Escolas estaduais

Com investimento de R$ 1 milhão, reforço escolar começa na segunda-feira

Em Minas, 114 mil estudantes que não alcançaram a média terão aulas extras

Por Clarisse Souza
Publicado em 17 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
Para o diretor Igor de Alvarenga, aulas de reforço vão ajudar a evitar reprovação de alunos Foto: Cristiane Mattos/ O Tempo

As notas vermelhas no boletim do filho, de 15 anos, aluno do 1° ano do ensino médio em uma escola da rede estadual, são um tormento para a técnica em enfermagem Viviane Gomes Ribeiro, 37, que se sente impotente por não conseguir ajudar o adolescente a superar as dificuldades para aprender matemática. Nos últimos dias, ela tem depositado as esperanças na possibilidade de que o estudante esteja entre os cerca de 114 mil alunos do Programa de Reforço Escolar para Fortalecimento da Aprendizagem, da Secretaria de Estado de Educação (SEE). As aulas começam a partir da próxima segunda-feira. 

A medida é uma aposta do Estado para evitar que os alunos percam o ano letivo por dificuldades na aprendizagem. Ao todo, serão investidos R$ 1 milhão mensais até o fim deste ano letivo. A medida prevê inclusive a contratação de mais professores para assumir as aulas extras.

Inicialmente, o programa vai beneficiar alunos do 6° ao 9° ano do ensino fundamental e estudantes do ensino médio que não alcançaram, até agora, 60% das notas em português e matemática. O cronograma da SEE prevê duas aulas semanais de reforço, com duração de uma hora cada, até o fim do ano letivo, em dezembro. Mas segundo a secretária de Estado de Educação, Julia Sant’Anna, é possível que “a partir do ano que vem, com o lançamento de notas e frequência do 1° bimestre, já se consiga fazer um investimento expressivo em reforço”. 

Para viabilizar o projeto, o governo conta com a adesão dos professores que já atuam nas 1.600 escolas espalhadas pelo Estado. No entanto, como muitas escolas foram informadas sobre o programa há menos de uma semana, a secretaria de Educação ainda não é capaz de informar quantos profissionais vão aderir à iniciativa e admite que pode designar novos educadores para assumir o reforço. Caberá a cada instituição definir o forma de aplicação de aulas extras.

Cansada de ter de lidar com a frustração de o filho não absorver bem os fundamentos da matemática, Viviane Ribeiro espera que o adolescente consiga compreender o conteúdo. “Com o reforço, não só meu filho, mas outros alunos vão ter uma atenção maior e mais chances de aprender”, acredita.

Para Igor de Alvarenga Oliveira, diretor da Escola Estadual Ari da Franca, na capital, o programa de reforço escolar chega em boa hora. “Essa iniciativa será uma grande oportunidade para que aqueles alunos que perderam média nos primeiros bimestres possam recuperar o estudo”, avalia o educador. Segundo ele, ao trabalhar o conteúdo de modo mais individualizado com os alunos, as chances de melhorar o aprendizado aumentam. “Com esse reforço, a expectativa que temos é de que nossos alunos possam ser aprovados no fim do ano”, disse.

Sindicato reclama

A possibilidade de que os professores efetivos tenham de assumir as turmas de reforço escolar e o curto prazo para que as escolas se adequem ao programa são alvo de críticas do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG). A entidade questiona a eficácia da medida para o desenvolvimento dos alunos e acusa a Secretaria de Estado de Educação (SEE) de não dialogar com a categoria. 

“Não houve consulta a respeito desse programa nem às escolas, nem ao sindicato. Mais uma vez, ficamos sabendo das coisas que interferem no cotidiano da escola por meio da imprensa”, reclamou ontem Denise Romano, coordenadora geral do Sind-UTE. 

Para ela, ao não discutir a implementação do projeto com a categoria, o governo desconsiderou “o professor, que é quem está no chão da escola e vivencia os dilemas das instituições”. 

Por meio da assessoria de imprensa, a SEE informou que os professores que já lecionam nas escolas envolvidas no programa têm prioridade para dar as aulas de reforço e que o acréscimo de trabalho será compensado com aumento salarial. A pasta reforçou que a participação dos profissionais não é obrigatória.