Pedofilia

Avô de 75 anos é preso por abusar de três netos durante ao menos sete anos

Crianças sofreram abuso desde que tinham 4 anos e avó chegou a presenciar algumas vezes, segundo a Polícia Civil

Por Mariana Nogueira
Publicado em 12 de julho de 2019 | 09:37
 
 
Crimes foram investigados pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente Foto: Mariela Guimarães/12.5.2014

Por pelo menos sete anos, durante o período de trabalho do filho e da nora, um idoso de 75 anos abusou dos três netos, de 11 e 13 anos, enquanto deveria cuidar das crianças para os pais no bairro São Salvador, na região Noroeste da capital. Preso na manhã desta sexta-feira (12) em Belo Horizonte, o homem teria iniciado os abusos quando as vítimas tinham 4 anos e as ameaçava constantemente para não ser descoberto.

As investigações da Polícia Civil começaram há cerca de um mês, quando a mãe dos três irmãos relatou que o filho, de 11 anos, teria confirmado os abusos durante uma sessão de terapia. O mesmo já teria acontecido com as outras duas filhas do casal, uma de 13 anos e outra, gêmea do rapaz, também de 11 anos. A denúncia das garotas já havia sido formalizada e um inquérito aberto na delegacia de Contagem, cidade onde as crianças moram com os pais, mas a Polícia Civil não soube informar a data do fato. 

O mandado de prisão preventiva que foi expedido contra o idoso é referente ao caso do menino.  À polícia, as crianças relataram que os abusos aconteciam na casa do suspeito e que a avó presenciou os atos em algumas oportunidades. Segundo elas, inicialmente, os crimes pareciam uma forma de carinho, principalmente pela presença da avó, uma mulher de 73 anos. Ela negou as acusações e disse que nunca viu nada. Se sentindo desconfortáveis com o passar dos anos, as crianças passaram a reclamar, e foram ameaçadas pelo avô, que dizia que a mãe delas morreria por uma doença terminal, o pai se suicidaria e ele as colocaria em orfanatos, separados. A mãe das crianças é saudável, segundo a polícia.

“Elas não tinham noção de que era crime porque era praticado pelo avô e presenciado pela avó. Então elas não tinham discernimento suficiente para diferenciar uma prática sexual de uma prática de carinho. São pessoas que elas tinham confiança. Quando foram ficando maiores perceberam o que estava acontecendo mas não podiam contar, porque eram ameaçadas. Ele ameaçava as crianças para praticarem os atos, e dava doces em troca. Para uma delas ele falou que ela deveria fazer porque ele era avô dela e devia obrigação para ele. A avó teria dito que ninguém iria acreditar neles”, disse a delegada Renata Fagundes, que está a frente do caso.

À polícia, o suspeito confirmou o fato, mas disse que abusou das duas meninas, e não do neto. Ele confirmou, inclusive, que houve ejaculação durante os abusos. Ao ser questionado sobre sua ocupação, o idoso afirmou que trabalhou por 40 anos como fotógrafo de uma escola infantil. Na casa dele, a polícia recolheu CD’s e DVD’s, além de aparelhos celulares, e acredita que imagens comprometedoras podem ser encontradas nos arquivos. Para a polícia, ele disse que estava espiritualmente abalado.

“Ele diz que foi tomado por uma presença maligna e alegou que elas o teriam provocado pela postura delas, pela forma como elas se portavam na frente dele. Totalmente descabida a alegação”, disse a delegada.

Percepção dos pais permitiu investigações

Ainda de acordo com a Polícia Civil, a mãe das crianças começou a notar um comportamento estranho nos filhos, que reclamavam inclusive de dores físicas no corpo, e foi informada por uma psicóloga sobre os quadros depressivos que haviam se desenvolvido nas crianças.  Segundo a delegada, o pai e a mãe das crianças estão revoltados e muito abalados. A avó delas também será investigada por omissão.

“A mãe foi extremamente importante nessa situação porque ela percebeu que tinha alguma coisa errada com os filhos e que eles estavam em uma situação de depressão e com alteração de comportamento. O menino demorou por medo, constrangimento. Isso é muito comum em caso de estupro de vulnerável. A criança demora para relatar o que aconteceu com elas, até para entender porque elas não entendem o que aconteceu, e tem o temor e o constrangimento”, disse. 

Para a delegada, foi determinante para as investigações que vítimas tivessem credibilidade, visto que se tratava de alguém muito próximo. “A avó falava com eles que ninguém ia acreditar, que não adiantava contar. E muitas crianças passam por isso. Elas contam às vezes e o pai não acredita ou alguém não acredita no que ela contou. Então talvez essa prisão seja importante para que os pais fiquem atentos ao comportamento da criança”, explicou.

Crianças foram ouvidas por escuta qualificada

A delegada Elenice Cristina ponderou que justamente neste sábado (13) comemora-se os 21 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ela informou que uma escuta qualificada foi crucial para desvendar o caso. “Todo trabalho de investigação que envolve crianças como vítimas tem o contexto da escuta qualificada prevista em lei, onde há um contexto de entrevista dessas vítimas em um ambiente o menos carregado possível. A intenção é evitar uma revitimização, com trabalho de um psicólogo qualificado para extrair dessas vítimas as informações e auxiliar na recuperação dessa criança, por ser um caso como esse”, explicou.