu estou encurtando a minha vida”, disse o ex-ministro. 

Médico cardiologista do Hospital Biocor em Nova Lima (MG), Pedro Caetano de Oliveira Miranda rebate com veemência as declarações de Delfim Netto. 

“Não, o coração não tem um número regulamentado de batidas para parar de funcionar, não existe comprovação científica sobre essa informação. Sabemos que o coração funciona ao ritmo médio de 72 batidas por minuto, cerca 104 mil por dia, 38 milhões por ano, e algo em torno de 2,5 bilhões de pulsações ao longo da vida. Isso considerando uma expectativa de vida de cerca de 78 anos, porém, esse valor pode alterar de pessoa para pessoa, sendo esses dados uma média geral da população”.

O especialista também tranquiliza as pessoas que fazem exercícios físicos. “Em relação à prática de atividade física ser prejudicial devido a acelerar o coração, também não é verídico, vale uma ressalva se o indivíduo tiver algum problema de saúde prévio. Em indivíduos saudáveis essa informação deve ser desconsiderada. No momento da prática de atividade física temos uma elevação dos batimentos para compensar o gasto energético gerado em resposta ao esforço, no entanto, essa elevação não é prejudicial à saúde, sendo na verdade benéfica, pois melhora a capacidade de resistência ao esforço de cada indivíduo”, explica.

O médico ainda acrescentou uma informação curiosa: apesar da pessoa que se exercita ter uma frequência cardíaca mais alta durante a prática das atividades físicas, o coração dela costuma bater mais devagar do que o de um sedentário no restante do dia. 

“Sim, a frequência cardíaca de um praticante de atividade física tende a ser menor que a de um sedentário, podendo atingir valores menores que 50 batimentos por minuto, e ser perfeitamente normal para aquele indivíduo. Por sua vez, os batimentos de um sedentário podem chegar a mais de 100 por minuto, essa frequência elevada, de forma crônica, pode ser prejudicial ao coração, podendo levar a uma sobrecarga”.

O doutor Pedro Caetano de Oliveira Miranda confirma também que o coração de um atleta é mais forte do que o de uma pessoa que não pratica atividades físicas.

“Existem também outras diferenças, temos a chamada hipertrofia, ou seja, o coração de um atleta é mais forte que o de um indivíduo sedentário, devido ao volume de exercícios que pratica. Os atletas também podem contar com o chamado condicionamento físico, ou seja, o organismo já está preparado para receber certas cargas de esforço, o coração foi preparado para aumentar a frequência cardíaca de acordo com o esforço de cada atleta. São fatores como esses que uma pessoa sedentária não possui, e é a partir disso que as doenças coronarianas e o aumento de pressão começam a aparecer”.

Por fim, o médico explicou como as pessoas podem perceber que estão com problemas cardíacos e precisam se consultar com um especialista. 

“Vou citar os seis principais sintomas relacionados à saúde do coração: dores no peito; batidas cardíacas irregulares; cianose e frio nas mãos e pés; falta de ar; tonturas e desmaios e inchaços nas pernas. No caso de aparecimento de um ou mais desses sintomas, as avaliações médicas regulares e os exames preventivos são o melhor cuidado que você pode tomar. A consulta com o cardiologista deve ser individualizada para cada paciente, sendo necessária a avaliação clínica para orientar e definir exames complementares quando necessário”.