BH

Ato é feito na Igreja da Lagoinha contra falas homofóbicas da família Valadão

Irmãos líderes da instituição fizeram declarações preconceituosas nas redes sociais nos últimos dias

Por Gabriel Moraes
Publicado em 20 de setembro de 2020 | 22:14
 
 
Cerca de 30 pessoas participaram do protesto Foto: divulgação

Um grupo de manifestantes a favor das causas LGBTQIA+ realizou um ato na manhã deste domingo (20) na porta da Igreja Batista da Lagoinha, localizada no bairro Concórdia, região Nordeste de Belo Horizonte. Objetivo era chamar atenção dos membros do local e da sociedade quanto às recentes falas homofóbicas dos líderes da instituição André Valadão e Ana Paula Valadão.

Segundo Thiago Santos, um dos líderes da União da Juventude Socialista (UJS) e integrante de outros movimentos, é preciso que assuntos que dizem respeito à sexualidade sejam mais dialogados dentro das igrejas. "Nós achamos que a informação é algo importante. Também há gays e lésbicas dentro da igreja, e acreditamos que a fala dos líderes têm muito poder de influenciar nos fiéis", disse.

"O nosso principal objetivo era tocar em dois aspectos muito específicos: a Ana Paula, devido à questão do HIV como uma doença específica de homossexuais, algo que a própria OMS já contesta. E o Valadão, que fez uma fala homofóbica e inconstitucional, já que proibir qualquer pessoa de entrar em uma instituição religiosa por questão de identidade de gênero é ilegal", explicou.

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Durante o protesto, uma pastora conhecida como Márcia foi à rua conversar com as pessoas. Chorando, ela disse que os líderes da igreja amam todas as pessoas, e que as críticas estão afetando a família Valadão, mas em nenhum momento ela disse que eles foram infelizes e preconceituosos em suas falas.

A reportagem de O TEMPO tentou entrar em contato com a Igreja Batista da Lagoinha para falar sobre o caso, mas sem sucesso.

Entenda

No início deste mês, o pastor André Valadão respondeu um seguidor no Instagram que perguntou: “Dois rapazes que são membros da igreja estão namorando. Expulsa eles ou os deixa na igreja?”

O líder, então, disse: “Então. Igreja tem um princípio bíblico. E a prática homossexual é considerada pecado. Eles podem ir para um clube gay ou coisa assim. Mas na igreja não dá. Esta prática não condiz com a vida da igreja. Tem muitos lugares que gays podem viver sem qualquer forma de constrangimento. Mas na igreja é um lugar para quem quer viver princípios bíblicos. Não é sobre a igreja expulsar, é sobre entender o lugar de cada um”, respondeu o religioso. Após isso, Valadão não se posicionou sobre o assunto.

Dias depois, sua irmã, a pastora e cantora Ana Paula Valadão, durante o programa de televisão em que ela apresenta, comentou sobre a homossexualidade. "Muita gente acha que isso é normal. Isso não é normal. Deus criou o homem e a mulher e é assim que nós cremos. Qualquer outra opção sexual é uma escolha do livre arbítrio do ser humano. E qualquer escolha leva a consequências", opinou.

Ana Paula ainda acrescentou. "A Bíblia chama de qualquer opção contrária ao que Deus determinou, de pecado. E o pecado tem uma consequência que é a morte.  Taí a Aids para mostrar que a união sexual entre dois homens causa uma enfermidade que leva à morte e contamina as mulheres, enfim... Não é o ideal de Deus."

Ana Paula Valadão dando todo seu amor aos gays, explicando que o HIV é coisa de homossexuais. No entanto seu público de maioria gay presente
Enfim à hipocrisia pic.twitter.com/ajnNiAK0TA

— Rafael Salas (@AMSTERDAMLOCKED) September 12, 2020

A Aliança Nacional LGBTI+ divulgou uma nota de repúdio contra as declarações de Ana Paula Valadão. A organização declarou que o discurso da pastora "beira ao absurdo, extrapolando a liberdade religiosa e de expressão, tornando-se um discurso odioso, fanático e amplamente desproposital, com consequências potencialmente desastrosas, principalmente para quem a segue".

A nota diz, ainda, que "Ana Paula atinge toda a coletividade da comunidade LGBTI+, e principalmente a dignidade das pessoas que vivem com HIV/AIDS, colocando-as como responsáveis pela proliferação de um vírus, equiparando de maneira vergonhosa, antiquada e criminosa uma expressão legítima de amor e afeto a um ato criminoso como ceifar a vida de um ser humano".