Há oito anos, próximo da chegada do Natal, o aposentado Carlos Alberto de Abreu, de 64 anos, apara a longa barba branca, cultivada o ano todo, e então sua rotina se transforma. Pela manhã, ele veste calça vermelha, botas, casaco – com ajuda da esposa –, cinto, luvas, gorro, e está pronto o Papai Noel Bebeto. Com sininho em mãos, o Bom Velhinho deixa sua casa, na região Noroeste de Belo Horizonte, para passar o dia sendo a sensação da criançada, em um shopping em Betim, na região metropolitana da capital.

Bebeto é um dos Papais Noéis que o Super ouviu, para conhecer as pessoas por trás do gorro. Alguns tiveram a vida completamente transformada pela magia do Natal, como é o caso de Bebeto. Em 2015, ele se aposentava como motorista de carretas para se tornar oficialmente o Papai Noel Bebeto. “Eu não gostava do Natal nem ligava para Papai Noel. Mas hoje, quando passa o Natal, eu fico um pouco chateado, porque aqueles momentos com a criançada mexem muito comigo, é uma alegria tão grande”, diz.

Em 2015, Bebeto foi convocado por outro Bom Velhinho para exercer a função. Quando estava em um supermercado, em BH, o motorista foi abordado pelo Papai Noel Magnus, que já atua há mais de 20 anos no Natal. Pela semelhança física, Magnus sugeriu a nova “carreira” para Bebeto. “Ele foi à minha casa alguns dias depois, levou os aparatos e me ensinou a me preparar. Me apresentou ao contratante, que gostou, e foi quando eu fiz meu primeiro trabalho, no Partage Betim, onde estou trabalhando até hoje”, relata o ex-motorista.

No início, Bebeto encarou a oportunidade como um novo trabalho. Profissionais ouvidos pelo Super relatam que um Papai Noel pode ganhar até R$ 1.000 em eventos particulares. Já nos shoppings, mais buscados pelos trabalhadores, um contrato de cerca de 40 dias rende entre R$ 9.000 e R$ 12 mil ao Bom Velhinho. 

Porém, rapidamente a época natalina deixou de ser apenas uma forma de lucrar para se tornar os dias mais felizes do ano para Bebeto. “Enquanto eu tiver vida, vou fazer esse trabalho. Passei a gostar e agora fico em casa aguardando meus convites e também buscando alguns filantrópicos”, garante. 

Segundo o Papai Noel, a paixão pelas festas se estendeu por toda a família. Bebeto conta que, hoje em dia, ele e a esposa decoram a casa com mais enfeites do que em alguns shoppings. Além disso, mesmo que os filhos de Bebeto já estejam crescidos – um de 32 anos e outra de 38 anos – e ele não tenha netos, a transformação em Papai Noel já virou tradição na família. “No dia 25, eu visto a roupa do Papai Noel, saio do meu quarto tocando o sininho e sou eu que faço a entrega dos presentes”, relata.

Memória da infância inspira Bom Velhinho

A fascinação pela figura do Papai Noel vem desde a infância. Magnus Aurélio Seta, de 77 anos, lembra dele e dos nove irmãos lutando contra o sono na esperança de flagrar o Bom Velhinho deixando os presentes dentro dos sapatinhos que eles colocavam debaixo da árvore. Ano após ano, quando acordavam, lá estavam os calçados magicamente cheios de brinquedos. “A gente não aguentava e dormia. De manhã, achava um carrinho de madeira, uma bola e ficava numa alegria imensa”, relembra.

Mesmo quando descobriu que o Papai Noel eram seus pais, sonolentos pela noite, ele nunca perdeu a admiração pela figura, que passou a incorporar aos 40 anos. “Para mim, é uma alegria imensa, até porque o Papai Noel tem que ser feliz, para fazer as pessoas felizes”, afirma. Mas, apesar da felicidade, Magnus garante que ser o Bom Velhinho não é moleza. “A minha barba tem muita parte branca, mas, quando está chegando o Natal, passo três dias no salão, descolorindo cabelo, barba, sobrancelha e bigode. Não é para qualquer um”, brinca.