Doze anos após o início do processo, a Prefeitura de Belo Horizonte aprovou nesta semana o tombamento provisório da igreja São Sebastião, do Barro Preto, na região Centro-Sul da capital, como patrimônio do município. O procedimento para proteção e preservação permanente da paróquia depende da aprovação da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Após receber o ofício, a congregação católica terá prazo de 15 dias para declarar se concorda ou não com o tombamento – entretanto, a decisão final cabe ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH).
A retirada de uma banca de jornais na lateral da igreja e mudanças no estacionamento instalado no pátio da matriz são algumas das exigências da Fundação Municipal de Cultura (FMC) para a conclusão do processo.
O tombamento provisório, publicado no “Diário Oficial do Município” (“DOM”) do último sábado, também indica diretrizes que devem ser seguidas para preservação do templo católico – como manutenção dos vãos de portas e janelas segundo os originais e reforma de passeios observando o projeto, mediante aprovação do órgão.
Mudanças justificadas
A diretora de Patrimônio da FMC, Françoise Jean de Oliveira, esclarece que o objetivo das diretrizes é garantir o uso da população em relação ao bem cultural protegido.
“A ideia é que nada obstrua a visibilidade do bem tombado. Entendemos que a edificação é um documento histórico. Então, se você coloca bancas de revistas, carros ou constrói logo em frente, você dificulta a leitura desse patrimônio. Essas mudanças solicitadas se justificam pela preservação da visibilidade”, explica.
As alterações são colocadas a cargo do proprietário, que, na circunstância, é a Arquidiocese de Belo Horizonte. A sugestão feita pelo município prevê que, quando for necessária intervenção na cobertura da igreja, sejam substituídas as telhas atuais de modelo italiano por francesas, conforme eram na construção original.
Exemplo de fé
A trajetória católica da aposentada Neuza Marina, batizada logo no nascimento em uma capela dedicada a São Sebastião próximo de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, mergulha na própria história da matriz consagrada da avenida Augusto de Lima, no Barro Preto, lugar que ela frequenta há mais de 30 anos.
“Quando menina, frequentei a igreja de São Sebastião perto de Sabará. Então, ele sempre foi meu santo preferido, a quem peço proteção também. Recebi muitas graças de São Sebastião. Aquela igreja fechou, e comecei a frequentar a capela do Santíssimo, da matriz. Venho sempre às quintas-feiras, há mais de 30 anos”, narrou ela que, na data de seu aniversário, a próxima quinta-feira, planeja retornar à paróquia.
“Eu nunca deixei de vir. São muito importantes para mim essas orações no sacrário. Quero vir no meu aniversário agradecer pela graça de estar viva”, conta Neuza. Apesar da pandemia do coronavírus, ela, que faz parte do grupo de risco, não deixou de assistir às missas pela televisão.
“A igreja São Sebastião é, para mim, minha casa. Com a pandemia não tenho vindo à missa, que é linda, você assiste chorando. Assisto na televisão e estou aqui às quintas, que é mais vazio. Minha conversa com Jesus não pode parar. Não deixo essa igreja por nada, está em primeiro lugar na minha vida”, afirma a aposentada.
Um pouco de história
O lançamento da pedra fundamental da igreja de São Sebastião coincidiu com o início da edificação da matriz, em 1929. A obra se estendeu por 29 anos, tendo sido concluída apenas em 1958. A lentidão da obra acompanhou a ocupação do Barro Preto e da região Centro-Sul de BH.
O bairro é tão importante para BH que prédios erguidos à época, principalmente nas décadas de 30 e 40, compõem até hoje o chamado “Conjunto Urbano Avenida Barbacena – Grandes Equipamentos”, área tombada pela prefeitura desde 2009.
A relevância da igreja, incluída no conjunto arquitetônico, além do valor histórico por ela guardado e o laço de afeto com a população de Belo Horizonte, levou a FMC a iniciar o tombamento do templo de São Sebastião.