Segurança Pública

Especialistas apostam em 'vida curta' de drogas K, e cobram mais fiscalização

13 detentos morreram em dois presídios de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, sob a suspeita de overdose de substância entorpecente denominada K

Por Lucas Gomes e Rayllan Oliveira
Publicado em 10 de abril de 2024 | 14:57
 
 
Droga é criada em laboratório e pode ser borrifada em outros materiais, para consumo Foto: Videopress Produtora

Especialistas em segurança pública apostam em uma "vida curta" para os entorpecentes da família K - conhecidos como “drogas zumbi”, em função da capacidade de desconectar o usuário da realidade. Isso porque, segundo eles, os entorpecentes são altamente viciantes e podem levar à morte. Como informado por O TEMPO, 13 detentos morreram em dois presídios de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, sob a suspeita de overdose de substância entorpecente denominada K.

"É uma droga que não tem apelo mercadológico porque ela mata, não é lucrativa. Acredito ser muito pouco provável que um entorpecente produzido em laboratório, com características tão específicas, possa ter um grande uso no mercado ilítico", afirmou o especialista em segurança pública, Luís Flávio Sapori.

A avaliação é semelhante a do delegado Carlos Castiglioni, da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (DISE) da Polícia Civil de São Paulo (PCSP). "Por ser uma droga fatal, ela não é interessante para o mercado. Mas a minha ressalva é porque também diziam que o crack teria a vida curta, e ele está em circulação até hoje", argumentou.

+ Entenda o que é a droga

Em maio do ano passado, a reportagem de O TEMPO mostrou que, antes de se popularizar entre usuários das cracolândias de São Paulo, a K9 se espalhou pelas cadeias daquele Estado e se mostrou capaz de driblar com facilidade as revistas e equipamentos de raio-x das prisões. O mesmo movimento de entrada da droga na capital paulista já era observado em Minas Gerais em meados do ano passado. Agora, o cenário se agravou com as mortes inicialmente atribuídas ao consumo da substância.

"Ela pode entrar nos presídios como papel, em um embrulho, como uma caixa, ou algo semelhante. É um entorpecente que pode ser encontrado triturado, podendo ser borrifado em cartolina. Por isso a fiscalização acaba sendo mais difícil", relata o delegado.

Sapori reforça os desafios quanto à fiscalização. No entanto, reforça que este é um desafio para o poder público, que também é responsável por manter a integridade física dos detentos. "Neste momento, que tivemos essas mortes, é fundamental acentuar a vigilância dos visitantes. É criar estratégias para dificultar a entrada dessas drogas que podem gerar um problema de saúde nos presídios", acrescentou.

Droga foi barrada por traficantes de BH 

Como publicado pela reportagem de O TEMPO, as drogas de origem K causam um “efeito zumbi” nos usuários. Por esse motivo, algumas bocas de fumo da capital mineira "barraram" na venda do entorpecente. A droga (originalmente líquida) chega geralmente borrifada em papéis ou em ervas para ser fumada. Trata-se de um canabinoide sintético produzido em laboratórios clandestinos dentro e fora do Brasil e que provoca severas contrações musculares, alucinações, psicose, convulsões e até a morte.  

"É uma substância experimental, que está sendo produzida de forma muito amadora. É como se eles estivessem colocando a primeira coisa que aparece, que pensam", pontua o delegado. Castiglioni aponta que, por esse motivo, elas tendem a ser mais letais. "A cocaína, por exemplo, possui um parâmetro. Eles já sabem o que colocar. É muito diferente das drogas da família K, que não possuem uma fórmula definida", finalizou.

Diferenças entre as drogas

Da mesma origem, K2, K4 e K9 só mudam na forma em que são “apresentadas”. Quando a substância é borrifada no papel, recebe a alcunha de K2. Quando a borrifação é em tabaco, vira K4. Já quando a droga é misturada a outros entorpecentes, aí a denominação é de K9. Se misturada com maconha, por exemplo, autoridades já costumam chamar o produto final de “supermaconha”.