Pesquisa

Coronavírus em BH: pandemia provoca mudança de hábitos entre a população

Levantamento mostra que 95% dos belo-horizontinos consideram a doença 'muito grave'

Qua, 25/03/20 - 06h00
Para entreter as cinco crianças em casa, Daniele da Silva promove brincadeiras na sala de casa durante o isolamento imposto pela pandemia do coronavírus | Foto: Arquivo pessoal

Ouça a notícia

Medo, preocupação e tristeza. Esses são os sentimentos mais recorrentes entre os belo-horizontinos com relação à pandemia do coronavírus, conforme mostra levantamento realizado pelo Instituto Valor, em parceria com KriteriON Pesquisas. Os dados apontam que a doença – responsável por alterar rotinas e paralisar diversas atividades em toda a capital – é considerada "muito grave" por 95% dos entrevistados.

E a expectativa da população é que o avanço de casos confirmados de Covid-19 só estejam controlados em quatro meses. Para enfrentar a disseminação do vírus, 85% das pessoas garantem ter adotado novas práticas de higiene em casa ou no trabalho. "Porém, o que se vê quando investigamos essas atitudes é que elas ainda não são suficientes. As pessoas não adotam essas ações em todas as situações e isso causa uma falsa sensação de proteção", enfatiza a diretora do Instituto Valor, Adriana Piedade.

Entre as medidas de proteção menos aplicadas, segundo o levantamento, estão: evitar cumprimentos com beijos e abraços, além de não manter distância física das pessoas. "Um outro ponto mostrado é a questão de grupo de idosos e aposentados, que em situações normais já ficam mais em casa. Os números mostram que pouco mais da metade não estava em quarentena até sábado", reforça Piedade.

O epidemiologista Rodrigo Alexandre Machado afirma que a falta de cuidados aumenta os riscos de transmissão do coronavírus. "O distanciamento social pode até ser considerado uma medida drástica, mas é essencial para acabar com as aglomerações. E outras medidas mais simples, como lavar as mãos, devem ser adotadas durante todo o ano, não só agora em tempos de Covid-19", alerta.

Mudança na rotina

Com cinco crianças em casa, a bailarina Daniele da Silva, 37, conta que adotou novos hábitos por conta do coronavírus. "Não estamos saindo e se resguardando neste período de quarentena. Aqui temos um bebê e as meninos ficam na sala jogando vídeo game. A tarde ainda consigo tirar um momento para estudar", comenta.

Desempregada, Selma de Fátima, 61, também vem tomando todas as medidas para evitar a propagação do vírus e precisou paralisar a busca pelo novo trabalho. "Quando a gente vai na rua para fazer compra, sempre troca o calçado quando chega em casa, que está bem arejada também", afirma.

Mesmo adotando todos os cuidados, a tensão e o medo também passaram a fazer parte da rotina de Selma. "Tenho muito medo, estou estressada, ansiosa e com muita dificuldade para dormir. As pessoas colocam a gente em pânico", enfatiza. Coordenador do programa Polos de Cidadania da UFMG, o professor André Luiz Freitas Dias afirma que sentimentos como da dona Selma são causados pelo "cenário de incerteza e falta de controle".

"É algo que de fato tem mexido com as pessoas de várias maneiras, causando uma ansiedade generalizada. Ainda há a insegurança com relação aos trabalhos, muitos não sabem como vai ficar também a saúde financeira. E é difícil falar para as pessoas se manterem calmas, organizar uma rotina", explica o psicólogo.

Carregando...

Os autônomos

A pesquisa também apontou que 58,3% dos profissionais autônomos em Belo Horizonte não tiveram condições de parar de trabalhar. "A situação deles é muito delicada", diz Adriana Piedade. É o caso de Theury Miranda, 25, que todos os anos produz ovos artesanais de páscoa e viu o movimento cair muito por conta do coronavírus. "O planejamento está bem menor que do ano passado. Tive que fazer mudanças nas datas de entrega, assepsia do ambiente e cuidados na produção", completa.

Avaliação da política

Os belo-horizontinos ainda foram questionados sobre a atuação dos chefes do poder Executivo frente à pandemia. Entre os entrevistados, o prefeito Alexandre Kalil foi o melhor avaliado, com 71% de aprovação das medidas de enfrentamento ao coronavírus. Já o governador Romeu Zema (Novo) teve índice de 28% e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) soma uma rejeição de quase 53% das ações tomadas até agora.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.