A vítima do rompimento da barragem da Vale localizada na noite da última quarta-feira em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, é Carlos Roberto Pereira, de 62 anos, funcionário terceirizado da mineradora.

A identificação foi possível depois de 11 horas de trabalho da equipe de odontologia-legal do Instituto Médido Legal (IML), através de estudo da arcada dentária. "Constatou-se inexistência de impressões digitais", informou a Polícia Civil.

Material para comparação de DNA já havia sido coletado e enviado para o laboratório do Instituto de Criminalística, para análise prioritária. No entanto, a equipe da Odontologia-Legal do IML começou a trabalhar a chegou a identificação antes. 

Carlos Roberto estava a uma profundidade de 8 metros, com um membro inferior amputado e praticamente preservado devido ao fenômeno conhecido por saponificação, quando o corpo fica envolto a uma grande concentração de minério, com baixa presença de oxigênio no solo e temperatura baixa, o que favorece a conservação dos restos mortais.

O corpo estava próximo a um local de operação de máquinas pesadas, onde elas ficavam estacionadas, segundo o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas, tenente Pedro Aihara.

Buscas

Já são 161 dias de buscas pelas vítimas do rompimento da barragem 1 de Córrego de Feijão e 247 vítimas já foram localizadas e identificadas, o que corresponde a 91% das vítimas. Outras 23 permanecem desaparecidas.

São 150 militares e mais de 100 máquinas pesadas emprenhados nas buscas, distribuídos em mais de 15 frentes de trabalhos paralelos, em uma extensão de 10 quilômetros lineares. No trecho, estão depositados 10,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério, que vazaram da barragem.

Inteligência

De acordo com Aihara, o serviço de inteligência adotado desde o início das buscas tem ajudado na localização das vítimas, e acredita que a localização dos desaparecidos está mais próxima. “Todas as informações têm sido levadas para uma base de dados e elas têm sido processadas para que a gente consiga cruzar informações importantes”, disse o militar.

Segundo Aihara, até mesmo um móvel encontrado, como uma cadeira, pode direcionar as buscas. “Temos um levantamento fotográfico de todas as edificações que tinham no local anteriormente para conseguir entender a qual unidade da empresa o móvel pertencia. Serve para identificar como foi o comportamento da lama nesse local e identificar possíveis vítimas que estavam no mesmo lugar”, explicou.

“Se a gente identifica uma vítima, e sabe que ela estava com outra pessoa que permanece desaparecida, a gente também faz esse cruzamento de dados”, acrescentou.

O mesmo levantamento é feito quando são encontrados fragmentos de corpos, segundo ele. “Se a gente identifica um segmento corpóreo e verifica outros segmentos corpóreos que pertenciam à mesma pessoa, a gente consegue fazer uma análise da dispersão e do impacto que as pessoas que estavam naquele local sofreram”, explica.

O serviço de inteligência, segundo ele, ajudou a localizar o último corpo. “Nós plotamos áreas prioritárias de interesse. Conseguimos definir locais onde a gente poderia encontrar com maior grau de certeza aquele corpo e acabamos localizando o corpo a oito metros de profundidade”, informou o tenente, lembrando que são utilizando todos os recursos tecnológicos disponíveis, como levantamento de mapas por satélite.

Para localizar esse último corpo, os bombeiros utilizaram equipamentos para drenagem de locais inundados e estabilização do terreno para acessos mais profundos. “Sem o uso do estudo hidrológico não seria possível localizar esse corpo”, disse Aihara. As operações de buscas permanecem sem previsão de término, segundo ele.