Uma coisa é certa. A Mocidade Independente de Padre Miguel pode até não conquistar o título do Carnaval carioca em 2024, mas em um quesito ela já é a campeã: o de melhor samba-enredo da folia deste ano. A verde e branco decidiu homenagear uma das frutas que é a cara do Brasil, o caju - aliás, foi a última escola da Liga Especial do Rio de Janeiro a anunciar seu enredo.
"Pede caju que dou... Pé de caju que dá! vai levar para a Marquês de Sapucaí histórias sobre a fruta do cajueiro, com suas histórias, lendas e curiosidades.
O samba, assinado pelos compositores Diego Nicolau, Paulinho Mocidade, Marcelo Adnet (isso mesmo, o humorista), Richard Valença, Orlando Ambrósio, Gigi da Estiva, Lico Monteiro, Cabeça do Ajax, já caiu na boca do povo e tem sido apontado pela crítica especializada como o novo "Explode Coração", o samba-enredo campeão do Salgueiro em 1993 e que até hoje é cantado do Oiapoque ao Chuí. A composição foi a música mais ouvida no Rio de Janeiro no réveillon, de acordo com a plataforma Spotify.
Aliás, não é novidade para Adnet compor um samba-enredo. Ele já foi do time de compositores da São Clemente em 2020 e 2022. A Mocidade será a primeira escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro. O carnavalesco é Marcus Ferreira, o intérprete, Zé Paulo Sierra, e o mestre de bateria, Dudu Oliveira. O último título da agremiação - que este ano tem Fabíola Andrade, esposa do bicheiro Rogério Andrade, como rainha da bateria - foi em 2017.
Confira a letra do samba
Por outras praias a nobreza aprovou
Nas redondezas se espalhou, tão fácil, fácil!
E nesta terra onde tamanho é documento
Vou erguer um monumento para seu Luiz Inácio
Nessa batalha teve aperreio
Duas flechas e no meio uma tal cunhã poranga
Tarsila pinta a sanha modernista, tira a tradição da pista
Vai Debret! Chupa essa manga!
É tropicália, tropicana, cajuína
Pela intacta retina, a estrela no olhar
Carne macia com sabor independente
A batida mais quente, deixa o povo provar
Meu caju, meu cajueiro
Pede um cheiro que eu dou
O puro suco do fruto do meu amor
É sensual, esse delírio febril
A Mocidade é a cara do Brasil
Eu quero um lote
Saboroso e carnudo
Desses que tem conteúdo
O pecado é devorar
É que esse mote beira antropofagia
Desce a glote, poesia
Pede caju que dá
Delícia nativa
Onde eu possa pôr os dentes
Que não fique pra semente
Nem um tasco de mordida
E aí tupi no interior do cafundó
Um quiprocó virou guerra assumida
Provou porã, fruta do pé
Se lambuzou, Tamamdaré
O mel escorre, o olho claro se assanha
Se a polpa é desse jeito, imagine a castanha