Quando a flexibilização das regras permitiu o retorno de música ao vivo em bares, também deu um alívio para os músicos e produtores, que ficaram praticamente parados durante a maior parte da pandemia. “Foi uma felicidade”, desabafa Loran Fernando, do grupo Bora Samba. Durante os primeiros seis meses da pandemia, ele, que vivia da música, usou suas reservas para pagar as contas. “Depois, eu arrumei um emprego na área de instalações”, conta.
Para os donos de bares e produtores de eventos, poder voltar a gerar emprego e renda também foi uma alegria. “A gente teve que se reinventar, promover lives, mas muita gente chegou até a sair desse mercado e foi trabalhar em outros lugares. E, agora, poder voltar a gerar renda para essas pessoas é muito emocionante. É maravilhoso ver a galera que resistiu a essa pane gerada pela pandemia”, celebra Isabella de Magalhães, do Mamão com Açúcar. A casa gera cerca de 40 empregos.
O Belka trabalha hoje com cinco colaboradores. Para a proprietária Jéssica Belmiro, voltar a gerar emprego e renda para a cadeia é uma emoção. “Eu fico muito feliz por proporcionar mais uma opção de espaço musical, para a gente reunir músicos de samba, rock, bossa, tudo muito diverso”, afirma a empresária. Ela também coloca a mão na massa, preparando drinks exclusivos para regar a diversão. Também do Bora Samba, o músico Matheus Metzker comemora o retorno e a abertura de novos espaços. “Muitas casas fecharam, e é muito bom quando são inaugurados novos espaços que levantam a bandeira da MPB”, destaca.
De fato, vários estabelecimentos fecharam as portas. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em Belo Horizonte, foram cerca de 3.500 fechamentos, com aproximadamente 30 mil demissões. O setor já começou a tomar o caminho de volta, e, segundo o presidente da associação, Matheus Daniel, já há registro de quase 2.000 bares e restaurantes abertos. “Só que nós não podemos fazer uma conta simples. A grande maioria desses novos estabelecimentos não necessariamente reabriu, pois houve um crescimento forte do microempreendedorismo, com muita gente abrindo o MEI (microempreendedor individual) para atuar na área de alimentação”, diz Daniel.
Passados os problemas do fechamento e das demissões, a dificuldade do setor agora é outra: contratar mão de obra. “A gente estava trabalhando com uma estimativa de chegar ao fim deste ano com 30% das recontratações. Mas está difícil, porque muita gente saiu do setor. Além disso, convivemos com uma antiga dificuldade com o transporte público, que não oferece horários de ônibus suficientes para atender os funcionários que, em muitos casos, moram na região metropolitana”, lamenta. Para ajudar na retomada, a Abrasel criou uma plataforma de divulgação de vagas. “O objetivo é conectar quem está procurando emprego e quem quer contratar. Temos cerca de 60 vagas no site”, explica Daniel. A plataforma é exclusiva para vagas em bares e restaurantes.
Do agito à família: Mercado Novo já sente a retomada
Passado o auge da pandemia, os bons ventos da retomada também estão soprando a favor do Mercado Novo, no hipercentro de BH. Embora seja um espaço fechado, o local é mais amplo e também tem atraído mais consumidores.
“O Mercado Novo tem um público variado. O jovem, que vai tomar cerveja, não deixou de ir. Tem tudo a ver com o clima do bar de rua, mas tem o conforto de ser coberto e ter estacionamento”, observa o empresário Rafael Quick. “Agora, com a flexibilização, estamos percebendo o retorno de famílias com crianças. Isso é muito importante porque eleva o tíquete médio. As pessoas vão para tomar uma cerveja, comer, mas também compram alguma coisa”, comenta Quick, sócio da Cervejaria Viela, Distribuidora Goitacazes e Cozinha Tupis.
O empresário participou do projeto voltado para ocupação orgânica do segundo andar do Mercado Novo. Em 2018, quando ele e os sócios inauguraram a Distribuidora Goitacazes e a Cozinha Tupis, puxaram uma fila de novos negócios, que chegaram com a premissa de dialogar entre si e ter um porquê de estar ali.