À luz do dia, em poucos minutos e desprezando a presença de equipamentos de segurança, como câmeras e alarmes. A ação cada vez mais ousada de criminosos invadindo casas tem transformado a época voltada para viagens, passeios e lazer, em dor de cabeça para os belo-horizontinos. No último sábado (6 de janeiro), moradores de um prédio no bairro Glória, região Noroeste da capital, foram surpreendidos pela ação de uma dupla que invadiu o apartamento de um casal, que estava viajando. Nesta quarta-feira (10 de janeiro), mais dois casos foram registrados, um deles contra uma investigadora da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), no bairro Gutierrez, na região Oeste. As ocorrências não são isoladas e fazem parte de uma média de um caso a cada 1 hora e 30 minutos registrado em Belo Horizonte em 2023. Segundo especialistas, a modalidade historicamente cresce nesta época do ano. 

Conforme levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), entre janeiro e novembro de 2023, 5.687 residências foram alvos de criminosos em Belo Horizonte. Do total, 5.558 foram relacionados a furtos — quando a invasão ocorre sem algum tipo de violência —, o que representa 97% dos casos. No período, em todo o Estado, foram mais de 48 mil ocorrências. A média é de um caso a cada 10 minutos. 

A publicitária Denise Vianna, de 58 anos, conhece bem essa preocupante realidade. Moradora do bairro Gutierrez desde o nascimento, ela conta que sempre ouviu casos esporádicos de furtos a residências, mas há cerca de quatro anos, a situação piorou. 

Nesta semana, o prédio em que ela mora foi invadido, mas essa não foi a primeira vez, conforme relatos dela. "Invadiram o apartamento no térreo. Levaram algumas chaves. Penso que poderiam retornar. Todas as fechaduras tiveram que ser trocadas", lembra ela.

Câmeras não ajudam

Diretor de Relações Institucionais da Associação dos Amigos do Entorno do Estádio Independência e Adjacências, Adelmo Marques também tem histórias de furtos para contar. De acordo com ele, a situação está tão complicada que nem mesmo as câmeras, algo solicitado pelos moradores, intimidam os criminosos.

“Foi uma luta da comunidade. Hoje há câmeras, mas ninguém respeita aquilo. Teve um arrombamento em um bar, a cerca de uns três meses, e tem uma câmera em frente ao portão”, relata.

Números tendem a aumentar

Mesmo com números altos, os dados tendem a aumentar ainda mais nos próximos dias, segundo o especialista em segurança pública, Arnaldo Conde. A expectativa ocorre devido a maior “oportunidade” para o crime, diante da ausência de moradores, característica do período entre dezembro e janeiro, marcado por férias escolares e confraternizações. “Estamos na época de férias, e as pessoas viajam, então isso pode acontecer. No ano passado, na época de julho, vários prédios de luxo foram assaltados na região metropolitana, por exemplo”, cita. 

Conde explica que, na maioria dos casos, o crime ocorre após os bandidos receberem informações de “dentro”, de pessoas que têm contato com as vítimas. “Nos casos de julho, a polícia identificou que se tratava de uma quadrilha de São Paulo, que recebia informações sobre a ausência dos moradores”, aponta. Por isso, segundo Conde, nem sempre os equipamentos de segurança são eficazes. “O equipamento é só uma ferramenta. Ele vai documentar, mas não impedir”, ressalta.  

O especialista ressalta que as forças de segurança não são capazes de vigiar todas as casas. Mas ele reforça a necessidade de reforço do patrulhamento nesta época do ano.“Um patrulhamento ostensivo da polícia deve ser feito. A PM sempre faz isso nos batalhões de área para justamente orientar as pessoas a tomarem esse tipo de atitude”, afirma. 

Para ele, uma dica simples é que os moradores criem uma “rede de monitoramento” com os vizinhos. “A forma de prevenir tem que ser simples. Quando for viajar, combine com vizinhos para que alguém olhe a casa, acenda as luzes ao anoitecer, são coisas simples. A segurança não é problema só da polícia, mas é do cidadão também. Outro ponto é evitar divulgar que está de férias em família, mostrando que a casa está sozinha”.

PM garante ações de combate ao crime 

A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) garante que desenvolve ações para conter a ação dos criminosos e aponta queda nos casos de furtos e roubos nos últimos anos. “Dados mostram redução dos números criminais de roubo e furto de 2022 para 2023. Lutamos pelo crime zero, mas sabemos que existem casos”, afirma o tenente Lucas Coutinho, chefe da Sala de Imprensa da PM. 

