Novos protocolos publicados nesta quarta-feira (20) pelo Ministério da Saúde sobre o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina transformam em diretriz o que vem sendo amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde o início da pandemia do novo coronavírus no país: o uso do medicamento para tratar pacientes infectados.
O novo protocolo do Ministério da Saúde amplia a possibilidade de prescrição do medicamento, associado ao antibiótico azitromicina, também para o tratamento de pacientes com sintomas leves. A administração dos medicamentos, no entanto, depende de permissão por escrito do paciente.
Apesar da insistência na recomendação, a maioria dos estudos que analisaram a eficácia da cloroquina no tratamento da Covid-19 não confirmam que ela contribui para a melhora do quadro clínico e, ainda, pode trazer efeitos colaterais graves. Em Belo Horizonte, o comitê de profissionais que atua junto à prefeitura não considera seguir os novos protocolos antes de análises mais precisas.
“Nós não estamos considerando documentos do Ministério da Saúde ou pressões políticas, nós estamos analisando a droga com base em argumentos científicos”, declarou o infectologista Estêvão Urbano, membro do comitê na capital e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, entidade que também se esforça no sentido de verificar a eficácia da substância.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou que um ensaio clínico é que vai decidir pela incorporação ou não da cloroquina ao protocolo do sistema de saúde da capital. O início do estudo, porém, depende da liberação do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
Já em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) afirmou se tratar de um protocolo recente e que o Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes-Minas) trabalha na análise do regulamento para, então, decidir as medidas a serem tomadas.
Críticas
As mudanças nos protocolos de uso da cloroquina, que agora permitem que pacientes com sintomas leves recebam a prescrição da droga, foram amplamente criticadas nesta quarta. Um grupo de pesquisadores chegou a divulgar uma nota, publicada no jornal O Globo, na qual são citados 71 estudos ou artigos que apontam a falta de evidências favoráveis ao uso da cloroquina no tratamento da Covid-19.
Alguns dos estudos citados pelos profissionais apontam que o medicamento ainda pode estar ligado a eventos adversos graves e maior letalidade da doença. “Uma das razões para o impressionante impacto da pandemia da Covid-19 na saúde mundial é a inexistência, até o presente momento, de vacinas ou antivirais específicos aprovados para prevenir ou tratar a enfermidade, cuja letalidade real ainda nos é incerta, pois depende grandemente da disponibilidade de testagem ampla e da qualidade do serviço de saúde”, defende a nota logo em sua introdução.
Entidades médicas também anunciaram que preparam medidas judiciais para impedir que o protocolo do governo federal seja aplicado. Os médicos afirmam que o fato de a orientação existir formalmente dará margem à população para exigir o uso dos medicamentos mesmo quando a avaliação clínica não recomendar a prescrição.
No início da tarde, Bolsonaro publicou em sua conta no Twitter um anúncio sobre a medida do ministério e afirmou que, embora não haja comprovação científica sobre a eficácia da cloroquina, “estamos em guerra”.