Uma projeção na lateral do Edifício JK feita na noite dessa segunda-feira (11) já alertava para a importância da data comemorativa que cairia no dia seguinte. Em todo 12 de maio (esta terça-feira), celebra-se o Dia Internacional da Enfermagem e o Dia do Enfermeiro. Estampadas na fachada do prédio, cinco palavras bastaram para destacar a importância desses trabalhadores, tão necessários à luta contra o coronavírus: “Sem enfermagem, não tem Brasil”, dizia a projeção.

Feita a pedido do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-MG), a homenagem preparada pelo coletivo Viva JK é apenas uma entre as ações organizadas para marcar a data em Belo Horizonte. Ainda para esta terça-feira (12), o Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel) convocou um ato simbólico para o período da tarde, na praça Sete, na região Central da cidade. Os profissionais pretendem se encontrar para protestar, em luto, pelas vidas de 98 profissionais de enfermagem que morreram no Brasil após receberem diagnósticos positivos de Covid-19.

O dado é do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), e segundo levantamento do órgão, 3.355 trabalhadores da área também já contraíram a infecção. A separação da família por questão de segurança, o medo de acabar infectado e a preocupação diante da escassez de equipamentos de proteção individual são algumas das maiores aflições de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em Minas Gerais e no Brasil.

“A pandemia de coronavírus é uma situação para a qual ninguém estava preparado. Nem os profissionais e nem a população em geral. De repente, nós nos vimos sendo protagonistas de uma situação com uma doença desconhecida. Principalmente no começo da pandemia, o maior medo dos profissionais era pela falta de equipamento de proteção. Muitos estão ansiosos e com medo”, detalha Carla Prado, presidente do Coren-MG.

De acordo com ela, as comemorações da data precisaram ser pensadas especificamente para o contexto vivido atualmente. “Todas as homenagens que a gente puder fazer a esse profissional ainda serão mínimas. Projetamos a frase no prédio tentando minimizar o fato de não podermos pensar em nenhuma comemoração efetiva. É uma forma de apontar para a sociedade que ele precisa ser valorizado. Com a pandemia de coronavírus, as pessoas estão começando a entender como somos necessários, a gente está deixando de ser invisível”, comenta.

Outras projeções serão feitas ainda nesta terça-feira (12): uma em um prédio na região Central de Belo Horizonte, que ainda não pode ser divulgado, e a outra no estádio Mineirão. 

Suporte psicológico

Diante do quadro de emergência em saúde, o Conselho Regional precisou elaborar um projeto de atendimento psicológico para que sejam ouvidos enfermeiros, técnicos e auxiliares. “Nós criamos esse grupo de suporte emocional destinado aos profissionais que estão ansiosos, inseguros. Ele precisa agendar um horário conosco e, na hora marcada, um profissional especializado liga para conversar com ele”, detalha Carla.

Essa ação integra um conjunto de projetos do Coren-MG para a Semana da Enfermagem, que acontece no Brasil sempre entre os dias 12 e 20 de maio. Outras também estão sendo organizadas, como esclarece Carla: “Nós nos vimos privados de seguir as comemorações tradicionais, e então criamos um grupo técnico que desenvolveu um manual de perguntas e respostas sobre a Covid-19 e que serve como orientação sobre desde o uso da máscara até o manejo do paciente. Também compramos máscaras para distribuir àqueles que estão lidando diretamente com pacientes contaminados ou casos suspeitos. Elas serão entregues ao longo da semana em todo o estado”, conclui.

Preocupação

O levantamento organizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) aponta que o número de enfermeiros afastados de suas tarefas após se contaminarem com o coronavírus aumentou cerca de 48 vezes no Brasil no curto período de um mês – entre 5 de abril e 5 de maio. Fala-se em 12 mil trabalhadores que precisaram deixar suas funções temporariamente. Noventa e oito morreram após atuar na linha de frente do combate à Covid-19. As mulheres são, de longe, as mais afetadas na categoria – elas correspondem a cerca de 10 mil casos da doença, além de representarem 60 das 98 mortes ocorridas entre servidores da categoria.

Além de demonstrar luto pela morte dessas pessoas, o ato simbólico do Sindibel pretende também questionar as condições de trabalho da categoria. Alguns representantes do sindicato estarão, durante a tarde desta terça-feira, em centros de saúde e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte. De acordo com o sindicato, enfermeiros, técnicos e auxiliares recebem valores baixíssimos pelas condições de insalubridade, potencializadas desde o surgimento dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil.