A coinfecção pelos vírus Sars-Cov-2 (Covid-19) e influenza (gripe), conhecida como Flurona, é mais comum no Brasil do que os números sugerem, aponta o infectologista Bernardo Montesanti Machado. A preocupação, segundo o especialista, fica por conta dos efeitos do duplo diagnóstico no quadro clínico dos pacientes. A dupla enfermidade se tornou preocupação das autoridades após o Ceará e o Rio de Janeiro confirmarem quatro diagnósticos, na esteira da primeira validação em Israel, nesse domingo (2/1).  

De acordo com o médico ouvido por O TEMPO, a dupla infecção ganha força com a redução das medidas contra a Covid-19. “As medidas de proteção contra coronavírus fizeram com que os outros vírus parassem de circular. Agora, a dinâmica social de interações voltou à normalidade. Isso fez alguns vírus serem retomados”, diz o médico do Laboratório Hilab.

Se há certeza de dupla infecção entre os médicos, os efeitos dela no quadro clínico dos pacientes ainda acumulam dúvidas. “Ainda não há dados suficientes para fazer uma análise. Para outros vírus, algumas associações podem ser prejudiciais. Mas, para o influenza e a Covid-19 isso não está claro”, afirma Bernardo Montesanti. 

Então, qual receita seguir para controlar a doença? Para o especialista, as autoridades devem ampliar a testagem dos pacientes em caso de suspeita clínica, de preferência a partir dos exames de antígeno. 

Isso porque eles são mais baratos e rápidos, o que garantiria uma testagem em massa para controle das duas doenças. 

"O mais importante é o dado laboratorial. Os testes de antígeno foram muito usados durante a pandemia e são indicados também para o influenza. Existem kits disponíveis que avaliam os dois vírus ao mesmo tempo”, indica o infectologista.

Há, ainda, a possibilidade de uma recombinação entre os dois vírus, o que criaria um novo micro-organismo. Mas, a combinação do material genético ainda não foi mapeada pelos médicos mundo afora. 

Minas sem casos

Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que não há casos de Flurona no estado. 

Sobre o monitoramento da doença, a pasta esclareceu que “ocorre na rotina da vigilância universal da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) Hospitalizado e na Vigilância Sentinela da Síndrome Gripal (SG) e abarca 15 vírus, dentre eles o Sars-Cov-2 e o influenza (subtipos)”.

Já a Prefeitura de Belo Horizonte confirmou que "até o momento não há nenhum caso notificado de coinfecção" na cidade. O Executivo municipal esclareceu que acompanha as duas doenças por meio de testes realizados em UPAs (Covid-19 e influenza), centros de saúde (Covid-19) e hospitais sentinelas (influenza). 

"Caso ocorra coinfecção, a conduta clínica não é alterada: acompanhamento clínico e tratamento com antiviral somente para os casos de influenza", informou a PBH.

O TEMPO também procurou o Ministério da Saúde. A pasta esclareceu que monitora as doenças respiratórias "via vigilância sentinela, pela qual, por amostragem semanal, são feitos diagnóstico para influenza e alguns outros vírus respiratórios, além da vigilância da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e Covid-19".

Como se proteger? 

Para a população, a receita para evitar as doenças respiratórias continua a mesma: uso de máscara, distanciamento social e frequente higiene das mãos. 

Evitar compartilhar objetos, manter a ventilação dos ambientes e assegurar a etiqueta tosse também compõem o conjunto de estratégias contra a Flurona.

A vacinação contra as duas doenças também é primordial. Ela é oferecida de maneira gratuita pelo SUS, principalmente nos centros de saúde. 

Primeira confirmação 

Trata-se de uma paciente jovem e grávida. Ela estava internada no Rabin Medical Center, na cidade de Petah Tikva, em Israel.

Segundo informou a unidade de saúde, a jovem não estava vacinada contra a Covid ou contra a gripe influenza. O diagnóstico aconteceu assim que ela chegou ao hospital. 

Surto de nova cepa

O aumento no número de casos do virus influenza A H3N2, junto a uma elevação na transmissão da Covid-19, já resulta, desde dezembro, em uma alta na procura por atendimento nos hospitais do Estado. 

Em Belo Horizonte, a prefeitura ampliou o funcionamento dos centros de saúde para absorver a demanda de problemas respiratórios. 

Nos hospitais pediátricos, a espera por atendimento chegou a durar mais de 12 horas, conforme noticiado por O TEMPO. Entre a primeira e a segunda quinzena de dezembro, houve um aumento de 41% por leitos dedicados a Covid e outras doenças respiratórias na região metropolitana, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). 

Ao mesmo tempo, em uma semana, os casos de gripe causados pelo vírus influenza A H3N2 cresceram 107% em Minas Gerais, segundo a SES-MG. 

Nesta segunda-feira (03), a pasta informou que já foram identificadas 305 infecções no Estado. Até 26 de dezembro, eram 147 diagnósticos em Minas. 

Ainda não há vacina disponível contra a cepa H3N2. O imunizante será atualizado e deve chegar aos estados em 2022.