Incertezas

Calendário de auxílio emergencial traz medo de desalento futuro

Proximidade do fim do pagamento dos R$ 600 deixa famílias apreensivas em meio à pandemia na capital mineira; governo federal limitou depósito do benefício em cinco parcelas

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 20 de julho de 2020 | 03:00
 
 
Com bronquite, Daisy vive o drama de não poder trabalhar na pandemia Foto: FLÁVIO TAVARES - 17.4.2020

Quem tem recebido o auxílio emergencial não sabe se comemora a notícia de que o recurso vai cair por mais dois meses na conta, já com data marcada e tudo (confira infografia abaixo), ou se chora de desespero pelo fato de saber quando não poderá mais contar com o dinheiro que tem sido a “tábua de salvação” nessa fase difícil. 

Desempregada desde o início da pandemia, a moradora do Morro do Papagaio, em Belo Horizonte, Daisy Cristine Ferreira da Paixão, de 29 anos, tem sustentado o filho, de 10 anos, com os R$ 600. Ela tem bronquite asmática e, por ser grupo de risco para a Covid19, tem se mantido isolada em casa. 

Para ela, a proximidade do fim do auxílio tem sido motivo de insônia. “Dá um desespero grande porque tem data para acabar a ajuda, mas não tem prazo para acabar o vírus. Preciso trabalhar porque tenho um filho para sustentar, mas não posso porque, se eu morrer, deixo ele vulnerável”, diz. 

Ela não está sozinha. “O que eu tenho acompanhado nas favelas é um clima de apreensão. As pessoas já estão há muito tempo afastadas do emprego, não estão encontrando oportunidades e estão passando por necessidades. A falta de perspectiva gera desespero”, afirma o presidente da Central Única de Favelas (Cufa), Francis Santos

Estudos incertos 

O universitário Ramon Wesley Paixão, de 30 anos, só consegue se manter na faculdade, que agora tem aulas virtuais, graças ao auxílio. “Foi assim que consegui pagar as contas e comer. Quando ele acabar, não sei se consigo manter o estudo”, diz. 

Respostas

O Ministério da Cidadania disse, em nota, que cerca de 124,2 milhões de pessoas foram direta ou indiretamente beneficiadas pelo auxílio. A Dataprev disse que está com 122,8 mil pedidos, que foram questionados, para serem reprocessados. 

Pagamento 

Hoje é o primeiro dia de pagamento da quarta parcela do auxílio emergencial. Os beneficiários do Bolsa Família são os primeiros contemplados por essa remessa de R$ 600.