A cantora, compositora, poeta e musicista Coral denuncia ter sido vítima de agressões físicas e verbais durante a madrugada do dia 18 de fevereiro, sábado de Carnaval, no viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte. A artista revela que foi esfaqueada e teve vários dos seus pertences roubados pelos agressores. "Eu pensei que isso nunca fosse acontecer comigo, ainda que soubesse das estatísticas. Estou me cobrindo de afeto para cuidar dos traumas e das feridas", disse a cantora, que se reconhece como pessoa trans não-binária, em um vídeo publicado em sua rede social.
No vídeo, Coral relata que várias estavam no local durante as agressões e que elas apenas assistiram a cena. A artista também denuncia a atuação da polícia que, segundo ela, não registrou boletim de ocorrência e se recusou a socorrê-la para o hospital. Coral relata ainda que os policiais a orientaram para que chamasse um táxi para ir até a unidade de saúde. "As pessoas ficaram assistindo como se fosse entretenimento o que estava acontecendo comigo, como se eu não existisse de fato. Quem bateu e assistiu, são pessoas que estão adoecidas", avalia.
A publicação feita na rede social da artista na noite de sexta-feira (24) reúne demonstrações de afeto de várias personalidades políticas e artísticas. A deputada federal, eleita por Minas Gerais, Célia Xakriabá (PSOL), manifestou apoio a Coral. "Força, irmã. Toda a minha solidariedade e o meu apoio nesse momento. O chão da luta também é o nosso palco e seguiremos resistindo nesse mundo tão violento e preconceituoso", publicou. A deputada federal Duda Salabert (PDT) também se manifestou e prometeu apoio. "Querida, fiquei arrasada quando soube. Toda minha solidariedade. Mandando daqui as minhas melhores energias . Pode contar com a gente. E sigamos firmes em luta contra essas estruturas de ódio", disse Salabert.
Entre os artistas, personalidades como o rapper e escritor mineiro Djonga, a cantora e compositora Fernanda Takai, o cantor e compositor Evandro Mesquita, o também cantor e compositor Chico César, entre outros, também manifestaram apoio. "Não sabia que tinha sido tão sério assim, quanta violência, quanta estupidez. Sinto muito que você tenha sofrido desse jeito. Um abraço forte!", escreveu Takai.
Coral agora conta com o apoio de amigos e de seguidores, que criaram uma vaquinha online com o objetivo de arrecadar cerca de R$ 7 mil para reaver os bens que foram roubados. A artista não informou quais foram os prejuízos. Na publicação, que relata o ocorrido durante a madrugada do sábado de Carnaval, dia 18 de fevereiro, Coral denunciou a violência enfrentada por pessoas trans e travestis. "Quando estou em cima do palco cantando as minhas músicas eu sou venerada, quando estou andando nas ruas eu sou assediada e quando estou no chão levando porrada e pedindo ajuda sou completamente ignorada", desabafou.
A cantora também denunciou que pelo menos outras quatro pessoas, que se reconhecem como trans e travestis, sofreram violência no mesmo dia. "Quando eu cheguei no hospital fiquei sabendo que fui a quinta travesti espancada durante aquela noite (...). Até hoje fico me perguntando quem são as outras quatro travestis espancadas durante aquela noite. Espero que elas tenham uma rede de apoio, assim como eu tive", completou.
A reportagem de O TEMPO entrou em contato com a Polícia Militar de Minas Gerais e questionou sobre o fato dos policiais não terem socorrido a vítima e também sobre o registro do boletim de ocorrência.
A instituição esclareceu que após conhecimento da denúncia, de imediato, buscou informações junto às guarnições que atuaram no dia, que relataram não terem sido acionadas pela denunciante.
"Câmeras de videomonitoramenro da região, que poderiam contribuir para identificação dos possíveis autores do delito, também foram verificadas no horario de 0h40 e 1h20 da manhã, não sendo encontrada, até o momento, a situação exposta na denúncia. Também não houve nenhuma chamada via 190 relacionada ao fato citado. A PMMG esclarece, ainda, que encontra-se à disposição e qualquer denúncia sobre atuação policial militar pode ser feita junto à Corregedoria da instituição", informou em nota.
Por sua vez, a Polícia Civil de Minas Gerais informou, também por meio de nota, que "apura possível crime de lesão corporal, com base nos fatos narrados pela vítima".
Matéria atualizada às 8h42 de 26/02/2023