PERIGOSO

Andadores infantis são proibidos em creches e escolas de BH

A Sociedade Brasileira de Pediatria explica porque é conta o uso do equipamento e enumera os vários riscos de se adotar o andador para ajudar a criança a andar

Por JULIANA BAETA
Publicado em 28 de julho de 2015 | 15:34
 
 
Melissa deu os primeiros passos antes de completar 1 ano e sem o uso do andador ARQUIVO PESSOAL

Começou a valer a partir desta terça-feira (28) a proibição do uso de andadores infantis em creches e escolas de Belo Horizonte. A Lei 10.834 foi publicada no Diário Oficial do Município nesta terça, assinada pelo prefeito Marcio Lacerda. O decreto vale tanto para as escolas da rede pública como para as particulares. 

A lei municipal acaba por endossar uma liminar expedida pelo Justiça do Rio Grande do Sul que proíbe a comercialização de andadores infantis no país desde dezembro de 2013. A medida diz respeito a apenas um tipo de andador, dentre vários outros modelos ainda encontrados no país.

A grande maioria dos especialistas é contra o uso do aparelho. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), inclusive, se mantém na luta contra a proibição total dos andadores em todo o Brasil.

Entenda os riscos

Segundo a a presidente do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP Marislaine Lumena de Mendonça, os andadores são desnecessários e perigosos. Ela explica que os aparelhos podem causar sequelas neurológicas e físicas em bebês que usam em demasia os aparelhos.

"A criança pode deixar de andar, de falar, pode se tornar totalmente dependente”, garante. Ainda de acordo com a especialista, já foram notificados pelo menos três óbitos no país por causa do seu uso, sem contar os que não foram notificados e os outros incidentes.

Além disso, o uso de andador pode ser nocivo para a integridade física da criança, devido ao risco de acidentes. A especialista ainda explica que com o equipamento a criança pode atingir a velocidade de até um metro por segundo.

“Há risco de queda, que pode gerar em traumatismo craniano e até evoluir para o óbito. Sem falar que o uso do andador facilita acessos que a criança não poderia ter, como o fogão, há que ele pode alcançar alturas maiores do andador, então, há o risco de queimadura, ou de afogamento se ela cair na piscina, intoxicação se ela pegar o frasco de algum produtos, entre vários outros riscos”, diz ainda.

Além disso, o uso do andador pode prejudicar a aquisição da 'marcha' e até habilidades sociais. “Com o andador a criança aprende a andar de forma errada. Ela anda com as pernas flexionadas, na ponta do pé, gasta menos energia e interage menos”, explica Mendonça.

Como ocorre com a metamorfose de uma borboleta (ela precisa sair sozinha do casulo para fortalecer os membros e conseguir voar; quando “ajudada”, ela pode morrer), o processo da marcha é essencial para o desenvolvimento de uma criança.

“A aquisição da marcha é um processo natural e faz parte do desenvolvimento. Primeiro a criança firma a cabecinha, depois se senta, depois aprende a engatinhar, depois consegue ficar em pé se apoiando em algum lugar. Essas são as etapas normais, mas quando se utiliza o andador, as etapas são puladas. A criança acaba engatinhando menos do que o que deveria e a situação não favorece o seu desenvolvimento normal”, conclui a especialista.

Sem pressa

A blogueira Dayse Aguiar, de 25 anos, mãe da pequena Melissa, de 2, conta que sempre foi contra o uso do andador para a filha, contrariando alguns familiares que insistiam em dar um de presente.

“Acho que é preciso respeitar o tempo e as habilidades de cada criança, por isso, evito todo tipo de apetrecho inovador e tecnológico. Prefiro a simplicidade e aquele velho cuidados dos tempos de avó", destaca.

Mesmo com a insistência de alguns amigos e familiares de que o andador seria importante para o desenvolvimento da criança, a mãe da Mel continuou a rejeitar o equipamento. “Ouvi de tudo que você pode imaginar, que ela ia demorar a andar, que seria preguiçosa, que ‘fulano usou, nunca caiu e andou rapidinho’. Mas continuei sem forçar nada e fui deixando tudo fluir no tempo dela e aos 10 meses, ela deu seus primeiros passinhos”, lembra a blogueira.

Sobre os tombos, Dayse conta que no processo, Melissa levou alguns, mas nada grave ao ponto de se machuca. “Isso faz parte do processo também”, explica, já que com os tombos, a pequena Mel também aprendeu a se levantar.