O militar ressalta a operação Férias Seguras, iniciada em dezembro, que tem o objetivo de coibir a criminalidade no Estado. “A ação conta com um aumento do efetivo de militares nas ruas. Isso acontece através dos policiais das áreas administrativas, que nesse período são realocados para garantir a segurança da população”, garante. 

O tenente ressalta ainda que a segurança pública é um dever do Estado, mas é também um compromisso de todos. “Neste período, sabemos que as pessoas estão viajando e precisam ter maior cuidado. É importante que falemos sobre dicas de prevenção, como a conscientização feita pela PM para criação de uma rede de vizinhos protegidos. A ideia é que a pessoa, antes de viajar, deixe a chave com alguém de confiança para fazer a movimentação na casa e tirar a impressão de que a casa está vazia”, alerta. (Veja dicas abaixo). 

Relembre

6 de janeiro. Moradores de um prédio na rua Cuiara, no bairro Glória, na região Noroeste de Belo Horizonte, ficaram assustados com a falta de segurança e com a audácia de dois assaltantes. Logo na primeira semana do ano, no dia 6 de janeiro, o local foi invadido pela dupla, que arrombou a porta do edifício, invadiu o apartamento de um casal, que estava viajando, e furtou objetos e cartões. Essa foi a segunda vez que o imóvel foi alvo de criminosos. 

24 de dezembro. Em plena noite de Natal, dois homens invadiram um prédio no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte, e, em menos de trinta minutos, furtaram um cofre e uma mala com pertences dos moradores e deram um prejuízo de R$ 500 mil.

22 de outubro. Um homem foi preso por suspeita de realizar diversos furtos à residências na região da Pampulha. No dia em que foi detido, ele foi perseguido pela polícia após cometer mais um crime no bairro Bandeirantes.

5 de outubro. A suspeita de invadir um apartamento de luxo no bairro Luxemburgo, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em outubro de 2022, foi presa em São Paulo um ano após o crime. O material levado pela mulher foi avaliado em cerca de R$ 1 milhão.

DICAS PARA EVITAR FURTOS E ROUBOS EM CASA

  • Instale sistemas de segurança, como câmeras de vigilância, alarmes e cercas elétricas ou concertinas em muros
  • Evite deixar visíveis escadas,ferramentas ou outros objetos que possam facilitar a entrada de pessoas
  • Ao sair de casa,tranque portas,janelas e portões.Reforce com fechaduras e trancas
  • Não deixe expostos objetos de valor, fáceis de serem levados,como bicicletas e eletrônicos
  • Desligue a campainha quando estiver ausente para evitar que alguém toque e perceba que não há ninguém em casa 
  • A própria existência de equipamentos de segurança na residência já inibe os criminosos, que priorizam casas que estejam desprotegidas
  • Equipamentos desligados, como câmeras e cercas elétricas, são fáceis de serem percebidos e não funcionam como uma proteção efetiva

OUTRAS ATITUDES QUE FAZEM A DIFERENÇA 

  • Não divulgue informações sobre ausências prolongadas da residência
  • Esteja alerta à presença de pessoas suspeitas nas imediações de sua residência, principalmente nos momentos de sua chegada ou saída 
  • Avise vizinhos de confiança que você está ausente para que eles possam monitorar e agir caso percebam alguma movimentação 
  • Comunique imediatamente à polícia em caso de suspeita ou ocorrência de atividades criminosas
  • 190 é o telefone da PM que deve ser acionado em caso de qualquer suspeita de furto ou roubo à residência
  • É preciso organização, interesse, engajamento e comprometimento das pessoas para uma Rede de Vizinhos Protegidos. O primeiro passo é conhecer a vizinhança e criar uma conexão com essa comunidade, ver se já existe a rede no local e como participar
  • Se a vizinhança não for integrada à RPP, apresente o projeto para seus vizinhos. Quanto mais gente participar,maior será a cobertura de segurança da sua região 
  • Procure a base comunitária da Polícia Militar mais próxima. As autoridades passarão mais detalhes sobre como implantar a Rede de Proteção Preventiva,de acordo com as necessidades de sua região 
  • Os vizinhos devem ter algum meio de se comunicar rapidamente, como um grupo de WhatsApp. Assim,todos podem informar uns aos outros sobre ausências e movimentações estranhas na região. Qualquer atividade suspeita deve ser imediatamente reportada para a Polícia Militar, por meio do 190
  • É crucial manter a conexão da comunidade por meio de encontros regulares, que podem ser realizados virtualmente. Durante essas reuniões, serão discutidas novas medidas de segurança, como instalação de câmeras nas ruas, postes de iluminação pública queimados que precisam ser reparados etc. A PM pode participar para fornecer orientações aos residentes sobre práticas de segurança e conscientização

Fonte: Polícia Militar e pesquisa direta