Transporte

Adesão a bike é tímida em BH 

Em seis anos, pesquisa constata que houve pequeno crescimento do número de ciclistas

Por Aline Diniz
Publicado em 09 de outubro de 2016 | 03:00
 
 

Encarar o trânsito de Belo Horizonte de bicicleta é algo distante para a maioria: de 2010 para cá, houve um crescimento anual tímido de 1% do número de adeptos da “magrela” em seus deslocamentos diários, mas, ainda assim, esse universo é pequeno. Conforme pesquisa realizada pela Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo), a principal razão para essa realidade é a falta de respeito com o ciclista e a reduzida integração desse meio de transporte com o sistema público.

O estudo foi feito a partir da observação de um grupo da BH em Ciclo, que, em 2010, esteve em seis pontos da cidade para contar quantos ciclistas passavam pelos trechos. Neste ano, entre 1º e 21 de setembro, das 7h às 19h, o modelo foi repetido. Em 2010, eram 1.712 adeptos do pedal; agora, 1.844. Após comparar os resultados, o grupo também levou em conta um sétimo ponto em 2016 e verificou que o total de ciclistas chegava a 1.962 (veja abaixo).

“O crescimento foi tímido e tem relação direta com a incapacidade da gestão pública para desenvolver políticas que aumentem o incentivo. Para se ter respeito no trânsito é preciso uma educação permanente, que crie uma cultura da bicicleta”, analisou Carlos Edward Campos, integrante do BH em Ciclo.

Ainda segundo ele, é impossível construir ciclovias e ciclofaixas em toda a cidade, entretanto o compartilhamento das vias entre bicicletas e demais veículos é possível e necessário. Campos ainda ponderou que o ciclista é ignorado pelos motoristas como um ator no trânsito. “Ele (ciclista) é visto como um empecilho”, disse.

O advogado Bruno Camargos, 30, usa regularmente a bicicleta há oito anos. Ele costuma ir do bairro Padre Eustáquio, na região Noroeste, para o trabalho no Barro Preto, na região Centro-Sul, pedalando. Diariamente, ele sente o desrespeito dos motoristas, além de reclamar da falta de estrutura. “Tem muita falta de educação, e por isso, muitas vezes, acaba ficando perigoso o trajeto”, contou.

Apesar dos inconvenientes, o advogado escolhe a liberdade da bicicleta. “Prefiro a bike pela independência em relação a horários de ônibus e de metrô. So à noite que prefiro evitar”, relatou.

Análise. Outro ponto apontado pelo estudo e reclamado pelos ciclistas é a dificuldade de integrar bicicleta e transporte público. Apesar de ser autorizado o transporte de bicicletas em horários fora do pico no Move e de bicicletas dobráveis em ônibus do sistema convencional, os horários e as determinações não atendem a demanda. “A integração é limitante. Uma pessoa que mora no Eldorado (bairro de Contagem, na região metropolitana) não consegue ir trabalhar em Belo Horizonte de bicicleta”, exemplificou Campos.

A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que não comentaria a pesquisa por desconhecer a metodologia. A cidade tem cerca de 87,4 km de ciclovias, e, conforme a autarquia, a meta é ter 400 km até 2020.

Na pista

Cenário. Em 2010, na primeira contagem realizada pela BH em Ciclo, a capital tinha 23,81 km de ciclovias e ciclofaixas. Na avaliação do estudo, o crescimento de via exclusiva também foi acanhado em seis anos.

[infografico ID] 1.1383167 [/infografico ID]

Insegurança

Mulheres relatam assédio nas ruas

A participação das mulheres também aumentou nesse universo do pedal: o percentual passou de 2,34% em 2010 para 6,88%, neste ano. Para Carlos Edward Campos, integrante do BH em Ciclo, esse resultado pode estar relacionado ao empoderamento feminino.

Ao mesmo tempo que ganham as vias em duas rodas, elas enfrentam, muitas vezes, o assédio do público masculino, que, não raro, gera insegurança nas viagens pela capital.

A arquiteta Amanda Corradi, 25, pedala há dois anos e tem notado o crescimento de mulheres que escolhem a bicicleta como meio de transporte. “No geral, vejo que aumentou bem o número de mulheres pedalando, apesar de sermos ainda a minoria”, afirmou.

Ela trabalha em casa, mas escolhe a “magrela” na hora de comparecer a reuniões e encontros com amigos. Nesses trajetos, porém, ela afirmou sentir-se insegura em algumas situações. “Em relação ao assédio, é muito complicado. É muito homem fazendo gracinha e querendo chamar atenção. Apesar de me sentir livre e independente andando de bike, eu me sinto insegura por essas situações”, afirmou.
Já sobre a faixa etária de ciclistas na capital, mais da metade tem entre 18 e 40 anos, conforme estimativa dos pesquisadores. (AD)

Saiba mais

Legislação. Bicicletas dobráveis são permitidas em coletivos a qualquer hora do dia. As não dobráveis poderão entrar nas estações de integração, nas estações de transferência e nos veículos do Move desde que essas estruturas contenham suportes internos para bicicletas. Para esses casos, quando houver o suporte, a permissão é válida de segunda a sexta-feira, das 20h30 às 5h do dia seguinte; aos sábados, a partir das 14h; e aos domingos e feriados, é liberado até as 5h do dia subsequente.

Estrutura. A capital tem 236 paraciclos e quatro bicicletários em operação – nas Estações BHBUS Barreiro, Venda Nova, São Gabriel e Diamante. Cada paraciclo comporta duas bicicletas estacionadas. Em julho, começou a funcionar na avenida Bernardo Monteiro um totem contador de ciclistas.