Homicídios

Brigas do tráfico dão a bairro Alto Vera Cruz título de mais violento 

Informação a que O TEMPO teve acesso faz parte de relatório sigiloso da Polícia Civil

Qui, 26/02/15 - 03h00
História. Bairro foi ocupado a partir de 1950; lideranças estimam que hoje haja mais de 50 mil moradores | Foto: UARLEN VALERIO

As ruas sempre movimentadas e os ares de interior no trato entre vizinhos não são suficientes para afastar a violência do Alto Vera Cruz. O bairro da região Leste é, segundo levantamento da Polícia Civil, o mais violento da capital. A informação a que O TEMPO teve acesso faz parte de um estudo feito anualmente pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e mantido em sigilo pela corporação e pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). No local, conforme policiais civis e militares, o crime mais comum é o assassinato motivado por briga entre gangues de traficante.

As notícias das mortes chegam com frequência pelo WhatsApp dos moradores. Testemunhas filmam e fotografam as vítimas, e as imagens correm pelos celulares. Só neste ano, ao menos quatro pessoas morreram assassinadas no bairro, uma delas um adolescente de 15 anos que passou pela rua Itamar, frequentada pela Gangue do Ita (em referência à rua e sua rival), e foi assassinado com sete tiros na cabeça e no braço. “É uma chacina o que está acontecendo. Tem muito menino novo morrendo, e o pior é que isso virou coisa normal”, lamenta o presidente do Centro de Ação Comunitária Alto Vera Cruz, Júlio Cézar Pereira Souza, conhecido como Júlio do Alto.

Os casos chamaram tanta atenção no ano passado que, diante da falta de informação do poder público, o próprio centro comunitário fez seu levantamento de homicídios baseado em notícias de jornais, do WhatsApp e de “boca a boca”. De maio a setembro de 2014, período analisado pela entidade, 25 pessoas morreram assassinadas no Alto Vera Cruz. Quando considerado também o entorno, foram 44 (há divisa com Taquaril, Granja de Freitas e Mariano de Abreu, na mesma região). Em toda a capital, no mesmo período, foram 266 assassinatos.

Gangues. No Vera Cruz, as gangues são conhecidas entre moradores, que pediram anonimato por segurança. Um deles disse ter ouvido policiais militares informarem que o bairro tem hoje 13 bocas de fumo. “Temos um monitoramento. As gangues são extintas e criadas novamente por outras pessoas”, relata o capitão Jackson Ramos, do 22º batalhão, sem informar números.

Marcos Crispim, membro da Associação Bento 16 Alto Vera Cruz, conta que vários fatores levam à violência no local. “Muitos dos envolvidos no tráfico são jovens, filhos de vítimas de homicídio, que têm dificuldade de resolver seus conflitos de outra forma que não pela violência. Já perdi muitos amigos assim”.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.