O aumento do preço da passagem de R$ 4,50 para R$ 6,00, válido a partir de domingo (23), impactará no orçamento do trabalhador. A partir do reajuste, o valor gasto com o transporte público pode comprometer 40% do valor da cesta básica. Especialista afirma que haverá pessoas que vão ter que decidir: "pegar ônibus ou comprar comida". Também pode haver aumento da procura por transportes alternativos. 

O cálculo considera o passageiro que usa o transporte duas vezes por dia — ida e volta do trabalho, por exemplo. Por dia, os trabalhadores vão gastar R$ 12,00. Com 22 dias de serviço no mês, a quantia gasta será de R$ 264,00, o que corresponde a 40% da cesta básica na capital mineira, que em março custava R$ 654,57, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). 

André Veloso, integrante do movimento Tarifa Zero e especialista em mobilidade, avalia que “muita gente vai ter que decidir: pegar ônibus ou comprar comida”. “Vai cortar o orçamento de muita gente na raiz. Um transporte ruim, caro”, afirmou. Conforme dados da própria prefeitura, queixas sobre as condições dos coletivos lideraram a lista de reclamações sobre o serviço em março

Para Veloso, o aumento vai “desestimular” a população a usar o transporte público. “O ônibus deveria ser uma alternativa que as pessoas queiram usar. Não é o que ocorre. [O aumento] vai cortar o número de passageiros, fazer com que a população deixe de acessar a cidade”, afirmou. 

Ir e vir comprometido

Especialista em trânsito, Silvestre Andrade acrescenta que “o aumento do preço significa menor possibilidade de se mover pela cidade”. Com isso, ele acredita ser possível que algumas famílias diminuam, por exemplo, atividades de lazer que precisam de deslocamento.

Transporte alternativo 

Mesmo com o aumento do preço da passagem, a população de menor renda que precisa do ônibus não deve abandonar o serviço, analisa Silvestre Andrade. Mas deve haver aumento do “deslocamento a pé, com caminhadas mais longas”, com objetivo de usar o menor número de ônibus possível.

“Do outro lado, pessoas com uma renda um pouco melhor tendem a procurar alternativas”, pontua Silvestre. Com isso, aplicativos de transporte devem ganhar espaço, além do uso do veículo próprio. 

Apesar das considerações sobre o impacto no orçamento dos usuários, Silvestre avalia que é necessário que haja uma contrapartida para as empresas frente à inflação dos últimos anos. “A passagem está congelada há mais de quatro anos. Os custos subiram neste período”, analisou. O último reajuste ocorreu em dezembro de 2018. 

Reajuste das passagens 

O reajuste da passagem foi anunciado pela Prefeitura de Belo Horizonte após audiência de conciliação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Segundo o município, o reajuste de 33% permanecerá até que a Câmara Municipal aprove o projeto de lei do Executivo que prevê um novo subsídio de quase R$ 500 milhões às empresas de ônibus até o fim do ano.

As empresas de ônibus pediram o reajuste da passagem devido ao fim do subsídio pago entre julho de 2022 e março deste ano. No período, as concessionárias responsáveis pelo transporte convencional receberam R$ 221.332.455,74, enquanto as do transporte suplementar receberam R$ 11 milhões. Os recursos foram pagos pela prefeitura, que desembolsou cerca de R$ 160 milhões, e pela Câmara municipal, que arcou com cerca de R$ 70 milhões.

Os empresários chegaram a pedir que o aumento fosse de 53%. Com isso, as passagens custariam R$ 6,90. Em 4 de abril, a 3ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Municipal da capital chegou a determinar o reajuste. No dia seguinte, no entanto, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) acolheu recurso do Executivo e cancelou o aumento.