“A empresa de investimentos está aqui para fazer o seu dinheiro trabalhar para você”. Essa era a mensagem que mais de 400 investidores do mercado financeiro recebiam com a atualização dos rendimentos do mês de uma empresa de Belo Horizonte. Mas o retorno durou pouco tempo. O ex-policial militar sócio-administrador da empresa já não é visto há mais de seis meses, assim como todo o dinheiro investido, calculado em mais de R$ 50 milhões pelas vítimas.

De acordo com relatos das vítimas, a proposta de começar a investir com o suspeito vinha, primeiro, de amigos da igreja ou por aqueles que já o conheciam do trabalho como militar. “Ele era da igreja, tocava no altar, usava o nome de Deus, então parecia confiável”, conta Fernanda Pedrosa, de 29 anos, que é influenciadora digital com mais de 500 mil seguidores no instagram, uma das vítimas. 

No caso de Fernanda, foi um amigo em comum com o empresário que indicou o investimento. “Ele me disse que tinha começado a trabalhar nessa empresa e que o dinheiro estava com uma rentabilidade de 10%, me convidando a participar”, lembra. A influenciadora começou a aplicar com R$ 50 mil e, querendo poupar para o futuro, chegou a investir mais de R$ 500 mil, convencida de que era algo confiável, mas nunca mais viu o dinheiro.

“Marcavam reuniões comigo, falavam como a empresa estava indo bem, como estava cheia de investidores”, desabafa. Para incentivar novos aportes das vítimas, a empresa promovia eventos em que o ex-PM era porta-voz, convencendo os convidados de que teriam lucro. A promessa inicial era de 10% de rentabilidade para qualquer investimento. “Nos eventos, tinha muita ostentação, carro importado, relógio de marca. Mostrava as parcerias da empresa, tudo para se provar”, lembra Fernanda. 

Foi em um desses eventos que a representante farmacêutica, Sara Cota, de 43 anos, foi convencida e também decidiu investir, em um total de R$ 90 mil. O encontro foi no restaurante Osso, no Serena Mall, em Nova Lima, e não era permitido trazer acompanhantes. “Chegando lá, era muita ostentação. Era a intenção dele mesmo, nos convencer a fazer aporte de dinheiro. Usavam nomes de clientes conhecidos para nos influenciar. No dia seguinte, praticamente todo mundo investiu mais dinheiro”, conta Sara. 

Mas desde esse jantar, as coisas passaram a desandar. “O ex-PM disse que a rentabilidade ia cair para 3%, o que achei muito estranho”, fala Fernanda. Foi nesse momento que ela pediu o dinheiro de volta. “Me disse que devolveria na semana que vem, que nunca chegou”, lamenta. 

O suspeito fez uma live, nas suas últimas aparições, avisando que o cenário tinha mudado e que todos os investimentos teriam queda. Uma semana depois, “ele sumiu do mapa”, continua Fernanda. “Meu antigo amigo que trabalha lá me contou que o ex-PM foi de madrugada na empresa e tirou tudo, as máquinas de trader, as cadeiras, e sumiu”. 

Para Sara, a situação é toda estranha. “Eu fico receosa em falar nisso. Conheci ele na igreja, fazia parte da liderança”, lembra. Sara foi convidada a entrar com investimento por um conhecido do grupo de célula da igreja, dono de um dos maiores grupos de estética de Belo Horizonte. “Ele comentou comigo que esse dono da empresa era uma boa pessoa, honesta, séria, e nesse momento eu acreditei”, lamenta.  

De acordo com as vítimas, são cerca de 400 investidores, muitos são de Belo Horizonte, mas há quem investiu de São Paulo, Rio de Janeiro, e mais lugares do país. Em setembro, a influenciadora Fernanda abriu um Boletim de Ocorrência na Delegacia Especializada em Investigação de Fraudes, na Av. Francisco Sales, no Santa Efigênia, mas, desde então, nem o suspeito nem os investimentos foram encontrados. 

“Eu fiquei depressiva, traumatizada por perder meu dinheiro suado assim e não ver avanço na investigação”, desabafa Fernanda. O sentimento é compartilhado pelas outras vítimas. “É muito triste porque são pessoas da igreja e do meio policial, as pessoas perderam a saúde mesmo, teve quem se endividou pensando no rendimento e está de mãos atadas”, comenta Sara. 

O que diz a Polícia Civil de Minas Gerais

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que o inquérito policial foi remetido à Justiça, em outubro de 2022, e a polícia está esperando retorno desde então. “Tão logo o procedimento seja finalizado, mais informações serão fornecidas”, diz em nota. 

A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e espera retorno.