Imposição de beijos e abraços, oferecimento de dinheiro em troca de sexo e história sobre sonho erótico. Essas são situações que motivaram servidoras do Presídio de Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, a denunciarem o diretor-adjunto da unidade, Valdeci Pereira Maciel. A Polícia Civil investiga o caso.
O processo cita pelo menos quatro vítimas. Além das situações de assédio sexual, as servidoras dizem que os constrangimentos eram constantes. Segundo elas, a gestão do diretor-adjunto é marcada por “machismo” e condições diferentes de trabalho para homens e mulheres.
“O primeiro ato dele foi cortar o horário noturno, sob argumento de que mulher à noite só servia para fofocar e limpar cozinha”, afirmou uma servidora que terá a identidade preservada. “Ficamos obrigadas a cumprimentar ele com beijo e abraço”, prosseguiu.
Segundo a servidora, o diretor-adjunto afirmava que o cumprimento era uma forma de mostrar “profissionalismo”. “Quando não fazíamos isso, sofríamos consequências na avaliação de desempenho [que impacta diretamente no salário dos servidores]. Ele falava que não tínhamos relação interpessoal”, contou.
Conforme a advogada Fernanda Orly, o comportamento do diretor-adjunto do Presídio de Ibirité pode ser considerado um crime de estupro. Ela afirmou que as vítimas fizeram denúncias à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) entre 2019 e 2022, mas não receberam o apoio necessário.
“Com base nas atitude, ele parece ter horror ao gênero feminino. Ele não aceita mulheres em cargos que ele julga que devem ser ocupados por homens. Fora dos abusos sexuais e morais, institucionalmente ele diminuía essas policiais”, contou Fernanda.
Dinheiro por sexo e sonho erótico
Em uma das situações, o diretor-adjunto teria oferecido R$ 20 mil em troca de sexo com a servidora que denuncia o caso. “Falei com que as mulheres não estavam ali para isso. Ele disse que eu o provocava ainda mais por negar. Em seguida, disse que estava oferecendo R$ 30 mil. Eu questionei: ‘Qual parte não entendeu que eu não faço sexo por dinheiro?’ Então ele falou: ‘Todos têm seu preço. Agora estou pagando R$ 50 mil”, relembra.
Em outra situação, conforme a denunciante, ele disse que teve sonho erótico com uma servidora. “Ele disse que havia sido maravilhoso e que não podia terminar de contar por causa do horário. Isso constrange a profissional”, completou.
Conforme a advogada Fernanda Orly, o diretor-adjunto está atualmente em período de férias remuneradas.
Investigação
Em nota, a Polícia Civil disse que instaurou um inquérito para investigar o caso. "A PCMG esclarece que as ações já estão sendo realizadas com o objetivo de elucidar o caso. Mais informações serão repassadas após a conclusão das investigações", afirmou.
Em nota, a Sejusp afirmou que o caso é "de conhecimento" da pasta, "que, por meio do Núcleo de Correição Administrativa (Nucad), já instaurou um processo administrativo em desfavor do servidor". "Todas as medidas cabíveis no âmbito administrativo estão sendo tomadas pela pasta, inclusive a destituição do cargo de diretor adjunto do Presídio de Ibirité, ocupado pelo servidor desde outubro de 2019", prosseguiu.
"A responsabilização de profissionais envolvidos em qualquer prática que não seja condizente com o trabalho desempenhado pelos servidores do sistema prisional mineiro é preceito prioritário. Destacamos que a Sejusp não compactua com quaisquer desvios de conduta dos seus profissionais. Todas as situações de desvio de conduta e de práticas criminosas de servidores são acompanhadas com rigor pela Sejusp e as medidas administrativas cabíveis no âmbito do processo legal são tomadas, guardando sempre o direito à ampla defesa e ao contraditório", afirmou.
"O caso em questão será acompanhado com atenção pelas áreas competentes, em paralelo às investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, que já estão em curso", completou.