Dores intensas, fraqueza e manchas vermelhas no corpo. Os sintomas foram descritos pela auxiliar de limpeza Kenya Rodrigues, de 31 anos, que foi diagnosticada com dengue em abril de 2023. Ela faz parte do grupo de mais de 256.000 mineiros que contraíram a doença no primeiro semestre deste ano. O número representa uma alta de 299% em relação ao mesmo período de 2022, quando 64.000 pessoas foram infectadas. 

"Na região onde moro, em Contagem, tivemos um surto de dengue. Meu marido e meu filho, de 13 anos, também pegaram. Eu senti uma dor insuportável no corpo, muita fraqueza, muita dor de cabeça, além das dores nas pernas que eram insuportáveis", relata. Kenya agora diz ter medo de contrair a doença novamente. "Quando fui ao médico a demora foi muito grande. Desconfiaram de Covid-19, mas fiz o exame do laço e confirmou. Não desejo pegar novamente porque foi muito ruim", afirma. 

Os dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses apontam que os casos quadruplicaram em Minas. Conforme o levantamento, as mortes também cresceram no Estado. Ao todo, 165 mineiros perderam a vida por dengue entre janeiro e junho deste ano, contra 63 óbitos somados no mesmo período em 2022. O número representa um aumento de 161%. Ainda segundo o boletim, 98 mortes ainda estão em investigação e 386.000 casos foram classificados como prováveis e estão em investigação. 

Para o professor do Departamento de Microbiologia da UFMG, Flávio da Fonseca, o salto das notificações pode ser explicado através do caráter cíclico da doença observado historicamente. Segundo ele, os ciclos ocorrem a cada três anos quando há o registro de picos de contágio. "A gente vinha passando por anos com o menor número de casos de dengue, mas de três em três anos temos um padrão epidemiológico mais intenso, então parece que estamos vivendo desde o final do ano passado esse pico que é típico", afirma. 

Ele avalia ainda que o aumento dos casos neste ano pode estar associado a multifatores, entre eles, a mudança de sorotipos em circulação. Segundo ele, a dengue possui quatro tipos em circulação e, a cada ano, um deles prevalece. Ao contrair dengue, a pessoa fica imunizada permanentemente para aquele sorotipo do vírus, mas não para os outros. Com isso, a população acaba ficando mais suscetível a determinado tipo. 

Outro fator, segundo especialistas, é o aumento da população do Aedes aegypti - mosquito transmissor. "Estamos vivendo um ano com um regime de chuva um pouco maior do que o ano passado. Quando temos mais disponibilidade de chuva temos uma aumento na população de mosquito e consequentemente o aumento dos vírus que esse vetor circula. Além disso, no primeiro semestre do ano passado vivíamos um período pandêmico. As pessoas estavam passando mais tempo em casa e isso faz com que elas estejam mais vigilante com os focos em casa", pontua.

Dengue salta 800% em BH 

Em Belo Horizonte os dados também são alarmantes. Dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam que a cidade soma mais 9.800 entre janeiro e junho deste ano. O número representa um aumento de 827% quando comparado ao mesmo período de 2022, quando haviam 1.063. Em todo ano passado, 1.268 casos da doença foram registrados na capital mineira. 

Ainda conforme o boletim, no primeiro semestre deste ano  foram registrados oito óbitos por dengue. Em 2022, foi registrado um óbito pela doença. Diante do aumento, o diretor de Zoonoses da prefeitura, Eduardo Viana, garante que a prefeitura da capital tem ampliado as ações de combate e prevenção à doença 

“Existe sempre uma preocupação, estamos num período favorável ao ciclo do vetor e a pbh tem intensificado ações de caráter preventivo nesse período. Estamos realizando diversas atividades para preparar a população para isso. Realizamos vistorias nas escolas no período de férias para avaliar e reduzir potenciais locais onde o mosquito poderia utilizar no retorno das chuvas e aumento das temperaturas. Têm sido elaboradas algumas ações para orientar a população com relação a cuidados específicos no momento seco do ano”, afirma.  

Chikungunya e zika

O mesmo boletim do contabiliza os casos de chikungunya e zika em Minas. Entre janeiro e junho, foram confirmadas 33 mortes por chikungunya distribuída. O estado registrou ainda 61.700  novos casos de chikungunya, um aumento de 1550% em relação ao mesmo período de 2022.

Quanto à zika, foram registrados neste ano, 28 casos e 154 prováveis em Minas. No ano passado, foram registrados oito casos confirmados e 32 prováveis durante os primeiros seis meses. Nenhum óbito foi confirmado.

A reportagem questionou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) sobre as ações de combate às arboviroses, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.