efeito covid

Com mais de 144 mil óbitos, 2022 tem o janeiro mais mortal em duas décadas

Segundo dados dos cartórios brasileiros, houve um aumento de 5% no número de mortes em relação a 2021

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 14 de fevereiro de 2022 | 16:12
 
 
Cemitério Foto: Pixabay

Embora a maioria da população brasileira esteja vacinada e o pior pico de mortes tenha acontecido em 2021, a pandemia ainda está refletindo em um alto número de mortes no Brasil. De acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/BR), 2022 teve o janeiro mais mortal desde 2003, quando os números começaram a ser contabilizados pela entidade. 

Em janeiro de 2022 foram registrados 144.341 óbitos no país, um aumento de 5% em relação a 2021, que registrou 137.431 mortes no mês - um número que já era 22% maior do que registrado no mesmo período em 2020. 

A Covid em si, como causa da morte, não é a responsável pelo aumento nos óbitos, já que as mortes pelo coronavírus tiveram uma redução de 55% entre janeiro de 2021 e 2022. Mas a circulação de novos patógenos, a retomada de todas atividades econômicas (gerando menor isolamento social) e a falta de controle de doenças crônicas nos últimos dois anos acabaram influenciando nos óbitos por outras doenças. 

Além da Covid, outras doenças respiratórias foram decisivas para o grande número de óbitos. As mortes por pneumonia passaram de 12.745 em janeiro de 2021 para 21.718 neste ano, um crescimento de 70%. Em 2020, antes da pandemia, foram 15.484 mortes pela doença.

Outro dado observado pelos números de óbitos registrados pelos Cartórios brasileiros está relacionado ao crescimento de mortes por doenças do coração em janeiro deste ano na comparação com o primeiro mês do ano passado: AVC (20%), Infarto (17%) e Causas Cardiovasculares Inespecíficas (19%). Também registraram crescimento as mortes por Septicemia (23%), Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) (9%) e Indeterminada (9%). 

Segundo o infectologista e professor da UFMG Unaí Tupinambás, as mortes por outras doenças podem, sim, estar relacionadas à Covid. “Já tem trabalhos que indicam que a melhor forma de medir a letalidade da Covid é o excesso de mortes em um continente, país ou localidade. E o que é isso? Você avalia as mortes que aconteceram em 2017, 2018 e 2019 e foram 100 óbitos, em média, por exemplo, e a partir da pandemia passou para 300, 400. A Covid influenciou nessas 200, 300 mortes a mais”, explica. 

O especialista diz ainda que no Brasil existe uma subnotificação de casos e, por isso, óbitos por outras doenças podem estar relacionados à Covid. “Muitas dessas mortes por pneumonia podem estar relacionadas a resultados falsos negativos para a Covid ou não fez um PCR. Afinal, janeiro não é um mês em que muitas pessoas morrem de pneumonia, é mais comum no outono e no inverno”, argumenta.

Até mesmo as mortes por AVC e infarto podem estar relacionadas à pandemia, já que os cuidados com doentes crônicos ficaram em segundo plano durante 2021. “Ano passado tivemos um colapso na saúde. Um colapso não só impactou no atendimento à Covid, como também de outros casos preveníveis, que são sensíveis ao tempo, como infarto”. 

Efeito ômicron

Para Gustavo Renato Fiscarelli, presidente da Arpen/BR, os dados podem indicar uma relação entre a intensa transmissão da ômicron e o aumento de mortes por outras doenças, como pneumonia, doenças do coração e septicemia. 

"Os números dos Cartórios de Registro Civil mostram mais uma vez, em tempo quase que real, o retrato fidedigno do que acontece com a população brasileira. Embora haja uma diminuição clara nos óbitos por Covid-19, ainda não se conhecem todos os efeitos das novas variantes, em especial da ômicron, que, diante do aumento de casos no último mês, parece ser a causa do crescimento de óbitos de outras doenças, como a pneumonia, doenças do coração e septicemia", argumenta o presidente da Arpen/BR.

Como o isolamento social em janeiro de 2022 foi bem menor do que em 2021, houve ainda um crescimento significativo de mortes violentas (homicídios, acidentes de veículos, suicídio, entre outras). Essas mortes tiveram um aumento de 81%. Na comparação de janeiro de 2020, antes do isolamento, com janeiro de 2021, houve queda de 73% nas mortes violentas, segundo a Arpen.