O Templo Cervejeiro, bar e restaurante da cervejaria Backer, estava funcionando normalmente no início da noite desta sexta-feira (10). Localizado no bairro Olhos D' Água, região Oeste de Belo Horizonte, o estabelecimento estava com as portas abertas, embora com quase nenhum cliente, algo bem atípico para uma sexta-feira na capital brasileira dos bares.
O pouco movimento no Templo Cervejeiro pode ser explicado pelas denúncias e investigação envolvendo uma das principais cervejas vendidas no estabelecimento: a Belorizontina. A cerveja está sendo investigada por supostamente ter causado mal a pelo menos 10 pessoas, sendo que uma acabou morrendo.
No final desta tarde, o Ministério da Agricultura interditou a cervejaria Backer. A medida cautelar foi expedida devido a suspeita de ter uma substância na Belorizontina que causa uma síndrome ainda desconhecida. Segundo o órgão, também foram determinadas ações de fiscalização para a apreensão dos produtos que ainda se encontram no mercado.
A Polícia Civil do Estado de Minas Gerais já havia informado que foi identificada a substância “dietilenoglicol” em amostras de cerveja pilsen, marca Belorizontina, lotes L1 1348 e L2 1348. A Backer informou que continua colaborando com as autoridades, e que tem todo interesse em esclarecer os fatos. Ela também afirmou que a substância dietilenoglicol não faz parte de nenhuma etapa do processo de fabricação de seus produto.
Saiba o que é dietilenoglicol
A presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lílian Pires de Freitas, contou que como a substância não é própria para o consumo, os casos de ingestão de dietilenoglicol são raros e geralmente de forma acidental.
"Quando a substância é ingerida, ela é rapidamente absorvida e se dirige ao fígado para ser processada e se transforma em outros compostos que são altamente nocivos para o organismo. Depois ela começa uma série de lesões progressivas no corpo. A fase inicial são sintomas no trato gastrointestinal, depois passa para a destruição dos rins e por fim alterações neurológicas.", explica a professora.
Os sintomas são semelhantes aos que as pessoas internadas com a doença misteriosa estão. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, os pacientes começaram com sintomas gastrointestinais, como náusea, vômito e dor abdominal, associados à insuficiência renal aguda grave de evolução rápida, que progride em 72 horas, seguida de uma ou mais alterações neurológicas, como paralisia facial, borramento visual, amaurose, ou seja, perda de visão, alteração de sensório e paralisia descendente.
Tratamento
Quando se descobre a intoxicação por dietilenoglicol logo no início existe um antídoto que é administrado no hospital para não ocorrer a produção dos compostos tóxicos pelo fígado. "Quanto mais rápido o tratamento acontecer menos vai destruir às células. A recuperação e o tratamento depende da quantidade de produto ingerido e da gravidade da lesão", conclui a nefrologista.
Uso
Substância anticongelante bastante aplicada em sistemas de refrigeração pelo mundo, o dietilenoglicol não costuma ser usado nas instalações das cervejarias artesanais brasileiras. Além dos riscos de contaminação – mesmo que reduzidos –, o produto tem preço alto se comparado a uma solução de água e álcool etílico – igualmente capaz de manter a cerveja resfriada.
É este o exato ponto defendido tanto por fabricantes quanto pelo presidente da Associação Brasileira de Cervejarias Artesanais (Abracerva), Carlo Lapolli, como forma de deixar os consumidores mais tranquilos.