Durvalina Pereira, 75, saiu do interior de Minas e criou quatro filhos sozinha. Antônio Palhano, 72, atravessou a fronteira dos Estados Unidos, onde fez família e conseguiu uma vida estável. No auge dos 41 anos, Luciano Peres Alvim, planejava ver a filha, de apenas 3, crescer. Três mineiros que, assim como outros 17.971 brasileiros, tiveram as vidas interrompidas pela Covid-19. A doença alcançou um marco histórico ontem, quando, pela primeira vez, matou mais de mil pessoas em 24 horas no país.
Foram 1.179 histórias destruídas em um dia. Os dados se tornaram públicos poucas horas depois de o irmão de Luciano, João Neto, 45, desabafar: “Pensa na tristeza que estamos passando. A dor pode até ser amenizada, mas é uma cicatriz que não vai se fechar nunca mais”.
Quando encontrou o irmão caçula, em 1º de maio, João Neto não imaginava que o enterraria 15 dias depois, com caixão lacrado, sem direito ao adeus, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde Luciano vivia. A mãe e o pai deles, de 65 e 67 anos, sofrem a dor da perda, enquanto a mulher de Luciano está confinada em casa, ao lado da filha do casal que sequer sabe que o pai “virou estrela”.
Quando o mineiro Antônio Palhano, 72, morreu de Covid-19, nos EUA, há cerca de três semanas, o Brasil estava muito longe de ser “destaque” entre os países com maior número de casos. De Belo Horizonte, o sobrinho Harry Palhano, 43, recebeu a notícia do falecimento por telefone e lamentou o enterro de uma parte da história da família. “Meu tio vinha sempre aqui, era muito próximo do meu pai”, conta. O tio deixou duas filhas, três netos, uma esposa e o sonho de viver a tranquilidade plantada em anos de trabalho.
Ninguém sabe ao certo como Durvalina contraiu coronavírus. Em questão de poucas horas, ela teve o quadro clínico agravado e morreu. O resultado do teste com a confirmação da Covid-19 saiu alguns dias depois da morte dela. “É importante que as pessoas saibam que a doença é grave. A gente vê os números, mas só acredita na gravidade quando acontece uma perda na família. Não é uma gripezinha”, afirma Weniton Arruda, 34, sobrinho de Durvalina.